Capítulo 117 - Tem coisas que eu guardo só para você

Capítulo 117 - Tem coisas que eu guardo só para você

Eduardo

Henrique Francisco: (imagem)

Henrique Francisco: (imagem)

Henrique Francisco: (imagem)

Não era todos os dias que eu podia dizer que via Chicão mandando fotos do céu e, depois, de si mesmo numa poltrona de avião, com uma máscara para dormir na testa e um travesseiro de pescoço azul com desenhos de planeta que era 100% sustentável e, inclusive, era meu!

Tudo bem que eu não costumava usar e teria emprestado de qualquer maneira, mas mesmo assim!

Eduardo: Você está zoando que levou o meu travesseiro, Henrique Francisco Gadelha

Henrique Francisco: E espirrei seu perfume nele, inclusive

Henrique Francisco: Pode ser porque estava com cheiro de guardado, pode ser porque eu queria cheirinho de One Million, vocês nunca saberão a verdade

Leandro: Queria julgar, mas não posso pois faria a mesma coisa

Leandro: (imagem)

E aí uma foto de Leandro em frente ao seu computador na VixSão, exibindo que seu plano de fundo era uma foto das Três Espiãs Demais (nós três, no caso, não Sam, Clover e Alex) com chapeuzinhos de festa que, sem sombra de dúvida, tinham sido inseridos ali por obra de Malu Guedes.

Eduardo: Sério, vocês precisam ser estudados

Leandro: Por que não tem como duas pessoas serem tão perfeitas?

Leandro: Eu sei

Leandro: (figurinha)

Henrique Francisco: Eu só queria um pouquinho de Edu no seu aniversário

A verdade é que desde os meus seis anos de idade, nunca tinha passado um aniversário longe de Henrique Francisco, então era estranho mesmo não estar com meu pretinho, mas ele iria participar de um congresso de oftalmologia no Rio Grande do Sul e, obviamente, eu jamais seria empecilho para isso - até porque eu seria o primeiro a jogá-lo dentro daquele avião contra a vontade dele se ele sequer cogitasse não ir, pois tinha submetido um artigo científico para a banca internacional do congresso, tinha sido aprovado por ser foda para um caralho em cirurgia refrativa e se apresentaria no terceiro dia (eu tinha assistido os ensaios dele na sala de casa vezes o suficiente para saber que ele seria perfeito e ninguém tem provas de que eu funguei porque ele era um puta médico do caralho e eu estava o puro suco do orgulho).

Tiago, por sua vez, tinha pedido férias para acompanhá-lo na viagem pelos cinco dias de congresso, de domingo a quinta-feira - e foi aí que eles estenderam a viagem mais três dias para voltar só no domingo seguinte e conseguiram um quarto em uma pousada lindinha que fazia jus à primeira viagem de casal dos dois, que estavam tão casal apaixonado quanto possível naquele momento e eu já estava quase esquecendo como era o rosto deles quando as bocas não estavam coladas uma na outra. Lindos, é o que eu posso dizer sobre o casalzão.

Então, porque Chicão estaria viajando, foi que nós comemoramos meu aniversário na sexta-feira à noite e não no sábado, no Bar dos Ardos.

Eu tinha ganhado bebida demais de Marcela, Tiago, Chico, Leandro, Retúlio e até Gustavo - embora acho que ele tenha sido mais convencido pelo sorriso lindo de Marcela do que pelos meus olhinhos azuis - e tinha, tristemente, descoberto que aos 31 anos você perde todos os seus poderes de jovem, pois depois de duas cervejas eu já estava prontamente online e roteando e, segundo o galã de revista, passei muito tempo andando atrás de Breno tentando convencê-lo a considerar o veganismo antes de eles descobrirem onde eu tinha ido parar quando saí da mesa.

E, na verdade, tinha vindo bem a calhar antecipar a comemoração, pois minha mãe tinha solicitado a minha presença em um jantar de aniversário em Campinas.

Henrique Francisco: Áudio de 20s

- Ele rosnou para mim quando eu tentei pegar a almofadinha emprestada, não sei que tipo de namoro é esse - foi o que a voz de Tiago disse no áudio - e tenho certeza de que a meia branca perdida na bagagem de mão é do Lê, porque nunca vi nada tão branco na minha vida.

E aí Chicão reclamando que era só para dar sorte ao fundo.

Leandro: Bicarbonato de sódio, vinagre branco e amor, Loira Odonto

Eduardo: Você não precisa de sorte, Dr. Henrique, você é foda demais

Leandro: SENNA, Eduardo, 2021

Leandro: Assino embaixo

Henrique Francisco: Áudio de 2s

Tiago concordando, claro.

Henrique Francisco: (figurinha)

Henrique Francisco: Lelê, por que você está na revista num sábado?

Leandro: Vim dar apoio moral para o Fê, Vitório conseguiu um furo e ele está mexendo na edição que vai para a gráfica na segunda

Leandro: Tenho certeza que nenhum filósofo jamais falou as palavras que estão saindo da boca dele

Leandro: Sócrates ficaria horrorizado

Leandro: Mas acho que ele vai se dar bem como filósofo moderno, sim

Leandro: Normalmente ele fala umas coisas tipo "o homem nasce bom e a sociedade o corrompe", o que eu sei que é uma frase de Rousseau porque ele realmente fala isso sempre

Leandro: Hoje?

Leandro: "A tendência do homem é ser um cuzão" e aí taca uma revista na parede (figurativamente, ainda é o Galhardinho, paladino do bom senso)

Henrique Francisco: hahahahahahaha (ele tá certo)

Leandro: A propósito, acho que ele te mandou parabéns e (ou?) rosnou para você, Edu

Henrique Francisco: Eu já te dei parabéns hoje, Eduzinho, meu príncipe?

Eduardo: Contando com essa vez? Então umas setecentas vezes, só

Leandro: PARABÉNS

Henrique Francisco: COISA LINDA CHEIROSA

Leandro: CONTINUA ENFIANDO MATO NO MUNDO

Henrique Francisco: TE AMO, EDU VELHO, TE AMO

Leandro: EDU ENVELHECE QUE NEM VINHO, SÓ FICA MELHOR ESSE PRÍNCIPE

Henrique Francisco: HOJE ATÉ O BAMBU TÁ FELIZ

Henrique Francisco: Falando em bambu, dá parabéns de novo pra sua digníssima, vocês vão fazer um estádiooooooooo

Henrique Franscisco: ATLÉTICO MINEIRO VAI BRILHAR NO ESTÁDIO DA MARCELA RAIVOSA E EDU ECOLÓGICOOOOOOO

Leandro: Uhu, uhuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu

Leandro: #VemAí estádio de bambu

Se eles já tinham dado parabéns para Marcela? Contando com essa... Umas quatro trilhões de vezes. Tiago incluso, claro, e eu tinha certeza que ela desligaria na cara deles se eles resolvessem ligar cantando mais uma vez.

O que talvez incluísse a minha família. Eu queria dizer que os Senna foram ponderados conosco, mas o grupo da família, que ninguém nunca usava para nada além de figurinhas de bom dia parecia uma metralhadora de mensagens desde que eles ficaram sabendo da nossa façanha na construção civil - meu aniversário também estava envolvido, mas as pessoas já tinham começado a falar "parabéns estádio!!!!" como se fosse ele quem estivesse fazendo aniversário.

Aí corrigiam para Eduardo.

E aí começavam a dar parabéns para Marcela, que tinha sido incluída no grupo que eu jurei que as últimas mensagens tinham sido mandadas em 1996. Mas, em minha defesa, o grupo dos Noronha também estava o caos na Terra - até Adriel tinha mandado áudios cantando. Não o parabéns da Xuxa ou as paródias de Patrício de Evidências, mas Simple Plan.

Bom, acho que não podíamos esperar mais do gótico light deles.

Leandro: Podem passar anos, mas toda vez que bambu é mencionado eu volto pra quinta série e fico HMMMMMMMMMMM O BAMBUZINHO TÁ FELIZ, É? hihihihihihihi

Leandro: Peço desculpas pela falha de caráter

Eduardo: Obrigado, príncipes

Eduardo: Eu amo vosidfjasiofjsia

- Ai! - reclamei quando bati a cabeça no teto do carro, depois de passar muito suavemente (aham, confia) por um quebra-molas e teclar vinte e cinco lugares diferentes do celular antes de deixá-lo cair no tapete do carro.

- Em minha defesa - disse Marcela, me olhando de soslaio como se não tivesse acabado de pular uma lombada -, não estava sinalizado e você é um péssimo co-piloto, porque você é quem conhece o caminho e fica rindo para o celular ao invés de me guiar como uma pessoa decente faria!

Então ela voltou seus olhos para a pista, atenta ao reduzir a velocidade para entrar em uma curva, enquanto, no rádio, Creedence Clearwater nos perguntava se nós já tínhamos visto a chuva naquele ritmo suave de country rock que, eventualmente, aparecia nas minhas playlists.

- Desculpa, amor - pedi, colocando minha mão junto com a dela em cima do câmbio do carro quando ela mexeu para engatar a quinta marcha, acompanhando o movimento dela. - Em minha defesa, Henrique Francisco e Leandro precisam de atenção em tempo integral.

- Eu sei, Tiago e eu secamos um Syrah na terça debatendo como é difícil namorar alguém que já tem dois namorados - contou e eu ri.

Algumas coisas sobre a fatídica noite de terça-feira: a) eu sabia que não tinha sido um vinho só e b) os áudios bêbados que Chicão e eu recebemos diziam que eles tinham chegado à conclusão que valia a pena namorar nós dois, porque a quantidade de "eu te amo" que recebemos só perdia para os soluços e as lágrimas de Tiago, que tinha resolvido chorar no tapete de Marcela em algo que era 50% amor demais e 50% álcool demais.

Marcela? Só ouvi as risadas ao fundo enquanto ela filmava e ria, segurando o celular com a firmeza de quem estava rolando um desfiladeiro.

A mulher da minha vida, senhoras e senhores.

- Garanto que tem coisas que eu guardo só para você - gracejei e Má subiu as sobrancelhas. - Eu nunca projetei um estádio com nenhum deles.

Marcela riu, jogando o cabelo para trás dos ombros.

- Esse é o diferencial do nosso relacionamento? Bom saber o que vocês fazem quando eu não estou presente - disse ela e eu me estiquei para dar um beijo no seu ombro.

- Você e vencer licitações são as coisas que mais me dão tesão, descobri recentemente - eu disse e dei mais um beijo, assistindo os pelos do braço dela se arrepiando porque aparentemente Eduardo e construir estádios também mexiam com ela. - E bambu não parece algo sujo quando eles falam - gracejei e ela sorriu.

- Gosta quando eu falo do seu bambu, Eduardo? - perguntou, baixinho, do jeito mais gostoso que sua boca conseguia fazer.

Eu ri e deixei meus dentes passarem pela pele dela, devagar, numa versão bem leve de uma mordida.

- É, eu estava pensando em falar, claro - devolvi. - Nunca considerei outras coisas entre você e meu bambu.

As sobrancelhas dela se apertaram e os cantinhos dos lábios subiram naquele sorrisinho gostoso que ela tinha. Nada-boa-moça-mesmo.

- Vou bater esse carro e matar nós dois se você não parar. - Apesar do teor da mensagem, ela não parecia estar desgostando do que eu estava fazendo, todavia, eu sabia como era tentar dirigir com uma pessoa que te acende inteiro ao seu lado, então... - Se quiser chegar aos trinta e dois, recomendo fortemente não testar minhas habilidades automobilísticas.

- Eu te ensinei a dirigir direitinho, fica tranquila - foi o que eu disse quando me afastei, com um sorriso garboso nos lábios.

A verdade é que Marcela sempre tinha dirigido bem, só faltava um pouco de prática e ela estava ocupando o volante do meu carro muito mais do que eu nos últimos tempos e estava se saindo muito bem, diga-se de passagem.

Mesmo assim, Patrício me fez incluir Marcela no seguro do meu carro, porque ele pensava em processos o tempo todo e aparentemente não queria ter que brigar com uma seguradora.

- Você me ajudou, mas não vai tirar o mérito das aulas do Romeu - ela devolveu.

Eu também namorava uma mulher com dois outros namorados, não namorava? Porque Romeu, ela e Getúlio podiam não se chamar de príncipes, mas o fato de eu estar em período probatório para entrar oficialmente no grupinho dos três era prova mais do que o suficiente de que eles tinham mais ciúmes de Marcela do que eu.

Nem Marcelo tinha ficado tão na defensiva comigo e já tinha me adotado para o clubinho dele com Patrício (no qual, devo ressaltar, nem Má tinha tido a honra de entrar, embora não sei quanto interesse ela tinha em artigos de lei, flores e, mais recentemente, assuntos ecológicos), um fato que ainda aborrecia Henrique Francisco e Leandro profundamente.

- Má, o Rom é excelente, mas a técnica dele de entrar no carro, pedir uma bênção para o divino e depois passar três horas infringindo leis de trânsito não é o método mais adequado de dirigir. - Marcela rosnou porque nem eu podia falar do Romeuzinho. - Má, eu amo o Romeu, mas você sabe que é verdade! Ele tem a paciência de um pinscher raivoso e três multas por excesso de velocidade! Esse ano! Estamos em março!

- O Getúlio é um fofoqueiro!

- E eu o amo por isso, sinceramente, ou eu nunca teria visto fotos de quando você era uma capixaba emo. - Gargalhei quando Marcela empurrou meu ombro, me jogando para o lado da porta do carro, porque jamais ia me perdoar por usar aquela foto que Getúlio conseguiu com Romeu, que aparentemente tinha conseguido com Valentina, em todas as minhas telas de bloqueio, incluindo meu iPad na CPN que Lucas também tinha acesso e ele e Sandro espalharam para todo mundo. - Agora entendi a inspiração do franjão do Adriel.

A franja de Marcela era mesmo igual a de emo de Adriel - tenho 100% certeza que ele levou aquela foto ao cabeleireiro e disse "quero igual".

- Vou jogar seu carro num poste, Eduardo! - ameaçou. - E vou pedir todos os álbuns de família para a sua mãe, acho bom você garantir que nunca achou que ficasse bem de franjão e lápis de olho demais porque vou espalhar para absolutamente todas as pessoas que passarem por mim!

- Você fica linda de franjão e lápis de olho demais, amor - eu garanti. - Mas você jamais verá fotos do mullet que eu tinha até os quinze anos.

Ela abriu a boca quando parou num semáforo e eu comecei a cogitar se deveria deixá-la ver que eu tinha cabelo comprido nessa época. Nunca foi a intenção que parecesse um mullet, mas parecia e eu achava lindo, até que um dia Cecília me pediu pelo amor de deus para tirar aquele rato da cabeça e algumas verdades ficaram muito claras para mim.

- Eu preciso disso, Edu!

- Vou pensar - disse, quando me inclinei devagar em direção ao banco do motorista e segurei seu rosto lindo entre as mãos até quase colar a minha boca na dela. - O fato de você não ter passado batom para eu poder te beijar sem peso na consciência me deixa muito suscetível a fazer o que você quiser.

Encostei nossos lábios e Marcela sorriu contra a minha boca.

- Era um trabalho ingrato, porque eu sabia que você ia borrar tudo, um pouco mais em cada semáforo - falou, baixinho.

- Minha missão como namorado é essa - devolvi, passando meu nariz no dela devagar. - E essa é uma honra que meus outros namorados nunca tiveram - brinquei.

Marcela me calou me beijando de novo, deixando a língua se enrolar na minha e roçar o céu da minha boca enquanto os lábios acariciavam os meus devagar e suas mãos criavam um caminho ascendente dos meus braços para os meus ombros e, então, ela abraçou meu pescoço.

- É mesmo?

- É - eu disse, abrindo os olhos e sorri ao ver os dela abertos também. - Agora você vira na próxima rua à esquerda - disse e ela colou os lábios nos meus de novo, o que me fez adiar indefinidamente a ideia de me afastar para que ela pudesse dirigir. - E depois à direita... - Mais uma vez. - Eu acho.

E afundei a boca na dela de novo até ouvir uma buzina e um xingamento - que pode ter vindo ou não de mim, mas com certeza foi ecoado pelo motorista do Sonata que nos ultrapassou mostrando o dedo do meio.

A primeira coisa que me deu a sensação de estar em casa foram os pés de ipê em frente a casa dos meus pais. Infelizmente, eles não estavam floridos porque a floração era apenas em maio, mas mesmo assim as árvores tinham uma cara absurda do lugar onde morei até entrar na faculdade.

Marcela estacionou o carro no local perto do gramado onde eu indiquei e desligou o motor, desregulando o retrovisor interno para passar o batom nos lábios que estavam vermelhos por motivos de Eduardo Senna - um dos feitos dos quais eu me orgulhava profundamente todas as vezes que realizava.

Nude rosado ficava lindo nos lábios dela, mas acho que verde limão teria o mesmo efeito na minha cabeça. Ciano. Branco. Preto que nem na época que ela era emo e usava munhequeira xadrez.

- Ok, então chegamos - ela disse, depois de catar os milhões de cacarecos que tinham saído da sua bolsa e sido jogados no meu colo enquanto ela procurava o batom. Aquele jogo de tetris de colocar tudo dentro de um espaço tão pequeno de novo era muito complicado, especialmente considerando que o canivete suiço era grande demais até para os parâmetros dos que Sandro carregava, o que só indicava que eu era quem namorava a pessoa mais perigosa da CPN. - Alguma coisa que eu preciso saber?

Ergui as sobrancelhas.

- Tipo?

- Não sei, amor - ela disse e gesticulou com as mãos enquanto dava de ombros. - Assuntos que eu não posso falar? Tipo... Se eu fizer uma piada sobre o Palmeiras não ter mundial, seus pais vão amaldiçoar minhas próximas cinco gerações? Não quero esse mal para meus filhos, que talvez possam ser seus também, se um dia eu resolver que quero ser mãe. - Estalou os dedos de uma mão na outra enquanto eu apenas a encarava, com a testa franzida e um olhar curioso. - Sua mãe terapeuta tem pavor de reatividade? Eu deveria ter comprado um rolo de silver tape para o seu pai?

- Má, o quê? - perguntei, dando risada, mas ela me cortou me olhando feio, logo eu escondi os dentes porque eu tinha visto o tamanho do canivete dela. - Amor...

- É sério, Eduardo! Eu não quero que eles não gostem de mim!

Então caiu a ficha.

Não era a primeira vez que ela veria ou conversaria com meus pais, mas era a primeira vez que ela estava na casa deles comigo, para o meu aniversário. Era uma nova perspectiva de conhecê-los e eu lembro como eu fiquei quando fui conhecer os pais dela, ainda que fosse apenas por uma mentira bem elaborada.

- Marcela Noronha, você sabe que meus pais adoram você, não sabe? - perguntei, pegando a mão dela para colocar entre as minhas antes que ela quebrasse um dedo de tanto estalar as juntas.

Ela fez um biquinho contrariado que eu usei toda a força de vontade que tinha para não beijar aquela boca linda e borrar seu batom recém-passado.

- Eles me conhecem como a engenheira linha dura que trabalha com você, não como a namorada da perfeição encarnada que eles chamam de filho! - explicou.

- Fico lisonjeado em saber que você me acha a perfeição encarnada, porque eu sou mesmo - me gabei e Marcela rolou os olhos, ainda que eu tenha tocado seu queixo com o indicador para inclinar seu rosto para cima, porque eu tinha a vantagem da altura. - Meus pais com certeza vão ficar muito contrariados em saber que você teve a audácia de me pedir em namoro e me fazer a porra do cara mais feliz do mundo. Sinceramente, Marcela Noronha, melhore!

- Eduardo!

Ela me beliscou. Na coxa. E, ironicamente, eu sabia que era uma demonstração de carinho. Ou pelo menos eu gostava de pensar que sim.

- Amor, eles adoram você e provavelmente estão pensando mais na possibilidade de você sair correndo deles, porque com certeza não é toda mulher que aceita ser cunhada da Ana Sofia e sogros que vão te ligar mais do que seu namorado. - Marcela riu, embora fosse uma aviso sobre como seria sua vida se ela desse liberdade para Esther e Fábio Senna. - E a Cecília já trouxe o Sandro várias vezes, sabia? Eles já sabem lidar com engenheiros reativos e brutalidade. - Ela deu um tapa no meu ombro, apesar de isso apenas comprovar do que eu estava falando, então envolvi seu rosto com as mãos, esmagando suas bochechas com meus dedos porque ela era nervosa, irritada e reativa, mas tinha aquela carinha linda que eu queria amassar. - Além disso, julgando que você dá um baile no Sandro com qualquer ferramenta na mão, ele vai ser o número dois pra você aqui também.

Elas sorriu e eu beijei a ponta do seu nariz.

- Eu dou mesmo um baile no Sandro - disse.

- Dá - garanti e dei um selinho na sua boca linda e rosada. - Eles vão amar você. Menos do que eu amo, mas vão, porque você é foda, Marcela Noronha.

- A engenheira mais foda?

- A pessoa mais foda.

- Depois de você?

- Obviamente - eu retruquei, roçando meu nariz no dela em um beijo de esquimó quando ela sorriu, porque sabíamos que nós dois éramos um empate técnico.

Eu estava prestes a borrar o batom dela. A centímetros. Já sentia aquela umidade gostosa que a boca dela tinha...

E aí alguém bateu na janela do carro e minha alma foi passear fora do meu corpo por um segundo.

Soltei Marcela para me virar e dei de cara com Cecília, que abriu a porta sem muitas cerimônias e enfiou a cabeça para dentro, me fazendo desviar para não acabar com cabelo enfiado no nariz - algo que ela colocaria a culpa em mim e não nos seus modos, claro.

- Devo trazer mamãe e papai para o carro ou vocês dois pretendem sair daí algum dia? Só para eu saber - disse minha irmã e eu soltei o cinto de segurança para pular para fora e ser envolvido em um abraço e pulinhos animados. - Parabéns, quarentão!

- Só nove anos adiantado, mas vou agradecer mesmo assim. Obrigado, pirralha! - eu disse e ela riu quando eu dei um beijo no seu cabelo. - Achei que você ia ficar presa na Horta, Ceci!

- Se eu não pudesse sair no dia do aniversário do meu irmão, então teria feito tudo errado na minha vida - ela disse e se soltou de mim, após um beijo na minha bochecha, para abraçar Marcela com a mesma intensidade.

- Parabéns, Senna! - Sandro disse, aparecendo com Ana Sofia em seu encalço, mas que logo saiu dali porque correu para cheirar Marcela, que não se assustou com o tamanho daquele cavalo. Acho que ela gostou da cunhada, caso contrário, Má não teria mais uma mão para chamar de sua quando acariciou a cabeça da cadela enorme e brincou com suas orelhas enquanto falava com ela com uma voz engraçada. Eu abracei o meu cunhado, que tinha mesmo um abraço de pai, como Golden costumava descrever. - Noronha! Parabéns pelo estádio!

Então Sandro foi cumprimentar Marcela e meus pais apareceram na porta, sorrindo para nós. Estendi a mão para minha namorada, que prontamente encaixou seus dedos nos meus e arrumou a blusa de seda creme no cós do jeans e os fios do cabelo, que caíam pelos seus ombros tão lindos quanto estavam quando ela terminou de arrumá-los em casa, brilhante e com ondas gentis.

Ela era tão linda que chegava a ser obsceno, especialmente quando ela sorriu para os meus pais e enfiou a chave do carro no bolso da calça com um gesto quase tímido.

Consegui ouvir Sandro cochichando para ela que tinha deixando a pia da cozinha gotejando e que se ela consertasse, com certeza seria um caso fatal de amor eterno entre meus pais e ela - mas Marcela não precisava disso, porque não tinha como não amar alguém tão maravilhoso quanto aquela engenheira foda para caralho.

- Eduzinho! - Minha mãe disse, envolvendo meu pescoço em um abraço que eu retribuí prontamente e enchendo meu rosto de beijos assim que eu cheguei perto. - Parabéns, filhote, parabéns!

- Obrigado, mãe. - Então caí no abraço do meu pai, cheio de amor e felicitações.

Aquilo terminou com um braço dele sobre o meu ombro, enquanto ele olhava para Marcela como se ela fosse um espécime raro, assim como minha mãe. Aquilo devia mesmo ser assustador, tipo quando a família Noronha inteira começou a assistir meus stories antes mesmo de me conhecerem no cruzeiro.

- Vai fazer as apresentações direitinho, Eduardo? - meu pai quis saber, sorrindo e não olhando para mim. - Acho que não é mais a Marcela "engenheira que trabalha comigo", né?

Sandro e Cecília estavam cada um de um lado da minha namorada, que sustentava um sorriso apenas levemente nervoso nos lábios. Dei uma piscadela para ela e, felizmente, ela derreteu um pouquinho para mim como sempre fazia - eu amava que ela sentisse o efeito que eu tentava provocar, porque ela precisava de meio pensamento para que eu arriasse os quatro pneus e precisasse de reboque.

- Ok, vocês já se conhecem, então vou simplificar - eu disse, apontando para Marcela e depois para os meus pais. - Minha namorada, Marcela. Fábio e Esther, sogrões.

- Você não precisa chamar assim - Sandro garantiu e empurrou Marcela sem nenhuma delicadeza quando eu estendi minha mão para ela, adiantando o passo que ela já estava dando.

- Obrigada pelo convite - ela disse para os meus pais, aceitando o abraço da minha mãe, que tinha sido quem tinha convidado Marcela para jantar conosco mesmo que obviamente ela fosse comigo porque eu a queria onde quer que fosse comemorar meu aniversário. Minha mãe deu parabéns de novo pelo estádio e a engenheira sorriu e agradeceu como se fosse a primeira vez. - Eu trouxe vinho! Você pega no carro, Edu?

Eu fiz que sim, sorrindo para ela.

- Ótimo, porque a Marcela precisa me ajudar em uma questão crucial - minha mãe disse, erguendo um indicador em riste enquanto Má abraçava o meu pai para cumprimentá-lo, aceitando os parabéns dele também. Ela se virou para a minha mãe com a mesma feição "missão dada é missão cumprida" que ela oferecia para Thales Carvalho quando ele colocava um projeto desafiador na sua mesa. - Preciso que ela prove a minha lasanha de berinjela e explique para a Cecília que não dá para ganhar de mim com esse prato porque ela aprendeu a fazer comigo!

- Marcela, não cai nessa! É uma armadilha! - Sandro avisou ao mesmo tempo em que Cecília disse: - Como você ousa querer jogar a Má contra mim, Esther?

- É mãe para você!

- É chef para você! - Cecília provocou, com um sorriso metido que a desafiava.

- Vocês não vão enfiar a coitada nessa disputa, ela acabou de entrar para a família! - meu pai disse, puxando Má de lado como se fosse pular na frente das duas Senna para protegê-la de todo o mal. - Eu já disse que as duas são igualmente boas! O Edu e o Sandro concordam!

Cecília abriu as mãos com as palmas para cima, como se estivesse fazendo uma prece.

- Homens, seus bobões! Marcela vai ter mais culhão do que vocês e vai falar a verdade! - Cecília argumentou, enganchando o braço no da engenheira. - Você sabe qual é a única verdade que eu vou aceitar, não sabe, cunhadinha?

Má piscou.

- Eu posso consertar a pia da cozinha - disse e eu gargalhei, porque a saída pela tangente funcionou: meu pai automaticamente brilhou de felicidade e garantiu que minha pobre namorada não teria que decidir nada naquela guerra de lasanhas quando a puxou para dentro junto com Sandro e eu fui pegar as garrafas que Marcela e eu (Marcela) tínhamos escolhido para o jantar.

Ela realmente consertou a pia, encantando meu pai quando se enfiou por baixo dela sem nem pestanejar por mais ou menos três segundos e, um tempo depois, também disse que a lasanha de Cecília e da minha mãe eram igualmente boas - e essa foi a história do primeiro encontro oficial de Marcela Noronha e os Senna, momento em que a minha família inteira se apaixonou por ela.

Menos que eu, claro, mas acho que meu nível de amor por ela era uma comparação injusta, não é?

O jantar tinha sido no jardim dos fundos, no pergolado perto da piscina. Eu estava tão cheio de comer a lasanha de berinjela da minha mãe e depois a de Cecília - igualmente boas de verdade - que se colocasse mais alguma coisa para dentro, ia ter que pedir para Marcela me rolar para dentro e alguém com certeza pensaria que ela tinha me engravidado, mas foi simplesmente impossível resistir ao bolo de amêndoas, laranja e chocolate que Cecília tinha trazido da Horta Verde, então comi também.

Agora haviam fotos de mim soprando velinhas com chapéu de festa dos Power Rangers rolando nos grupos de WhatsApp, os álbuns de fotos da minha infância estavam na mesa junto com o que tinha sobrado do bolo delicioso e os meus presentes - à exceção do relógio que meu pai tinha me dado, que estava no meu pulso porque se eu não colocasse, ele ia cismar que tinha escolhido errado e, sinceramente, ele jamais erraria com um relógio analógico preto.

Má tinha escolhido o vinho muito bem, porque era delicioso e eu já estava começando a ficar meio tonto, o que não era um problema porque só iríamos embora no dia seguinte - porém meu pai tinha claramente sido derrubado confundindo o sabor suave com falta de álcool e estava dormindo na poltrona da sala, minha mãe e Sandro tinham ido buscar mais uma garrafa e Cecília estava deitada no chão, perto de um canteiro de cravos vermelhos com Ana Sofia sentada na sua barriga.

Ela jurava que estava totalmente sóbria, mas os áudios que estava mandando para alguém do restaurante no WhatsApp eram mais ou menos um "uooooooooooooooooou, tem que encomendar mais daquelas favas de bauni - soluço- iiiiiiiiiiiiiiii - risada por absolutamente nada - lha". E agora ela estava quieta há tempo demais, mas concluí que estava tudo bem porque o movimento do seu diafragma dizia que ela estava viva.

Só Marcela e eu ainda estávamos na mesa, dividindo o que tinha sobrado do vinho na garrafa. Tínhamos juntado nossas cadeiras para ficar mais perto e eu abracei seus ombros quando ela apoiou a cabeça no meu peito, se encaixando em mim daquele jeito sobrenatural que a gente fazia sempre que se encostava.

Eu podia sentir o cheiro de Good Girl - que tinha se tornado uma das coisas que ela usava em ocasiões especiais, mesmo que eu também pirasse com seu frasco de Lady Million -, o movimento do seu tórax enquanto ela respirava, o calor do seu corpo e a mão que ela tinha apoiado na minha coxa.

Beijei sua testa e ela olhou para cima, largando a taça em cima da mesa. As luzes refletiram nas suas íris, criando uns padrões amarelados nos seus olhos castanhos.

- Eu amei sua família, sabia? - perguntou ela, levantando a mão da minha perna para apoiá-la no meu peito. Cinco dedinhos quentes bem em cima da tatuagem de pena.

Sorri para ela, porque eu a queria várias e várias e várias vezes ali com eles, então isso era essencial, não é?

- Eles também amaram você - confidenciei, porque era verdade. Cecília ela já sabia, mas meus pais nem conseguiam disfarçar que dividiam a mesma opinião, porque eu senti os dois pares de olhos observando Marcela naquela noite e aprovando as coisas que ela tinha dito, rindo das piadas dela, ficado felizes com o carinho com que ela agia comigo; ela sorriu para mim, algo que se estendeu até seus olhos que tinham reinvindicado os meus. - E acho justo você gostar deles, porque eu estou louco para nós começarmos a viajar para o Espírito Santo para fazer o estádio, porque quero ver o mini-Marcelo, o big Marcelo, seus pais, seus avós, a Marcele, o Patrício...

- E quem disse que eles querem ver você? - ela gracejou e mordeu meu queixo, cuja barba eu tinha deixado por fazer porque ela gostava quando começava a despontar e eu gostava quando ela gostava.

- Quer apostar? Se eu perguntar no grupo e receber dez convites, a gente viaja para lá antes da obra começar e você paga as passagens - disse e ela riu.

- Injusto, porque você vai receber no mínimo uns vinte "por favor, vem, Eduzinho" do Patrício, além de áudios com aquela versão bizarra de Evidências e fotos de opções de protetor solar e Marcelo vai chorar porque é isso o que ele faz agora - ela disse e eu ri. - Tio Cris até estudou churrasco vegetariano por você.

- Eu não sei o que ele fez com aquele inhame, Marcela, você precisa descobrir! Eu preciso da receita para viver, amor! - eu pedi e ela riu. A vibração do seu corpo fez cócegas no meu.

- Se você pedir com jeitinho, pode ser seu presente de aniversário - ela disse, colocando um sorriso nos lábios. - Mas eu tinha uma ideia melhor.

Ergui as sobrancelhas, olhando para os olhos dela, que não me deram nenhuma dica sobre o que esperar do seu comentário.

- Normalmente eu adoro as suas ideias - comentei e ela sorriu.

Era verdade. Ela tinha ideias fantásticas em muitos segmentos.

- Espero que goste dessa também - disse e pegou a bolsinha que tinha largado em uma cadeira, começando a mexer dentro. Dessa vez, a única coisa que eu segurei foi o envelope que ela me entregou. - Feliz aniversário, amor.

Aceitei e sorri, encarando o envelope tamanho carta, pardo, amarrado com um lacinho de barbante natural marrom.

- Não precisava - eu disse e ela segurou meu rosto, me dando um beijo longo e carinhoso ao largar a bolsinha no colo. Eu abracei a cintura fina, a puxando para perto de mim até que nossos peitos estivessem colados e me perdendo na boca dela porque era o que acontecia comigo toda santa vez. - O beijo precisava, sim - comentei quando ela finalizou com vários selinhos.

- O presente também. - Sorriu e meneou a cabeça para incentivar que eu abrisse.

Desfiz o lacinho e enfiei a mão no invólucro, puxando o que demorei um segundo para reconhecer como passagens de cruzeiro. Pela costa brasileira. Nordeste. Sete dias. Em duas semanas.

- Amor... - eu comecei, já com um sorriso se desenhando nos meus lábios.

- Você pediu duas semanas de férias no final de março, então eu pensei em pedir também e te roubar por uma semana inteirinha, se você quiser - contou e eu apenas sorri ainda mais abertamente, assistindo os lábios dela se curvando num espelho do meu movimento. - Você lembra que disse, uma vez, que se nós fossemos um casal, aquela viagem teria sido outra? - Fiz que sim com a cabeça e ela umedeceu os lábios antes de prosseguir: - Achei que valia a pena descobrir do que você estava falando.

Puxei as pernas de Marcela para cima das minhas. Não a trouxe para o meu colo porque acho que era um pouco demais para o momento, embora eu a quisesse ali, e deixei meus dedos alisarem as suas panturrilhas.

- Estou pensando em morango com champanhe - eu disse e ela sorriu, assentindo -, jantar de mãos dadas, ofurô...

- Champanhe no deque, noite do karaokê com flamejantes e... - ela ergueu as sobrancelhas. - No máximo refazer uma cena de Titanic, porque mais do que isso seria um abuso da sua parte!

Eu gargalhei.

- Desde que eu escolha qual.

- Vai ser a do "me desenhe como uma de suas francesas", não vai? - ela perguntou, erguendo uma das sobrancelhas.

- Você me conhece tão bem, amor. - Marcela riu e negou com a cabeça, mas seu olhar dizia que ela não era assim tão contrária à ideia, ainda que a primeira ideia que tivesse se passado na minha cabeça fosse reprisar a cena da proa. Mas, como dito, ela tinha ideias fantásticas em vários segmentos. - E dessa vez vai ser você me passando protetor solar ao invés do Patrício.

Ela estreitou os olhos.

- Você vai sentir falta do Patrício.

- Vai ter que se esforçar, amor, ele tem mãos de veludo - gracejei e Marcela riu.

O som da risada dela me distraiu e só então eu notei que tinha uma garoa fininha caindo - o que foi o suficiente para acordar Cecília no quintal e para que ela gritasse comigo porque eu tinha deixado Ana Sofia sentar nela. Eu! Então ela correu para dentro e, pelo berro do meu pai de "Sandro, cuidado!", ela tinha acabado de pular no engenheiro-máster. Pela risada deles, nenhum acidente tinha acontecido.

Marcela e eu levantamos para recolher as coisas na mesa e fazer o mesmo caminho, mas antes que ela entrasse, segurei sua mão e a puxei para perto - ela colidiu voluntariamente contra o meu peito, envolvendo meu pescoço com os braços quando eu abracei sua cintura.

- Eu já estou ansioso por uma semana inteirinha com você em alto mar - confessei e Marcela sorriu. - Mas você vai explicar para o Chicão que vai me roubar por uma semana, só para saber. Lidar com as lágrimas e tudo.

- Será que, se eu pedir com jeitinho, o Tiago segura a mão dele e sussurra que ama no momento da notícia? - perguntou.

- Com certeza sim.

- Então você gostou da ideia? - Meneei a cabeça para dizer que sim. - Posso pedir minhas férias, então?

Colei meus lábios nos dela em um gesto afirmativo, porque, afinal, eu amava Marcela Noronha e, não muito tempo atrás, descobri que amava cruzeiros também. Cruzeiros e Marcela poderiam facilmente vir a ser minha combinação preferida.

E amava a ideia de vários dias com ela, rolando na cama, fazendo programas românticos, me encaixando com ela em todas as posições, carimbando lugares exóticos, dormindo ao seu lado, dando risada das suas piadas e amando suas sardas no nariz, assim como cada pedacinho de Marcela Noronha.

- Como foi que a gente demorou tanto para se tocar que deveria ficar juntos, Má? - perguntei, quando me afastei da boca dela.

Aquela curva que o lábio dela fazia quando ela sorria era onde eu ia derrapar e morrer, puta que pariu.

- Você acha que foi fácil me apaixonar pelo eco-arquiteto que fica tentando enfiar o bambu em mim? - perguntou e eu ri, puxando sua mão até que ela estivesse apoiada no meu peito, envolvida na minha.

- Fala sério, amor, faz tanto tempo que você aceitou o bambu...

Ela riu e ficou na ponta dos pés para me calar com um beijo, e eu nunca ficava tão feliz por ficar em silêncio quanto nessas ocasiões. Sustentei sua cintura, me curvando mais um pouco sobre ela, sem querer me afastar um único centímetro.

Pensei em dizer que a amava, mas eu não precisava, porque ela sabia. Cada poro, cada célula do meu corpo e cada vez que eu derretia ao olhar para ela falavam por mim, assim como o sorriso dela, o cuidado e o carinho deixavam claro para mim que ela me amava também.

E eu também amava que, agora, podia deixar todo mundo saber sobre nós dois. Podia falar e falar e falar para Marcela quantas vezes quisesse que, todo dia, eu a escolhia de novo. E de novo. E de novo. E saber que, todo dia, ela me escolhia também.

A melhor parte é que não tínhamos mais que tomar cuidado por nos sentir assim, porque não era mais mentira.

FIM

É, pessoa, é isso aí <3

Há mais de um ano, Gabs e eu decidimos que queríamos contar uma história de uma engenheira reativa e um arquiteto sustentável que iriam fingir um namoro para enganar a família dela. Mal sabíamos que CEM se tornaria muito mais do que isso!

Finalizar um livro é sempre difícil, tem tantas pontas soltas e tantas narrativas para desenrolar que é quase caótico amarrar tudo para entregar um produto final, mas, por incrível que pareça, CEM foi simples. A gente batalhou? Muito, mas nós sabíamos exatamente onde estávamos e até onde queríamos chegar, então esperamos que tenham gostado deste epílogo que arrancou um suspiro do nosso coração.

Também temos que agradecer a cada uma de vocês por estarem aqui, acreditarem na história que queríamos contar e por sempre, sempre, nos apoiarem em todos os 117 capítulos desse livro. CEM não existiria se não tivessem pessoas tão maravilhosas quanto vocês para ler, então obrigada.

E, claro que não dava para não agradecer à minha dupla dinâmica literária, né? Gabs, você é fora da caixa e é um privilégio imenso poder dividir histórias ao seu lado. É bizarro pensar que teve um momento na vida que nós não éramos amigas, que a gente não falava sobre livros e que não escrevíamos juntas. Sério! Não consigo mais imaginar a vida sem te mandar um "MEU DEUS GABS EU TIVE UMA IDEIA" junto com um audio mega inconveniente de mil segundos. Você é meu pontinho de tranquilidade em uma semana corrida e eu espero ser o seu. Vida longa à Libriela <3

EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE

Como não podia faltar, vão dar um olhadinha no perfil da @gabipizzol, que novidades do Librielaverso lá e vocês não vão querer perder esse próximo livro: é uma história boa pra cachorro!!!

Obrigada por tudo!

Até a próxima.

Lívia e Gabriela <3

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