iii. cruel sister
O céu estava cinzento sobre Driftmark, carregado de nuvens pesadas, como se a própria natureza lamentasse a perda de Laena Velaryon. Os ventos vindos do mar traziam o cheiro de sal e luto, enquanto as ondas batiam contra as rochas abaixo do castelo. O clã Velaryon, Targaryen e seus aliados se reuniam ao redor, suas expressões solenes refletindo a seriedade da ocasião.
Magelle Targaryen, filha de Alicent e Viserys, mantinha-se ao lado de sua mãe, observando o cortejo de longe. Seus grandes olhos claros seguiram Lucerys e Jacaerys Velaryon, que conversavam com Baela e Rhaena, as filhas enlutadas de Laena. Os quatro conversavam baixinho, talvez tentando achar algum alívio no meio da tristeza. Magelle apertou as mãos, sentindo um aperto no peito.
Magelle ansiava por fazer parte daquele pequeno grupo. Ela admirava especialmente Jacaerys, sempre tão confiante e gentil. A cada sorriso trocado entre eles, o ciúme crescia dentro dela. A dor de não pertencer, de ser mantida à margem pela própria mãe, fazia seus olhos marejarem.
Ela olhou para Alicent, que observava o funeral com uma expressão fechada e severa. Reunindo coragem, Magelle tocou suavemente no braço da mãe, inclinando-se para sussurrar:
— Mãe... posso ir falar com eles? — A voz dela era baixa, quase tímida, enquanto apontava para o grupo de Jace e Luke.
Alicent mal desviou o olhar para a filha, mas o suficiente para que Magelle percebesse o brilho frio nos olhos da mãe.
— Não. — A resposta veio afiada, seca como o aço, mas Magelle insistiu, a dor em seu peito só crescendo.
— Por favor, mãe... Eu quero me juntar a eles — suplicou Magelle, com a voz quebradiça, seus olhos implorando por um pouco de compreensão.
Alicent finalmente se virou totalmente para a filha, sua expressão endurecida pela tensão do momento. O olhar que lançou sobre Magelle era cheio de reprovação e desdém.
— E para que você quer se misturar a eles, Magelle? — Alicent sibilou, baixando o tom de voz. — Acha que pertencemos ao mesmo grupo? Eles não são seus amigos. E mesmo que fossem... não quero que você se rebaixe assim, mendigando atenção. Comporte-se como uma princesa de verdade.
Magelle sentiu o rosto queimar com a repreensão, seu coração se afundando ainda mais. Alicent, contudo, não terminou. Ela inclinou-se um pouco mais, os olhos faiscando com uma frieza cruel.
— Lembre-se, você é uma Targaryen. Eles, esses bastardos, não merecem sua companhia — Alicent sussurrou, tão baixo que apenas Magelle pôde ouvir.
As palavras de sua mãe caíram como uma lâmina sobre o peito de Magelle. O orgulho ferido e o sentimento de inadequação formaram um nó em sua garganta. Sentindo os olhos se encherem de lágrimas, Magelle apertou os punhos com força, mas permaneceu imóvel, incapaz de responder.
Enquanto ela assistia Lucerys e Jacaerys rindo de algo que Baela havia dito, uma tristeza profunda a envolveu. No fundo, ela sabia que jamais seria como eles, jamais teria a liberdade e a alegria que almejava. E, acima de tudo, jamais escaparia da sombra de sua mãe.
Com um suspiro trêmulo, Magelle baixou os olhos, resignada a seu destino, enquanto a cerimônia fúnebre continuava.
Magelle, ainda com o coração pesado após a repreensão cruel de Alicent, afastou-se silenciosamente. Sentia-se como se fosse invisível naquele dia sombrio, cercada por pessoas que pareciam encontrar consolo uma nas outras, mas não nela. Sua mãe a havia afastado, e os sorrisos e risadas compartilhados entre Lucerys, Jacaerys, Baela e Rhaena só intensificavam a sensação de isolamento.
Seus olhos vagaram pelo local até encontrarem Helaena, sua irmã mais velha. Helaena, com seus 13 anos, estava afastada do centro das atenções, como sempre. Ela se mantinha ao lado, encantada com algo que segurava nas mãos – uma pequena lagarta verde, que se movia lentamente sobre seus dedos. A cena contrastava com a solenidade do funeral, mas Helaena, com seu jeito peculiar e fascinante, parecia sempre viver em um mundo à parte.
Magelle caminhou até ela, buscando refúgio naquela presença tranquila. Ajoelhou-se ao lado de Helaena, observando em silêncio enquanto a irmã brincava com a criatura.
— O que ela vai ser? — perguntou Magelle, sua voz baixa e hesitante, quebrando o silêncio entre as duas.
Helaena, sem tirar os olhos da lagarta, respondeu em seu típico tom suave, como se falasse mais para si mesma do que para Magelle.
— Vai virar uma mariposa... ou talvez uma borboleta. Ainda não sei. — Helaena sorriu de leve, seus olhos claros refletindo uma doçura incomum, mas também uma certa distância, como se estivesse sempre imersa em pensamentos mais profundos e enigmáticos.
Antes que Magelle pudesse responder, um riso áspero e zombeteiro soou próximo delas. Aegon, seu irmão mais velho, observava a cena com desprezo, os lábios curvados em um sorriso debochado.
— Olha só, a grande princesa das lagartas — ele zombou, balançando a cabeça. — Não sei o que é mais patético: você, Helaena, ou essa coisa nojenta nas suas mãos.
Magelle encolheu-se, sentindo o rosto corar de vergonha por Helaena. Mas sua irmã, como sempre, não parecia ser afetada pelas provocações de Aegon. Ela apenas continuou observando a lagarta, como se ele não estivesse lá.
Aemond, que estava ao lado de Aegon, cruzou os braços, visivelmente irritado. Seu rosto mostrava o descontentamento crescente com o comportamento de Aegon.
— Pare de rir, Aegon — disse Aemond, com a voz firme e irritada. — Você é um idiota. Sempre se acha tão engraçado, mas não passa de um tolo bêbado.
Aegon lançou um olhar entediado para o irmão mais novo e deu de ombros.
— Ah, poupe-me, Aemond. Quem se importa com isso? — Aegon deu mais um gole em seu vinho e olhou para Magelle. — E você, por que está brincando com lagartas? Achei que queria ser parte dos 'mais velhos'. Bom, bem-vinda ao lado esquisito da família.
Magelle mordeu o lábio, sentindo a humilhação e o desprezo nas palavras de Aegon. Mas, quando olhou para Helaena, que ainda estava totalmente absorvida pelo inseto em suas mãos, sentiu uma onda de afeto por sua irmã. Helaena não se importava com o que os outros diziam, nem mesmo com as provocações de Aegon. Talvez fosse isso que Magelle mais admirava nela — a serenidade de existir em seu próprio mundo, distante das crueldades e das preocupações que a cercavam.
— Não tem nada de errado em gostar de lagartas — disse Magelle baixinho, mais para si mesma do que para os irmãos. Era uma defesa tímida, mas, naquele momento, parecia a única coisa que ela podia fazer.
Aemond olhou para ela, e por um breve segundo, seus olhos perderam o brilho frio que sempre carregavam. Ele a observou em silêncio, sem rir, sem zombar, apenas com uma leve curiosidade.
A noite estava fria e silenciosa em Driftmark, e o castelo parecia estar em luto não apenas por Laena, mas por todos ali. Maegelle despertou de repente, seu coração batendo mais rápido que o normal, uma sensação inquietante a invadindo. Não sabia o que a havia acordado — talvez o murmúrio distante de vozes, ou talvez fosse algo mais profundo, um pressentimento. Seus olhos se ajustaram à escuridão do quarto, e, no silêncio da noite, ela ouviu passos furtivos no corredor.
Curiosa e ansiosa, Maegelle se levantou silenciosamente, vestiu o robe e saiu de seu quarto sem fazer barulho. As vozes que ouviu vinham da direção dos fundos do castelo, para além dos jardins e do fosso dos dragões. Guiada por sua curiosidade, ela seguiu os passos apressados, sem ser notada.
À medida que se aproximava, reconheceu as vozes das crianças: Jacaerys, Lucerys, Baela e Rhaena. Eles estavam todos juntos, em um círculo apertado sob a luz pálida da lua. Maegelle se escondeu atrás de uma coluna de pedra, seu coração batendo descompassado enquanto os observava.
No centro do grupo, com uma postura arrogante e confiante, estava Aemond. Seu rosto exibia um misto de orgulho e desafio, algo diferente do que Maegelle havia visto antes em seu irmão mais reservado. Ele estava se gabando de algo, e as crianças ao seu redor pareciam furiosas.
— Dominei Vhagar esta noite — Aemond disse com um sorriso satisfeito, a voz carregada de autossatisfação. — O maior dragão vivo agora me pertence.
Rhaena, os olhos faiscando de raiva e tristeza, deu um passo à frente, a voz embargada quando falou.
— Vhagar era da minha mãe — disse ela, a dor clara em suas palavras. — Ela era minha por direito.
Aemond riu de forma desdenhosa, olhando para Rhaena como se ela fosse tola por acreditar nisso.
— Se fosse sua, deveria tê-la reivindicado. Mas você não fez nada. Dragões não esperam por ninguém — retrucou ele com frieza, seus olhos brilhando de desafio. — Eu a dominei, e agora ela é minha.
Baela, ao lado de sua irmã, estava igualmente furiosa. Seus punhos estavam cerrados, e ela parecia prestes a avançar contra Aemond.
— Você roubou ela de nós! — acusou Baela, sua voz cortante na noite, carregada de indignação.
Aemond ergueu o queixo, sem dar um passo atrás, absorvendo a raiva das garotas como se fosse um triunfo para ele.
— Roubado? Não. Ela estava ali para ser domada. Se vocês queriam Vhagar, deveriam ter agido mais rápido — ele lançou um olhar cortante para Rhaena. — Você hesitou. E dragões não são para os hesitantes.
As palavras de Aemond soaram como um golpe, e Rhaena ficou paralisada, com os olhos cheios de lágrimas de frustração e perda. Jacaerys, que havia ficado em silêncio até então, deu um passo à frente, com o rosto cheio de fúria.
— Você acha que pode fazer o que quiser só porque domou um dragão? — desafiou Jacaerys. — Isso não te dá o direito de humilhar minhas primas.
Aemond o encarou, seu sorriso desaparecendo e sendo substituído por uma expressão mais séria, quase sombria.
— Tenho um dragão, Jacaerys. Um dos maiores que já existiram. Isso me dá muitos direitos — ele falou lentamente, como se quisesse que as palavras penetrassem profundamente. — E ninguém pode me tirar isso.
Maegelle assistia tudo de longe, o coração apertado. A tensão entre os primos e Aemond era palpável. Ela sentia o conflito crescendo como uma tempestade iminente, e, ao ver Aemond com tanto orgulho em seus olhos, algo dentro dela vacilou. Esse era o mesmo irmão que ela havia visto quieto e desprezado durante tanto tempo? Agora, ele se erguia como se tivesse encontrado finalmente seu lugar no mundo. Mas o preço desse triunfo parecia ser o sofrimento dos outros.
Rhaena estava prestes a falar de novo, quando Lucerys, até então calado e com o rosto pálido de medo e raiva, interrompeu.
— Não se pode simplesmente roubar o que pertence aos outros, Aemond — sussurrou Lucerys, quase sem fôlego. — Isso não vai acabar bem para você.
Aemond deu um passo à frente, ficando a poucos centímetros de Lucerys, com os olhos brilhando de intensidade.
— Tente impedir, se for capaz, Lucerys.
Maegelle observava a cena com os olhos arregalados, confusa e inquieta, vendo a tensão crescer entre Aemond, Jace, Luke e as filhas de Daemon. Ela não entendia por que estavam brigando, e o coração dela doía ao ver as primas tão furiosas e seu irmão com um olhar tão frio e distante. Queria que aquilo parasse.
Sem pensar muito, ela deu um passo à frente, saindo de seu esconderijo, a voz doce e carregada de inocência.
— Por que vocês estão brigando? — perguntou, sua voz suave ecoando no ar frio da noite. Ela olhou para Aemond com uma expressão de preocupação genuína, os olhos grandes piscando de ansiedade. — Aemond, o que está acontecendo?
Aemond, que até então estava com uma postura altiva e desafiadora, suavizou ligeiramente ao ver Maegelle se aproximando. Ela era sua irmã mais nova, tão gentil e inocente, e parecia não entender nada daquilo. Ele respirou fundo, deixando escapar um pouco da tensão.
— Maegelle — disse ele, a voz mais baixa e menos agressiva. — Está tudo bem. Eles só estão... chateados porque eu dominei Vhagar esta noite. Agora tenho um dragão, um grande dragão. Você deveria estar feliz por mim.
Maegelle o encarou, os olhos brilhando de surpresa e admiração.
— Um dragão? — perguntou ela, com a voz carregada de entusiasmo. — Você realmente conseguiu? Isso é incrível, Aemond!
Ele assentiu com um meio sorriso, a dureza em seu rosto desaparecendo por um momento ao ver a felicidade genuína da irmã.
— Sim, eu consegui. E agora, você entende como é... — Aemond hesitou por um segundo, olhando para ela com uma certa compreensão. — Você sabe como é não ter um dragão, assim como eu sabia. Mas agora tenho Vhagar. E eu vou levar você para voar comigo, Maegelle. Não se preocupe. Nós vamos voar juntos.
Os olhos de Maegelle brilharam de alegria com a promessa. O alívio suavizou seu coração, mas, antes que ela pudesse responder, Rhaena explodiu de raiva. A presença de Maegelle, e a maneira como Aemond parecia menos feroz diante dela, apenas acentuaram sua própria frustração.
— Voar com você?! — Rhaena gritou, sua voz afiada de fúria. — Vhagar era da minha mãe! Não é justo que você a tenha roubado de mim!
Aemond voltou a endurecer seu semblante, o olhar frio retornando rapidamente.
— Como eu já disse, Rhaena — respondeu ele, a voz ríspida. — Se ela era sua, você deveria tê-la reivindicado. Mas você não fez nada.
Rhaena, tomada pela raiva e pelo luto ainda fresco da perda da mãe, não suportou mais aquelas palavras. Em um impulso de desespero e dor, ela avançou sobre Aemond, socando-o no peito com toda a força que tinha.
— Você a roubou! — gritou ela, as lágrimas de raiva escorrendo pelo rosto. — Você não tem o direito!
Aemond cambaleou levemente com o golpe repentino, mas sua expressão mudou instantaneamente para algo sombrio. A mão dele se fechou em torno do braço de Rhaena, com força, e ele a empurrou para trás, a raiva brilhando nos olhos.
Maegelle ficou paralisada ao ver a cena diante dela. O irmão que há pouco estava prometendo voar com ela agora segurava Rhaena de forma violenta, enquanto os primos e Baela olhavam com horror. O mundo de Maegelle parecia ter mudado de um momento para o outro. Ela não queria que aquilo acontecesse, não queria ver seus irmãos e primos se machucando.
A briga rapidamente saiu de controle. O momento em que Rhaena atacou Aemond desencadeou uma reação em cadeia que Maegelle jamais poderia ter previsto. Em um piscar de olhos, Aemond se lançou sobre os outros, seus movimentos rápidos e brutais. Jace, Baela e até mesmo o pequeno Lucerys se viram obrigados a lutar.
— Parem! — gritou Maegelle, a voz dela quase se perdendo no caos. O som dos gritos e socos ecoava ao redor deles, como trovões abafados nas paredes do castelo.
Aemond estava no meio de todos, um rodamoinho de fúria. Ele empurrou Jace com força, derrubando-o no chão, antes de se virar para Baela, que tentou chutá-lo. Ele desviou e segurou seu braço com uma força que parecia muito além do que a situação permitia, girando-a para longe com brutalidade. Cada golpe era cheio de uma ira acumulada por anos, por ressentimentos antigos e um senso de injustiça.
Jace tentou se levantar, mas Aemond o chutou novamente, derrubando-o de volta ao chão. O ar ficou pesado, e Maegelle, agora assustada e desesperada, tentava entender como tudo tinha chegado àquele ponto.
Foi então que ela viu Lucerys, o mais jovem, recuar alguns passos, o rosto pálido e os olhos arregalados de medo. Mas, de alguma forma, ele parecia determinado. Em um movimento que Maegelle mal conseguiu processar, Luke sacou uma pequena adaga escondida em seu cinto. Seu corpo tremia de medo, mas sua intenção era clara: ele iria proteger suas irmãs e seu irmão.
Maegelle sentiu o coração disparar, o medo fervilhando dentro dela.
— Não, Luke! Não! — ela gritou, vendo o brilho mortal da lâmina em suas mãos. Sem pensar, ela correu para ele, desesperada para evitar o pior.
O mundo parecia desacelerar. Maegelle avançava com tudo que tinha, tentando alcançar o irmão mais novo antes que algo terrível acontecesse. Mas no último momento, seus pés tropeçaram em uma pedra no chão. Ela perdeu o equilíbrio, os braços se estendendo para impedir o golpe de Luke.
Mas seu corpo girou descontrolado, e antes que ela pudesse parar, a lâmina da adaga desviou bruscamente com seu movimento. Maegelle sentiu o frio metálico passar por ela como um borrão. A lâmina acertou algo sólido. E então veio o grito.
Aemond soltou um urro de dor tão intenso que congelou todos ao redor. Ele caiu de joelhos, uma mão se apertando contra o rosto. Sangue começou a escorrer por entre seus dedos, manchando o chão de pedra, e Maegelle sentiu seu estômago despencar.
Ela tinha errado. A adaga estava cravada no olho de Aemond.
— Não... não... — ela murmurou, o pânico apertando sua garganta.
Tudo à sua volta parecia se apagar. A visão de Aemond gritando, o sangue escorrendo pelo rosto dele, a expressão chocada de Jace, Baela e Rhaena, tudo se misturava. Ela mal conseguia processar o que acabara de acontecer.
Jacaerys, ainda ofegante da luta, mal conseguia acreditar no que acabara de acontecer. Ele viu Maegelle paralisada, os olhos arregalados de horror enquanto observava Aemond gritar e o sangue escorrendo pelo rosto do irmão. O instinto de proteção tomou conta dele, e, sem pensar duas vezes, ele correu até ela.
— Maegelle, vamos! — ele disse, a voz carregada de urgência enquanto a puxava para longe da cena, tentando afastá-la da visão aterradora.
Mas Maegelle resistia, suas pernas estavam firmes como se estivessem enraizadas no chão. Ela não conseguia desviar os olhos de Aemond, que ainda gritava de dor enquanto segurava o rosto ferido. Seus próprios gritos começaram a preencher o ar, desesperados e agudos.
— Aemond! — ela soluçava, tentando se soltar do aperto de Jace. — Eu... eu não queria! Aemond, me desculpa!
Ela estava em completo choque, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Jacaerys, ainda segurando-a com força, não sabia o que dizer, mas ele sabia que precisava tirá-la dali, longe do caos que estava prestes a explodir.
— Não foi culpa sua, Maegelle! Não foi você! — ele repetia, sua própria voz vacilando. — Foi um acidente!
Nesse momento, o som de passos apressados ecoou pela área. Guardas corriam, e logo Otto Hightower apareceu, com o rosto rígido e olhos arregalados, avaliando a cena com frieza. A visão de Aemond caído no chão, ensanguentado, fez seu rosto endurecer ainda mais. Os guardas logo cercaram as crianças.
— Levem-nos para dentro! — ordenou Otto com a autoridade de quem estava acostumado a lidar com crises. Os guardas imediatamente começaram a separar todos, segurando Jace, Lucerys, Baela e Rhaena, que ainda estavam chocados com a luta. Eles foram arrastados de volta ao castelo, enquanto Aemond continuava a gemer, sendo rapidamente socorrido por outro grupo de homens.
Jace segurava Maegelle firmemente, que ainda gritava e se debatia, tentando voltar para o irmão.
— Aemond... por favor, não... — ela repetia, sua voz fraca e trêmula, completamente dominada pelo pânico.
— Maegelle, não foi culpa sua! — Jace sussurrou novamente, tentando de alguma forma acalmá-la, mas sabia que aquelas palavras não seriam suficientes. Ela não conseguia processar o que tinha acabado de acontecer.
Quando chegaram ao castelo, Jacaerys ainda a segurava, tentando protegê-la do caos ao redor, mas Maegelle continuava em choque, incapaz de entender que o dano já havia sido feito. O trauma do que tinha acontecido parecia se espalhar por ela como um veneno, imobilizando-a em um estado de puro desespero.
Dentro do grande salão de Driftmark, as chamas das tochas tremeluziam enquanto o caos da briga recém-terminada ecoava no ar. Maegelle chorava silenciosamente em um canto, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto pálido enquanto ouvia os sussurros ao redor.
O meistre havia acabado de falar, e a notícia de que Aemond perdera o olho para sempre encheu o ambiente de uma tensão sufocante. Aemond, no entanto, estava surpreendentemente calmo, mesmo com o ferimento doloroso e o rosto parcialmente coberto de sangue.
Rhaenyra entrou no salão acompanhada de Daemon, seus olhos imediatamente vasculhando o ambiente em busca de seus filhos. Ao vê-los, correu na direção de Jacaerys e Lucerys, os abraçando apertado.
— Meus meninos, vocês estão bem? — sua voz estava cheia de preocupação, enquanto acariciava o rosto de Jace e verificava Lucerys, que ainda parecia chocado e um pouco machucado da luta.
Maegelle observava a cena, encolhida, as lágrimas caindo ainda mais rápido. Ela sentia o peso da culpa esmagando seu peito. Ela sabia o que havia acontecido, sabia que sua interferência havia levado à tragédia, e o pensamento de que Aemond nunca mais teria seu olho a devastava.
A porta do salão se abriu novamente, e Viserys entrou, apoiado em sua bengala, com Alicent logo atrás, a expressão de ambos tensas e sérias. Eles haviam sido acordados pelo alvoroço e já sabiam que algo terrível acontecera. Alicent avançou rapidamente para Aemond, ajoelhando-se ao lado dele, o rosto dela uma mistura de desespero e raiva.
— Aemond... meu filho, o que aconteceu? — a voz dela tremia, mas Aemond, mesmo em meio à dor, parecia incrivelmente controlado.
— Eles me atacaram, mãe, — disse ele com firmeza, o tom quase indiferente, apontando para Jace, Lucerys, Baela e Rhaena, que estavam do outro lado do salão, observando tudo em silêncio, assustados e tensos.
— Quem fez isso ao meu filho? — exigiu, a raiva fervilhando na voz. — Quem é o responsável?
Todos os olhos se voltaram para o grupo de crianças. O silêncio no salão era denso, quase palpável. Rhaenyra se aproximou, seu olhar afiado cruzando o de Alicent, enquanto Daemon observava tudo de longe, os braços cruzados, um sorriso quase imperceptível nos lábios.
Antes que qualquer um pudesse falar, Jacaerys deu um passo à frente, endireitando-se com uma coragem forçada. Ele não olhava para Rhaenyra nem para ninguém, seu rosto firme e decidido.
— Fui eu — ele disse rapidamente, sua voz firme. — Eu sou o responsável.
Maegelle, ainda chorando em um canto, olhou para Jace com os olhos arregalados, sem conseguir acreditar no que ele estava fazendo. Ela sabia que ele estava tentando protegê-la, tentando impedir que a verdade sobre seu envolvimento fosse revelada, mas o peso da culpa a consumia.
Alicent estreitou os olhos, furiosa.
— Você?! — ela exclamou, dando um passo à frente.
Viserys, visivelmente exausto, ergueu a mão, pedindo silêncio.
— Chega! — ele disse, sua voz grave ecoando pelo salão. — Isso não é hora para culparmos ninguém antes de saber a verdade.
Aemond, ainda sentado, observava a cena, seu rosto marcado pela dor, mas sem qualquer sinal de medo ou hesitação. Ele olhou diretamente para Maegelle, que agora soluçava silenciosamente, e então voltou seus olhos para Jacaerys.
— Eu perdi um olho — disse ele calmamente. — Mas ganhei um dragão.
O silêncio que se seguiu foi tão pesado que parecia preencher cada canto do salão. As palavras de Aemond ecoavam na mente de todos, e pela primeira vez, Viserys não sabia como responder. Alicent, no entanto, não parecia satisfeita.
— Isso não justifica a violência contra ele! — ela gritou. — Eu exijo justiça!
Rhaenyra deu um passo à frente, ficando ao lado de Jacaerys.
— Meu filho está dizendo a verdade, — ela disse com firmeza, enfrentando Alicent. — Se alguém deve ser punido, que seja ele, e mais ninguém.
Maegelle, agora desmoronando em um amontoado de lágrimas, queria gritar a verdade, mas a voz dela estava presa na garganta. A culpa esmagadora a silenciava.
O silêncio no salão era cortante, e as tensões estavam à flor da pele. Alicent se ergueu, os olhos ardendo com uma fúria incontrolável, e apontou diretamente para Jacaerys.
— Eu exijo um olho de Jacaerys Velaryon! — ela declarou, sua voz carregada de ódio. — Meu filho foi mutilado, e não haverá justiça enquanto ele não pagar o preço!
Rhaenyra arregalou os olhos em choque, posicionando-se defensivamente na frente de Jace.
— Você não pode estar falando sério, Alicent! — Rhaenyra gritou, sua voz cheia de incredulidade.
A tensão aumentava, e todos no salão estavam em alerta. Viserys ergueu a mão em um gesto desesperado, tentando conter a explosão iminente.
— Chega! Ninguém... — Viserys começou, mas foi interrompido.
De repente, no meio daquele caos, uma voz frágil e trêmula se ergueu.
— Foi... foi... foi um acidente! — A voz de Maegelle cortou o ar, tremendo de tanto chorar. Todos no salão se voltaram para ela, a pequena figura encolhida e com os olhos inundados de lágrimas. — Fui eu!
A sala inteira ficou em choque. Alicent olhou para a filha, confusa, mas ainda tomada pelo furor.
— O quê? — Alicent perguntou, seu rosto pálido, enquanto Rhaenyra, Daemon e os outros observavam, incrédulos.
Maegelle, com o rosto molhado de lágrimas e soluçando, gritou mais alto, seus braços cruzados em desespero.
— Foi... fui eu... — ela gaguejou. — Eu... eu tentei impedir... eu vi Lucerys com a adaga e... e corri para... para impedi-lo, mas eu tropecei! Eu não queria machucar Aemond, eu juro! — Sua voz desabou em um soluço profundo, e ela caiu de joelhos no chão, as mãos cobrindo o rosto.
Todos ficaram paralisados por um momento, incapazes de processar o que Maegelle acabara de confessar. Alicent, que antes estava tomada pela raiva, ficou sem palavras. Ela olhou para Aemond, que a observava em silêncio, sem contestar.
Rhaenyra, ainda de pé ao lado de Jace, parecia abalada, mas algo como um alívio passou por seu rosto. A menina, pequena e inocente, estava assumindo a culpa por algo terrível, e não havia dúvida de que o que ela dizia era verdade.
Alicent se aproximou de Maegelle, ajoelhando-se ao lado dela, agora perplexa, sua raiva diminuindo ao ver o estado de choque da filha. Maegelle soluçava descontroladamente, sua voz entrecortada.
— Eu... eu não queria machucar ele... foi um acidente... — Maegelle repetia, com o rosto encharcado de lágrimas.
O salão de Driftmark estava em um estado de tensão sufocante. Rhaenyra, percebendo o estado de choque de Maegelle, deixou os próprios filhos por um momento e se aproximou da pequena meia-irmã. A menina estava de joelhos, com as mãos ainda cobrindo o rosto, soluçando incontrolavelmente. Rhaenyra se abaixou, sua expressão suave e preocupada, tocando o ombro da irmãzinha.
— Maegelle... você está bem? — Rhaenyra perguntou com voz terna, tentando alcançar a mente da criança perdida em meio ao choque e culpa.
Maegelle não respondeu, seus olhos arregalados e inexpressivos, como se não pudesse sequer ouvir a pergunta. Estava petrificada pelo que acabara de acontecer, as palavras de sua confissão ainda ecoando em sua mente. A culpa que sentia era devastadora.
Aemond, com o rosto coberto pelas ataduras, sentou-se com uma estranha calma, ignorando a dor latejante no lado do rosto. Ele observou a interação entre as duas, um sorriso irônico tocando seus lábios.
— Está tudo bem, Maegelle, — ele disse com um tom cruelmente despreocupado, fazendo todos no salão voltarem sua atenção para ele. — Eu perdi um olho... mas agora eu tenho um dragão. Acho que o saldo é positivo, não é?
O rosto de Rhaenyra se contorceu em raiva silenciosa. Ela se ergueu, seu olhar queimando em direção a Aemond, mas antes que pudesse responder, a voz autoritária de Viserys cortou o ar.
— Chega! Eu não quero mais ouvir sobre isso! — O rei, abatido e exausto, olhou para todos com uma mistura de frustração e dor. — Todos para fora. Agora! — Ele ordenou com a voz pesada.
Os presentes começaram a sair em silêncio, Rhaenyra levando seus filhos para fora enquanto lançava um último olhar preocupado para Maegelle. O salão rapidamente se esvaziou, e logo restaram apenas Alicent, Aemond e Maegelle.
Quando as portas se fecharam, Alicent voltou-se imediatamente para a filha mais nova. Seu rosto estava vermelho de raiva e desgosto. Sem qualquer aviso, ela se aproximou de Maegelle, que ainda estava encolhida no chão, e a esbofeteou com força.
— Você é uma vergonha! — Alicent gritou, sua voz cortante. — Como pôde fazer isso com seu irmão? Como pôde ser tão cruel?
Maegelle ficou paralisada, o choque do tapa somando-se ao estado já frágil em que se encontrava. Ela não entendia, não conseguia processar como tudo havia se desdobrado de forma tão horrível. Alicent, no entanto, não parava.
— Você é uma decepção, Maegelle, — Alicent continuou, sem nenhuma compaixão, seus olhos queimando de raiva. — Você deveria ser melhor. E agora, veja o que fez! Olhe para seu irmão! Ela apontou para Aemond, que observava tudo em silêncio, sem mover um músculo. — Você o arruinou!
Maegelle soluçava ainda mais, as palavras cruéis de sua mãe penetrando fundo, destruindo qualquer resistência emocional que restava nela. Alicent estava furiosa, os olhos cheios de desgosto.
— Eu... eu não queria... — Maegelle gaguejou entre os soluços, a voz trêmula e fraca.
— Não queria? — Alicent zombou, aproximando-se ainda mais. — Então o que você queria? Está orgulhosa de si mesma agora? Orgulhosa de ter destruído sua própria família? Ela deu outro tapa, desta vez menos violento, mas carregado de desprezo.
Aemond finalmente falou, sua voz fria e quase indiferente.
— Deixe-a, mãe. Como eu disse, agora eu tenho um dragão. Vhagar... vale mais do que isso. — Ele lançou um olhar para Maegelle, como se estivesse dizendo que, no fim das contas, o sacrifício dela não importava.
Mas Maegelle mal conseguia olhar para o irmão, suas lágrimas encharcando seu rosto, e seu coração esmagado sob o peso das palavras cruéis de Alicent. O salão parecia se fechar ao redor dela, sufocante, enquanto ela ouvia o eco dos insultos de sua mãe reverberando em sua mente.
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