ii. the princess's bastards
Maegelle estava sentada em um canto da câmara iluminada, sua postura ereta, os olhos fixos no delicado bordado que se formava lentamente em suas mãos pequenas. O fio dourado passava pela seda com precisão, cada ponto refletindo a luz suave das velas, criando uma cena de dragões alados em meio às nuvens. A concentração da menina era quase palpável, os lábios ligeiramente entreabertos enquanto ela desenhava sua visão com linhas de seda.
Alicent, a Rainha, estava em pé perto da janela, observando a filha mais nova com uma mistura de orgulho e preocupação. Maegelle era diferente dos outros filhos. Mais dócil, mais dedicada às artes femininas que Alicent tanto valorizava. Ela se esforçava para criar uma filha perfeita, alguém que nunca questionaria seu lugar ou seu dever. Mas, enquanto Alicent observava, havia algo em Maegelle que a fazia pensar que, talvez, mesmo a filha mais perfeita não fosse imune ao caos que a cercava.
A porta da câmara se abriu com um rangido baixo, e um guarda entrou, seu rosto sério e a postura rígida. Atrás dele, Aemond foi conduzido para dentro, o pequeno príncipe estava uma completa bagunça. Suas roupas estavam sujas de fuligem, o cabelo loiro-prateado desgrenhado, e havia um corte superficial na bochecha, ainda avermelhado e inchado. Maegelle, instintivamente, parou seu bordado, seus olhos grandes se voltando para o irmão mais velho, preocupada.
— O que aconteceu? — Alicent perguntou, sua voz firme, mas carregada de uma preocupação materna que ela raramente demonstrava abertamente.
O guarda hesitou por um momento, lançando um olhar rápido para Maegelle antes de responder.
— O Príncipe Aemond esteve em uma briga, Vossa Graça... com os filhos da Princesa Rhaenyra — ele disse, mantendo a cabeça baixa, como se tentasse evitar o olhar penetrante de Alicent.
Alicent apertou os lábios, o peso da situação recaindo sobre ela. Maegelle largou o bordado no colo, os dedos pequenos entrelaçados no tecido, enquanto escutava com atenção.
— E por que estavam brigando? — Alicent perguntou, a voz mais afiada, exigindo detalhes.
O guarda hesitou novamente, mas sabia que não podia omitir nada.
— Parece que houve um desentendimento, Vossa Graça. Algo sobre... sobre os dragões e... outros assuntos — ele respondeu, escolhendo as palavras com cuidado.
— Dragões, sempre dragões — ela disse, com uma nota de exasperação em sua voz. — Essa obsessão, Aemond, vai te levar à ruína. Quantas vezes já falei que há mais na vida do que essas criaturas? Você é um príncipe, não um cavaleiro de contos que passa seus dias fantasiando sobre bestas aladas. O que fez com que perdesse o controle dessa forma?
Aemond, que até então havia mantido o olhar baixo, apertou os punhos ao lado do corpo. Alicent pôde ver a tensão em seus ombros, mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, ele ergueu a cabeça, os olhos ardendo de uma raiva contida.
— Eles... eles me deram um porco! — Aemond explodiu, a voz carregada de ressentimento. — Disseram que, já que não tenho dragão, deveria montar aquela coisa imunda. Riram de mim, como se eu fosse um tolo.
Maegelle, que observava em silêncio, arregalou os olhos diante da intensidade do irmão. Ela sempre soubera que Aemond se sentia inferior por não ter ainda um dragão, mas nunca o havia visto tão perturbado.
Alicent ficou em silêncio por um instante, processando o que Aemond acabara de revelar. A raiva que ela sentia pelo comportamento imprudente do filho agora se misturava com uma onda de indignação. Ela sabia que as crianças podiam ser cruéis, mas o que haviam feito a Aemond era impiedoso.
— Eles não tinham o direito... — Alicent começou, sua voz suave, mas cheia de uma ameaça silenciosa, enquanto se aproximava do filho, pousando as mãos em seus ombros.
Aemond desviou o olhar, ainda tremendo de fúria e humilhação. Alicent apertou levemente os ombros do filho, tentando transmitir algum conforto, embora soubesse que a dor dele não seria facilmente curada.
Maegelle, que até então estava em silêncio, finalmente se manifestou com a voz carregada de indignação.
— Só pode ter sido ideia de Aegon — ela disse, franzindo o cenho, sem conseguir esconder o descontentamento.
Aemond, ainda tomado pela raiva, virou-se para a irmã, os olhos brilhando de fúria.
— Não importa se foi Aegon ou não! Seus amigos bastardos sujos estavam lá também! — ele cuspiu as palavras com desdém. — Eles riram de mim, Maegelle, como se eu fosse um nada. E você os defende?
— Jace não faria algo assim por maldade! — Maegelle respondeu, elevando a voz para ser ouvida. — Ele é meu amigo, e você sabe disso!
Aemond deu um passo à frente, o rosto a poucos centímetros do dela, a raiva transbordando.
— Eles não são nada além de bastardos! Você só não vê isso porque está cega com suas tolices infantis!
— E você está cego de ódio! — Maegelle gritou de volta, os olhos marejados, mas sem recuar.
Antes que a discussão pudesse escalar ainda mais, Alicent se interpôs entre os dois, sua presença impondo silêncio imediato.
— Chega! — Ela ordenou com firmeza, lançando um olhar severo para ambos. — Não vou tolerar esse tipo de comportamento, nem de você, Aemond, nem de você, Maegelle. Somos uma família, e não vamos nos comportar como inimigos dentro destas paredes.
Maegelle mordeu o lábio, tentando conter as lágrimas, enquanto Aemond desviou o olhar, a respiração ainda pesada, mas recuando. Alicent suspirou, o peso da responsabilidade sobre seus ombros se tornando mais evidente.
— Eu cuidarei disso, Aemond — disse Alicent com uma voz firme, mas controlada. — Agora vá se limpar.
Aemond assentiu, ainda ressentido, mas obediente, saindo da câmara com passos pesados.
Alicent então voltou-se para Maegelle, que ainda segurava o bordado com as mãos trêmulas.
— Foque nos seus bordados, Maegelle — ordenou a rainha, tentando retomar o tom suave, mas a jovem princesa balançou a cabeça, os olhos cheios de tristeza e revolta.
— Não é justo, mãe. Não é justo o que estão dizendo sobre Jacaerys e Lucerys. — Maegelle murmurou, a voz trêmula.
Alicent aproximou-se dela, colocando uma mão sobre seu ombro.
— Maegelle, você precisa desapegar de Jacaerys — disse Alicent, a seriedade em seu tom de voz inabalável. — Os filhos de Rhaenyra não serão seus amigos para sempre. Se Rhaenyra ascender ao trono, você e seus irmãos estarão jurados de morte. Não se iluda com essas amizades de infância. O tempo dos jogos e dos sonhos já está passando, e você deve estar pronta para o que está por vir.
Maegelle, com o coração apertado, sentiu o peso das palavras de sua mãe. Ela sabia que o mundo ao seu redor estava mudando, e que a inocência de suas amizades estava se tornando um luxo perigoso.
Mesmo assim, a ideia de se afastar de Jacaerys, alguém que sempre foi tão próximo, era quase insuportável. Mas, sob o olhar firme de Alicent, Maegelle apenas assentiu, silenciosamente voltando sua atenção ao bordado, sentindo-se mais distante do que nunca daqueles que um dia foram seus companheiros de brincadeiras.
Maegelle caminhava pelos corredores da Fortaleza Vermelha, os passos leves ecoando nas pedras frias. Seu coração estava pesado com as palavras de sua mãe, e ela mantinha os olhos fixos no chão, tentando ignorar a sensação de que estava sendo observada.
De repente, o som apressado de passos pequenos a fez levantar o olhar. Jacaerys, com um sorriso travesso nos lábios, correu até ela, os cachos escuros balançando com o movimento.
— Maegelle! — chamou ele, parando ao seu lado, o rosto iluminado pela animação.
Maegelle hesitou, a ameaça de Alicent ainda fresca em sua mente. Ela baixou os olhos, tentando evitar o olhar de Jacaerys.
— Eu... eu não posso brincar com você, Jace — murmurou, sua voz baixa e vacilante.
Jacaerys franziu o cenho, confuso com a recusa. Ele sempre via Maegelle como uma companhia constante, uma amiga em quem podia confiar. Determinado, ele insistiu:
— Mas eu tenho algo importante para fazer! Lucerys e eu vamos escolher o ovo de dragão para colocar no berço do nosso irmãozinho que vai nascer. Vai ser incrível! Você não quer ver? — disse ele, a voz cheia de entusiasmo.
Maegelle, dividida entre o medo da repreensão de sua mãe e o desejo de estar com Jacaerys, mordeu o lábio. O brilho nos olhos dele, a empolgação genuína em compartilhar esse momento, era difícil de resistir. Ele sempre tinha uma maneira de convencê-la, e naquele momento, a solidão que sentia parecia desaparecer com a perspectiva de estar ao lado dele.
— Está bem... Mas só um pouco — respondeu finalmente, cedendo, enquanto um pequeno sorriso se formava em seus lábios.
Jacaerys sorriu largamente, a satisfação evidente em seu rosto. Ele segurou a mão de Maegelle, guiando-a pelos corredores da Fortaleza Vermelha, deixando para trás, mesmo que temporariamente, as sombras das advertências e o peso das responsabilidades que os cercavam.
Quando Maegelle e Jacaerys chegaram ao Fosso do Dragão, o vento frio soprou contra eles, carregando o cheiro forte de cinzas e ferro que sempre acompanhava os dragões. As imponentes criaturas, com suas escamas brilhando à luz fraca do dia, estavam dispersas por todo o Fosso, cada uma guardada em sua caverna.
Mas, ao invés de se encantar com a majestade dos dragões, Maegelle sentiu um aperto no peito. O incidente com Aemond pesava em sua mente, uma lembrança amarga que ela não conseguia afastar.
Enquanto caminhavam, Jacaerys continuava a falar animadamente sobre os dragões e o ovo que escolheriam, mas Maegelle estava absorta em seus pensamentos. A ideia de que algo semelhante poderia acontecer com ela a perturbava profundamente. Ela ainda não tinha seu próprio dragão, e a lembrança do porco zombeteiro dado a Aemond fez seu coração apertar.
Finalmente, ela não conseguiu segurar mais a preocupação que a assombrava.
— Jace... — começou ela, sua voz hesitante. — Foi verdade que deram um porco para Aemond?
Jacaerys parou de falar e suspirou, o brilho em seus olhos diminuindo. Ele olhou para Maegelle com uma expressão séria, sentindo o peso da culpa que carregava.
— Sim... Foi verdade — admitiu ele, com um tom de arrependimento. — Foi ideia de Aegon. Eu disse que seria uma má ideia, mas Lucerys e Aegon acharam que seria engraçado. Eu... eu sabia que ia acabar mal.
Maegelle abaixou o olhar, sentindo um nó na garganta. Ela mal conseguia imaginar a humilhação que Aemond deve ter sentido, e o pensamento de que poderia ser alvo de uma brincadeira cruel semelhante a enchia de tristeza. Com a voz trêmula, ela olhou para Jacaerys e perguntou:
— E também não tenho um dragão... Você me traria aqui para me dar um porco também? É por isso que você me trouxe?
Jacaerys arregalou os olhos, surpreso e ferido pela sugestão. Ele imediatamente balançou a cabeça, negando com veemência.
— Não, Maegelle! Nunca faria isso com você! — exclamou ele, segurando as mãos dela com firmeza. — Eu trouxe você aqui porque queria que você estivesse comigo quando escolhesse o ovo de dragão para meu irmão. Porque... porque você é especial para mim. Não porque eu quisesse zombar de você.
Maegelle olhou para Jacaerys, vendo a sinceridade em seus olhos, e lentamente o nó em sua garganta começou a se desfazer. Ela ainda estava triste pelo que aconteceu com Aemond, mas a gentileza de Jacaerys a confortava.
— Está bem... Eu acredito em você, Jace — sussurrou ela, apertando de leve as mãos dele em retorno.
Conforme avançavam pelo Fosso do Dragão, Maegelle manteve-se próxima de Jacaerys, ainda sentindo um leve desconforto, mas determinada a não deixar que seus medos a dominassem. Eles logo se encontraram com Lucerys, que já estava de pé diante de uma série de ovos de dragão, cada um deles irradiando um calor sutil. Lucerys estava focado, seus olhos percorrendo os ovos com cuidado, tentando decidir qual seria o perfeito para o irmão ainda não nascido.
— Este parece promissor — disse Lucerys, apontando para um ovo de cor verde-escura com veios dourados, que parecia pulsar suavemente como se abrigasse uma vida prestes a despertar. — Acho que este seria um bom ovo para nosso irmão.
Jacaerys assentiu, aprovando a escolha do irmão mais novo, mas sua atenção logo voltou para Maegelle, que ainda estava um pouco distraída, com os pensamentos voltando ao ovo que ela própria havia recebido anos antes, mas que até agora não havia eclodido.
Percebendo sua melancolia, Jacaerys se aproximou dela, colocando uma mão reconfortante em seu ombro.
— Maegelle, não se preocupe com seu ovo — disse ele com uma suavidade que só reservava para ela. — Eu sei que ele vai eclodir, e quando isso acontecer, você terá seu próprio dragão. Então, nós dois poderemos voar juntos pelos céus, como sempre sonhamos.
Maegelle olhou para ele, sentindo uma pequena faísca de esperança reacender em seu coração. A promessa de voar ao lado de Jacaerys era algo que ela sempre havia desejado, e ouvir essas palavras dele a confortava.
— Você acha mesmo? — ela perguntou, sua voz tingida de incerteza, mas também de um desejo profundo de acreditar.
— Tenho certeza — afirmou Jacaerys, sorrindo com confiança.
Lucerys, que havia terminado de inspecionar os ovos e havia escolhido o seu favorito, olhou para os dois e sorriu, percebendo a cumplicidade entre eles.
— Vocês dois vão ser ótimos juntos, voando pelos céus — disse ele, tentando animar Maegelle. — E quando seu dragão nascer, Maeg, eu também vou voar com vocês. Seremos três cavaleiros de dragão!
Maegelle sorriu, sentindo-se um pouco mais leve. Mesmo que as preocupações ainda estivessem em sua mente, a amizade e o carinho de Jacaerys e Lucerys faziam-na acreditar que, talvez, tudo pudesse dar certo no final. E assim, com o ovo escolhido para o futuro príncipe e os corações um pouco mais tranquilos, eles deixaram o Fosso do Dragão, voltando para a Fortaleza Vermelha com novos sonhos e promessas em seus corações.
Nos dias que se seguiram à visita ao Fosso do Dragão, Maegelle foi tomada por uma mistura de ansiedade e expectativa. O clima estava carregado com a notícia que circulava pelos corredores da Fortaleza Vermelha: o novo bebê de Rhaenyra havia finalmente nascido. A alegria e a expectativa estavam palpáveis, e a própria Maegelle, embora ainda lidando com seus próprios desafios e medos, sentiu um ímpeto de curiosidade e excitação pelo novo membro sobrinho.
Era uma manhã nublada, e Maegelle, com um vestido novo que apertava um pouco mais do que o habitual, tentava se adaptar ao tecido e ao ajuste desconfortável. Sua mãe, Alicent, estava ao seu lado, ajustando o vestido com um olhar de aprovação e uma expressão que misturava cuidado e uma pitada de exasperação.
Alicent, com seu semblante sereno mas com um brilho de determinação nos olhos, havia solicitado o bebê de Rhaenyra quase que imediatamente após o parto. Maegelle observava sua mãe, que se mantinha firme e resoluta, e se perguntava sobre as razões por trás dessa solicitação.
Então, a porta se abriu e Rhaenyra, com uma expressão que misturava cansaço e orgulho, entrou na sala acompanhada por Laenor e o bebê recém-nascido. O pequeno, envolto em mantas de linho, estava em seus braços, seu rosto ainda ruborizado e seus olhos fechados como se estivesse absorvendo a tranquilidade que o cercava. O contraste entre a fragilidade do bebê e a força de Rhaenyra era palpável.
Maegelle, com o vestido apertado, sentiu um nó se formar em seu estômago. O calor da sala parecia aumentar conforme a tensão crescia, e ela tentou se ajustar ao vestido, que parecia sufocante. A cena diante dela era surreal. A mãe, que deveria ter sido uma figura constante de carinho e conforto, estava agora sendo privada de um momento tão íntimo e precioso com o próprio filho.
— Rhaenyra. Deveria estar descansando. — comentou Alicent com um tom de voz que tentava ser acolhedor, mas que tinha um toque de autoridade implacável. Sua voz revelava um tom sutil de reprovação, como se a exaustão de Rhaenyra fosse uma inconveniência.
— Tenho certeza de que você preferia de outra forma, mas aqui estou.
Alicent suspirou e pediu uma almofada para que Rhaenyra pudesse se sentar com mais conforto, Alicent tomou o bebê nos braços com cuidado e se aproximou da jovem princesa.
— Venha conhecer o seu novo sobrinho — disse Alicent, com um gesto que indicava a Maegelle para se aproximar.
Maegelle, com o vestido apertado e um leve desconforto, observou enquanto Alicent posicionava o bebê nos braços dela. O calor e a fragilidade do pequeno trouxeram um sorriso sincero aos lábios de Maegelle.
O contraste entre o simples ato de segurar o bebê e o ambiente carregado de tensões políticas fez com que a jovem princesa sentisse uma onda de ternura invadir seu coração. Ela tentou ignorar o desconforto do vestido e se focou no milagre da vida que estava diante dela, um lembrete de pureza e beleza em meio às complexidades ao seu redor.
Maegelle, ao segurar o bebê em seus braços, não pôde deixar de achar a pequena criatura adorável. O semblante do recém-nascido, com traços delicados e um semblante pacífico, lembrava-a de Jacaerys. No entanto, o medo de derrubar o frágil bebê a deixou inquieta. Ela não queria afastar a criança de seus pais, pois sentia que a situação estava além de seu controle.
Com lágrimas nos olhos, visíveis por causa do desconforto da situação e da pressão emocional, Maegelle cuidadosamente entregou o bebê a Laenor. O príncipe consorte agradeceu com um sorriso gentil, reconhecendo o gesto e a sensibilidade da jovem princesa.
Nesse momento, o rei Viserys entrou na sala, seus olhos cansados brilhando com um calor paternal enquanto ele parabenizava Rhaenyra por mais um filho. Sua presença trouxe um sentimento de solenidade e autoridade ao ambiente, e todos na sala se voltaram para ele com uma mistura de respeito e alívio.
Enquanto a atenção estava voltada para o rei e Rhaenyra, Alicent se aproximou de Laenor com uma expressão que escondia um misto de curiosidade e cálculo. Ela se inclinou para observar o bebê, tocando gentilmente os poucos fios de cabelo do recém-nascido.
— Continue tentando — disse Alicent, sua voz baixinha e cheia de uma condescendência calculada. — Talvez um dia um deles se pareça com você.
Laenor, que estava ocupado acariciando o bebê, olhou para Alicent com um misto de surpresa e perplexidade. Ele sabia que suas palavras carregavam um peso implícito, um lembrete sutil da pressão que os filhos da Casa Velaryon enfrentavam para se igualar às expectativas da corte e da realeza.
A tensão no ambiente se manteve palpável, uma camada invisível sobre o acolhimento do novo membro da família. Maegelle, ao observar a interação, sentiu um peso em seu peito, uma sensação de que, em meio a todas as celebrações e formalidades, o verdadeiro desafio estava na complexidade das relações e expectativas que pairavam sobre todos na sala.
Alguns dias após a chegada do novo bebê, Maegelle se encontrava inquieta com a ausência de Jacaerys durante o café da manhã. Curiosa e preocupada, ela decidiu ir até a câmara do príncipe, desejando saber o motivo de seu desânimo. Ao se aproximar da porta, o guarda a anunciou com um gesto respeitoso.
Quando entrou, Maegelle encontrou Jacaerys em um estado de desânimo. O quarto estava silencioso, sem a presença de Lucerys ou Rhaenyra, e a atmosfera parecia carregada de um pesar que Maegelle imediatamente percebeu. Ela se aproximou, observando-o com uma expressão de preocupação genuína.
— Jacaerys, o que aconteceu? Você parece tão abatido. — Sua voz era suave e preocupada, tentando alcançar a raiz do problema.
Jacaerys ergueu os olhos para ela, uma expressão de tristeza e confusão em seu rosto. Ele respirou fundo antes de falar, sua voz carregada de um peso que parecia incomum para sua idade.
— Eu...eu perguntei à minha mãe se eu sou um bastardo, e ela não negou. Só disse que eu sou um Targaryen, e isso é o que importa.
Maegelle, ao ouvir isso, franziu a testa, o coração apertado pela dor que ela sabia que Jacaerys estava sentindo. Ela se aproximou dele e se sentou ao seu lado, tentando encontrar as palavras certas para confortá-lo.
— Jacaerys, você é um Targaryen — disse ela, sua voz firme e reconfortante. — E tem um dragão. Isso é o que importa.
Jacaerys suspirou profundamente, sua expressão carregada de uma tristeza que parecia ir além das palavras. Ele se virou para Maegelle, um olhar de frustração e dor nos olhos.
— Não é tão simples assim, Maegelle — começou ele, sua voz tremendo ligeiramente. — Todos acham que meu pai era Harwin Strong, e a situação só piorou quando Harwin espancou Ser Cole por uma insinuação. E hoje, eu soube que Harwin morreu em um incêndio em Harrenhal. Mas nem tive permissão para ficar de luto.
Maegelle ficou em silêncio por um momento, absorvendo a gravidade das palavras de Jacaerys. A dor e a injustiça que ele estava enfrentando eram palpáveis, e ela podia sentir a angustiante carga que ele carregava.
Com os olhos umedecidos, ela deu um passo à frente e abraçou Jacaerys com força, como se pudesse absorver um pouco da sua dor. Suas palavras saíram entrecortadas e emocionadas:
— Eu... eu não sei como é perder alguém, Jacaerys. Mas eu sinto muito por tudo isso. Se eu puder fazer algo para ajudar, eu farei. Qualquer coisa que você precisar, eu estarei aqui.
Jacaerys sentiu o calor e o conforto do abraço de Maegelle e, por um breve momento, a pressão sobre seu peito pareceu aliviar um pouco. A sinceridade e a preocupação nos olhos dela eram um lembrete de que, apesar das dificuldades e dos desafios, havia ainda espaço para apoio e amizade genuína.
Ele a abraçou de volta, agradecendo a presença reconfortante e o gesto puro de compaixão. Maegelle, apesar de sua juventude e inexperiência, conseguiu transmitir um sentimento profundo de solidariedade, algo que Jacaerys precisava mais do que nunca.
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