CAP 1

𝐂𝐀𝐏𝐈́𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐔𝐌
❛Filho do Dragonborn❜

𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐒𝐀𝐁𝐄𝐌 𝐐𝐔𝐄 𝐀 𝐈𝐍𝐅𝐀̂𝐍𝐂𝐈𝐀 𝐃𝐄 𝐑𝐇𝐀𝐄𝐍𝐘𝐑𝐀 Targaryen foi marcada por momentos passados ao lado de Alicent Hightower e na Torre Alta. Enquanto sua irmã desfrutava das tardes com a filha nas mãos do rei, Vhanelya passava cada segundo do dia que podia ao lado de sua mãe, Aemma. Ela sabia que deveria usar seu tempo aprendendo a arte da espada, como ser uma dama exemplar ou, ao menos, sentar-se para ouvir as fofocas de suas damas de companhia. Mas, longe de não querer, ela simplesmente não conseguia. Não se sentia à vontade com ninguém além de sua mãe e nunca considerava ninguém como amigo.

Ela sentia que, se passasse mais um segundo presa daquele jeito, enlouqueceria.

— Diga-me, por favor, que você não escapou da sua septã novamente — a voz de sua mãe parecia cansada e divertida em partes iguais. Vhanelya fez uma careta e entrou no quarto.

Aemma estava repousando semi-deitada em um móvel confortável, uma mão apoiada na barriga protuberante e a outra abanando-se com um leque para aliviar o calor. A caçula das irmãs Targaryen não conseguiu evitar um olhar de pena enquanto procurava um assento e se posicionava à sua frente.

O que sussurravam sobre ela pelos corredores não era novidade: não havia nenhuma mulher Targaryen que tivesse tentado gerar mais filhos do que a boa Rainha Aemma. Gravidez após gravidez, perda após perda, carregando o peso de ser considerada inútil pelo conselho por não conseguir dar-lhes um herdeiro homem.

Um herdeiro do trono com o que, aparentemente, fazia alguém digno dele: um pênis.

Vhanelya queria algo muito mais simples do que um herdeiro ou um irmão: ela queria calma para sua mãe. Queria que a bela e gentil Aemma estivesse livre para aproveitar as tardes sob o sol de Porto Real e comer doces ao seu lado, sem a preocupação de mais uma gravidez fadada ao desastre.

Sempre que pensava nisso, olhava-se no espelho e se repreendia por ser tão ingênua. Sua própria mãe havia lhe ensinado que a missão de uma mulher era servir e que o verdadeiro campo de batalha era o parto.

A jovem Targaryen sentia náuseas ao imaginar-se esposa e mãe, mas essas sensações se intensificavam diante da verdade inevitável: não importava se ela queria ou não, um dia teria que ser.

Isso era inevitável para uma princesa e segunda filha. Vhanelya só podia esperar que, quando chegasse a hora, não fosse condenada a viver ao lado de alguém completamente insuportável. Não almejava o amor — nenhuma mulher do reino acreditava nele —, mas desejava, ao menos, sentir-se acompanhada de forma agradável.

— Não posso garantir isso — respondeu com a parcimônia que lhe era característica.

Ao contrário de Rhaenyra, Vhanelya era melhor em controlar seu temperamento de dragão. Era silenciosa, reservada e calma, mas não menos corajosa ou ousada. Seu dragão de berço, Aedax, alimentava-se do que ela caçava, enquanto Syrax, o de sua irmã, era mais mimado em todos os sentidos.

— Só vim ver como você está...

— Estou bem, embora me sentisse muito mais confortável se você cumprisse com seus deveres — murmurou Aemma. — Além disso, tenho quem cuide de mim...

Vhanelya olhou ao redor. Meistres e criadas cuidavam de tudo para garantir o bem-estar do bebê, não da rainha.

— Para você? Quem se importa?

Algo na forma como disse isso fez a expressão de sua mãe vacilar por um instante. Ambas se conheciam bem demais para fingir.

Não era segredo que, enquanto Rhaenyra era a favorita do rei, Vhanelya era a luz dos olhos da rainha Aemma. Para o bem ou para o mal, Rhaenyra era a filha do povo, destinada a herdar a coroa e as responsabilidades do pai. Já Vhanelya era, para Aemma, quase como um presente dos deuses — apenas dela, sua filhinha.

— Ele? — indagou a rainha, quebrando o silêncio.

— Rhaenyra confia que será outra menina. Ela quer chamá-la de Visenya. A propósito, onde está?

— Pelo que ouvi das criadas, com Alicent Hightower, como sempre.

Havia algo estranho no tom de Vhanelya, um toque de ciúmes que não queria admitir.

Ela não entendia exatamente por que aquela amizade a incomodava tanto, exceto por algo que nunca ousaria dizer: ela queria o mesmo. Gostaria de ter uma amiga com quem pudesse compartilhar as tardes, sentar sob uma árvore e ler.

Claro, sua irmã, sua mãe e até a própria Alicent insistiam que ela era bem-vinda nos passeios. Mas Vhanelya se sentia deslocada, uma terceira peça que nunca se encaixava.

— Confesso que gostaria que fosse um menino — disse, voltando ao assunto inicial. — Teria poupado você de tanto sofrimento.

— Não sou tão velha assim — reclamou Aemma, acariciando o rosto da filha. — E não quero que pense assim sobre si mesma. Não há nada neste mundo que eu ame mais do que minhas filhas.

Ela fez uma pausa antes de continuar:

— Além disso, ser mãe não é problema algum. Os homens têm espadas e lutam guerras, mas aquele... — apontou para a cama atrás de si — é o nosso campo de batalha.

Vhanelya revirou os olhos e repetiu, zombando:

— Nosso campo de batalha...

Aemma sorriu.

— Quando você for mulher, tiver marido e estiver prestes a dar à luz, me agradecerá pela insistência.

Vhanelya não respondeu. Esperava que esse momento estivesse bem longe, mas não queria aumentar o fardo de sua mãe com preocupações inúteis.

Ela fechou os olhos e repousou a cabeça no peito da rainha, que acariciava os fios longos e brancos da filha.

Vhanelya sorriu levemente e, em silêncio, pensou no quanto amava aqueles momentos preciosos ao lado da mãe só dela e de mais ninguém.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top