♣️CAPÍTULO 8♣️

CALEB

Nunca fiquei totalmente sóbrio depois que voltei para casa e isso tem sido a causa das reclamações de meu pai. Para o meu azar, as duas semanas que ele me deu estão chegando ao fim e não tenho a menor pretensão de seguir sua ordem.

Sigo o mesmo script todos os dias. Pela manhã mamãe tenta me convencer a tomar o lugar que é meu por direito, enquanto finjo concordar. A tarde Dafne insiste para que a ajude na criação de conteúdos, sempre a enrolo e não faço nada. À noite, durante o jantar o velho Afonso dá sermões sobre responsabilidade dentre outras coisas, fazendo-me cochilar a mesa.

— Se quer se tornar alguém que seu pai respeite e admira, precisa tomar uma atitude. A primeira delas é largar esse celular — o aparelho é tirado das minhas mãos e jogado sobre as almofadas.

— Nunca precisei provar nada a ninguém — deslizo o polegar pelo canto da boca exibindo um sorriso sarcástico.

— É aí que você se engana, filho — mamãe se senta elegantemente ao meu lado. — Se quer assumir os negócios da nossa família algum dia, vai precisar conquistar a confiança do Afonso. Caso contrário, nunca vamos ter o controle que tanto lutamos para conseguir.

— Não sou eu quem quer o controle de tudo, então por que devo parar de viver do meu jeito? — coloco a perna sobre a mesa de centro.

— Seu imbecil! — a mulher parece realmente chateada. — Até quando pretende continuar interpretando o papel ridículo de filho rebelde? Não acha que os anos que passou fora de casa foram o suficiente para desfrutar da sua liberdade e agora precisa tomar jeito? Estou cansada de tentar fazer o seu pai te enxergar, precisa tomar alguma atitude.

Mordo o lábio inferior e balanço a cabeça. Ela não tem o direito de fazer com que me sinta culpado, não quando é tão culpada quanto eu.

— Tem alguma ideia de como posso fazer isso? — a encaro de soslaio. — Porque não existe absolutamente nada que faça Afonso Aguiar acreditar que seu filho é capaz de ser um homem como ele.

— Não precisa ser como ele — mamãe desvia o olhar.

— Como o meu tio, então? — a vejo endireitar os ombros. — Segundo papai, Ângelo Aguiar era o deus da hotelaria e conseguia resolver qualquer problema que aparecesse.

— Também não precisa ser como ele. A verdade é que esse tempo todo você nem tentou conquistar minimamente o seu pai — a voz dela agora adquire um tom dramático, o teatro vai começar. — Passei todos esses anos acalmando a fúria do Afonso, fazendo todas as suas vontades e é assim que me agradece?

— Nem começa, mãe — balanço a cabeça casado de suas chantagens emocionais. — Ir para o exterior foi ideia sua. Lembra?

— Foi para te proteger — ela sussurra com a voz trêmula. — Aqui você estava vulnerável e instável demais. Cedo ou tarde acabaria estragando todos os nossos planos, Caleb.

— Seus planos, mamãe — faço questão de enfatizar. — Pode dizer do que exatamente precisava me proteger?

É claro que sei a resposta, mas quero ver se ela tem coragem o suficiente de verbalizar.

— Sabe do que estou falando — minha mãe consegue ser ainda mais covarde do que eu quando se trata desse assunto. — O fato é que não está se esforçando nada para amenizar as coisas com o seu pai. Como acha que ele vai reagir quando descobrir o que você fez?

— Não fiz nada sozinho — retruco, mas ela não se importa e continua acusando impiedosamente.

— As câmeras dizem o contrário, meu querido — ela desliza as mãos pelo vestido elegante. — Era você quem dirigia a moto, não eu.

Sinto as pernas falharem e um calafrio percorrer o corpo inteiro com a possibilidade de que a verdade sobre aquela noite infeliz que culminou com a minha ida para Nova Iorque chegue aos ouvidos dele. O que fiz foi imperdoável e mamãe sempre fez questão de deixar isso claro para mim.

— Ele nunca vai saber — digo baixinho balançando a perna impaciente. — Você prometeu, mãe.

— Se não fizer a sua parte, é impossível que faça a minha, Caleb — sua mão aperta meu ombro deixando-me ainda mais tenso. — Sou sua mãe e sempre vou estar aqui por você, mas precisa fazer o que peço ou as coisas podem tomar um rumo indesejado.

— Talvez seja melhor papai saber de tudo, não acha? — respondo num rompante de coragem. — Assim ele me odiaria com motivos e não apenas por ser uma ovelha desgarrada que não quer nada com a vida.

— Pare de ser idiota! Acha mesmo que seu pai vai passar a mão na sua cabeça quando souber o que seu próprio filho foi capaz de fazer? — o tom calmo traz um arrepio pelo meu corpo. — Você seria deserdado. É óbvio que isso não é interessante para nenhum de nós, por isso que sou quem dita as regras desse jogo, Caleb. Você não abrirá essa boca e vai fazer exatamente o que combinamos desde o início.

A respiração começa a acelerar, travo a mandíbula e fecho os olhos. Ela nunca seria capaz. Abro e fecho as mãos, sentindo uma nova onda de medo chegando.

— Preciso... Preciso... — massageio o próprio peito buscando uma calma que não encontro em lugar algum.

— Fique calmo, filho — ela passa as mãos pelos meus cabelos. — A mamãe vai resolver tudo como sempre e só precisa ser obediente, ok?

Balanço a cabeça em afirmativa. Mesmo que suas palavras não tenham o efeito que espero, preciso acreditar que tudo vai ficar bem e não há o que temer. A respiração continua acelerada, tudo a nossa volta parece um borrão e sinto como se estivesse em uma experiência extracorpórea. Tenho que controlar melhor as emoções, se realmente pretendo continuar mantendo essa farsa e vivendo com os fantasmas do passado.

— Precisa conquistar a confiança do seu pai antes que seja tarde demais, filho — escuto a voz distante, acompanhada de um aperto no ombro.

Não consigo formar nenhuma frase coerente enquanto sou envolvido em seu abraço apertado. Pareço novamente aquele adolescente acuado com medo de decepcionar todo mundo e com uma forte inclinação para fazer besteiras.

— Vai ficar tudo bem, filho — ela diz com tanta certeza. — Você só queria salvar a sua mãe. Mesmo que o mundo diga que fez uma coisa horrível, eu sempre vou estar aqui para te proteger deles. Precisa se recompor, Caleb.

Dou-lhe um breve aceno e sigo até o meu quarto ainda sentindo o corpo desconectado. Deito-me na cama, passo as mãos pelo rosto tentando evitar que as lembranças daquela maldita noite submerjam, mas suas palavras ficam se repetindo por um longo tempo. "Mesmo que o mundo diga que fez uma coisa horrível, eu sempre vou estar aqui para te proteger deles." Não é verdade! No fundo sei disso, mas preciso desesperadamente me apegar a tudo que ela diz.

Inevitavelmente as lembranças vem à tona e não consigo me livrar de nenhum dos sentimentos que chegam arrasando com tudo. Culpa. Arrependimento. Horror. Medo. Agonia. Desespero. Dor. Inveja. Mágoa. Nojo. Pavor. Vergonha. O que eu fiz?

Olá, pessoas. 

Espero que tudo esteja bem por aqui. A semana passada foi bem estressante para mim e acabei não conseguindo postar capítulo, mas a notícia boa é que teremos dois essa semana. 

Então, beijos e até o próximo capítulo.

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