⇝ CAPÍTULO 04: Planejamento
Oliver aproveitou ainda mais que trabalhou no dia anterior, e assim pôde dormir como em muito não se fazia. Passou boa parte do domingo relaxado na cama.
Seu pai, entretanto, havia levantado cedo, e por volta das nove horas já estava batendo perna até a morada do Rei. Assunto de grande importância, pensava ele.
Quando enfim subiu os milhares lances de escada, deparou-se com Meltar de short, sem blusa e com uma taça em mãos, enquanto observava do alto de uma de suas inúmeras janelas um esquadrão de soldados treinando em campo aberto - o mesmo local onde Azelio havia descido com os garotos tempos atrás.
— Majestade. – iniciou o visitante.
Meltar virou-se, com o rosto rosado e com o cabelo despenteado.
— Homem! - gritou com os braços abertos. Parecia feliz. — O que deseja? Vai um conhaque!? - perguntou com os dentes expostos num largo sorriso.
— Como pode beber tão cedo? Sequer são onze horas.
— Estou terminando. - respondeu, e Eskkad cortou-o.
— Felizmente. Em pouco tempo já está alterado assim.
— Estou bebendo desde as sete horas.
Eskkad o fitou.
— Acordou sete horas para encher a cara? Você não tem mais o que fazer?
— Tenho! - respondeu de imediato. — Acordei para ver esta leva de soldados que voltaram de uma pausa preparatória e iniciaram os trabalhos de reconhecimento as sete e meia. Mas já estava de saco cheio. Ela acabou me convidando a beber.
— Ela?
— Sim! A garrafa. Ela me seduziu, acredite! Agora chegue de papo furado, o que deseja?
Eskkad deixou seus braços na mureta da sacada, onde o próprio Rei estava, de bruços e acompanhando cerca de cinquenta a oitenta soldados da Água. Armaduras finas e prateadas, acima de vestes leves e negras. Também havia detalhes na cor azul por toda a parte, mas de longe não eram tão visíveis.
Faziam movimentos ágeis com o punho, puxando e controlando pequenas quantidades de água. Indo e vindo, como a água que se choca a areia das praias.
Os homens se dividiam igualmente em fileiras, e havia seis deles que ficavam a frente, como lideres. Inclusive Zargo, um dos ministros, se fazia presente. Observava todos. Além dele, se destava outro homem. Um curioso sujeito de baixa estatura, cerca de pouco mais de 1,60. Era branco, com cabelo liso e negro, que pendia para o lado da direita, quase tampando um de seus olhos. Seu rosto não era tão decifrável da vista que Eskkad e Meltar estavam.
Por menor que fosse, era notável a liderança do rapaz perante todos os outros soldados presentes. Ele ditava o ritmo do treinamento e ainda tinha a benção do ministro.
— Parece que os treinamentos voltaram mais cedo esse ano.
— Sim. Bem, você sabe, tem algo grande vindo por aí. - respondeu o Rei. — E Zargo exigiu o retorno de alguns soldados que estavam em recesso.
— Já estão definidas todas as tropas?
— Não. Esse é o primeiro dia de reconhecimento. Desse grupo em específico, claro. Aliás, o capitão deve entregar o relatório até o fim dessa semana. E assim vai, em um mês vamos ter pelo menos quadro grupos definidos. — disse lentamente. Provavelmente por causa do álcool.
— Acabo lembrando dos nossos tempos.
— É impossível não lembrarmos. Éramos tão jovens! E eu nem conhecia o poder de um bom copo de bebida.
Eskkad sorriu, mas ainda mantinha a visão no campo abaixo.
— Quem está no comando?
— Ora, não reconhece pela altura? É o Capitão Milo!
— Faz tempo que não o vejo. Ele continua realmente baixo. — disse forçando a vista.
— Não vai querer falar isso na frente dele! - brincou o Rei, e ambos riram brevemente, até que o silêncio tomou conta. Ambos se olharam, e Meltar percebeu que o amigo não havia realmente falado o que o teria levado até ali naquele horário.
— Não me esqueci que você ainda não me deu detalhes sobre o motivo de sua visita pitoresca nessa manhã.
Eskkad esperou por alguns segundos, mas colocou para fora.
— Planejo viajar ao Fogo.
— Eu bebo e você fica louco. É comovente como as coisas são contraditórias por aqui.
— Não estou brincando. Preciso dar um basta nisso.
— Tudo bem! Você vai pegar uma montaria, disparar pelas florestas, chegar ao Fogo, dizer "olá, tudo bem?" aos guardas. Eles responderão: "Oh, claro, bravo homem da Água. Deseja entrar em nosso humilde Reino?" e você sorrirá com um singelo "Sim, amigos!" e estará lá dentro em segundos. Tome tenência, homem!
— Falando assim realmente soa estranho. – respondeu com um sorriso amarelo, e ambos retornaram para o cômodo, que estava praticamente vazio. Apenas uma lareira – apagada, e caixas e mais caixas jogadas sob um chão empoeirado.
— Olha, deixe-me lhe explicar uma coisa, se é que você não tenha percebido. O Fogo está em reconstrução. Você soube o que aqueles loucos rebeldes fizeram! Derrubaram a Junta Militar que governava, viraram o Reino de cabeça para baixo! Os revoltosos deram um golpe! Você não vai entrar lá. Não adianta.
— Você é o Rei. Pode me ajudar.
— O que você gostaria que eu fizesse? Quer que eu mande uma coruja com os dizeres: "Tenho um companheiro que quer passar uns dias por aí. Óh novo Rei, aceite essa breve visita." Você não é um turista!
— Eu já falei que soa estranho quando você fala assim.
— Desista, Eskkad.
— Farei o que for preciso. É uma questão pessoal. Não quero e não vou perder minha família.
Por mais que fossem grandes amigos, o clima era de séria discussão, e acabou por ganhar mais um integrante quando Virgo passou pela porta como um vulto.
— E você, o que quer aqui?! – bradou o Rei, enquanto destampava a garrafa de conhaque.
— Trago soluções e um desfecho para essa história. Vossa Majestade... – iniciou ao prestar reverência. — O Torneio de Yngvarr.
— Oh, céus... Estão aporrinhando o meu dia com esses devaneios.
— Você não o mencionou. A celebração é apenas no início do próximo ano. – comentou Eskkad, olhando diretamente para o Rei, que derramou a bebida sem querer com a impactante chegada de Virgo.
— Adiantamos. – respondeu virando lentamente o rosto. — Nós, a Terra e o Ar. Sim, as lideranças do Ar entraram nessa. Contatamos o Fogo no fim da semana passada. Nossa idéia é estreitar relações com o novo Rei. A celebração deve ser realizada no Reino do Fogo em alguns meses. Espero que sejam bons anfitriões.
— Exatamente. – Virgo parou frente a sacada, de costas para a mesma. — Eskkad pode servir como emissário da Água.
— Não entendo a fixação... Talvez Luna nem esteja por lá... – em voz baixa, o Rei virava o vinho em sua boca de imediato.
— Vou arriscar todas as minhas fichas.
— Eskkad como emissário pode viajar antes. Se alojar no Reino, e dialogar diretamente conosco por meio de corujas ou o que for possível. Seria apenas um funcionário da Água. Terra e Ar também podem enviar um homem cada para a função.
— É suicídio... Ele seria pego em flagrante bisbilhotando cada espaço do Fogo.
— Majestade! - bradou o amigo desesperado. — Dê-me a oportunidade. - Eskkad se ajoelhou perante o Rei, surpreendendo-o.
Meltar foi levemente tocado, comovido. Ainda que nervoso, abaixou seu conhaque, olhou com pesar para o amigo, depois fitou Virgo.
— Entrarei em contato com Terra e Ar. Levante-se e suma da minha frente. Você também. - concluiu para ambos. - respondeu de forma irritada, despachando os amigos.
A dupla caminhou a passos largos e pesados para fora. Havia um plano, uma idéia a ser seguida e agora caberia a Eskkad obter êxito.
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