Capítulo 29 - Como se eu fosse uma alfalfa
Como se eu fosse uma alfalfa
Marcela
Eu acordei com o céu ainda negro e escutei um rugido vindo do banheiro, assustando meu corpo e espírito contra as cobertas que estavam emboladas em minhas pernas, sentindo um balanço discreto.
Precisei de um tempo para eu finalmente processar que eu estava deitada e não fazia o menor sentido o meu batom rolar de um lado para o outro da penteadeira. Por que ele não ficava apenas parado?
Puxei as cobertas contra o meu corpo e olhei para a janela do quarto — eu dizia que era a obrigação de Eduardo fechar as cortinas todas as noites, mas ele sempre rebatia que era minha e a bendita continuava aberta, sempre nos acordando com o sol — vendo que naquele dia, o sol não veio.
E não é que não veio porque ainda era noite ou algo assim, mas porque estava caindo o mundo do lado de fora e o navio estava balançando com a tempestade marítima que estávamos enfrentando.
Eu ouvi mais um rugido e peguei a blusa de Eduardo que estava em cima da cama, afinal era muito mais fácil apenas enfiar apenas blusa pela minha cabeça do que pegar as duas peças do meu pijama e ainda encontrar onde diabos havia ido parar a minha calcinha.
Andei até o banheiro, apoiando-me contra a parede no meu caminho e vi que Eduardo estava ali com a cabeça enfiada no vaso. Ele usava apenas a sua samba-canção cinza e estava jogado ali como se tivesse desistido de segurar o próprio corpo — poderia ser apenas a minha impressão, mas ele estava até mais pálido do que antes.
— Edu? — eu me aproximei dele, ajoelhando-me ao seu lado para colocar minhas mãos nas suas costas. Ele estava gelado, porém mesmo assim estava suando.
— Sai daqui, Marcela — ele disse, sua voz tão rouca e rasgada que eu fiquei me perguntando há quanto tempo ele estava ali jogando toda sua vida para fora enquanto eu dormia do outro lado como o bloco concretado que eu era.
— Claro que não — eu meneei minha cabeça e peguei uma toalha de rosto, molhando-a na pia para colocá-la contra o seu pescoço, como eu fazia quando Túlio passava do ponto no álcool e chamava seu grande amigo Hugo no meu banheiro — foi o álcool? Será que foram os shots? Desculpa, eu...
— Não foi — ele sussurrou para fora e eu prendi meus cabelos em um nó que eu sabia que não ia durar muito, mas duraria tempo suficiente para que eu me inclinasse na sua direção para dar apoio ao seu corpo, porque ele estava praticamente jogado contra o vaso.
Eu me sentei atrás dele e puxei um pouco o seu rosto para cima, sentindo seus cabelos colados em sua testa.
— Comeu algo ruim? Será que você pegou uma virose...? — eu continuei questionando, mais para mim mesma do que para ele, tentando ver o que ele havia comido de diferente de mim e a única coisa eram os verdes.
O V do verde era o mesmo V de veneno, coincidência com certeza não era.
Eduardo, provavelmente não entendendo que ele não tinha nenhuma obrigação de me responder, começou a murmurar coisas desconexas e o navio deu mais um balanço. Desta vez mais forte do que antes e meus produtos pro cabelo caíram da gradezinha de apoio que estavam no box. Senti o corpo dele endurecer contra o meu e ele ficou todo arrepiado.
Então, finalmente, eu entendi. Eduardo estava com enjoo do mar.
Eu queria gracejar sobre todas as suas maçãs verdes, porém ele apenas vomitou de novo e eu decidi que a gente poderia falar sobre isso depois.
— Ok, você está ficando desidratado e está completamente ruim, então... — eu tentei pensar no que fazer, porém nada me veio na cabeça, pois eu nunca havia tido um enjoo desses em minha vida inteira.
Meu Deus, o que a gente deveria fazer quando tem alguém morrendo de vomitar nos nossos braços?
— Má... eu consigo vomitar sozinho — ele sussurrou e eu tenho certeza de que aquela foi a sua tentativa de me dar a sua voz suave cheia de charminho, mas ela parecia mais um disco antigo riscado.
— Eu sei, estou aqui pelo apoio moral — eu apoiei meu peito em suas costas e o puxei para que ele ficasse mais ereto — vai Edu, você consegue!
Ele deu uma risada seca e eu, um beijo em seu ombro.
Se ao menos eu conhecesse um médico...
Médico!
— Edu, você consegue ficar aí sem se afogar por dois minutos? — eu perguntei e ele apenas soltou um barulho estranho que não foi um vômito, o que era um ótimo sinal.
Então eu considerei aquilo como um sim e me desprendi dele, buscando o celular dele dentro do bolso da calça que ele estava usando ontem — estava embaixo da cama e eu não fazia ideia de como aquilo era possível.
— Qual a sua senha? — eu perguntei e ele grunhiu mais outra coisa que eu não identifiquei — na minha língua, por favor — eu pedi e sabia que ele estava revirando os olhos, porém sua mão tombou na lateral do seu corpo e ele apontou para a sua panturrilha tatuada.
A senha de quatro dígitos numéricos dele era uma árvore?
Dia da árvore!
Eu tentei duas vezes, porque eu sabia que era vinte e pouco de setembro — ano passado o Eduardo pediu o dia de folga e foi ajudar uma ONG a plantar várias árvores no Horto Florestal e em Campos de Jordão.
2109
Quando o seu celular foi desbloqueado, mandei uma mensagem para Francisco, e enquanto eu esperava o seu retorno, voltei para perto do Eduardo e levantei o seu rosto, vendo como ele estava pálido, sem cor e sem vida. Seu olhos com duas olheiras gigantescas que escavavam o seu rosto. Seus lábios, sempre brilhantes e bem hidratados, estavam brancos e secos.
— Má... — ele tentou dizer algo, porém eu apenas ajoelhei ao seu lado e puxei os seus cabelos, que de tão molhados de suor, ficaram na posição que eu os coloquei — eu...
Escutar a voz dele naquele tom tão frágil me doeu no peito. Eu me sentia uma bosta impotente enquanto ele estava quase desmaiando de fraqueza ali e eu não conseguia fazer nada. Nada!
— Vai ficar tudo bem — eu lhe prometi com um sorriso, pois aquela era a única coisa que eu conseguia fazer. Eu ainda segurava sua cabeça entre minhas mãos e vi que ele piscou com muita dificuldade — acha que ainda vai jogar alguma coisa pra fora?
— Eu... não sei se tem algo para jogar — ele comentou e eu concordei, ajudando-o a ficar de pé.
— Se você tomar uma ducha, acho que pode te fazer bem. Pelo menos vai tirar essa sensação ruim do corpo — eu lhe expliquei e ele começou a menear a cabeça — por favor?
— Não quero que você me olhe assim — ele pediu e eu arqueei minhas sobrancelhas, guiando-o para trás, para dentro do box.
— Eu estou te olhando como? — eu perguntei, apoiando-o contra a parede do box enquanto temperava a água, porque ninguém merece uma ducha gelada como o inferno, principalmente quando se está doente.
— Como se eu fosse uma alfalfa — ele respondeu e eu comecei a rir, notando que ele sorriu junto. Mesmo que seu sorriso fosse fraco, ele ainda estava ali e isso era tudo o que eu queria.
Eu não o respondi, pois eu sabia que ele não viria se eu o empurasse para dentro da água, então eu o abracei, sentindo seus braços ao meu redor, ainda que ele não tivesse força nem para me segurar como eu estava acostumada e dei um passo para debaixo do chuveiro. Ele hesitou ao sentir a água contra os seus ombros, tremendo, porém eu o mantive ali, meus braços amarrados em seu peito, deixando as gotas escorrerem dos meus cabelos pelo meu rosto.
Eu fechei meus olhos e foquei no ritmo do seu coração, que ainda era o mesmo. Sempre estável e ritmado, porém, hoje, ele estava um pouco mais acelerado, combinando com o meu pulsar.
— Eu tô tão cansado — ele disse para si mesmo, contudo eu o escutei. Afaguei suas costas com calma para que ele soubesse que estava tudo bem não estar bem e que eu continuaria ali até que ele ficasse.
Não sei exatamente quanto tempo ficamos ali embaixo, talvez até o navio dar mais um balanço instável e eu o segurar com mais força para que ele não tropeçasse nas suas pernas que já não estavam lá tão firmes, porém eu sei que foi tempo suficiente para que ele voltasse a raciocinar e suas mãos me segurassem com um pouco mais de firmeza.
— Quer sair? — ele perguntou e eu meneei minha cabeça. Ele apoiou o seu queixo em minha cabeça e suspirou — quer acabar com a água do mundo começando por aqui?
— Para você falar algo assim, provavelmente já está melhor — eu sorri contra o seu peito e me desprendi dele, desligando a água do chuveiro.
Eduardo não me soltou imediatamente, demorando-se um segundo, depositando um beijo em minha testa e eu fechei os olhos em reflexo.
Não sei o porquê, mas eu sempre achei beijos na testa estranhos, como se a pessoa tivesse preguiça de se abaixar um pouquinho a mais para me beijar na bochecha, porém com Eduardo eu sentia que ele sabia exatamente o que estava fazendo. Ele queira me beijar na testa. E eu sentia que aquilo era um carinho, então eu deixava.
— Pronto, vamos sair? — eu abri a porta do box e peguei uma toalha, enrolando-a ao redor dele, levando-o até o vaso para que ele se sentasse ali enquanto eu esfregava a toalha em seu corpo e cabelo da melhor maneira que eu conseguia, porém meus movimentos eram atrapalhados e eu acho que até mesmo Edu percebeu, porque ele apenas ria de mim — e agora? Novinho em folha?
— Nenhum pouco — ele meneou a cabeça, me dando um sorriso tortinho que não chegava até os seus olhos — mas obrigado.
— Que tal você dormir um pouco? Eu vejo se eles tem algo para o enjoo aqui e peço um café da manhã no quarto para nós com todas as coisas mais saudáveis do mundo — eu lhe disse — talvez seja melhor colocar um shorts seco para não molhar a cama?
— Acho que isso eu consigo fazer sozinho — e eu entendi que estava forçando a barra.
Eu joguei o shorts do seu pijama na sua direção e sai do banheiro, ligando para a recepção e explicando a minha situação enquanto senti um peso tombando do outro lado da cama. A Anete me disse que várias pessoas estavam sofrendo da mesma coisa, muitas atividades foram canceladas e que a recomendação era ficar dentro do quarto até que o mar estivesse mais calmo — o que aconteceria em aproximadamente quatro horas, de acordo com ela.
Ela me disse que mandaria uma bandeja de café da manhã para o quarto e alguns alimentos que pudessem fazer bem para o meu acompanhante, enquanto isso, que era para eu fechar bem as janelas e aguardar que tudo ficaria bem.
Estava prestes a comentar sobre isso com Eduardo, porém notei que ele estava desmaiado do meu lado. Bem, ele realmente precisava descansar.
Eu retirei a sua blusa que estava encharcada no meu corpo e coloquei a roupa mais confortável que eu havia levado — que nem fui eu que coloquei na mala, mas sim Romeu, tenho certeza — que era um shorts de pijama azul claro e uma blusa pêssego bem larguinha.
Eu ouvi o barulho de um telefone tocando e tinha jeito de ligação. Olhei para o meu lado, vendo que ali havia apenas o grupo da família bombando de mensagem desde às cinco da manhã quando a tia Vanessa descobriu que a hidroginástica havia sido cancelada pelo mau tempo, e isso já fazia mais de cinco horas.
Depois de notar que realmente não era meu celular, eu me levantei e fui atrás do celular barulhento para não acordar Eduardo e notei que era o do dito cujo que estava tocando com a cara do Henrique Francisco pedindo uma ligação com vídeo, eu entrei no banheiro e fechei a porta, atendendo a chamada.
— Caralho! Marcela? — ele disse depois que meu rosto apareceu na câmera. Ele estava com o cabelo um pouco mais comprido e... aquilo era um cavanhaque? Ou apenas pixels colocados erroneamente em seu queixo?
— Bom dia, desculpa te incomodar de verdade, mas o Eduardo está passando mal e eu não faço a menor ideia do que fazer — eu disse com a voz baixa e diminui o volume da ligação.
— Ah, foi você que mandou mensagem? Bem que eu notei que você me chamou de Chico e não Chicão, mas eu pensei que fosse apenas a loucura marítima atingindo meu parceiro — ele me explicou algo que eu apenas dei de ombros.
— Fui eu. Ele acabou de jogar fora o seu peso em vômito e o navio está balançando horrores aqui — eu disse e, como se quisesse realmente provar que estava balançando, o frasco do meu shampoo esquecido no chão rolou para o outro lado do box — ele está dormindo um pouco agora, mas precisa comer alguma coisa e beber água, só que eu tenho medo de ele vomitar de novo. Eu não faço ideia do que fazer!
— Quem é? — eu ouvi uma voz e o rosto de Leandro apareceu ao lado do de Francisco, ou seja, metade do rosto de cada um estava aparecendo — Oi Má! Tudo bem? — e ele me deu o seu sorriso estranho.
— Leandro, agora não. Edu tá passando mal — Chico o empurrou para fora e eu juro que ouvi algo caindo e se quebrando, porém se aquilo foi o corpo de Leandro, provavelmente nem Marcele conseguiria fazer aquele osso voltar para o lugar — tá, normalmente maçã verde ajuda...
— Ele come umas duas por dia. Tem um estoque infinito. Acho que metade da mala é maçã verde — eu disse e Francisco sorriu, orgulhoso. Bem, acho que sei quem veio com a ideia, então.
— Extrato de gengibre? Frutas cítricas? Água! Muita água! Pode tentar dar um dramin para ele, porém eu duvido muito que ele aceite, o cara é contra remédios — ele coçou o queixo e olhou para cima — chá ajuda também, ou pelo menos minha avó dizia que chá de erva-doce ajuda.
Eu estremeci, porque o cheiro de erva-doce me dava enjoo. Um navio balançando? Nada. Ver e lidar com vômito? Nenhum problema. Beber a noite toda? Super tranquilo. Mas aquele cházinho com o cheiro doce revolvia o meu estômago na hora.
— Não é para você, bonitona — ele me disse e eu revirei os olhos com um sorriso — e deixa o cara descansar. Provavelmente ele vai dormir por pelo menos uma hora para se recuperar. Qualquer coisa faz greve de sexo se ele não tomar o dramin e é isso.
Eu o encarei com o olhar arregalado e Leandro berrou algo que parecia "Baralho, Ricão", mas eu tinha certeza de que não era isso e a expressão de susto de Henrique Francisco delatou que ele havia soltado aquilo sem querer.
— Quero dizer, não que vocês estejam, porque eu não sei se estão, mas se estivessem o Eduardo não ia me contar...
— Sei... — eu anui sem acreditar em uma gota das suas palavras — tá tudo bem, meus amigos também descobriram isso — eu disse logo para que ele não ficasse todo estranho e notei que aquela era a resposta certa, porque o sorriso dele tomou conta de metade da tela do celular. Não adiantava mentir de qualquer maneira, porque eu tinha certeza de que Eduardo já tinha dado com a língua entre os dentes.
— Então é oficial? — ele me perguntou e eu franzi as sobrancelhas, passando as mãos nos cabelos para que os fios não secassem colados uns nos outros.
— O que é oficial? — eu devolvi a pergunta.
— Vocês dois? — ele complementou e eu revirei os olhos mais uma vez.
— Bom dia, Chico. Muito obrigada pela ajuda! Se o Eduardo piorar, eu te ligo, ok? — ele tentou dizer mais alguma coisa, mas eu apenas apertei no botão vermelho e meneei minha cabeça, apoiando minhas bochechas em minhas mãos quando o fundo de tela do celular dele brilhou para mim.
A foto ainda era o nosso beijo. O... segundo? Segundo, eu acho. E depois dele vieram tantos.
No começo era tão estranho beijá-lo. Era como se eu estivesse tentando falar russo sendo que eu nunca havia feito nenhuma aula daquilo na vida e agora... agora eu era fluente. Praticamente natural naquela língua.
Três batidas na porta do quarto.
Eu saí do banheiro e abri a porta com delicadeza, porque eu senti que eu não estava exatamente na vertical e a inclinação estava passando dos quinze graus e aquilo era bem estranho.
O rapaz do serviço de quarto colocou as duas bandejas na penteadeira depois que eu apenas joguei minhas coisas que estavam ali em cima de uma cadeira e eu lhe agradeci pela rapidez. Ele me olhou com pena e desejou melhoras pro meu namorado, saindo do quarto.
Acendi o abajur e olhei o que tinha ali. Uma bandeja era a encarnação da gula e de todas as coisas boas que haviam na vida, já a outra havia praticamente saído da área culinária de um hospital, porém acho que aquilo era exatamente o que o Eduardo precisava.
Eu liguei a televisão e coloquei em Emily em Paris, porque havia dormido em vários episódios e não fazia ideia exatamente de quando eu parei de assistir, então chutei um episódio e dei play. Eu tirei a maior parte do volume e deixei a legenda ligada, colocando uma xícara de café e um pingo de leite para começar a mergulhar os pães de queijo ali.
Deus, eu estava faminta.
Meu celular apitou mais umas vezes e eu notei que estava na hora de remutar a minha família por mais um ano — não é que eu não gostasse deles, porém eles falavam demais e normalmente eram frases motivacionais de bom dia ou sobre o Toby, o cachorro da prima da tia do periquito da vizinha que estava com uma ninhada e eles precisavam encontrar novos lares. Ou seja, não eram realmente coisas que eu estava super interessada, então eu passava os olhos uma vez por dia, ou a cada dois dias, em todas as mensagens e pronto. Não era lá muito pró-ativa.
Vi que Marcele disse ali que o Patrício estava vomitando horrores, porém ela não sabia se era pelo álcool da noite anterior ou pelo balanço do navio. Claro que tia Marília mandou uma figurinha de "abençoa senhor" e Valentina mandou outra de "Não é só porque sextou que tu sextarás".
Depois a Sam disse que Marcelo também estava mal e eu comecei a pensar se não era um enjoo que abateu apenas os homens Noronha, porém papai apenas mandou a figurinha de "kkkrying" e eu desisti. Desde quando meu pai sabia mandar figurinhas?
Marcele: O ponto de acupressão pro enjoo é no pé!
Marcele: Planta do pé, logo embaixo do dedão e do "indicador" do pé
Marcele: Pressiona ali com os dois polegares
Samantha: Com meu pé?
Marcele: Com a mão, né anjo?
Valentina: Não vou colocar a mão do pé de ninguém
Valentina: Isso é nojento!
Marília: Faço isso quantas vezes?
Marcele: Vai com fé e força por um minuto
Marcele: Faz isso três vezes
Enzo: A Bruna não acorda, será que morreu?
Valentina: Se morreu, o quarto dela fica pra mim?
Marília: Valentina!
Vanessa: Valentina!
Valentina: A pergunta é válida!
Eu bloqueei a tela do celular e montei um pão francês cheio de ovo mexido, enfiando meus dentes ali com tanta vontade que eu gemi de prazer e uma parte do ovo caiu de volta no prato.
— Se você fizesse isso no dia que a gente se conheceu, eu te pedia em casamento na mesma hora — eu ouvi a voz rouca, porém não tão rasgada, de Eduardo atrás de mim e virei me virei para ele, ainda mastigando — isso aí, me seduz ainda mais.
Eu demorei mais tempo do que deveria comendo aquilo, porém consegui me recompor, limpar minhas mãos com um papel e sorri para ele.
— Como você está? — eu perguntei e ele me deu um olhar cansado — tipo, tirando o fato de que você vomitou por um tempo considerável agora pouco.
— Morrendo aos poucos, mas ainda vivo — ele me disse e eu assenti, sorrindo.
Eu levei a bandeja das comidas hospitalares para o lado que normalmente eu ficava na cama e acendi a luz pela primeira vez, notando o quão escuro estava o lugar, porque de repente eu notei que a cor havia voltado um pouco ao rosto de Eduardo e o cabelo dele estava espetado para lugares que eu nem fazia ideia de que era possível.
— Eu conversei com o Francisco — eu disse e ele levantou uma sobrancelha, completamente desconfiado — e ele me disse que você tem duas opções para melhorar o seu enjoo. Chá de erva-doce ou dramin. E beber muita água.
— Erva-doce — ele me disse em uma batida e eu franzi meu cenho.
— Tem certeza? Vou te deixar reconsiderar — eu sugeri e ele meneou a cabeça — Ok, então.
Eu me levantei e fui até a chaleira elétrica que tinha no quarto, colocando um pouco da água mineral que havia em nosso frigobar e a deixando para ferver.
Eu me peguei murmurando uma melodia que eu sabia que reconhecia, mas não me lembrava exatamente de onde. Era famosa. De onde?
Então a recordação de Eduardo cantando, com a sua voz mole e bêbada, My Heart Will Go On para mim em uma versão que Celine Dion ficaria orgulhosa fez um sorriso subir pelos meus lábios.
Quando a água ferveu eu a coloquei em uma xícara e enfiei o sachê de erva-doce dentro do líquido e deixei aquele troço na bandeja de Eduardo, rezando para o navio não se revoltar mais, senão alguém sairia queimado.
— Obrigado por cuidar de mim e desculpa o trabalho — ele disse e peguei a minha bandeja, colocando em cima do meu colo com uma piscadinha — mas é injusto que você tenha comida de verdade e eu tenha isso daqui.
— Regras do Dr. Chicão — eu sorri para ele, voltando a comer meu pão com ovo mexido e ele tomou o suco de laranja com menos vontade do que normalmente tomaria.
— Mas... de verdade, obrigado — ele voltou a dizer e eu revirei meus olhos.
— De verdade verdadeira? Não tem o que agradecer, Edu — eu lhe garanti e ele assentiu ainda receoso — agora calma que a Emily tá quase estragando tudo com o vestido. E quem é esse francês metido a besta?
E pelos próximos minutos, Eduardo recapitulou tudo o que eu havia dormido / esquecido dos episódios que havíamos assistido e nós ficamos as horas seguintes ali, tomando café da manhã até às duas da tarde e assistindo série.
E talvez, e apenas talvez, aquele foi um dos melhores dias da viagem.
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Oiee, tudo bem com vocês?
Não é um sonho, repito, não é um sonho!! A gente postou rapidinho mesmo (o engajamento o capítulo de ontem foi tão tão incrível que, né? hahaha vocês merecem!!!!!).
Este cap (vou contar os bastidores e a Gabs que me perdoe) foi difícil de escrever haha ele passou por umas cinco revisões até ficar do jeitinho que a gente queria, porque as coisas tinham que encaixar naturalmente (espero que a gente tenha passado essa sensação para vocês).
A Má cuidando do Edu, se preocupando com ele, para mim, é um dos momentos que eu mais gosto do livro (junto com todos os outros mil capítulos hahaha sou de libra, por favor não me julguem por não conseguir escolher um).
Vocês são do time que prefere um cházinho ou remédio? Admito que eu só tomo remédio se eu estiver prestes a morrer, entãaao...
Espero que estejam gostando!! Não se esqueçam da estrelinha e de nos contar sobre os sorrisos e lágrimas que este capítulo foférrimo arrancou de vocês.
Beijinhos
Libriela <3
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