Capítulo 48 - Parece uma gaivota
Parece uma gaivota
Eduardo
Quando eu percebi que queria Marcela Noronha, eu soube que teria que correr atrás dela. Mas eu não estava pensando que isso seria de forma literal, praticamente às seis da manhã, com vários vinhos diferentes na cabeça e usando um terno enquanto ela cantava alguma música sertaneja antiga pelo corredor do seu prédio como se não tivesse vizinhos.
Eu não sabia se dava risada e deixava rolar ou se tentava arrastar Marcela para dentro do apartamento de novo como se ela realmente fosse me dar ouvidos exatamente naquele momento quando podia ter feito isso a vida inteira e tinha decidido que não, obrigada, porém eu sabia qual era a opção moralmente correta.
— Má — eu chamei, mas ela apenas continuou saltitando pelo corredor cantando "aquele fio de cabelo comprido já esteve grudado em nosso suooooooor" — Marcela!
— É amor pra você! — ela berrou pelo corredor, continuando a correr enquanto eu meio ria e meio ia atrás dela, porque, se a gente for trabalhar na honestidade aqui, não tinha ninguém realmente sóbrio.
— Desde quando você gosta que eu te chame de amor? — perguntei e ela subiu as sobrancelhas, começando a andar de costas para olhar para mim.
— Desde sempre — respondeu ela, abrindo um sorriso de canto e quase tropeçando na barra do seu vestido de madrinha de casamento, porque, sem os saltos, ele ficava arrastando no chão.
Eu quase avisei para ela tomar cuidado, mas estava ocupada com um sorriso besta na cara que se recusava a sair dali e dar espaço para outra coisa.
O casamento de Romeu e Getúlio tinha sido incrível e, se tinha sido emocionante para mim, eu até entendia porque Marcela estava daquele jeito — se fosse Chicão ou Leandro casando, eu provavelmente teria chorado (mais do que chorei com Retúlio, no caso, porque eles eram lindos e se amavam e ninguém podia me julgar por achar o casamento deles maravilhoso) e ficado bêbado o suficiente para esquecer a letra de Boate Azul e começar a imitar o som da sanfona, exatamente como Marcela tinha feito aos prantos pendurada no pescoço do casal-casado.
Eu tinha certeza que só a física explicava como os três estavam em pé. Eles tinham chegado a um estranho ponto de equilíbrio, porque nenhum dos três ficaria de pé sozinho e foi uma das coisas mais engraçadas e fofas que eu vi. Perdia só para Marcela dançando apoiada no meu peito e me chamando de amor.
Claramente eu estava sorrindo como um bobão naquele espaço de tempo com Marcela do que tinha feito nos últimos anos, mas... Quem é que estava contando?
— Quando a gente ama e não vive junto da mulher amada... — Marcela recomeçou, com sua voz harmoniosa um pouco menos harmoniosa que o normal e provavelmente deixando todos os seus vizinhos com ódio mortal. — Uma coisa à toa é um bom motivo pra gente chorar!
— Amor, seus vizinhos vão fazer uma reunião de condomínio para te expulsar se você continuar gritando! São cinco e cinquenta da manhã, linda — eu disse, mas a engenheira mais foda que eu conhecia não parecia entender aquela menção a desenhos estranhos chamados números que, normalmente, ela conhecia muito bem.
— Você me acha linda! — ela disse, apontando para mim e sorrindo.
— Eu já te falei isso umas... Mil vezes? — perguntei e ela arqueou as sobrancelhas, como se esperasse que eu falasse de novo. Eu podia dar esse gostinho para ela. — Você é linda, amor.
Ela riu e mexeu os quadris sensualmente.
— Você é um pedaço de mau caminho, Eduardo Senna — ela disse e eu arqueei as sobrancelhas. — Não, não é. É o mau caminho inteirinho.
Eu ri, observando enquanto ela mordia o lábio me olhando de cima a baixo, como se estivesse me analisando e gostando das conclusões.
— Concordo com você — eu disse, mordendo meu lábio inferior.
Eu gostava de como ela me olhava quando eu fazia isso, de um jeito de dizia que ela queria pular em mim ali mesmo, mas, ao mesmo tempo, de um jeito que fazia aquela chaminha do meu peito queimar, pensando que talvez ela também se sentisse como eu me sentia. Apaixonada para um senhor caralho e sem tentar fazer nada para evitar.
Ela chegou a abrir a boca para responder, mas esbarrou com alguém, tomando um susto e girando sob os calcanhares para ficar de costas para mim e de frente para um senhor de pantufas e pijama, com o cabelo ralo bagunçado e óculos presos por uma cordinha preta.
Juro por Deus que Marcela jogou os cabelos por cima dos ombros e eu sabia que ela estava sorrindo exatamente como tinha feito com Seu Vanderlei, o síndico do meu prédio, o que deixava claro que aquele pobre senhor era Seu Agenor. Talvez aquilo funcionasse quando o cabelo dela não parecia um ninho e seu batom não estava borrado estilo Coringa depois de um beijo que teve língua demais e baba demais e álcool demais.
Porém, quando ela abriu a boca, não foi "why so serious?" que saiu dali, incrivelmente.
— Seu Agenor, bom dia — foi o que ela disse quando eu finalmente consegui me aproximar dela. Passei o braço pela cintura dela apenas para me certificar de que ela não fugiria de mim e cantaria para seus vizinhos de novo depois dali.
— Marcela, o que está acontecendo? — ele perguntou, por cima dos óculos que estavam bem na ponta do seu nariz. — Cinco vizinhos me ligaram para reclamar e eu vou ser obrigado a aplicar uma multa pela violação do silêncio nesse horário e...
— Desculpa — eu disse, estendendo a mão para Seu Agenor, que me encarou antes de apertar a minha mão com receio. — Eu sou o Eduardo. Ela está um pouco, hm, bêbada...
Marcela parecia estar suando vinho, então acho que a informação não exatamente surpreendeu o pobre síndico.
— Quem está bêbada? — Marcela perguntou. — No prédio? Que vexame.
— Eu vou levá-la para dentro e isso não vai se repetir, eu prometo.
Tentei inspirar confiança, mas a "não-bêbada" resolveu ajudar. Não ficando quieta ou simplesmente deixando a pessoa mais racional ali resolver a situação. Não.
Ela cutucou o bigode dele com o dedo!
— Eu já disse como seu bigode é lindo? — perguntou ela e eu e o homem arregalamos os olhos ao mesmo tempo. — Parece uma gaivota, só que na sua boca. Mas a cor é de um pomb...
— Ok, eu estou levando ela para o apartamento! — disse eu, puxando Marcela e colocando a mão sobre os lábios dela antes que ela levasse mais umas duas multas. — Depois o senhor se importa de avisar de novo pra ela que ela foi multada? Talvez mais à noite? Eu não acho que ela vai se lembrar e... Ai!
Ela tinha me mordido!
Em outras circunstâncias eu teria adorado, mas, nessas...
— Eu te dei uma cesta da Casa do Pão e posso te dar outra! — disse Marcela.
Seu Agenor entreabriu os lábios.
— Porque ela te adora, não porque está tentando subornar ou algo — comecei a puxar Marcela para trás, em direção à porta escancarada do seu apartamento. — Ela vive falando sobre você ser o melhor síndico, quase um segundo pai pra ela e... Bom dia, Seu Agenor! Desculpa a confusão!
Eu meio que tirei Marcela do chão e a carreguei para o apartamento enquanto ela soltava uns gritinhos agudos e ria. Deus do céu. Só por segurança, tranquei a porta de saída e joguei a chave dentro da fruteira que nunca tinha visto uma fruta e tinha virado um porta-treco, porque ela demoraria muito para encontrar qualquer coisa ali.
Ela se sentou no sofá e pegou o celular dentro da bolsinha que fazia par com o seu vestido, que felizmente também combinava com o meu terno, porque foi comigo que ela ficou a maior parte do tempo.
— Sem bateria — anunciou, jogando o celular sobre a mesinha quando eu me sentava perto dela. Seus olhos vieram para os meus.
— Você provavelmente vai ficar feliz com isso amanhã de manhã, eu não sei o que você faria nesse estado com o celular — comentei e ela ergueu as sobrancelhas, como se não entendesse do que eu estava falando. — Quer tomar um banho? Posso fazer um café pra você e espero que você tenha tomado aquele Engov que estava no kit ressaca.
— Até onde eu sei, você queria me ver sem esse vestido, amor, então talvez a opção do banho...
Marcela desfez o nó da gravata no meu pescoço, puxando o tecido para si e se sentando no meu colo. Fechei os olhos porque Marcela me tentava de um jeito que fazia ser quase impossível não beijar e arrancar aquele vestido como eu tinha prometido que faria.
Ela beijou o meu pescoço e me arrepiei por inteiro.
— Má, você está bêbada... — eu disse e ela continuou beijando meu pescoço. Senti suas mãos erguendo meus pulsos para cima da cabeça e algo se enrolando neles. Era um tecido quase tão macio quanto os lábios de Marcela, quentes e precisos contra a curva do meu maxilar. Eu quase demorei demais para perceber que ela estava me prendendo com a minha gravata do jeito que Romeu tinha ensinado e afastei os pulsos no último segundo, impedindo-a de fechar o nó. Ela deu risada quando eu estreitei os olhos para ela porque ela estava me ludibriando deliberadamente. — Você realmente curte bondage, amor?
Ela passou a língua devagar pelos lábios, provavelmente muito ciente do que aquilo fazia comigo.
— Não tenho certeza — confessou. — Mas com você? As chances são bem altas.
Marcela apoiou a mão na minha coxa, perto demais de lugares que... Bem.
— Caralho, Má — eu disse, sentindo minha própria voz mais rouca e grossa que o habitual. — Eu tô bem a fim de experimentar isso com você, mas não hoje.
Eu afastei sua mão apenas um pouco das áreas mais sensíveis e dei um beijo na sua bochecha, porque eu queria tanto aquela mulher que falar não para ela era realmente muito difícil. Só Deus sabe o quanto eu queria transar com Marcela Noronha, mas queria ela inteirinha, consciente, sem álcool envolvido.
Marcela se levantou e eu respirei, acreditando que ela tinha resolvido parar de me testar, mas... Não era o caso. Ela simplesmente abriu o zíper do vestido e deixou que o tecido cor de rosa escorresse pelo seu corpo maravilhoso até o chão, revelando uma lingerie branca que era apenas de renda e sem forro que não escondia muita coisa.
Eu acho que meio que esqueci um pouco do resto enquanto olhava para cada curva de Marcela, apertando o estofado do sofá porque... Ela era linda. E gostosa. E incrível. E puta-que-pariu aquela lingerie do caralho.
Saí do transe quando ouvi música. Do I Wanna Know?, do Arctic Monkeys, que eu mesmo tinha ressaltado como me deixava incrivelmente no clima.
— Eu escolhi isso para você, amor — ela apontou para si mesma e começou a dançar no ritmo da música, mexendo os quadris de um jeito que... Ok, eu não quero ser repetitivo, mas uma série de xingamentos passou pela minha cabeça.
Mesmo com a maquiagem borrada de coringa e o cabelo parecendo um ninho, ela ainda estava conseguindo ser a criatura mais linda e sensual em que eu já tinha posto os olhos.
Suas mãos subiram do quadril até a cintura enquanto ela se movia de um lado para o outro e eu tentei desviar o olhar, mas, bem... Não é como se eu não quisesse ver.
Supostamente, as pessoas que estavam bêbadas não deveriam ter menos coordenação motora? Então como Marcela estava dançando e mexendo os quadris como se tivesse feito aulas com a Shakira em pessoa?
E por que de repente tudo o que eu queria era gritar "Shakira, Shakira!" porque claramente ela era minha nova cantora e dançarina preferida?
Se ela estivesse fazendo aquilo sóbria... Bom, ela não teria tido tempo de ir muito longe e acho que o ponto era exatamente este.
— Marcela...
— Eu já disse que é amor — disse, apoiando um pé na madeira para ficar em pé na mesinha de centro.
Claro, se ela estivesse sóbria ela não teria quase caído dali e me forçado a me levantar para impedir que isso acontecesse enquanto ela ria — Marcela provavelmente sabia que se ela caísse e se machucasse ela teria que me levar para o hospital porque eu simplesmente não lidava bem com sangue na vida real, mesmo que eu gostasse de séries e livros e filmes sangrentos. Eu a abracei pela cintura e ela nem tentou me ajudar, ficando em pé apenas porque eu estava a segurando e deslizando a mão por cima da camisa que eu estava vestindo e que ela mesma (e Getúlio, para ser sincero) tinha escolhido para combinar com seu vestido.
— Ok, amor, você precisa parar de me provocar assim — eu disse para ela, fechando os olhos, mas deixando um sorriso no canto dos lábios enquanto a segurava, sentindo pele demais para a minha própria sanidade. — Você não tem noção do quanto eu quero você, Má, mas você está bêbada e a gente não precisa ter pressa e... Não tem ninguém indo para lugar nenhum, tem?
Ela negou com a cabeça e ficou de pé, se sentando ao meu lado no sofá quando eu fiz isso e aproximando o rosto do meu com cautela, como se estivesse testando um limite.
— Eu amo quando você faz isso — ela disse, com o nariz colado no meu e eu apenas busquei seus olhos castanhos, sem entender. Felizmente, ela quis explicar: — Quando você se segura porque eu estou bêbada.
Rocei meu nariz no dela devagar. Cheiro de Good Girl e vinho e provavelmente aquela mancha preta era rímel escorrido.
— Você ama quando eu sou um cara decente? — perguntei e ela riu.
— Também, embora não seja mais do que sua obrigação, amor — explicou e eu fiz carinho na bochecha dela. — Mas eu amo porque eu sei que você quer... Tudo.
Mais um sorriso bobo para a conta, Eduardo Senna.
— Marcela, você dificulta muito as coisas para o meu lado falando essas coisas para mim nessas condições — eu disse e ela riu e enrolou os braços no meu pescoço. Eu deixei que ela se aproximasse e abracei sua cintura, mesmo que esse movimento tenha colocado aqueles seios perfeitos contra o meu tronco.
— Sexo não pode — ela praticamente ronronou, esfregando o nariz no meu e me olhando com aqueles olhos castanhos e felinos de quem sabia que podia me convencer a quase qualquer coisa. — Beijo pode?
— Deve — eu respondi e ela sorriu antes de colar os lábios nos meus.
Acho que quando você é um adulto sexualmente ativo, os beijos se tornam algo com um significado menor, quase como um caminho para levar a outra coisa... Mas eu com certeza tinha ressignificado aquilo na minha cabeça dando uns amassos em Marcela Noronha.
Tinha algo incrível em apenas estar perto, sentindo sua língua brincando com a minha, falando nosso idioma próprio com tanta fluência, os lábios se moldando aos meus e se esfregando ali com carinho, sem pressa, sem outras pretensões, apenas... Beijá-la era incrível. Eu podia perder dias naquela boca e só me daria conta quando as cãibras na língua começassem.
Senti Má enrolar os dedos nos meus cabelos, na altura da minha nuca, me puxando para mais perto. E eu queria ficar mais perto também, mas acho que era fisicamente impossível, então apenas apertei mais sua cintura até ficar firme o suficiente e a puxei para o meu colo, tomando o cuidado de deixar suas duas pernas lindíssimas do mesmo lado do meu quadril porque...
A gente sorriu nos lábios um do outro e eu abri os olhos por uns segundos, apenas para ver os dela fechados enquanto ela dava selinhos na minha boca para, então, sustentar o contato e deixar sua língua deslizar para a minha de novo, se envolvendo como se tivesse combinado comigo como fazer. Mas não era combinado era só... Natural.
Beijar Marcela era absolutamente muito bom.
— Eu estou com uma música na cabeça — ela disse, se afastando uns centímetros para respirar. Abri os olhos e, dessa vez, os dela estavam abertos também. Acho que eu verbalizei um "qual?", mas eu não tinha certeza de muita coisa. — Eu não vou negar que sou louco por você, tô maluco pra te ver... Eu não vou negar.
Eu ri.
— Você pediu essa música umas três vezes para o DJ do casamento, eu não sei como explicar todas as formas que ele ficou furioso por você estragar a set list dele — comentei e ela fez que não com a cabeça, risonha.
— Eu não vou negar, sem você tudo é saudade; você traz felicidade, eu não vou negar — continuou ela, segurando o meu rosto com uma mão de cada lado e olhando nos meus olhos. — Eu não vou negar, você é meu doce mel, meu pedacinho do céu...
Talvez fosse meio presunçoso da minha parte, mas eu acho que ela não estava cantando aquela música de forma aleatória. Era para mim? Ela estava pensando em mim com aquela letra?
— Você está mesmo tentando me seduzir com Zezé di Camargo e Luciano? — perguntei, sentindo os polegares dela desenhando círculos nas minhas bochechas. — Porque pode estar funcionando.
Ela riu e eu a envolvi nos meus braços, a puxando para o meu peito.
— Seu coração está batendo muito rápido — ela comentou, despretensiosamente.
— É o amor que mexe com a minha cabeça e me deixa assim — cantei para ela e Marcela gargalhou, me fazendo vibrar com ela antes de olhar para cima.
Eu olhei para baixo.
A gente se beijou de novo.
Será que iria chegar um ponto em que eu ia me cansar daqueles lábios? Porque não parecia que isso ia acontecer nunca.
⟰
— Não! Não vai! — Marcela disse quando eu a segurei no colo, ficando de pé e sentindo minha boca sensível de um jeito mais do que bom depois de tanto tempo a beijando. — Eu quero te beijar! Seu beijo é incrível!
Eu ri, primeiro porque eu não sei se ela estava percebendo que eu não estava indo. Nós estávamos indo.
— Ah, é mesmo? Porque você costumava não achar nada demais — eu impliquei e ela negou com a cabeça repetidamente.
— Eu te ensinei muito bem — ela retrucou e eu me fingi de ofendido, a jogando por cima dos meu ombro esquerdo como se ela fosse um saco de batatas e a segurei pelas pernas lindas que estavam perto demais do meu rosto. — Pra onde você está me levando? — perguntou e eu ri. — Eduardo!
— Você precisa dar uma folga para a minha boca — eu disse, embora eu não quisesse folga de nada. A gente só precisava descansar e o sol já estava forte do lado de fora, provavelmente umas oito horas da manhã, por aí. — Se você conseguir, amor.
Então ela percebeu para onde eu a estava levando e o que a esperava. Normalmente eu não a obrigaria a entrar numa ducha fria, mas seus pés estavam empoeirados depois de horas dançando descalça e pisando em bebida que ela mesma entornava no casamento e ela provavelmente ia dormir melhor um pouco mais sóbria.
— Eu vou fazer greve da minha boca se você me colocar debaixo dessa água, Eduardo! — ela berrou nas minhas costas, pendurada no meu ombro e me fazendo rir e fazer um "shh" para que ela falasse mais baixo. Nunca pensei que logo Marcela Noronha seria o terror dos vizinhos.
— Pra você é amor — repliquei o que ela tinha me dito mais cedo e abri o chuveiro com ela embaixo.
Bom, por consequência eu também estava embaixo. De terno. Não ia ser um problema porque eu não tinha planos para usar esse terno tão cedo de novo, então ele poderia ficar secando por bastante tempo. Pelo menos eu tinha tirado os sapatos.
O primeiro lugar que entrou em contato com a água fria foi o meu rosto, então eu fechei os olhos. Marcela provavelmente não deve ter gostado mais de começar o banho pelo bumbum, que estava ao lado do meu rosto. Não deveria ser muito agradável, mas pelo menos a fez se dar por vencida e parar de se debater.
— Você congelou a minha bunda — ela reclamou quando eu a coloquei no chão. — Está muito frio!
Marcela me abraçou pela cintura e eu a envolvi pelos ombros, mesmo sabendo que não adiantava nada porque nós dois estávamos igualmente gelados — foi só mesmo pelo prazer de ela estar nos meus braços.
— Desculpa — eu pedi, dando um beijo no seu cabelo. — Quer um beijo para melhorar?
— Não, Ursinho Carinhoso — ela retrucou, mas não se afastou de mim. — Estou em greve com você.
— Tá bom. — Eu sorri e fiz carinho nas suas costas nuas, sentindo a água escorrendo pelos meus dedos e Marcela arrepiada. — Tem certeza?
Ela olhou para cima e negou, então eu a beijei de novo. Não sei se funcionava com ela, mas eu me sentia mais quente, definitivamente.
Marcela abriu o sutiã e o pendurou no box, assim como sua calcinha, e tudo o que eu consegui fazer por um tempo foi olhar o quanto ela era inteiramente linda, cada pedacinho — e ainda bem que eu já estava debaixo da água fria, porque eu não tinha problemas para ter ereções, mas Marcela praticamente me fazia ser o oposto da impotência sexual, mesmo que ela só estivesse lavando o cabelo para tirar os produtos que tinham o mantido no penteado por boa parte da noite e eu estivesse somente passando a esponja por suas costas.
Eu já tinha tirado o paletó e pendurado no box, assim como a camisa. Provavelmente quando estivesse sóbria, ela ia querer me matar por encharcar seu banheiro inteiro, mas ela não parecia se importar naquele momento.
Tirei minha calça também e a ajudei a se secar e ir até o seu quarto, deixando um rastro de pinguinhos atrás de mim. Abri o guarda-roupa de Marcela e peguei uma das calcinhas boxer confortáveis que ela gostava de usar para dormir, uma camisa muito larga e um shortinho e coloquei tudo ao lado dela, que estava sentada na cama.
— Precisa que eu te ajude a se vestir?
— Por que você está pensando em vestir roupas e eu no oposto? — perguntou e eu sorri. — Eu estou molhada, amor! E eu não disse que é do banho!
A tentação era como o diabo me espetando com seu tridente.
— Porque eu gosto de você sóbria e você ama isso, amor — eu disse e deixei Marcela me beijar de novo, evitando encostar demais nela ou na cama porque eu ainda estava bem molhado. — Eu vou tomar banho direito e já venho, Má.
Ela assentiu e eu a vi passando a blusa pela cabeça antes de entrar no box de novo. Quando voltei para o quarto, uns minutos depois, ela estava embaixo das cobertas com os olhos fechados — eu sabia que ela estava cansada daquela semana, daquela noite, e um banho a faria relaxar. Má precisava mesmo descansar.
Peguei uma troca de roupas que eu sempre deixava por ali e vesti. Quando fechei as persianas para que o sol não nos atrapalhasse a dormir, Marcela murmurou:
— Cadê meu celular? — perguntou, abrindo só uma fresta dos olhos e os fechando de novo.
— Sem bateria na sala — eu disse, apenas com uma vaga lembrança dela me falando algo assim enquanto me deitava do lado dela, me enfiando debaixo das cobertas que ela já tinha aquecido com o corpo. — Precisa dele agora?
— Eu quero ligar para o Edu, não gosto de dormir sem ele — murmurou baixinho e eu me aproximei dela, me arrastando sobre o colchão até ficar a apenas alguns centímetros de distância.
Eu sorri, porque, caralho, Marcela estava pensando em mim, mesmo naquele torpor e... Eu também não gostava de dormir sem ela.
— Eu estou aqui, Má — disse, dando um beijo na ponta do seu nariz. Ela abriu os olhos devagar, piscando várias vezes e revelando as íris douradas. Após alguns segundos, ela sorriu em reconhecimento. Eu não sei se é possível um ser humano derreter em condições normais do ambiente, mas eu estava em estado líquido. — Sentiu minha falta?
Ela me abraçou, enrolando o corpo no meu de um jeito tão natural que apenas fez sentido, como se a gente fosse duas peças que encaixavam perfeitamente.
— Você é tão quente. E macio. E gostoso e... — ela ergueu os olhos para mim de novo e eu fiz carinho na sua coluna, de repente muito concentrado em olhar os tons de marrom nos olhos dela e adorando o local onde os delírios de seu cérebro ébrio a estavam levando. — Eu amo quando você me olha assim. Parece que está apaixonado.
Aproximei meus lábios dos dela e os encostei.
— Eu estou, Má — confessei e senti que ela abriu um grande sorriso contra a minha boca.
— Você é a minha área cinzenta, mas tudo bem. Eu posso lidar com ela se for com você — ela disse e eu não entendi muito bem, mas também não tive tempo de perguntar.
Ela deu sequência àquele beijo por mim e eu adormeci com Marcela Noronha nos braços.
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Encerrando nossos cinco dias consecutivos de posts com um capítulo bem amor <3
Mardo nesse love todo e nosso coração ta mega quentinho por ver o relacionamento crescer e se moldar nessa coisa linda que temos hoje. Tô na fila esperando um Edu, mais alguém? hahaha
Cinco anos de engenharia para criar estrutura para aguentar essa barra que é amar CEM hahaha mais alguém se sente assim?
Gabs e Yo conversamos e notamos que muita gente ainda não se atualizou nos últimos caps, então vamos dar uma pausa nos posts e retornamos após o Carnaval para dar tempo de todo mundo surtar (quer dizer, ler) em tempo real hehehe
Como estamos nos sentindo beeem boazinhas, decidimos postar um spoiler aqui como agradecimento a todo mundo que está com a gente todo dia, comentando e votando e dando todo amor do mundo pra essa história:
"— Ela é a Marcela, por quem você está apaixonado e com quem você quer ter um lance oficial. Eu sei disso. A questão, Edu, é se ela sabe.
Ele esperou que eu falasse alguma coisa.
— Eu já disse para Marcela de tantas maneiras, Chicão. Quando a gente está junto, em cada beijo, em cada abraço, cada vez que eu sinto o cheiro dela, quando a gente se enrosca e simplesmente encaixa e...
— Muito poético, coração, mas estou falando de palavras mesmo. Sabe, chegar pra Marcela e falar "olá, linda, tudo bem? Tô de quatro pra caralho por você. Se você quiser falar para as pessoas que eu sou o seu namorado, dessa vez de verdade, eu topo". Só que desse jeito emocionado seu, no caso — Chicão explicou e me encarou de novo."
Agora vamos lançar um desafio para todo mundo participar: convençam a gente a postar mais um capítulo antes de quarta-feira que vem!! A resposta mais criativa recebe um spoiler exclusivo no nível surtos infinitos!!!!!!!!!!!!!!! Valendo!
Esperamos que estejam gostando da história e de Mardo!! Não esqueçam da estrelinha e de nos dizer o que vocês estão achando de tudo até agora e o que esperam que ainda vai acontecer!
Beijinhos,
Libriela <3
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