i. childhood sweethearts
NO ANO DE 124 D.C., quando o sol começava a se pôr sobre os torres de pedra, lançando suas sombras longas e douradas sobre os jardins luxuriantes da Fortaleza Vermelha, a calma da tarde era interrompida apenas pelo som suave das folhas sussurrantes e o canto distante de uma cotovia. O Trono de Ferro estava mais pesado do que nunca e com ele, o peso dos destinos e das esperanças das casas reais.
Maegelle Targaryen, a filha mais nova de Alicent, era uma criança de sete anos, cuja presença era como a de uma pequena estrela distante, brilhando com uma luz própria na vasta escuridão da corte.
Embora fosse cercada por esplendor e riqueza, sua vida era marcada pela solidão, um reflexo da decisão meticulosa de sua mãe. Alicent, sempre preocupada em moldar a criação de Maegelle de forma impecável, acreditava que a perfeição da jovem princesa garantiria um futuro digno e elevado.
No entanto, essa busca por perfeição não envolvia o calor da presença materna; ao invés disso, Maegelle passava longas horas sob a supervisão das septas, absorvendo lições de Alto Valiriano e estudos religiosos, enquanto sua imaginação, ansiosa por aventura e descoberta, se perdia na monotonia dos dias intermináveis.
Helaena, com seus catorze anos, era o único outro rosto feminino que compartilhava os corredores da Fortaleza Vermelha com Maegelle. Mas desde o seu casamento com Aegon, o Príncipe que vivia em um estado constante de desinteresse e leviandade, Helaena havia se perdido em sua própria esfera de distração. Sua atenção, outrora voltada para os delicados insetos que colecionava com um entusiasmo quase infantil, agora se esvaía no vazio do tédio conjugal e nas responsabilidades que mal compreendia.
Enquanto Maegelle vagueava pelos jardins imensos, com seus pés pequenos quase perdidos entre a grama alta e as flores exuberantes, o olhar dela seguia as pétalas que caíam suavemente, uma metáfora de seus próprios sonhos e desejos, que pareciam se desintegrar com o vento. O jardim, em sua quietude, parecia entender a solidão da princesa, oferecendo-lhe o único consolo em seu mundo de obrigações e expectativa.
Os irmãos mais velhos, Aegon, com seus dezesseis anos, e Aemond, de doze, estavam mergulhados em suas próprias batalhas e disputas, deixando pouco espaço para a presença de Maegelle. Aegon, sempre absorto em suas indulgências e prazeres efêmeros, deixava a corte em um estado de constante desordem, enquanto Aemond, com sua intensidade e foco em estratégias, parecia distante e inacessível, Daeron, deveria ter dez ou onze anos, mas Maegelle nem chegou o conhecer.
Apenas em seus sonhos, Maegelle encontrava um breve refúgio, um lugar onde podia escapar dos grilhões de suas responsabilidades e das expectativas rígidas que a cercavam. O jardim, com suas sombras suaves e sua beleza indomada, era seu único confidente. Aqui, ela podia imaginar um mundo onde as correntes da tradição não a prendiam, e onde ela poderia ser mais do que uma figura decorativa em um reino de regras e títulos.
Neste crepúsculo de um dia comum, enquanto o sol se despedia do horizonte e a noite se preparava para assumir seu manto de estrelas, Maegelle se perdia em seus pensamentos, seu coração pequeno e ansioso desejando algo mais do que a rotina que a vida lhe oferecia. E assim, no silêncio dos jardins da Fortaleza Vermelha, onde o peso da história se encontrava com o das esperanças não ditas, a jovem princesa sonhava com um futuro onde poderia encontrar sua própria voz, longe das sombras que moldavam seu presente.
Enquanto Maegelle se entregava à sua solidão, distraída pela beleza efêmera do jardim, seus passos vacilaram sobre a relva úmida. O desequilíbrio a surpreendeu e, em um instante, a princesa caiu, espalhando um caos de pétalas e folhas ao seu redor. Seu vestido, uma obra de seda prateada adornada com delicados bordados, ficou emaranhado nas plantas rasteiras, rasgando-se sob o impacto. A queda também deixou um arranhão na bochecha de Maegelle, que começou a sangrar suavemente.
O pranto, pequeno e silencioso, ameaçou surgir, mas Maegelle o conteve. Ela sabia que, se sua mãe visse o estado em que se encontrava, a repreensão seria inevitável, e a última coisa que desejava era enfrentar o olhar severo de Alicent. Então, com uma mistura de timidez e determinação, ela se levantou, sacudiu a terra de seu vestido rasgado e correu em direção à única fonte de consolo que sabia que poderia encontrar.
A jovem princesa, com a pele ainda marcada pela frustração e pela dor, fez o caminho apressado até os aposentos de Rhaenyra. Rhaenyra, sua meia-irmã, estava no meio de uma tarde tranquila com Jacaerys e Lucerys. O ambiente estava aquecido pela luz dourada que filtrava através das janelas, e o som das risadas e das conversas suaves preenchia o espaço.
Maegelle, com os olhos arregalados e a respiração ofegante, adentrou os aposentos, sua aparência desarrumada e o vestido rasgado revelando o desconforto que sentia. Rhaenyra, com um olhar de surpresa e preocupação, imediatamente se levantou ao ver a irmã menor em tal estado. Com um gesto de cuidado, Rhaenyra se aproximou e, com um toque suave, examinou o ferimento na bochecha de Maegelle.
— Você está bem, querida? — Rhaenyra perguntou, sua voz preenchida com uma ternura genuína. Enquanto tratava do arranhão, Rhaenyra pediu a uma das serviçais para buscar um pouco de água. Jacaerys e Lucerys observavam a cena com um misto de curiosidade e simpatia.
Jacaerys, com apenas dez anos, olhou para Maegelle com um sorriso suave, maravilhado com a figura delicada e a vulnerabilidade da menina. Para ele, a visão da princesa em sua desordem, ainda assim carregando uma aura de nobreza e dignidade, era uma lembrança do contraste entre a pureza da infância e a complexidade da corte.
Rhaenyra, com suas mãos gentis e movimentos cuidadosos, limpou a ferida e ajeitou o vestido rasgado de Maegelle com uma delicadeza que contradizia a severidade dos eventos. A atenção e o carinho que ofereceu foram um bálsamo para a alma inquieta da jovem princesa, e, enquanto a dor física diminuía, Maegelle encontrou um breve alívio no calor da compaixão de sua meia-irmã.
A presença de Jacaerys e Lucerys, em contraste com a frieza que Maegelle experimentava em outras partes da corte, trouxe um sentimento de pertencimento e segurança. O sorriso de Jacaerys, ainda admirado e gentil, foi um pequeno farol de esperança para Maegelle em meio às dificuldades que enfrentava.
Rhaenyra, ao terminar de cuidar de Maegelle, ofereceu um abraço reconfortante, enquanto Jacaerys, com um gesto de sinceridade, fez uma leve inclinação de cabeça em direção à menina, como se reconhecesse e valorizasse sua força e sua fragilidade simultaneamente.
Maegelle, com seus olhos ainda brilhando de um misto de alívio e gratidão, fez uma leve inclinação de cabeça para Rhaenyra, um gesto de educação aprendido nas lições que a corte impôs. Sua voz, suave e respeitosa, murmurou um agradecimento sincero.
— Obrigada, Princesa Rhaenyra. Sinto muito pelo transtorno.
Rhaenyra, ao ouvir as palavras da jovem, não pôde deixar de sentir um afeto genuíno. Em meio às intrigas e rivalidades da corte, Maegelle era um sopro de frescor, a única de seus meio-irmãos com quem ela nutria um carinho verdadeiro.
A fragilidade e a doçura da menina a faziam lembrar do que havia perdido e do que ainda desejava. A esperança de ter uma filha própria era um sonho que Rhaenyra mantinha com uma devoção silenciosa. Ela nutria um desejo fervoroso de que o bebê que carregava em seu ventre fosse uma menina, uma pequena companheira para preencher o vazio que a corte não podia suprir. Enquanto isso não se concretizava, Maegelle ocupava um lugar especial em seu coração.
Após o abraço reconfortante, Jacaerys, com o brilho de uma ideia luminosa em seus olhos, se aproximou com um sorriso animado.
— Mãe, posso brincar com a Maegelle? — ele perguntou, sua voz carregada de entusiasmo juvenil.
Rhaenyra olhou para Jacaerys, ponderando por um momento, antes de responder com um tom leve e compreensivo.
— Sim, Jacaerys, você pode brincar com Maegelle. Mas apenas aqui no quarto, por favor. Já é tarde para vocês correrem pelo jardim agora e não quero que ela se machuque mais. E lembre-se, a diversão deve parar antes da hora do jantar.
Maegelle, embora ainda um pouco abatida, sorriu ao ouvir o convite de Jacaerys. O sentimento de ser incluída em uma brincadeira, mesmo que limitada, trouxe um pouco de alegria ao seu coração.
Rhaenyra, vendo a cena com um sorriso terno, decidiu se afastar para dar espaço às crianças. Ela deixava-os com um olhar de carinho, sabendo que aquele momento de leveza era precioso.
Jacaerys era o único que, verdadeiramente, se dedicava a brincar com Maegelle. Muitas vezes, suas brincadeiras a pareciam monótonas e repetitivas — bonecas de pano e arranjos de flores não eram exatamente as aventuras mais empolgantes. Mas Jacaerys participava com um entusiasmo sincero, apenas para ver o sorriso de Maegelle, e isso significava o mundo para ela.
Com um brilho de inspiração nos olhos, Jacaerys perguntou:
— E o que vamos brincar hoje, Maegelle?
Maegelle pensou por um momento, seu olhar se iluminando com uma ideia.
— Vamos brincar de rei e rainha! — disse ela, sua voz carregada de entusiasmo infantil. — Você será o rei, e eu serei a rainha. E Lucerys será nosso filho.
Lucerys, que havia se aproximado, olhou para a cena com um semblante impassível e disse:
— Esse jogo parece muito chato.
Jacaerys, com um sorriso encorajador e um brilho de determinação, disse:
— Não vai ser chato, Lucerys! Vamos fazer dessa brincadeira a melhor de todas. Eu prometo que vai ser divertido, e se você ajudar, vai ser ainda melhor.
Lucerys, vendo a convicção no olhar de Jacaerys e sentindo a sinceridade do convite, deu um suspiro resignado e concordou.
— Tá bom, eu vou ajudar.
Jacaerys, entusiasmado com a aceitação, começou a criar cenários imaginários com gestos dramáticos e palavras animadas. Ele descreveu um reino glorioso, com castelos magníficos e festas esplendorosas, enquanto Maegelle, com um sorriso genuíno, acompanhava-o com entusiasmo. Lucerys, um pouco cético, acabou se envolvendo na narrativa, começando a entrar no espírito da brincadeira.
Enquanto o jogo de "rei e rainha" se desenrolava com uma dose de imaginação juvenil, Jacaerys, sentindo o ambiente começar a se encher de um novo tipo de encantamento, puxou Maegelle gentilmente para fora da pequena assembleia de brinquedos. Com um sorriso alegre, ele ofereceu a mão para ela.
— Vamos dançar, minha rainha — disse Jacaerys, com um tom de brincadeira e uma reverência teatral.
Maegelle, com os olhos brilhando de surpresa e alegria, aceitou a oferta. O riso contagiante dela se misturava com a leveza do momento, enquanto Jacaerys a guiava com a graça de um dançarino que conhecia bem o ritmo de suas próprias emoções. Ele a conduziu através de passos simples, mas elegantes, imitando uma dança nobre em uma corte imaginária.
Lucerys, por outro lado, permanecia sentado à margem, observando a cena com um semblante entediado. Seus olhos seguiram os movimentos dos outros, a mente vagando para longe do pequeno espetáculo que se desenrolava diante dele.
Maegelle, girando e rindo enquanto Jacaerys a conduzia, parecia completamente absorvida pela diversão e pelo momento. Cada risada dela ecoava com a sinceridade de uma infância despreocupada, e Jacaerys, enquanto a guiava com uma firmeza carinhosa, sentia um prazer simples e profundo em fazer a pequena princesa sorrir.
A dança deles, embora improvisada e sem música, era um espetáculo de alegria e conexão genuína. Jacaerys, com o seu porte alto e confiante, e Maegelle, com sua leveza e encantamento, criaram um momento de beleza efêmera que iluminava o ambiente ao redor.
O oitavo dia do novo ano de Maelle havia chegado com uma tempestade que se abatia sobre o reino, um dilúvio de nuvens escuras e chuvas incessantes. A Fortaleza Vermelha, normalmente vibrante com as festividades de aniversário de Maegelle, estava envolta em um manto de cinza e silêncio. O palácio, que deveria ressoar com risos e músicas, agora se encontrava isolado sob o peso do tempo implacável já que as comemorações haviam sido adiadas.
Maegelle, com o vestido de seda azul cintilante, que foi projetado para a celebração de seu aniversário, agora parecia um pouco deslocado em meio ao luto do clima. Ela caminhava pelos corredores silenciosos da fortaleza, o vestido balançando suavemente a cada passo. Seus cabelos, que normalmente brilhavam em cachos soltos, estavam presos em uma trança simples para evitar o molhado.
Enquanto percorria o corredor, procurando um refúgio da tempestade, Maegelle avistou Aemond. O jovem Targaryen estava encostado em uma coluna, sua presença imponente evidenciada pela postura rígida e o olhar penetrante. Quando seus olhos encontraram os dela, Aemond ergueu uma sobrancelha, um traço de curiosidade e ceticismo marcando seu semblante.
— Onde você pensa que está indo, Maegelle? — ele perguntou, sua voz carregada de uma autoridade inata.
Maegelle hesitou por um instante, o olhar furtivo passando rapidamente por Aemond. Ela respondeu com um gesto de cabeça, indicando a direção da biblioteca.
— Para a biblioteca — disse ela, sua voz suave e hesitante.
Aemond, desconfiado, inclinou a cabeça ligeiramente e continuou:
— Sozinha?
Maegelle fez um gesto afirmativo com a cabeça. A resposta parecia genuína, mas o olhar de Aemond não mudava.
— Não minta para mim — ele ordenou, sua voz agora carregada com um tom mais severo.
Com um suspiro contido, Maegelle desviou o olhar e confessou:
— Eu vou encontrar Jacaerys.
As palavras escaparam de seus lábios com um toque de preocupação. A expressão de Aemond endureceu, e ele avançou um passo em direção a ela.
— Você está se encontrando com um bastardo — ele repreendeu, a frieza em sua voz como o aço de um espelho implacável. — É inconcebível que você passe seu tempo com alguém que não é de sua própria estirpe, especialmente em um dia que deveria ser especial para você.
Maegelle, sentindo o peso das palavras de Aemond, tentou manter a compostura, mas um olhar de tristeza e determinação se manteve em seus olhos.
— Jacaerys é meu amigo, Aemond. Não importa o que você ou os outros digam.
Aemond a observou por um momento, o olhar um tanto suavizado pela sinceridade de Maegelle, mas ainda carregado de uma reprovação constante.
— Tenha cuidado, Maegelle. Às vezes, o que parece inofensivo pode se tornar um problema maior do que se imagina.
Com essas palavras, Aemond fez um gesto de despedida, afastando-se com sua presença intransigente. Maegelle, com o coração pesado, seguiu em direção à biblioteca, sua mente turvada pelas palavras e pelo peso das expectativas impostas sobre ela.
Ao chegar à biblioteca, encontrou Jacaerys esperando por ela, seu rosto iluminado por um sorriso acolhedor. O refúgio silencioso do lugar parecia oferecer um escape temporário da tempestade que rugia lá fora e das tensões que a acompanhavam. Eles se cumprimentaram com um gesto de amizade, encontrando conforto um no outro, mesmo enquanto o mundo ao seu redor permanecia em caos e conflito.
No aconchego da biblioteca, longe do ruído da tempestade que se abatia sobre a Fortaleza Vermelha, Maegelle e Jacaerys encontraram um refúgio tranquilo. O crepitar suave da lareira fornecia uma luz quente que dançava sobre as paredes repletas de tomos antigos e mapas empoeirados. A atmosfera da sala era de uma calma reconfortante, contrastando fortemente com o caos que fora imposto ao mundo exterior.
Maegelle deitou-se de barriga no chão, suas pernas balançando suavemente enquanto ela repousava a cabeça nas mãos, olhando para o fogo com um olhar sonhador. O calor da lareira se misturava com o frio da tempestade lá fora, criando uma sensação de intimidade e segurança ao redor deles. Jacaerys, sentado em uma cadeira confortável à frente da lareira, segurava um livro antigo sobre dragões, suas páginas amarelecidas exalando o aroma de velhice e conhecimento.
O livro abria-se para imagens e descrições magníficas das bestas aladas que dominavam o céu e as lendas de seus feitos gloriosos. Maegelle, com seus olhos brilhando de fascínio, acompanhava as palavras e ilustrações enquanto Jacaerys lia em voz baixa, permitindo que o som de sua voz preenchesse o espaço com um tom sereno e envolvente.
O tempo passava tranquilamente, e o brilho da fogueira refletia nas páginas do livro e nos olhos curiosos de Maegelle. O estalar ocasional das chamas parecia criar uma sinfonia suave, uma melodia que envolvia os dois em um abraço caloroso.
De repente, Jacaerys fechou o livro e se virou para Maegelle com um sorriso, os olhos brilhando com uma mistura de expectativa e orgulho.
— Maegelle, eu tenho um presente para você — ele disse, sua voz carregada de uma ternura gentil.
Maegelle ergueu a cabeça, seus olhos arregalados de surpresa e curiosidade. Jacaerys retirou um pequeno pacote de dentro de seu bolso e o abriu com cuidado. Dentro, estava um delicado colar de concha, com uma pequena concha pendurada em uma corrente de prata.
— Eu fiz isso para você — continuou Jacaerys, entregando o colar a ela. — É uma concha de Driftmark que eu encontrei quando fui pescar com meu pai. Quis fazer algo especial para você.
Maegelle pegou o colar com as mãos tremendo levemente de emoção. A concha era pequena, mas perfeitamente formada, com um brilho suave que parecia capturar a luz da fogueira e refletir a beleza do mar. A peça era simples, mas carregava o peso de um gesto sincero e significativo.
— É lindo, Jacaerys — Maegelle disse, sua voz embargada de gratidão e afeto. — Muito obrigada.
Jacaerys sorriu, visivelmente contente ao ver a reação dela. Ele ajudou Maegelle a colocar o colar, a corrente deslizando suavemente ao redor do pescoço dela. O toque de suas mãos contra a pele dela foi suave e cuidadoso, como se cada movimento fosse uma promessa de carinho e atenção.
Quando o colar estava colocado, Maegelle olhou para o reflexo do fogo na concha, um sorriso radiante iluminando seu rosto. A concha parecia brilhar com uma luz própria, como se fosse um símbolo de um presente dado com o coração.
— Agora você tem uma lembrança de Driftmark sempre com você — Jacaerys disse, seus olhos fixos nos dela com uma profundidade de sentimentos que falava mais do que palavras poderiam expressar.
Maegelle, tocada pela consideração e pelo gesto, apoiou a cabeça no ombro de Jacaerys, encontrando conforto na presença dele. Eles ficaram ali, juntos, absorvendo o calor da lareira e a quietude da biblioteca, enquanto o mundo exterior continuava a se dissolver na tempestade.
Enquanto o calor da lareira envolvia os dois em uma atmosfera de tranquilidade, Maegelle repousava confortavelmente ao lado de Jacaerys, o colar de concha brilhando suavemente no pescoço dela. O silêncio entre eles era acolhedor, apenas interrompido pelo crepitar ocasional das chamas.
Maegelle, após um momento de reflexão, inclinou-se ligeiramente para olhar diretamente para Jacaerys, seu rosto iluminado pela luz suave da fogueira. Seus olhos, normalmente curiosos e alegres, estavam agora tingidos com um toque de preocupação e esperança.
— Jacaerys — começou ela, a voz suave e hesitante —, as septas têm falado muito sobre casamentos ultimamente. Elas dizem que quando eu crescer, vou precisar me casar com alguém, e que é importante para manter nossa casa e nossos laços.
Jacaerys ouviu com atenção, seu olhar fixo em Maegelle enquanto ela falava. Havia um leve franzir na testa dele, um sinal de que ele estava ponderando sobre o que ela havia dito.
— Elas falam sobre isso porque é o que esperam das pessoas de nossa posição — respondeu Jacaerys, tentando ser gentil e compreensivo. — Mas o que você quer saber, Maegelle?
Ela deu uma pausa, como se ponderasse sobre as palavras certas para expressar o que estava em seu coração.
— Bem — disse ela, um tom de timidez em sua voz — eu estava pensando... quando nós crescermos, será que nós poderemos nos casar um com o outro?
A pergunta, simples e direta, carregava um peso emocional que se manifestava nas palavras de Maegelle. Jacaerys ficou em silêncio por um momento, surpreso e tocado pela pergunta inocente e sincera. Seus olhos se encontraram com os dela, e ele podia ver a expectativa refletidas no olhar dela.
— Eu... eu nunca tinha pensado nisso dessa maneira — disse Jacaerys, seus pensamentos voltando para as conversas sérias e complexas dos adultos que cercavam suas vidas. — Mas se é o que você deseja, eu... eu faço.
Maegelle sorriu amplamente, um brilho de satisfação nos olhos dela.
— Então nós vamos nos casar quando crescer — ela afirmou com determinação, como se já visse o futuro deles se desenrolando diante de seus olhos infantis.
Jacaerys soltou uma risada suave, um som que carregava uma mistura de diversão e uma pitada de ceticismo, pois ele sabia que a realidade dos casamentos era bem mais complicada do que os sonhos de uma criança poderiam imaginar. No entanto, ele não conseguiu se conter, achando a certeza de Maegelle encantadora.
— Ah, vai ser divertido, eu tenho certeza — ele disse, a risada ainda presente em sua voz.
Antes que ele pudesse explicar o quanto os caminhos da vida podiam ser tortuosos e complicados, Maegelle o interrompeu, sua expressão cheia de alegria e uma pitada de travessura.
— Agora, volte a ler o livro, Jacaerys. — disse ela, balançando o colar de concha que ele lhe dera, o brilho suave da concha refletindo na luz da lareira.
Jacaerys, ainda com um sorriso no rosto, obedeceu e reabriu o livro sobre dragões, suas palavras e imagens novamente preenchendo a sala com um misto de maravilha e encantamento. Enquanto ele lia, Maegelle se ocupava a girar o colar entre os dedos, os olhos brilhando com um misto de sonhos infantis e um afeto sincero.
A lareira continuava a crepitar, lançando sombras dançantes nas paredes da biblioteca, e o calor da sala envolvia os dois, proporcionando um abrigo contra a tempestade lá fora. O futuro ainda era um mistério distante, mas naquele momento, o simples desejo de estar juntos e a promessa de um casamento infantil eram o suficiente para tornar o presente brilhante e cheio de esperança.
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