♣️CAPÍTULO 7♣️

REBECA

"Está demitida. A imagem do nosso hospital não pode ser maculada por seu ato impensado." As palavras acusadoras de Danilo ficam martelando na minha cabeça a cada passo que dou. "Aqui é um lugar respeitável, Rebeca, prezamos pela moral. Coisa que claramente você não tem."

Não fiz nada de errado, só queria garantir o bem-estar das pessoas que amo, e ver que nada disso foi levado em consideração quando todos eles decidiram interpretar erroneamente o que viram, apenas prova que tudo foi em vão.

Enquanto dou passos incertos pelas ruas movimentadas do centro da cidade, sentindo uma dor excruciante no coração. Reflito sobre a indiferença que tenho recebido em casa desde o fim de semana. Aperto as alças da mochila e engulo o nó na garganta. Sei que não posso permitir que a atitude deles me afete tanto, mas é inevitável.

"Nunca imaginei que você se tornaria alguém de quem eu me envergonharia, Rebeca." Mamãe repetiu isso tantas vezes nos últimos dois dias, que foi preciso um autocontrole gigantesco para que eu mesma não fosse convencida de que sou realmente desprezível.

"Sempre soube que Rebeca puxaria a raça ruim da sua família, Selma." Vovó não hesitou em me apontar o dedo quando ficou a par de tudo. "Essa menina deu muitos sinais de que não era flor que se cheire, você ficou cega pelos diplomas que ela esfregou na cara de todos por aqui."

Benjamim não dirige uma única palavra a mim desde que entramos no ônibus e voltamos para casa. Quanto a Lorena, estou tentando ignorar o fato de que foi a responsável por colocar a live do show na tv da sala com todos reunidos lá. Mesmo que negue ter feito isso de forma intencional, a conheço muito bem e sei que seria capaz de algo assim.

"Eu não achei que fossem te reconhecer." O modo como ela fica se justificando o tempo todo é quase uma declaração de culpa.

O pesadelo parece que nunca vai acabar, vago sem rumo pelas ruas calçadas com blocos de concreto, sentindo um arrepio pelo corpo a cada vez que escuto algum cochicho ou percebo alguém apontando em minha direção.

Os mexericos se espalharam feito praga, quando os moradores começaram a compartilhar o vídeo do momento em que a identidade de Mila foi revelada. Cada morador dessa maldita cidade me olha como se eu fosse uma prostituta. Sem mencionar as histórias estapafúrdias que criaram a meu respeito e vão de amantes fictícios a histórias questionáveis explicando como consegui ficar tanto tempo na capital sem a ajuda dos meus pais. Todas essas mentiras doem mais do que gostaria de admitir.

Limpo as lágrimas que escorrem pelo rosto, a vontade que tenho é de sumir e nunca mais voltar. Quando me despedi de Samira no hospital, ela pediu que eu olhasse toda essa merda como uma oportunidade única de conquistar meus sonhos. Entretanto, tudo que consigo enxergar é a minha vida desmoronando diante dos meus olhos sem que possa fazer qualquer coisa para impedir. Não é possível que eu tenha me esforçado tanto para isso.

Passo horas sentada em um banco afastado da praça, buscando uma solução em meio a todo esse caos e quando o sol começa a se pôr, tomo uma decisão. Faço o caminho até a nossa casa sentindo o coração pesar a cada passo, quando viro a esquina de casa percebo que há algo errado.

Uma pequena aglomeração se forma diante do portão e... Não é possível! Corro em disparada por entre os curiosos, sem acreditar no que está acontecendo.

— Pode colocar tudo na calçada! — Dona Zélia dá ordens para dois homens.

— Tenha compaixão, Zélia — mamãe implora se jogando aos pés da mulher. — Vamos pagar o que resta, só nos dê mais um pouco de tempo.

— Fui muito paciente com vocês — a senhora carrancuda ignora o desespero da outra. — Sua filha é uma perdida, quem me garante que não estão usando a minha casa para suas promiscuidades? Sou uma mulher temente a Deus e sua família está condenada ao inferno.

Não poderia esperar outra coisa de uma cidade do interior que as pessoas acreditam em um deus carrasco. Ainda assim quando eles gritam palavras de ordem sinto o pânico me tomar e, ignorando as súplicas de mamãe, o seu discurso ridículo continua.

— Minha casa não vai servir para que cometam pecados — ela se dirige a plateia que a aplaude com fervor.

— Até um mês atrás o dinheiro do meu "pecado" lhe servia muito bem — atravesso em sua frente deixando a raiva tomar conta. — Nunca quis saber de onde ele saia e agora isso? De repente a senhora se tornou uma crente fervorosa?

— Cale a boca, Rebeca! — Mamãe segura meu braço.

— Não, essa mulher não tem o direito de nos colocar para fora assim... — a voz falha.

— É a minha casa, posso fazer o que quiser e ninguém vai impedir — ela parece ser a única dona da verdade.

Sem mais uma palavra, somos colocados para fora de casa como cães sarnentos, nenhuma das pessoas presentes é capaz de sair em nossa defesa. Ao invés disso, eles invadem a casa e jogam as coisas na calçada. Nunca me senti tão impotente em toda a minha vida, é quase como se nesse maldito lugar esquecido do mundo os moradores fizessem suas próprias leis.

Quando terminam o trabalho já é noite, tudo que é da minha familia está amontoado do lado de fora. Mamãe chora desolada no meio fio, vovó me olha como se eu fosse a culpada de tudo e Benjamim continua a fingir que não existo.

— Se não fosse tão egoísta, ainda teríamos um teto sobre a nossa cabeça — Lorena acusa impiedosamente. — Você tinha que estragar tudo, Rebeca. Não dá para ficar pior do que isso ou dá? Alguma esposa raivosa ainda pode aparecer por aqui para um acerto de contas?

— Pare de falar bobagem — a seguro pelo braço. — Sabe muito bem de quem é a culpa disso tudo.

— Minha que não é, irmãzinha — Ela diz com uma falsa inocência. — Eu falei para você aceitar a proposta de Afonso Aguiar e não para ir cantar como uma prostituta em um local de gosto duvidoso.

Dou um tapa em seu rosto e vovó se coloca entre nós.

— Sua irmã tem razão. Não piore as coisas, Rebeca — ela sai em defesa da neta.

As lágrimas grossas nublam minha visão. Sempre achei que poderia nos salvar da ruína, mas a verdade é que acabei nos colocando nessa posição. Sento-me na calçada, abraço os joelhos e deixo o choro vim. Até três dias atrás eu era um anjo salvador e agora não passo de um pedaço de merda.

Os pingos começam a cair em algum momento e não dou ouvidos quando alguém diz que preciso procurar um abrigo da chuva. Todas as nossas coisas estão encharcadas, a nossa vida nessa maldita cidade está acabada e eles colocaram a culpa em mim. Mesmo que eles me odeiem agora vou concertar tudo, nem que seja preciso ir para longe deles e recomeçar.

— Vão se arrepender por cada uma dessas palavras duras — sussurro baixinho em meio as lágrimas.

Eu volteiiiiiiiiiii! E aí como é que vcs estão?

Acabei esquecendo de postar o capítulo sexta, me perdoem.

Mais uma treta pelas bandas da família de Rebeca. 

O que vcs acham que ela vai fazer?

Beijos e até o próximo capítulo!

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