Broken
Era um prédio alto, cercado por outros prédios históricos. Arklin se pareceria com Monttoise se não fosse pelo vento congelante, as montanhas cobertas de neve e florestas ao invés do porto. Retiro a mochila do banco traseiro e passo pela porta atrás de Irina. Ela não se dignifica a me olhar, apenas me ignorava como se eu não estivesse ali. Não sabia dizer se ela estava tentando bancar a durona ou se realmente não se importava. Ambas alternativas eram uma merda e não me faziam sentir melhor. Estou tão ávido para me afastar dela que também não dou a mínima.
— Vocês tem reserva? — um senhor pergunta assim que chegamos ao saguão.
— Não, eu tenho uma consulta aqui...
Deixo ela para trás enquanto me aproximo da recepção onde um outro homem me cumprimenta. Irina responde as perguntas enquanto eu espero ali. Era um hotel, exatamente o que eu precisava no momento.
— Ainda tem vagas para hospedagem? — pergunto apenas por curiosidade.
A minha suposta ex companheira bufa e revira os olhos ao vir para o meu lado. Curioso. Ela não queria ficar perto de mim mas também não queria que eu fosse embora aparentemente.
— Sim, senhor, gostaria de ver... — o recepcionista responde.
— Outra hora, estamos com pressa agora. — ela interrompe o homem e vai em direção ao elevador.
— Eu volto aqui depois, obrigado.
— Boa sorte! — ele devolve rindo.
A situação era mesmo cômica vista de fora. Irina tinha um cartão-chave em mãos, e a subida até o 36° andar foi desconfortável e silenciosa. Tanto eu quanto ela mantemos a postura rígida, as defesas levantadas sempre em alerta. A discussão mais cedo me quebrou mais um pouco, e ao que parece ela também. Mas como resolver algo que ela não estava disposta nem a ouvir? Estou prestes a dizer algo quando as portas se abrem e ela sai primeiro. Ela anda até o final do corredor e abre a porta. Não era um quarto e sim uma sala privada e sem mobília, exceto por um sofá de frente para uma poltrona ao lado da janela.
— Bem-vindos, sentem-se por favor. — a mulher na poltrona diz. Me aproximo junto com Irina.
— Ah não, achei que tivesse ido pra casa. — me decepciono ao perceber que ela ainda estava aqui.
— Os lobisomens estavam decidindo se eu ia poder continuar atuando como psiquiatra... Acho que as palavras do Supremo foram "você deixou isso acontecer, você vai consertar". — Claire comenta, sua raiva era perceptível por mais que tentasse disfarçar — E além do mais eles estão fazendo novos passaportes, licenças, documentos... Aparentemente eles tem muita experiência em lidar com sequestro.
Ela olha pra mim e depois pra Irina. Foi rápido, mas tive um pressentimento. Claire havia sido sequestrada e ainda teve os documentos confiscados ou destruídos. Planejavam que ela desaparecesse de vez. Sinto minhas mãos trêmulas ao encarar a mulher que me ajudou tantas vezes. Sei que foi a família de Irina quem fez isso, mas quem realmente a colocou nessa situação fui eu.
— Claire, eu sinto tanto, se pudesse voltar atrás isso nunca... — começo, sentindo os olhos arderem, mesmo assim, nenhuma lágrima vem a tona.
— Nicholas, vamos manter as coisas num nível profissional, por favor. — Claire muda de assunto — Estamos aqui pra falar sobre vocês, fui informada de que estão tento dificuldade para se entenderem.
— Claire, não, por favor — insisto — Eu sinto tanto, eu não sei onde eu tava com a cabeça. Eu assumo toda a responsabilidade, eles tem que te deixar sair daqui... Eu pretendo ir embora hoje e você vai vir comigo.
Tento pensar em alguma coisa, eu tinha que falar com o Supremo, eu não podia deixar ela nessa situação caótica. Pelo amor de tudo o que é mais sagrado, Clire tinha filhos e uma família preocupada com ela. Não posso simplesmente ignorar isso, eu já ferrei com a minha vida, não posso ferrar com a dela também. Ao menos não mais ainda.
— Nick — ela suspira enquanto esfrega os olhos por baixo do óculos — Não precisa se justificar, mesmo. Eu não sei o que deu na sua cabeça, mas você não pode ser responsabilizado pelos seus atos, ao menos não totalmente. Se voltar para Monttoise vai para o hospital psiquiátrico e as chances de você sair algum dia são bem improváveis, então eu sugiro que fique aqui e tente resolver isso.
Eu finalmente me calo. Não ligo para o que vai acontecer comigo, mas o tom de Claire foi tão frio que não tenho mais condições de discutir. Apenas me sento no sofá ao lado de Irina, que havia ficada quieta o tempo todo.
— Então, Nicholas, vamos começar com você — a médica volta a me dirigir a palavra — Você e sua companheira estão tendo dificuldade para se entender?
A palavra "companheira" relacionada a Irina não me causava nada, talvez um pouco de repulsa. Não sei ao certo o que é, mas está longe de ser um sentimento bom.
— Sim, nós... Não nos falamos desde que voltamos da... Cadeia. — revelo, percebendo o olhar raivoso de Irina — Nosso diálogo depois disso foi hoje de amanhã.
— Entendi. — ela anota no caderno — Sobre o que conversaram hoje?
Dou a chance de Irina responder, mas ela não abre a boca. Fico imaginando se ela já precisou de atendimento psicológico após a rejeição. A resposta era um pouco óbvia. Era perceptível que eu tinha mais experiência em lidar com aquela situação.
— Ela não estava em casa quando sai do quarto então eu...
— Desculpa interromper, vocês estão dormindo em quartos separados pois não estavam se falando, é isso? — Claire pergunta.
— Sim.
— Continue.
— Eu escrevi um bilhete me despedindo dela, disse que ficaria em um hotel até que ela decidisse falar comigo. Ela não gostou e começamos a discutir.
Claire dá uma boa olhada em nós dois antes de voltar a escrever por longos segundos.
— Irina você está muito quieta, soube que foi você quem pediu para vir aqui.
— Eu não pedi por isso, eu fui ver o Supremo. — ela mantém os braços cruzados e o semblante era puro desinteresse e tédio.
— Com qual intenção? — a médica questiona — O que queria dele?
— Fui informá-lo que não estávamos dando certo.
— E o que ele disse?
— Disse para virmos aqui. — ela devolve no mesmo tom impaciente.
— Certo... — Claire parece pensar um pouco — E vocês brigaram depois que foram pra casa...
— Sim.
— Por qual motivo?
— Ele me traiu.
Claire olha para mim horrorizada. Ela devia me achar um monstro agora, afinal Irina estava contando a versão dela.
— Eu não trai você. — rebato, me esforçando para manter a voz baixa.
Pela primeira vez eu admito isso, pois lá no fundo eu sabia que não estava errado. Me senti mal por isso todos os dias, e me arrependi imediatamente depois, mas o sentimento de culpa não tinha nada a ver com Irina. Na verdade, eu sabia não devia nenhum tipo de lealdade a ela antes de nós reencontrarmos.
— Traiu sim! Antes de vir pra cá. Eu senti tudo através da ligação, não tente negar isso.
— Nick, se importa de explicar? — os olhos de Claire ainda estavam arregalados.
—Depois da minha recaída no hospital, eu parei de tomar os remédios que continham meu lobo e... Tive efeitos colaterais.
— Calor e suor excessivos, boca seca, excitação e libido fora do comum? — Claire chuta tudo corretamente.
— É... Tudo isso. — admito — E eu liguei para Taylor.
Claire larga a caneta e cobre os olhos com a mão. Irina bufa nervosa pela décima vez.
— Eu sugeri que você convidasse ela pra sair, se distraísse, fosse devagar... — a médica balança a cabeça negativamente.
— Você... — Irina aponta chocada — Você incentivou meu companheiro a me trair?
A médica rabisca o papel de maneira um pouco frenética, riscando tudo o que havia escrito anteriormente. Ela respira fundo e encara Irina.
— Ele não traiu você. Nicholas era um homem rejeitado e solteiro, ele era livre para ficar com quem quisesse, embora não fosse livre pra parar o tratamento. — ela volta a olhar na minha direção — O que você tava pensando? E como? Como conseguiu parar o tratamento?
Apesar de me sentir um merda por ter envolvido Claire nisso, estava aliviado por saber que eu não estava errado sobre aquilo. Era frustrante me sentir culpado o tempo inteiro, não só por Irina, mas por Claire e todos que eu sabia ter decepcionado. Estou prestes a responder quando Irina se intromete.
— Mas isso não é justo, eu tive que ficar sentindo tudo pela ligação... — Irina protesta.
— Infelizmente é assim que as coisas funcionam. Os rejeitados sentem tudo de ruim e péssimo da rejeição, e os rejeitores não sentem quase nada a menos que sejam sentimentos fortes. Afinal a maioria dos rejeitados ficam sob efeitos de remédios para que não sintam nada — ela informa, tentando manter um tom calmo — Por algum motivo ainda inexplicável, os rejeitores geralmente tem ciúmes quando sentem que os companheiros estão com outras pessoas.
— Acho que isso não é culpa minha. — Irina responde.
— Acho que você não tem ideia do que o seu companheiro enfrentou antes de tentar vir até você, ou então sabe e finge que não se importa. — Claire continua — Pelo o que eu ouvi você nem ao menos quis conversar, nem deu a chance de vocês se entenderem.
— Eu não dei a chance? Se ele realmente quisesse falar comigo não seria uma porta na cara dele que o impediria, não acha?
A psiquiatra fica muda por alguns segundos diante da afirmação. Ela nos olha como se fossemos dois casos irrecuperáveis e completamente isolados um do outro. Era óbvio que a suposta ligação que um dia tivemos por alguns segundos antes dela me rejeitar havia sido um engano. Não é possível que alguma força divina ou biológica havia me condicionado a ter que aturar essa mulher. Irina tem sérios problemas e obviamente precisava de tanta terapia quanto eu. É óbvio que não temos nada em comum, é óbvio que tem algo de muito errado nisso tudo. É tudo tão óbvio e ao mesmo tempo frustrante. Como eu não vi isso antes?
— Ela queria que eu derrubasse a porta aparentemente. Acho que é o que o ex dela faria se não me engano. — digo, remoendo as palavras.
— Ok... Irina eu quero ajudar, mas você precisar ter a mente aberta e entender que o Nick não forçou nenhuma conversa por respeito.
— Tá... — ela ri sem humor.
— Agora sejam maduros e sinceros um com o outro, e também consigo mesmos. Vocês querem se entender e salvar esse... Relacionamento?
O silêncio paira no ar. Era tão desconfortável, tão doloroso que poderia me sufocar agora. Nosso laço parecia quase inexistente a esse ponto, o que me fez pensar se não estava além de salvação, e se não seria melhor quebrá-lo de vez. Me pergunto se não seria melhor eu me internar em algum hospital em outro país, onde eu não teria que ser mais motivo de preocupação para a minha família e para ninguém que eu conheça. Queria poder esquecer que já estive aqui, que já conheci Irina. Tudo o que eu achava que estaria resolvendo acabou me afundando ainda mais. Ficar sem emoções era um privilégio que eu não soube aproveitar.
— Tá — Claire suspira pesadamente ao perceber que nenhum de nós diria nada — Nicholas será que posso conversar com Irina a sós por um momento? Eu já chamo você.
Demoro alguns segundos para me mover. Levanto do sofá levando minha mochila, querendo sair correndo e entrar no próximo avião para bem longe desta merda de lugar. Fecho a porta atrás de mim e desabo no corredor, sentando no chão e colocando as mãos na frente do rosto. Até agora não consigo me lembrar de tudo, até o momento não sou capaz de distinguir o que é real e o que devia ter sido apenas um sonho. Meu lobo interior, o mesmo que havia começado a ligação, agora me impulsiona a quebrar qualquer vínculo com Irina. Não sei o que fazer, não sei como sair da situação em que eu mesmo me coloquei.
— É a sua vez — Irina diz para mim na frente da porta, tão silenciosa que nem percebi que ela havia saído.
Levanto do chão e passo por ela, voltando a entrar na sala. Sento novamente na frente de Claire, que deixa o caderno de lado e me encara com franqueza.
— Eu quero que me diga exatamente o que aconteceu, como conseguiu ficar sem os remédios? Como resistiu tanto tempo? Teve algum sonho recorrente? Outra coisa que chamaria de efeito colateral? — ela despeja um monte de perguntas, mas só consigo pensar nas últimas.
— Sinceramente, eu não sei. Não me lembro de muita coisa. Sonhei com uma loba prateada quando estava internado da última vez... Foi a primeira vez que a vi, e também a última. Eu acho...
— Isso é péssimo em todos os sentidos. Um lobisomem que não consegue se lembrar dos sonhos com a própria companheira é... Algo inacreditável e inédito, eu não... Pela primeira vez eu não faço ideia do que fazer. Ninguém numa foi capaz de fazer isso, simplesmente decidir da noite para o dia que iria interromper o tratamento e ir atrás da rejeitora. Pelo menos não que eu saiba...
Claire respira fundo para se recompor, ela mantém a expressão séria ao juntar as mãos como se estivesse suplicando antes de dizer:
— Eu não sei o que pode acontecer com você se quebrar o resquício de ligação que tem com a Irina. Não sei como você ainda não entrou em crise, talvez esse vínculo esteja te ajudando de alguma forma e tenho medo do que pode acontecer se não tentarem se resolver.
— Claire eu não me importo mais com o que vai acontecer comigo, eu já tive o suficiente disso, se eu não puder ter uma companheira então que seja. Nada disso faz sentido, eu só quero ir para casa. Mas se você disser que isso talvez não seja possível eu estou disposto a correr o risco. Eu não posso mais ficar aqui, Irina não é minha companheira. — nunca foi, quero acrescentar, mas eu não lembrava se isso era verdade. Achei que eu sentia algo por ela, eu tinha certeza disso, mas agora ela é indiferente para mim.
— Eu quero que se concentre no que eu vou dizer — a médica suspira profundamente — Você vai sair daqui, você vai embora, mas não hoje. Você precisa tentar se reconciliar, Irina está disposta a tentar se você estiver. Caso queira prosseguir com a ligação você tem uma chance de se recuperar, poderá seguir com um outro tratamento alternativo até se sentir plenamente de bem novo.
Olho para baixo. Claire não estava ouvindo. Na verdade, acho que nunca esteve. Ela ignora completamente tudo o que eu acabei de dizer. Como devo tentar chegar a um concesso sobre o que eu deveria fazer quando a decisão deveria ser somente minha? Que direito ela tinha de me pedir isso? Sem alternativas, eu engulo em seco e controlo minhas próximas palavras:
— E se eu me recusar?
— Você volta para a prisão — ela diz no mesmo tom sombrio.
Voltar para a prisão parece tentador quando minha outra opção era voltar para a casa de Irina. Eu deveria ter feito isso, eu deveria me arriscar naquela instalação secreta, de onde eu provavelmente nunca mais sairia. No entanto, eu sou fraco. Meu lobo interior estava cansado de resistir e não queria mais lutar. Eu queria gritar, queria me atirar da janela e queria fazer tudo parar. Queria isso e muito mais, mas a vida que eu tinha não me deu escolhas muito favoráveis. Por mais que eu quisesse minha vida de volta, meu antigo eu de volta, no fundo, eu só queria paz.
Claire chama Irina novamente, e eu só percebo que ambas estão aqui quando a médica faz a pergunta:
— Eu preciso que me digam com convicção: estão dispostos a tentar salvar essa ligação?
Eu olho nos olhos dela, sustentando o tanto quanto posso. É difícil raciocinar assim, sem medir o peso do que ela estava me pedindo, mas Claire formulou o questionamento de um jeito bem simples. Por isso, não penso muito. Assumir as consequências do que viria depois era algo que eu simplesmente não levo em conta, afinal, segundo ela, eu não posso ser totalmente responsabilizado pelos meus atos.
— Sim. — me sinto um idiota por dizer primeiro.
— Sim. — Irina concorda segundos depois.
— A ligação é como um espelho, quando os companheiros se encontram pela primeira vez e a rejeição ocorre, ela quebra. É difícil juntar os cacos depois, e mesmo depois de concertar vocês ainda vão se deparar com muitas rachaduras.
Claire faz uma pausa e retira os óculos para limpar as lentes.
— Desculpe a pergunta invasiva, mas preciso confirmar. Quantas vezes tiveram relações desde que se reencontraram? — ela olha pra nossa cara esperando uma resposta.
— Nenhuma. — Irina cruza os braços, finalmente tomando iniciativa para dizer algo. Nem se quer nos falamos, e arrisco dizer que mal nos suportamos neste instante.
— Não é de se admirar que vocês estejam tendo tantos desentendimentos... O sexo é a melhor forma de fortalecer a ligação, e será benéfico se vocês dois estiverem em bons termos quando acontecer.
Claire junta as mãos na frente do corpo e nos encara. Eu não a encaro de volta, eu simplesmente disassocio, como fiz a maior parte do tempo.
— Vamos fazer um pequeno exercício: Nick se ajoelhe aqui olhando para aquela parede.
Vou sem resistência. Faço como ela diz, mesmo não entendendo o motivo daquilo.
— Agora Irina você se ajoelha de frente para ele.
Ela hesita, permanece no sofá de braços cruzados por segundos torturantes mas acaba fazendo. Olhando para o seu rosto, eu não vejo nada, nada que eu queria ver pelo menos. Ajudaria pensar no rosto de outra pessoa, mas se eu começasse a imaginar que ela fosse outra pessoa eu iria desmoronar.
— Nick chega um pouco para frente e encoste sua testa na dela.
Eu me inclino levemente, lutando contra o meu instinto, dizendo para me afastar imediatamente. Eu fecho os olhos antes de Claire prosseguir:
— Agora fechem os olhos e dêem as mãos. Preciso que se concentrem um no outro. Quando eu disser inspire os dois vão fazer ao mesmo tempo, e soltar o ar quando eu disser.
Assim fazemos por cinco vezes. Inspirando e soltando o ar juntos. Seu cheiro, que durante dias só serviu para me deixar irritado, agora me deixava relaxado. A proximidade me aquecia ternamente, ao invés de me queimar vivo. Uma onda de paz me invade ao tê-la junto comigo, e não soube explicar o motivo, mas havia algo de errado em não me sentir mais tão sozinho e vazio.
— Ainda de olhos fechados, quero que sintam um ao outro, vocês vão tocar nas laterais do corpo da cintura pra cima, memorizando o máximo de detalhes que conseguirem apenas pelo toque.
Começo pela cintura, materializando minha companheira. Minhas mãos deslizam pelo contorno de seu corpo, subindo lentamente até chegarem aos seus ombros. As mãos dela fazem o mesmo, espalhando seu calor convidativo. Nossas mãos alcançam o rosto um do outro ao mesmo tempo. Nossas testas já coladas se afastam apenas para que nossos lábios possam se tocar.
Não era assim que eu imaginava nosso primeiro beijo, mas foi lento e intenso do mesmo jeito. Nossas línguas se tocam, nossas respirações iguais. Posso até ouvir seu coração bater no mesmo ritmo do meu. Estou tão conectado a ela como no momento em que nos vimos pela primeira vez. O que vêm a seguir seria devastador. O momento da rejeição. Mas eu não podia deixar os sentimentos que a rejeição trazia me dominarem, não agora. Eu tinha que focar nos sentimentos bons. Era o único jeito de sobreviver.
Quando volto a abrir os olhos, não era o rosto pálido de Irina que me encarava de volta. Agora ela possuia cabelos castanhos, olhos escuros e um sorriso doce. Um sorriso involuntário toma conta meu rosto, e sou incapaz de ter qualquer pensamento negativo sobre ela. Nem mesmo a lembrança da rejeição me faz ver o que está diante dos meus olhos, eu só vejo minha companheira. Percebo que ela também estava pensando nisso, pois interrompe o beijo e olha pra mim com um semblante triste, o que faz meu coração apertar.
— Se eu pudesse voltar atrás... — ela não consegue completar a frase, seus lindos olhos castanhos se enchem de água rapidamente.
— Está tudo bem agora, eu estou com você. — eu acaricio seu rosto e a abraço forte, mal acreditando que ela está ali.
Um suspiro aliviado escapa da minha garganta, sabendo que ela é minha agora. Finalmente minha.
— Ótimo! — Claire sorri. Eu havia me esquecido de que ela estava ali nos observando.
Separamos o abraço sorrindo um para o outro. A sensação era incomparavelmente melhor do que ficar brigando com Irina. Agora que eu e minha companheira estávamos juntos, nada nunca mais ficaria entre nós.
— Agora procurem um quarto! — Claire nos dispensa.
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