Capítulo 2 - Um velho amigo, ou um demônio?


A voz de Lucca ecoa em minha mente e então abro os meus olhos assustada, outra vez estou na floresta. Meu olhar corre ao redor pairando sobre a barraca, dela reflete uma luz clara, certamente é da lanterna que Katy mantém ao lado de seu colchonete. A entrada tem uma fenda aberta, imagino que ela tenha acordado? Corro para lá na esperança que tudo que vivi não fosse nada além de minha imaginação, então ao adentrar a encontro dormindo tranquilamente e posso finalmente respirar aliviada, mas este alívio dura bem pouco, ela não está só. Há algo diabolicamente sombrio aos seus pés, ele está ali, abaixado observando-a dormir, seu sorriso é tão belo quanto seu rosto que enganaria qualquer pessoa ━ era apenas um cara normal ━, diria Katy. Mas aqueles dentes, aquilo não era nem de longe algo normal, e suas garras no lugar de unhas podem provar isso.

━ Ela parece um anjo, não parece Meredith? ━ Seus dedos longos correm por cima do cobertor da garota que nem em sonho imaginava que aquela coisa estava tão próxima de si.

Não o respondo e ao dar um passo para finalmente estar dentro da barraca, o vejo saltar em minha direção, seus fios vermelhos outra vez entram no seu campo de visão tornando ainda mais sexy.

━ Não ouse, querida. ━ Suas garras pintadas de tom preto contornam toda extensão do meu rosto, trazendo-me uma sensação de pânico. ━ Se aqueles lindos olhos abrirem, vocês duas estão mortas ao amanhecer.

Suas palavras voaram como flechas encharcadas de venenos em sua lança até meus ouvidos, fazendo um enjoo forte atingir-me no instante seguinte em que seus lábios se fecham.

━ Vocês não deveriam ter vindo aqui, não ouviram sobre as lendas locais!? ━ Seu tom é sarcástico, outra vez ele está próximo demais, mais uma vez senti aquele calafrio.

━ Aquilo nada mais é que folclore local. ━ Não consigo conter o tremor em minha voz o que faz a coisa a minha frente rir freneticamente, nesse instante meus olhos correm em direção a Katy que se mexeu e então sem pensar duas vezes, tapo sua boca com minhas mãos e vejo seus olhos tomarem um vermelho fúria.

Mas que merda eu fiz.

━ Ah garota, você não sabe o grande erro que cometeu. ━ Seus dentes afiados mordem meus dedos, fazendo deles verter sangue. ━ Seu gosto é maravilhoso ━ ele diz ao sugar o líquido carmesim e então mais que depressa eu puxo minha mão para longe, tento estancar o sangramento que salta da ferida que está a queimar.

━ Você é louco? ━ retruco enquanto procuro algo na mochila ao lado de fora da barraca para enrolar no meu indicador.

━ Louca é você, que está no meu território e acha que pode agir com tamanha ousadia.

━ Só por isso você se acha no direito de morder as pessoas assim, de as ameaçar? ━ Vejo seus olhos me fuzilarem, mas estou com tanta dor que não me importo com seu olhar mortal. ━ Afinal de contas, quem você pensa que é?

━ Sou aquele que seu povo teme, aquele das histórias que seus avós contavam e aquele que devorou a doce Caroline, acredito que a conheça bem, não é Meredith?

Neste momento paro tudo que estou fazendo e finalmente caio na real que tudo é realmente verdade e que esse ser não é só ilusão de minha mente. Estas palavras tornam-se como sussurros sombrios em meus pensamentos e a cada respirar que aquilo dá, meu coração dispara em desespero. Desejei correr, ir para o mais longe possível, mas eu não poderia ir. Não sem minha amiga, e seu eu ousar acorda-lá, Katy também irá morrer.

━ Deus, o que faço?

━ O que foi, agora está com medo? Você se lembrou de mim?

Essa sua última frase, ela me deixou intrigada. Como esse ser sabia tanto sobre mim e ainda mais sobre meu nome e o de Katy?

━ Eu não sei quem você é!

━ Tem certeza, docinho? ━ Seus dedos entrelaçam meu braço puxando-me para junto de seu corpo, fazendo-me olhar dentro daqueles olhos azuis.

━ Sim. ━ Minha voz sai baixa, é mais como um sussurro amedrontado.

━ Que pena, achei que iria gostar de rever-me depois de tantos anos. ━ Ele pareceu triste com a minha resposta, ou foi apenas impressão minha?

━ Vo... você pode me soltar, por gentileza? Tento ser o mais educada que posso e camuflar meu medo.

Ele me olha por longos minutos antes de finalmente se afastar. Ao longe agora sou capaz de o analisar melhor; seus fios são longos e lisos, os lábios carregam um tom rosado e suas maçãs são levemente rubras. Ele poderia ser confundido como um garoto normal na casa dos vinte e poucos anos, sua jaqueta de couro preta e as correntes em sua calça e o coturno militar dão a ele um ar de badboy, alguém que facilmente encantaria meus olhos ao encontrá-lo em uma balada qualquer pela cidade.

━ Gosta do que vê? Suas palavras me tiram de meus pensamentos impuros e lunáticos.

O que acha que está fazendo, Meredith, ele é um demônio da noite, garota insolente!

━ O quê? Não, não é nada disso é só...

━ Que você me acha gato demais, vai, pode dizer. É o que todas dizem.

━ Todas? ━ Minha dúvida saltou de meus lábios antes que eu pudesse a impedir.

━ Sim, todas. ━ Seu sorriso se abre e ele parece lembrar-se de algo engraçado. Não parece com a coisa de minutos atrás.

━ Quem é você? ━ A pergunta tornou a surgir, mas desta vez não tenho tanto pavor em questioná-lo.

━ Uma criatura das trevas, alguém que você não desejaria jamais conhecer. ━ Suas palavras saíram arrastadas enquanto o mesmo caminhou lentamente até mim, fazendo com que seu hálito quente toque minha face gélida. ━ Mas também sou aquele que há mil anos você...

Seus lábios estão em contato com a pele de meu ouvido, sinto minhas pernas perderem as forças.

━ Quê? Minhas mãos tomam um tremor e meus olhos estão fixos no seu, seus lábios tocam levemente a pele do meu pescoço, o que faz meus pelos eriçarem. ━ O que você disse?

━ Estou desapontado com você, minha doce Mery. ━ Seus dedos correm por meu maxilar enquanto seus lábios sussurram em meu ouvido, fazendo que seu hálito quente me tome em um tremor sem fim. ━ Eu estava lhe esperando!

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