24 💙 Castelo de Cartas.
*Indicio de suicídio! Cuidado.
Três dias depois.
Jungkook ainda tentava processar a informação que o atingira. Em sua mente, as peças pareciam desconexas, como se nada daquilo pudesse ser verdade. Por fora, ele tentava agir
normalmente, mas algo estava diferente. A verdade o corroía por dentro.
Ele sempre sonhou que Charles fosse seu verdadeiro pai – e o chamava de "papai" em seus momentos mais íntimos, desejando essa conexão. Agora que finalmente era, de fato, seu pai biológico, Jungkook sentia que sua vida inteira havia sido construída em volta de mentiras e segredos.
Perguntas o assombravam. Será que Kyungsoo sabia? E sua suposta mãe? Tudo fazia sentido agora: o distanciamento de Somi, sua frieza, a falta de afeto. A verdade lançava uma nova luz sobre os comportamentos que ele não entendia até então.
E a principal pergunta que ecoava em sua mente: como tudo isso realmente aconteceu?
Charles era seu pai de qualquer forma, independente sendo biológico ou não...
Então por que estava tão chateado?
Hoje era o dia em que um novo reino seria formalmente iniciado, mas, para Jungkook, era também o início de um novo capítulo triste em sua vida. Sem Taehyung. Sem o amor que ele tanto desejava. Como antigo servo do Rei, Jungkook havia dispensado Taehyung de seus serviços, não conseguindo suportar a culpa esmagadora de olhar nos olhos do ômega que tanto amava e lembrar de todo o sofrimento que ele carregava.
Enquanto isso, Nefertiti sentia-se finalmente realizada. O maior obstáculo entre ela e Taehyung havia sido removido: Jungkook.
A conexão entre mãe e filho, antes fragmentada, parecia se reestabelecer. Taehyung, fragilizado, voltava a agir de forma mais submissa, como nos tempos em que ainda era completamente dominado pelas vontades de sua mãe.
Enquanto caminhava em direção ao grande salão para as formalidades do dia, Namjoon, observava a expressão abatida de Jungkook. Ele não conseguia mais ignorar o que via.
— Ei, Jungkook… você vai mesmo seguir com o casamento com o Jimin? — Namjoon perguntou com cuidado. — Ainda há tempo para anular isso.
Jungkook manteve seu olhar firme à frente, suas palavras soando mais frias do que pretendia.
— Vou, Namjoon. Essa decisão já foi tomada.
Namjoon abriu a boca para argumentar, mas suas palavras morreram quando, de repente, viu Jungkook vacilar. Num segundo, ele estava firme, e no outro, suas pernas simplesmente cederam, e ele foi de encontro ao chão.
— Jungkook! O que houve? — Namjoon correu até ele, ajoelhando-se ao seu lado.
— Minhas pernas… falharam... — Jungkook murmurou, a respiração entrecortada pela dor e pelo espanto.
Namjoon olhou preocupado para o amigo, a seriedade em seu rosto refletindo a gravidade da situação.
— Jungkook, acho que precisará considerar voltar a usar a cadeira de rodas... se for o que estou pensando… — Namjoon hesitou ao falar.
Jungkook lançou um olhar afiado para o médico que se aproximava para ajudá-lo. Ele não respondeu, mas dentro de si, o medo de perder o controle sobre seu próprio corpo aumentava a cada dia.
Com esforço, ele se levantou com a ajuda de Namjoon e do médico, disfarçando o máximo que podia a dor e o cansaço que o consumiam.
Ele seguiu em frente, mas a verdade é que suas forças – físicas e emocionais – estavam se esgotando, e o peso de todas as decisões que tomava parecia se agravar ainda mais.
•💙•
No jardim, Taehyung colhia flores com delicadeza. Cada toque nas pétalas era meticuloso, e o cuidado que dedicava a elas mostrava o quanto ele se importava, especialmente agora que Charles havia deixado o castelo. Cuidar das flores o trazia lembranças dolorosas – de quando as colhia para enfeitar o quarto de Jungkook. Seus olhos rapidamente se encheram de lágrimas, algo que, infelizmente, não o surpreendia mais.
Suspirando, ele se levantou, pronto para voltar à cozinha, onde agora passava seus dias ajudando, uma maneira eficaz de evitar qualquer encontro com Jungkook. Algo que ele preferia.
Ver aqueles olhos negros – os olhos do seu ex-alfa – fazia seu coração se partir em mil pedaços. A dor era avassaladora, como um martelo quebrando-o por dentro. Embora não se vissem mais, o cheiro e as memórias de Jungkook ainda estavam gravados em sua mente, o atormentando a cada instante.
Seu lado ômega, que antes era vibrante e instintivo, havia desaparecido. Agora, ele apenas choramingava baixinho, como um filhotinho separado da mãe ao nascer.
— Tae! Que lindas flores! — a voz de Jisoo ecoou pelo jardim, cheia de entusiasmo. — Você tem cuidado muito bem delas.
— Obrigado… — respondeu com um sorriso fraco. — Onde está mamãe?
— Ah, foi com a senhora Lee para a cidade. — Jisoo franziu a testa, preocupada ao observar o semblante cansado do irmão. — Você está bem? Seus olhos parecem tão abatidos.
Taehyung deu de ombros, tentando disfarçar o turbilhão de emoções que o dominava. Colocou a cesta de flores sobre a mesa com um gesto automático.
— Você sabe, Soo… — murmurou, sem realmente conseguir expressar o que sentia.
Jisoo suspirou, compreendendo o silêncio do irmão.
— Tae… o Jungkook vai se casar hoje com a Alteza Park. Seu coração precisa estar preparado para isso. — Sua voz tinha um tom triste, mas ela tentou suavizar a dor com um comentário brincalhão. — Pelo jeito que você me descreveu a Alteza, ele vai te atormentar para sempre. — Ela soltou um risinho fraco, mas Taehyung não achou graça nenhuma.
Ele abaixou a cabeça, os ombros murchando ainda mais. Jisoo percebeu e, num gesto de carinho, aproximou-se, abraçando-o suavemente.
— Tente esquecê-lo, Tae. Existem alfas mais interessantes que Jungkook... — ela murmurou em seu ouvido.
Taehyung afastou-se rapidamente, a expressão cheia de angústia.
— Não, Jisoo… — sua voz era fraca, mas firme. — Não é tão fácil assim. Sou um original, você sabe. Eu só me apaixono uma vez. — Seus olhos se encheram de determinação, embora a tristeza permanecesse evidente. — Não quero estar com um alfa que eu não amo. Seria horrível iludir alguém assim. Além do mais não existem alfas que possa me amar como Jungkook! Ele é o alfa que eu amo! E eu sei que ele me ama também…
A convicção em sua voz logo se desfez, sendo substituída por uma tristeza profunda.
— Mas ele prefere ficar longe de mim... — Taehyung sussurrou, como se estivesse finalmente aceitando a verdade que tanto lhe doía.
•💙•
Jungkook encarava a pintura de Taehyung, seus olhos fixos em cada detalhe: a pele bronzeada, o cabelo loiro, os olhos azuis. Para ele, Taehyung era a personificação da perfeição. Ele passou os dedos pela tela, como se desejasse que aquela imagem pudesse ganhar vida, que o ômega estivesse ali, ao seu lado, de verdade. Mas, claro, não estava. Não mais.
Mesmo vivendo debaixo do mesmo teto, parecia que Taehyung já não estava lá.
Um suspiro pesado escapou de seus lábios. O cansaço o consumia, e ele já não conseguia se lembrar da última vez que havia comido ou dormido direito. Seus pensamentos vagavam inquietos, preocupados com Taehyung. Será que ele estava bem? Estaria comendo o suficiente? Dormindo? Cuidando de si?
Seus dedos começaram a tremer, e ele largou o pincel, sentindo a angústia invadir seu peito. Segurou os cabelos com força, tentando silenciar os pensamentos sombrios que começavam a sufocá-lo. A tensão no ar era quase palpável naquele fim de tarde.
De repente, Jungkook se levantou bruscamente, a cadeira em que estava sentado caiu com um estrondo, o pincel rolou pelo chão. Na pressa, ele derrubou a pintura, fazendo o coração do alfa acelerar de pânico. Ele se agachou rapidamente, pegando o quadro com cuidado, seus olhos arregalados enquanto examinava para ver se havia algum dano. Felizmente, a pintura estava intacta.
Mas suas pernas cederam novamente, e ele caiu de joelhos no chão, abraçando a pintura contra o peito, como se aquilo pudesse aliviar a dor que sentia. As lágrimas começaram a se formar em seus olhos, e ele, com delicadeza, deixou a tela de lado, voltando sua atenção para suas pernas dormentes. Começou a bater nelas com força, tentando sentir alguma coisa além da formigação insuportável que o torturava.
— Maldito lobo estúpido! — Jungkook gritou, a frustração tomando conta.
Seus olhos agora estavam avermelhados, cheios de dor e raiva.
Dentro de si, ele sentia a presença de seu lobo, aquele lado mais selvagem e instintivo que sempre havia guiado suas ações. Mas, agora, parecia apenas uma sombra, uma entidade que o desafiava em vez de fortalecê-lo.
— Viverá um destino pior que a morte, — a voz de seu lobo ressoou em sua mente, firme e dura.
— Estou fazendo isso para proteger nosso ômega! — Jungkook rebateu, a raiva em sua voz clara.
— E quem vai proteger você, humano? — o lobo retrucou, a voz tingida de tristeza, mas carregada de desprezo. — Você é fraco, Jungkook. Deveria ter encontrado um homem mais forte. Taehyung será levado, não importa o quanto lute. Você é fraco demais para protegê-lo. Você não se impõe, por isso sofre. Acha que está protegendo Taehyung, mas está o matando com o sofrimento que está causando nele.
Essas palavras atingiram Jungkook como uma lâmina, cortando profundamente sua alma. Ele gritou em desespero:
— Me deixe em paz! — mas a dor não desaparecia.
O silêncio que se seguiu era ensurdecedor. Jungkook estava sozinho novamente, em sua mente e em seu coração, e a solidão pesava como nunca antes. Ele desejava, por um momento, que a morte viesse para levá-lo, para livrá-lo de tudo aquilo.
Para Jungkook, pegar o canivete parecia a solução mais simples. Um único corte, e tudo acabaria. O peso que ele carregava, as expectativas sufocantes, e o desespero que o consumia silenciosamente — tudo poderia ser resolvido com uma lâmina.
Ele segurou o objeto com firmeza, o metal frio contra sua pele, e o plano antigo, que há muito tempo ele mantinha em mente, mas foi interrompido com a chegada de Taehyung, agora ressurgia com força.
Ele não era forte. Nunca havia sido. O peso esmagador da responsabilidade em seus ombros fazia sua alma tremer. O fardo do trono, das expectativas, das alianças, tudo parecia uma prisão invisível que o sufocava lentamente.
Então, por que continuar lutando? Por que se agarrar a um destino que nunca quis?
A ideia de desistir parecia reconfortante.
Mas no fundo, uma parte dele ainda resistia. Talvez fosse o orgulho, a dor de não querer falhar.
Um corte, e ele finalmente teria paz.
Com dificuldade, apoiou-se na mesa, suas mãos trêmulas. Seu corpo estava exausto, mas de repente, seu coração acelerou quando sentiu o cheiro de Taehyung no ar. Sua respiração se tornou rápida, e um vislumbre de esperança surgiu em seu peito quando ouviu uma batida na porta.
Jungkook abriu a porta com pressa, um sorriso largo e esperançoso iluminando seu rosto.
Mas não era Taehyung.
Ah...
O sorriso de Jungkook murchou, desaparecendo quase instantaneamente. A decepção era evidente, mas ele tentou disfarçar.
Era Seokjin.
— Perdão, Majestade, — Seokjin curvou-se com respeito, notando o estado perturbado de Jungkook. O beta observou a bagunça no quarto e o olhar exausto do rei. — Trouxe sua roupa para o casamento… — Jin disse hesitante, oferecendo o traje. — Uma serva ômega virá para ajudá-lo a se banhar e vesti-lo. — Ele informou com a voz baixa, quase temendo tocar em qualquer assunto mais delicado.
Jungkook queria perguntar sobre Taehyung, queria saber como ele estava, notícias sobre ômega. Mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Ele apenas assentiu, aceitando o silêncio que pairava entre os dois.
Seokjin, percebendo o estado emocional do rei, curvou-se mais uma vez antes de sair, deixando Jungkook sozinho com seus pensamentos e sua dor.
•💙•
Yoongi caminhava pelos corredores do palácio com uma sensação de impotência. O local estava repleto de preparativos e decorações para o casamento de Park e Jeon, mas para ele, tudo parecia sem vida. Desde a morte de Kyungsoo, o mundo parecia desbotado e sem propósito.
As regras haviam mudado, especialmente para os alfas. Agora, os ômegas eram vistos como frágeis e deviam ser protegidos, algo que ia contra tudo que Yoongi acreditava. Ele sempre respeitará a força e a brutalidade, herança direta de seu pai.
Ao passar por uma das alas, ele avistou Sana, uma ômega, de costas, cuidadosamente tirando o pó de um quadro antigo. Não era a primeira vez que a via, sempre em silêncio, sempre temerosa.
A presença dele era como uma sombra que se aproximava de maneira ameaçadora, o cheiro forte de cigarro e álcool impregnando o ar. Sana se encolheu levemente ao sentir a proximidade do alfa.
— Não precisa parar, continue limpando, sim? — Yoongi provocou, sua voz carregada de malícia.
Sana engoliu em seco, seu corpo inteiro tremendo enquanto o cheiro de medo começava a se espalhar ao seu redor.
— Eu nem te toquei e já está assim, garota. — Ele riu amargamente, um som cruel que reverberava pelos corredores vazios.
— Por favor… não faça nada… — a ômega implorou, sem sequer ousar se virar, mantendo os olhos fixos no quadro à sua frente.
O hálito quente de Yoongi tocou seu pescoço, seus lábios perigosamente perto de sua orelha, enquanto uma de suas mãos ásperas subia lentamente pelo braço dela, provocando arrepios de medo.
— YOONGI! — Uma voz ecoou pelo corredor, firme e autoritária.
Sana, em um movimento quase involuntário, soltou um suspiro de alívio. Seu corpo relaxou momentaneamente ao ouvir a voz que a interrompia.
— O que está acontecendo aqui? — Bohyun, um alfa mais velho, encarava Yoongi com uma expressão severa.
Yoongi afastou-se de Sana, revirando os olhos em desgosto.
— Nada, Bohyun. Apenas conversando com a ômega. — Ele sorriu de forma cínica, cruzando os braços.
O alfa mais velho lançou um olhar afiado para Sana, que, mesmo ainda tremendo, olhou brevemente por cima do ombro, esperando permissão para se retirar.
— Pode ir, ômega. — Bohyun ordenou com firmeza, sem tirar os olhos de Yoongi.
Sana saiu rapidamente, quase correndo, aliviada por ter escapado daquela situação, pelo menos por enquanto.
Bohyun manteve sua postura, aproximando-se de Yoongi, a tensão entre os dois alfas evidente. O mais velho estreitou os olhos, claramente insatisfeito.
— A Majestade deixou claro que qualquer violência contra os ômegas deve acabar, Yoongi. Essas atitudes não serão mais toleradas. — A voz de Bohyun era baixa, mas carregada de ameaça.
Yoongi soltou uma risada fria, sem mostrar o menor sinal de medo.
— A Majestade? — Ele cuspiu as palavras, sarcasmo escorrendo por cada sílaba. — Jungkook é um rei fraco. Ele não nasceu para liderança.
•💙•
Taehyung tinha uma relação complexa com seus sentimentos por Jungkook. Antes, parecia que seu coração transbordava de amor, a ponto de quase doer. Lembrava-se dos momentos em que os olhares de Jungkook eram apenas para ele, carregados de promessas e afeição.
Mas agora, tudo parecia distante, como se fosse parte de outra vida, de outra pessoa. O casamento que estava acontecendo trazia uma dor indescritível, como se um punhal fosse cravado em seu peito, cada vez mais fundo. A traição, mesmo que silenciosa, ecoava em sua mente. O Jungkook que prometera estar ao seu lado para sempre agora pertencia a outro. Suas promessas, tão frágeis quanto o papel.
Taehyung tentava não odiá-lo, pois uma parte de si ainda o amava desesperadamente, quase que de forma irracional. Esse era o conflito que o consumia: amar alguém que o ferira tão profundamente. A lembrança dos beijos, dos toques, das palavras que o fizeram se sentir único, agora apenas o torturavam. Ele queria ser forte, não deixar que isso o destruísse, mas quanto mais tentava se afastar, mais seu coração parecia clamar por Jungkook.
E o pior de tudo era o vazio. A ausência de Jungkook, de suas promessas, de seu calor, criava um buraco em seu peito que nenhum consolo poderia preencher.
Taehyung não sabia como lidar com todo aquele sentimento que queimava em seu peito. Era como se seu coração estivesse partido em mil pedaços, especialmente com o casamento acontecendo. Por um momento, ele até cogitou ir vê-lo, mas sabia que só choraria se o fizesse.
Ele estava sentado perto da janela do seu quarto, completamente sozinho, observando o céu estrelado. As estrelas pareciam distantes, como seus sonhos de felicidade. Depois de um longo suspiro, ele se levantou, abaixando-se em direção à cama para pegar a pintura que Jungkook havia feito deles dois.
Sentado na beirada da cama, Taehyung abraçou a pintura com todo o amor e saudade que ainda sentia.
— Jungkook… você não cumpriu suas promessas… por que me prometeu tanto? — sua voz saiu baixa e trêmula, enquanto uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto.
O silêncio do quarto foi quebrado pelo som inesperado de batidas na porta, fazendo Taehyung se sobressaltar. Confuso, ele rapidamente deixou a pintura de lado e limpou o rosto com a mão, tentando esconder qualquer traço de tristeza. Com o coração acelerado, ele se aproximou da porta e a abriu devagar.
Para sua surpresa, a pessoa que estava do outro lado era alguém que ele menos esperava ver naquela noite.
— Majestade Jaewon...? — Taehyung murmurou, chocado, enquanto encarava o homem imponente parado à sua frente.
Ok, vocês acham que foi a própria Nefertiti sequestrou o Taehyung?
Um beijo e até a próxima atualização ❤️🩹
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