⇝ CAPÍTULO 03: Quintais e canteiros

   — Quando um fracassa, todos fracassam. Quando um vence, todos vencem. – assim se iniciou aquela manhã de sábado na voz de Virgo, ou melhor, a madrugada, pois o relógio ainda estava a bater no número seis.

   O céu estava pouco claro, fazia frio, e Oliver, Hazael e Mya estavam com o semblante de sono e o rosto amassado de dormir – e queriam mais, é claro, embora o do meio sempre tenha tido essa expressão facial.

   Oliver ainda vestia calças marrons em uma tonalidade escura e botas - mais altas que a de costume, à pedido de Virgo. A camisa, longa, branca e grossa. Hazael nunca tirava o cachecol, que praticamente tampava sua boca e pescoço por completo. Trajava uma jaqueta, completamente negra e fechada, assim como a calça.

   Mya, por sua vez, era a única que não utilizava nenhuma proteção no braço, talvez não sentisse o frio. Uma camiseta azul marinho e uma justa saia negra.

   — As famílias já estão cientes do trabalho de vocês. Portanto, não enrolem.

   — Famílias? São mais de uma? – indagou Mya, em tom negativo. — Oliver, você me paga.

   A punição era clara e simples. Consistia em limpar a residência de diversos moradores. Eram pelo menos dez delas, isso incluso quintais e áreas externas. Por sorte, não pertenciam a famílias ricas, então nenhuma delas eram casas de grande porte. Mas, sem dúvidas, era o mais chato dos trabalhos.

   Para quem já vivenciou o perigo das selvas como Mya e Oliver, engana-se quem pensa que tirariam de letra. Garanto que ambos prefeririam encarar Goblins novamente.

   A sequencia de moradias chegava a fazer a curva, da direita à esquerda. O primeiro a se movimentar foi Hazael, ainda em silêncio, como de praxe. Por dentro, acredito que também estava tomado por raiva.

   Os próprios residentes fizeram pelo menos o favor de dar uma 'mãozinha', com objetos como regador, sacolas, pás e muitas outras ferramentas.

   Por volta das sete, ainda estavam no término da primeira casa. Virgo já havia ido embora, e coube ao trio trabalhar duro naquele dia.

   Este com certeza não era o jeito ideal de se iniciar um sábado, e obviamente nenhum dos ali presentes estavam a vontade com aquela situação, mas restou lidar com a punição dada a um membro do time e realizar a tarefa sem mais delongas.

   No início, revezavam de calçada para calçada, indo e vindo, mas deduziram que seria mais prático caso fizessem todos juntos de uma em uma. E assim foi, até o início daquela tarde, quando faltavam duas casas.

   Algumas donas de casa ajudaram com refeições. Havia suco de uva e alguns pães, e a equipe renovou as energias para se manter de pé. As roupas, já estavam salpicadas de terra, planta e Oliver trabalhava com folhas secas na cabeça.

   Entre quintais e mais quintais, o suor era evidente, e o cansaço também. Não havia como escapar, ainda mais pelo horário e a infeliz chegada do sol. Canteriso eram limpados com louvor, embora nenhum deles estampasse um sorriso no rosto. Sacolas eram arremessadas de um lado para o outro. Entulhos eram organizados e deixados em fileiras.

   Quando as três horas se aproximou, o trio finalmente concluiu o exercício. Mya se recostou em uma árvore vizinha. Oliver deitou em uma calçada oróxima e Hazael permaneceu de pé, com uma das pernas erguida e descansando-a próxima a uma residência.

   — Vejo que fizeram um bom trabalho. - e Virgo aparece suavemente atrás dos garotos. — Cansados?

   — Mal sinto minhas pernas. - respondeu Oliver.

   O professor vinha acompanhado de três homens robustos e que vestiam roupas pesadas e azuis. Nenhum sorriso estava presente naqueles desconhecidos.

   — Que serviça de lição.

   Hazael foi o primeiro a receber ordens para se retirar.

   — Professor, porque recebemos... - tossiu levemente. — Porque Oliver foi punido? - questionou Mya.

   A verdade é que Virgo não deu detalhes e sequer explicou o motivo daquela punição, e ele assim se manteve.

   — Senhorita, o seu amigo pode lhe dizer.

   Mas Oliver virou o rosto, desconfortável.

   — Pode ir. - comentou ao olhar para a garota, que se retirou em instantes.

   Somente Oliver, Virgo e os três que o acompanhava permaneceram no local.

   — Quer que eu carregue todo o lixo sozinho? É o final do serviço?

   — Não é necessário. Os soldados aqui farão o restante.

   Os homens agora realizaram a tarefa. Oliver estava claramente exausto. Mãos dormentes, rosto avermelhado, cabelo colado à testa devido a enorme quantidade de suor e as pernas cambaleantes. Sujeiras variadas compunham e colavam suas vestes.

   Ao ser liberado, Oliver desapareceu, sem dar explicações, e claro, não retornou para sua casa naquele instante. Virgo não deu muita atenção, o melhor seria deixá-lo repensar suas atitudes. Entretanto, o professor se dirigiu a casa do jovem, onde encontrou Eskkad, que fumava Erva-Preta em seu cachimbo escuro sentava-se frente a lareira. A porta estava entreaberta.

   O toque leve veio a ela, e Eskkad de relance pôde ver o amigo, que logo entrou.

   — Faz anos que não o vejo usando-as.

   — A ocasião pede. – respondeu o dono da casa. — Como foi o dia dos garotos, afinal?

   — Está ciente do time que foi formado?

   — Sim. Não por ele, claro, mas estive com Godric horas atrás, ele comentou comigo a respeito. Pode não parecer, mas observo cada passo de Oliver.

   — Entendo. Bom, estavam exaustos. – disse de pé, encostando a porta e se mantendo ereto. — Acho que valeu a pena. E você, está bem?

   Eskkad também soube da punição, mas por membros do exército, que o conheciam e comentaram a respeito.

   — Por que não se senta?

   — Não faz o meu tipo. E não vim para ficar muito tempo. Aliás, não sei para onde Oliver foi.

   — Sem problemas. Ele vai retornar em menos de uma hora.

   — Alguma novidade?

   Eskkad olhou para Virgo sem virar por completo. Com o pescoço meio girado, e tragando da boa Erva, o encarou por alguns segundos, até falar.

   — Pretendo entrar no Fogo.

   Virgo respirou fundo, olhou de relance para a janela localizada atrás de si mesmo. Sua veste negra relando o chão. Ele franziu a testa.

   — E se ela não estiver por lá?

   — Ela vai estar. Onde mais estaria? Nas florestas? Vivendo de galho em galho? Com criaturas obscuras vagando por aí? É aquilo... O Fogo é a verdadeira casa dela.

   — Eu deveria fazer-lhe tantas perguntas, mas pouparei seu tempo. Até porque não quero que Oliver me encontre aqui.

   Virgo deu as costas, abriu a porta e acabou por parar na mesma posição. Seu rosto demonstrava preocupação, ainda que Eskkad não pudesse ver.

   — Mais uma coisa.

   — Fale.

   — Quando vai partir?

   — Pode deixar. Eu pretendo avisá-lo. – Eskkad respondeu, seriamente. Virgo deu um passo para frente, para fora da casa, e Eskkad parecia querê-lo chamá-lo para algo, mas preferiu ficar em silêncio. O amigo bateu a porta e se retirou.


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