Capítulo 22 - Pode guardar a espada, Rei Arthur

Pode guardar a espada, Rei Arthur


Eduardo

Quando eu voltei da academia do cruzeiro, que tinha um vista de tirar o fôlego, Marcela ainda não tinha voltado para o quarto, provavelmente ainda aproveitando o dia no spa com Samantha e Marcele.

Eu estava dolorido e suado depois de fazer o treino que Vinícius, o personal trainer que me orientava desde sempre, tinha passado para os dias do cruzeiro. Era para ser um mais leve, porque eu estava de férias e precisava de disposição e de fato foi, mas eu resolvi dar uma corrida da esteira porque o mar azul se estendia bem à frente da parede de vidro e porque eu estava me sentindo extremamente disposto, apesar do que tinha feito na noite anterior.

Ou melhor, provavelmente em razão do que eu tinha feito na noite anterior.

Ah, Marcela...

Eu sabia que ela era linda desde o momento que eu tinha colocado meus olhos nela pela primeira vez, na CPN, onde eu também descobri que ela era obstinada, reativa e extremamente inteligente.

Sempre soube que ela acendia uma faísca em mim com aquelas pernas lindas e tudo o mais, mas nunca me imaginei tão cego de desejo por ela como na noite anterior. Em certo ponto, todo o resto estava nublado e só ela estava em foco. Só uma coisa importava e eu e sabia muito bem o que era e, pelos gemidos e o arfar da sua respiração, acho que ela tinha entendido também.

Quando ela propôs que fosse uma vez, pareceu uma boa ideia, porque serviria para nós dois matarmos aquela tensão que estava entre a gente desde... o dia que eu quase a beijei no carro, eu acho. Mas acho que eu tinha obtido o efeito contrário, porque eu sei exatamente o que se passou na minha cabeça quando a gente tomava banho juntos de manhã e eu queria redesenhar sua tatuagem com a língua e voltar a ser apenas amigo dela pareceu uma péssima ideia.

Terminei meu banho antes que eu não conseguisse sair dali de tanto pensar em Marcela e só tive tempo de enrolar uma toalha na cintura, porque alguém estava batendo na porta da cabine. Provavelmente Marcela tinha esquecido o cartão de acesso no quarto.

— Da próxima vez a gente perde o cartão no quarto com nós dois dentro, bonitona — eu disse, abrindo por dentro e dando de cara com... Patrício. — Ah, oi. Desculpa, eu achei que fosse a Marcela voltando do spa.

Eu gostaria de ter colocado uma roupa e não estar pensando em transar com Marcela e, embora eu soubesse que aquilo ajudaria a questão do namoro, talvez eu realmente estivesse prestes a implorar para que Patrício não comentasse aquilo com nosso querido cunhado Marcelo.

— Oi, Edu. Conhecendo minha noiva, sua namorada e a Sam, acho que você não vai vê-las tão cedo hoje, então pode guardar a espada, Rei Arthur — ele disse, dando risada e eu juro que até eu, um cara pouquíssimo tímido, fiquei vermelho, embora eu não estivesse realmente empunhando a espada naquele momento. — Heitor chamou a gente para beber, anima?

Heitor era... O pai da Marcela. Muitos nomes para decorar em um espaço muito curto de tempo.

— Eu não recusaria um convite do meu sogro — concordei e Patrício acenou positivamente, passando os dedos pelos cabelos cor de areia.

— Sábia escolha. Em uma meia hora no bar da piscina, Edu. E não critique o fato de ainda ser de manhã, ele não vai gostar — o advogado disse e eu assenti.

— Obrigado pela dica, Patrício — eu disse e ele deu de ombros, começando a andar até o elevador.

— Eu já estive no seu lugar. Noronhas agregados devem se ajudar. — Sorriu e sumiu pela porta de metal.

Eu fechei a porta e me voltei para a pequena bagunça de travesseiros e lençóis que estava a cama e joguei os travesseiros de volta para cima apenas para abrir espaço para andar pelo quarto, já me questionando sobre o quanto daquilo Patrício teria visto e o quanto teria entendido e... Bom, tecnicamente era um casal dormindo ali e ele não era Henrique Francisco, então tudo bem ele achar que eu e Marcela tínhamos feito exatamente o que tínhamos feito. E o que, por mim, faríamos várias vezes ao longo daqueles sete dias.

Encontrei dentro da mala uma camisa de botão e manga curta listrada em tons de azul e uma bermuda mostarda que Leandro jurou que combinava com ela e vesti, procurando sapatos e decidindo que Romeu e Túlio não precisavam saber sobre minhas crocs — o que os olhos não veem o coração não sente, não é? — então as calcei.

Avisei na recepção que iríamos querer o serviço de camareiros, porque eu ia perder muito tempo arrumando a bagunça que tínhamos feito, e saí dali, enfiando o cartão do quarto no bolso e caminhando para o elevador, que ficou vazio por mais um ou dois andares, quando a porta abriu e Ágata entrou — realmente, não dava para se esconder das pessoas nesse cruzeiro.

Como sempre, ela estava lindíssima e sabia, com os cabelos loiros caindo em ondas ao redor do rosto, presos por um chapéu floppy branco e uma saída de praia amarela que combinava com sua pele dourada de sol. Ela sorriu assim que me viu.

— Oi, Edu — disse, se apoiando na parede de metal enquanto a porta se fechava e o elevador voltava a subir.

Sorri de volta para ela, coçando a nuca.

— Bom dia, Ágata — eu respondi.

— Azul para você é a prova de erros, não é? — perguntou, apontando para minha camisa. — Seus olhos ficam incríveis.

— Obrigado. Espero que o Heitor me ache incrível também — eu disse e ela franziu o cenho, em dúvida. — Meu... sogro — expliquei, estranhando aquela palavra na minha boca na frente de Ágata porque a única pessoa que eu tinha chamado de sogro antes tinha sido seu pai, Demétrio.

— Então você está em uma viagem de família com a...? — ela deixou uma lacuna, erguendo as sobrancelhas, meio confusa. Será que ela não se lembrava mesmo ou apenas não queria dizer o seu nome?

— Marcela — completei. — Sim, estamos comemorando as bodas dos avós dela.

— Então é para valer esse lance de vocês dois? — quis saber, me olhando com aqueles olhos azuis, debaixo para cima porque ela era mais baixa que eu.

— Levando em conta que eu estou aqui com a família dela... — Ágata franziu o nariz delicadamente. Ela estava maquiada, mas eu ainda me lembrava que havia várias e várias sardinhas pontilhando seu rosto, mas ela nunca as deixava visíveis. — A Má é incrível.

Eu gostava de como a Marcela não escondia suas sardas, como ela era tão natural que a maquiagem apenas intensificava sua beleza.

— Ela é super bonita — a loira disse, oferecendo um sorriso. Sua mão com dedos longos e unhas bem feitas envolveu o meu pulso. — Você está indo para a piscina? Podemos ir juntos.

— Vou encontrar meu sogro e meu concunhado no bar que fica perto — expliquei.

— Ah, tudo bem. Você tem planos para mais tarde? — perguntou, tombando a cabeça de lado. — Faz tanto tempo que a gente não conversa e nós podíamos tomar um drink, sabe, pelos velhos tempos? Eu gostaria de saber como você está e como está tudo e...

— Não sei se é uma boa ideia — eu retruquei com a maior educação que consegui, porque não estava na minha lista de coisas preferidas conversar com a ex que me fez ser corno.

— A Marcela tem ciúmes de mim? — um sorrisinho subiu pelos seus lábios e eu respirei fundo.

— A gente confia um no outro, sabe? — disse eu, porque era verdade. Nós podíamos não ser um casal, mas eu confiava em Marcela e tenho certeza que ela também confiava em mim, ou então nós não estaríamos juntos tentando enganar metade da família dela.

— Ok, então. Às nove no bar da piscina? — perguntou como se eu não tivesse basicamente recusado seu primeiro convite e eu apenas dei de ombros, assentindo um segundo antes da porta abrir no andar certo, pois ela era uma das pessoas mais insistentes que eu havia conhecido e me ganharia pelo cansaço de qualquer maneira.

Então, antes de sair, ela se inclinou e me deu um beijo no rosto, caminhando em direção às espreguiçadeiras.

Eu logo vi Patrício acenando para mim e fui me juntar a ele, Heitor e mais um monte de primos que eu ia ter que fazer um super esforço para me lembrar como se chamavam. A segunda pessoa que se deu conta da minha presença foi Marcelo e sua feição não tinha sido exatamente amigável. Deuses, por que os 3M não podiam ser Marcela, Marcele e Marcel...i? Y? U? Um Marcelo um pouco menor, pelo menos?

— Edu! — Patrício disse e me ofereceu a cadeira ao seu lado, na qual eu me sentei após cumprimentar a todos, até mesmo o irmão enorme que me dava medo.

Eu tenho certeza que tinha chegado na hora que Patrício tinha me dito para chegar, mas vi que Enzo, o dentista que era noivo de Bruna, a prima engraçada de cabelo castanho escuro, estava no meio de algo:

— Ela decidiu que quer fazer o casamento na Praia Secreta, sabe? A de Vila Velha? — Todos ali anuíram, embora para mim a praia fosse tão secreta que eu nem soubesse que existia, uma vez que eu nunca tinha conhecido o Espírito Santo, terra natal da minha "namorada". — Pensa a burocracia!

Patrício deu de ombros.

— É só pedir autorização para a prefeitura e para a polícia, posso fazer isso para vocês — disse ele, tomando um gole da cerveja que estava à sua frente. — Difícil vai ser conseguir barrar os banhistas.

— Exato! — continuou Enzo, que parecia realmente contrariado. — E aí ela quer encher de flores, tipo, na praia. Primeiro que o lugar já é bonito por si só e o vento vai carregar tudo, então qual o objetivo de gastar tanto dinheiro com flores? Fora que a quantidade que ela quer... Ela te falou, não foi, Marcelo?

Marcelo o olhou com cara de poucos amigos (então não era só comigo?). Marcela tinha me dito que, apesar de parecer um atleta de MMA (palavras minhas, não dela), ele era florista, o que era irônico porque Samantha, sua esposa que parecia uma boneca, era delegada de polícia.

— Flores ficam lindas em qualquer lugar e ela me pediu um orçamento para cravos cor-de-rosa...

Enzo não pareceu intimidado e interrompeu Marcelo, algo que, se Deus me desse sabedoria, eu nunca faria. Se ele me empurrasse no mar nunca iriam recuperar meu belo corpo e não teriam como provar que foi ele, então eu deveria me cuidar.

— Cravo não é flor de defunto? — perguntou.

Ousadia ou burrice interromper Marcelo e falar mal de flores? Pela careta de Patrício, segunda opção.

— Para algumas culturas, cravos são considerados flores ligadas à morte, para outras, tem mais a ver com fidelidade no matrimônio, por isso os noivos geralmente usam na lapela — explicou, com muito mais paciência do que eu esperava. Mas eu correria se ele me olhasse daquele jeito, sinceramente. — Por isso eu usei quando me casei com a Sam.

Nota mental: se ele me perguntar, eu vou usar cravos na lapela no meu casamento fictício com Marcela.

E também iria pesquisar significado de flores para caso ele me pergunte qual flor pretendo usar no casamento. Tenho certeza que se eu respondesse errado, ele me mataria com suas próprias mãos capazes.

— Qual é a data do casamento mesmo? — Patrício perguntou e eu vi que ele estava abrindo a agenda do celular, provavelmente para marcar quando teria que fazer os pedidos para liberação da praia.

— 22 de maio de 2022 — Enzo respondeu, rolando os olhos e Patrício ergueu as sobrancelhas, surpreso. — Eu amo a Bruna, mas ela está me enlouquecendo com muita antecedência.

Todos começaram a rir e eu me senti meio boiando. Fiquei grato quando Gustavo apareceu, trazendo uma caneca de cerveja que eu não tinha pedido, mas que ele com certeza sabia que eu precisava.

Santo Gustavo.

Ele estava prestes a se afastar mas eu o segurei pelo braço, matando aquela caneca inteira de um jeito que eu tinha aprendido após várias disputas com Leandro e Chicão. Leandro sempre ganhava todas porque sua tolerância era altíssima de um jeito que até deixava o lado médico de Henrique Francisco preocupado, mas aí ele ficava bêbado e esquecia.

— Traz outra, cara — eu disse, devolvendo a caneca para a sua bandeja e ele ergueu as sobrancelhas para mim com um ar risonho e entendedor demais. — Irish Red ou Porter — disse eu, um pouco mais baixo e ele riu.

Eu achei que ninguém tinha escutado, mas vi que Patrício estava rindo e não era da antecipação de dois anos dos preparativos da Bruna, mas sim da minha ideia de que chope pilsen não ia me deixar tão bêbado quanto eu gostaria no tempo que eu gostaria.

— Quero um Porter também — disse Heitor para Gustavo, que fez uma espécie de continência para ele levando dois dedos à testa. Meu "sogro" sorriu para mim. — Finalmente alguém que sabe beber!

— Pai, são dez e meia da manhã — Marcelo lembrou.

— Eu estou em um cruzeiro no meio do Atlântico, Marcelo! De férias! — Voltou-se para Gustavo. — Traz um para ele também — apontou para Marcelo, que fez cara feia para mim como se a culpa fosse minha. O que eu fiz? — O próximo pode ser um Märzen, Edu?

Eu sorri.

— Só se depois o senhor topar um Pale Ale — sugeri e Heitor riu, aprovando a sugestão.

— Me chame de você, você é da família agora — disse ele e eu só quis que Gustavo voltasse logo com o chope porque eu senti uma leve culpa, porque eu não era da família e pelo que eu estava pensando em fazer com a caçula dele.

Talvez eu merecesse os olhares resignados de Marcelo para mim? Talvez.

Eu ia continuar merecendo? Se tudo desse certo, também.

— Qual é, ninguém me aceitou na família rápido assim — Enzo resmungou, mas deu risada na sequência.

— Mas ele é o namorado da Celinha, a gente não precisa ser linha dura com ele porque ela com certeza já é — disse Adriel, o primo de cabelo comprido na ponta da mesa.

Ele era filho da tia Vanessa, eu acho. Tinha um estilo meio alternativo e, apesar do cabelo comprido, parecia bem pouco com Marcelo, que fazia um estilo mais lenhador super bombado, enquanto Adriel provavelmente era... Emo? Bom, ele estava com lápis de olho e tinha um franjão, então esse era o meu chute.

Marcelo sorriu. Com a ideia da irmã me maltratando, eu acho.

— Com certeza a Cela não é boazinha que nem a Bruna — completou Enzo. Ele não estava falando como Bruna era uma tirana há dois minutos? De fato aquele Hitler que ele tinha descrito não combinava com a moça bonita e divertida do jantar do dia anterior, mas ele a conhecia melhor do que eu.

Dei de ombros, dando um sorriso de canto.

— Marcela é ótima. — Felizmente, eu não precisava mentir sobre isso, porque ela era, ainda que a gente vivesse discutindo sobre os projetos e quase nunca combinasse em nada.

Bom, eu gostava de certas áreas em que a gente combinava muito.

Marcelo me olhou como se estivesse lendo meus pensamentos.

— Filho, ela é ótima mesmo — Heitor disse, com um sorriso nos lábios que os outros primos acompanharam. — Mas eu conheço meus filhos e sei que Marcela não é um amor como Marcele e Marcelo. Ao menos não de um jeito óbvio.

Marcelo? Um amor? De um jeito óbvio? Onde?

Eu ri e Gustavo se aproximou com uma rodada de Irish Red para todo mundo, distribuindo as canecas de um jeito muito profissional e se certificando de que eu ainda estava bem.

— Ela é... Reativa, eu acho. Meio cabeça dura às vezes, estressada — eu contei e Heitor assentiu. Patrício deu uns tapinhas no meu ombro, porque ele tinha ficado com a filha que era um amor como o Marcelo e de alguma forma isso era bom. — Mas é uma das pessoas mais incríveis e inteligentes que eu conheci na vida. É impossível não gostar dela.

Patrício sorriu para mim e eu fiquei grato ao ver que tinha dito algo bom, porque Marcelo, meu termômetro para aquele dia, tinha relaxado um pouquinho na cadeira.

— Ele está mesmo bem apaixonado, tio — Adriel disse, achando graça e arrumando o cabelo que batia no seu rosto por causa do vento.

— Eu estou vendo — Heitor sorriu para mim. — Celinha merece um cara que a veja como a pessoa incrível que ela é.

Depois, Enzo perguntou como foi que eu tinha conseguido beijar Marcela pela primeira vez e, embora a gente tenha rido muito da história sobre a mesinha de centro com Getúlio e Romeu quando decidimos que aquela seria a versão do primeiro beijo que sua família conheceria, eu precisei chegar à caneca de Immigrati para ter coragem de contar.

Marcelo achou menos divertido que os outros, mas Patrício tinha cuspido metade de seu chope em Enzo para rir, então acho que a família em geral aprovou.

E o lado bom é que não era mentira. Marcela Noronha tinha escalado uma mesinha de centro para me beijar e eu amava essa história só um pouquinho mais do que a sua família.

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Como manda a norma, para sextar direito tem que ter capítulo novo de CEM!!

Eduardo completamente iludido com a espada pronta pra batalha, mas era apenas o Pat (eu amo esse personagem!!! Digam oi pro Pat na mídia) convidando para uma emboscada cof cof quero dizer encontro de família.

A gente conhece muito a família da Má pelos olhos dela, mas pelo jeito o Edu está tendo uma visão um tantinho diferente. Será que alguma coisa ainda vai mudar depois do cruzeiro?

E que história é essa da Ágata querer sair com o Edu... xii, cheirinho de clorofila no ar, viu gente. Mas isso fica pros próximos capítulos!

Obrigada por lerem! Não esqueçam da estrelinha e de dizer o que estão achando!!

Beijinhos

Libriela <3

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