⇝ CAPÍTULO 18: Maquinações e perversões

   Oliver e Mya fugiram com um fardo e peso enorme em suas costas: a morte de um amigo. Bem na frente de seus olhos, para protegê-los e lutando pelo que acreditava. Isso jamais seria esquecido.

   A dupla bateu em retirada, já sem saber para onde ir ou o que fazer. Já início de uma quinta-feira e faltavam poucos dias para o Equinócio. Estavam no pior momento de toda sua aventura fora do Reino.

   Agora, sem dúvida alguma, ambos desejavam nunca terem participado de tal missão.

   — Para onde vamos? – perguntava Mya, enquanto era puxada por Oliver.

   A escuridão era absoluta, as árvores escurecidas eram pouco iluminadas pela luz da lua, e ambos apenas batiam suas pernas em velocidade e sem rumo.

   — Não sei. Não me pergunte. – disse também nervoso. — Precisamos correr para o mais longe possível.

   Todos os lugares pareciam iguais para eles. Não havia distinção adequada, era apenas árvores enormes e um matagal abundante, cercados pelo breu que se fazia.

   Mya se soltou de Oliver, com os olhos marejados e devastada pela situação em que se encontravam.

   — Já chega. Você não percebe! – resmungou. — Estamos mortos. Mortos!

   Oliver inclinou a cabeça. Sabia que a posição de ambos era desconfortável. Ela não estava errada de todo modo.

   — Mya. – em voz baixa. — Nós precisamos continuar. Fugir o mais rápido possível. – comentou, ao olhar friamente para a companheira. — Quanto mais pararmos, mais perderemos tempo. Não sabemos se aquela criatura está nos perseguindo ou se mandará um grupo atrás de nós.

   — Não importa mais. Nada importa mais. Você não entende. – dizia aos prantos. — O que nós faremos sozinhos no meio da floresta. Nós sequer sabemos onde estamos exatamente. Está acabado.

   Mya se virou, tomada por aflição e medo.

   — Eu vou voltar. Preciso voltar para casa.

   — Está louca. – respondeu. — Você mesmo disse, nem sabemos onde estamos. O que acha que estará fazendo?

   E Mya tentou correr, fugir, mas Oliver a segurou pelo braço, e se aproximou da mesma. 

   — Eu vou protegê-la. – enquanto segurava-a próximo de seu corpo. — Mas fique aqui. – e Mya cedeu. Ambos se abraçaram na escuridão noturna, pouco iluminados pela bela lua que ainda permanecia acima de suas cabeças.

   Oliver e Mya retomaram a caminhada. Agora mais tranquilos e sem estarem próximos a um ataque de nervos.

   Os rostos ainda estavam inchados – principalmente o de Mya, mas isto passaria. Vaguearam pelo resto do tempo, e o som que se destacava era o de corujas, sapos e uivos muito, muito distantes.

   Um frio cortante se fazia presente, e a dupla caminhava ainda perdidos, sem saber exatamente o que fazer.

   Oliver e Mya concluíram uma pequena trilha, relativamente cumprida e cercada por árvores secas. A noite deixava a imagem ainda mais feia.

   Já não possuíam nada. Comida, bebida e o restante dos mantimentos foram perdidos. Mapas e pergaminhos também já não tinham sob seus domínios. Não tinham o que comer, o que beber e nem mesmo um lugar certo para seguir. Era a definição perfeita de se perder. A única coisa que lhe restavam, era a rapieira que Dumas deixou com Oliver.

   Quando pingos caíram e trovões arrasaram os céus, se preocuparam.

   — E agora, o que faremos? – perguntou Mya.

   — Precisamos achar algum lugar para dormir.

   E a chuva aumentou, junto a um vendaval que se punha pelo leste, deixando a situação ainda mais caótica.

   Aceleraram os passos, mas logo ficaram logo encharcados. Completamente molhados, continuaram a desbravar a mata, passando por um trecho de árvores próximas e que se estreitavam pelo caminho, até que quando a paisagem abriu-se um pouco, vislumbraram uma admirável montanha, cercada por morros esverdeados.

   — Deve haver alguma entrada. – falou Oliver. — Uma caverna, talvez.

   — Não acha perigoso?

   — Não temos escolha.

   Se os pais de ambos estivessem presentes, provavelmente comentaria sobre a possível gripe e resfriado que pegariam.

    Correram em direção, e chegaram em instantes. Era uma bela montanha, é verdade, mas sua beleza não vem ao caso. Oliver deu uma breve vasculhada, e estava certo, pois achou uma cratera próxima a sua base, e de imediato se pôs a subir.

   — Me dê a mão. – e a esticou para ajudar a amiga.

   É realmente um perigo entrar em cavernas. Não só pelo fato de ser uma caverna, mas porque nunca sabemos o tamanho e dimensão da mesma. Mas o pior mesmo, é não saber se já existe moradores por ali.

   Por sorte, aquela não havia.

   Não seria um sono muito adequado, pois o buraco da entrada, refletia um pouco da luz da lua, mas o problema mesmo era o frio que passava por ali, e bem, os dois não tinham nada para tapar a entrada.

   De dentro, ainda se ouviam pedras desabando lá de cima pela forte chuva que caia, e trovões ainda eram presença garantida naquela noite.

   A noite era fria, e a caverna não era muito aconchegante. Eles não sabiam a profundidade exata do local, a parede era rochosa e o chão, duro ainda mais.

   Tinha sim um tamanho razoável, mas nada que fizessem seus queixos caírem. Se puseram a dormir recostados na parede, parecia menos pior que sobre o chão duro e bem seco.

   Mas poderiam sorrir, pelo menos estavam seguros. Chuva só do lado de fora, e o vento – por mais que péssimo, era pior do que quando estavam pelas selvas.

   Oliver deixou a rapieira atrás de suas costas, e encostou na parede.

   — Vou ficar acordado. – disse. — Vigiando.

   E Mya fez o mesmo movimento, recostando na parede ao lado esquerdo do mesmo. A garota logo dormiu, e aos poucos despencou, caindo no ombro de Oliver.

  Mya dormiu com muita facilidade. O único momento de paz que a mesma teve em muito tempo.

   Oliver pouco podia se mover. Sem movimentos bruscos, caso o fizesse, acordaria a amiga. E isso ele não pretendia fazer.

   Por volta de quatro horas depois, Oliver havia caído no sono, e no momento seguinte, quando abriu os olhos, viu que a passagem estava fechada. Coberta por pedras. Provavelmente a chuva as derrubou lá de cima.

   Com os dois acordados, evitaram discutir a respeito, e Oliver não contou sobre ter dormido. Se bem que, pouca diferença teria feito, pois o mesmo jamais conseguiria evitar a queda das pedras.

   O garoto tentou por mais de uma vez empurrá-las, mas a grandes rochas sequer se moviam. Nem mesmo quando Mya tentou junto.

   — Estamos presos. – disse ela.

   — Boa observação. – respondeu. — Deve haver outra passagem.

   Oliver segurou sua espada, e caminhou junto a Mya novamente.

   — Vamos dar uma olhada. – e a dupla permaneceu caminhando a fundo, e a localidade se tornava mais escura cada vez.

   Havia pedras pelo caminho, muitas pequenas espalhadas pelo chão. O terreno já era diferente, e água escorria pela parede. Havia um forte cheiro desagradável, como se houvesse uma carcaça de boi em algum lugar.

   Oliver e Mya sentaram-se num canto confortável, onde não havia água descendo pelas laterais das paredes e o cheiro já dissipado não os incomodava.

   — Vamos descansar. – disse Oliver. — Mais tarde continuamos a vasculhar.

   — Acha que encontraremos a saída?

   — Espero que sim. – Oliver desviou o olhar, preocupado, pois não sabia se havia dito o que realmente achava.

   Ambos passaram o restante do dia conversando como se fossem bons amigos, esqueceram-se da chuva forte e da ventania passada, e procuravam se esquecer de algum modo a perda de Dumas.

   Brincaram sobre o que aconteceria com eles caso voltassem vivos para o Reino. Oliver afirmou que o Rei os prenderiam caso não completassem a missão, e Mya comentou que ele não seria tão cruel assim, só decapitaria ambos, e logo trocaram sorrisos e em segundos, puderam cair num sono aconchegante, onde Mya acabou por deitar sobre as pernas de Oliver, que, gentilmente, tirou seu grosso casaco e a cobriu, mesmo Mya já estando com a sua veste que amenizava o frio.

   Acordaram com um modesto cheiro de fogo, e quando Oliver percebeu e abriu os olhos absolutamente apressado, se viu em uma situação de apuros, e Mya logo acordou.

   Seus braços e pernas estavam amarrados. Havia um grupo de goblins. Pelo menos seis deles. Todos de baixa estatura, pele verde, uma coloração feia e horrível.

   Suas bocas eram largas e com dentes sujos e afiadíssimos. Vestiam apenas uma espécie de tanga. A postura humanóide assustadora, junto a faca que cada um carregava. E claro, todos eles conduziam uma tocha.

   As criaturas bradaram palavras de um idioma desconhecido, e apenas um se pôs a frente. Este sabia a língua comum.

   — Visitantes! – disse com uma voz fina. — Devem ser deliciosos.

   Oliver olhou de relance para trás, mas percebeu que a espada de Dumas já havia sido levada. Foi uma boa estratégia.

   — Vocês! - gritou.  — Venham conosco.

   Os capangas conduziram ambos, aos trancos e barrancos. Empurrando e os tratando como se fossem lixos.

   As conversas paralelas eram assustadoras. Os goblins conversavam em seu idioma, e Oliver e Mya dialogavam em voz baixa, o que irritou enormemente o inimigo, que logo tratou de também amarrar ambas as bocas.

   Eles foram conduzidos por um trajeto sinuoso e negro. Realmente estavam no subsolo.

   Agora, puderam ver de perto a criatividade dos goblins. A morada no subsolo não era nada demais. Havia escadas, pequenas e grandes, esticadas pela construção subterrânea. Inúmeros túneis podres que levavam a lugares piores ainda.

   As escadas eram modestas tinham aspecto pobre, mas levavam a espécie de andares diferentes, cada vez mais alto ou mais baixo.

   Não só havia aqueles goblins que os raptaram, mas uma quantidade absurda. Eles trabalhavam em armas, faziam fogo e muito mais. Era uma sociedade perfeitamente orquestrada. Todos semelhantes, sem pálpebras, verdes e vestindo suas tangas.

   — Senhor, a rapieira que nos foi traga é de muito bom grado. A deixei com o líder. – disse um goblin que vestia um lenço na cabeça e um capacete de aço. Este era um dos forjadores de armas, e também dominava outros idiomas.

   Oliver e Mya foram levados a um andar bem alto, onde o cheiro de comida podre era alarmante. Logo, um grupelho das criaturas cercaram a dupla, e gritavam palavras horríveis na língua deles mesmos. Felizmente a dupla da Água não entendia aquelas palavras.

   Havia uma cadeira feita de ferro. Era bem grande, torta e pouco bonita, mas chamava atenção.

   Nela, sentava-se um goblin maior que o restante. Tinha olhos avermelhados, uma barriga feia e vestia um colete preto rasgado e sujo. Em sua cabeça, uma lata prateada. Seria uma coroa, ou uma tentativa.

  — Eles estavam em nossas cavernas! – gritou o goblin que conduzia os jovens.

   — Muito bem. – respondeu o grande goblin.

Oliver e Mya foram jogados ao chão, ficando frente ao suposto rei.

   — O que queriam aqui? – bradou feito um louco. — Queriam nossa comida e nossa bebida? Ou talvez nossas armas? Criaturas nojentas! – fez-se um silêncio, mas ele retornou a tagarelar. — Por que não falam, idiotas?

   Só agora o grande imbecil – digo, Goblin, percebeu que ambos estavam com a boca amarrada.

    — Desamarrem os idiotas! Seus idiotas! – gritou com cara de idiota. Aquilo era uma sociedade de goblins idiotas no final das contas.

   — Nós só queríamos passar uma noite. – respondeu Oliver.

   — Não é verdade! – o berro tinha um bafo podre. — De onde vocês são?

   — De lugar nenhum. – disse Oliver.

  — Lugar-Nenhum? Eu nunca ouvi falar neste lugar!

   Mya não conseguiu segurar, e esboçou um leve sorriso tamanha burrice do goblin.

   — Levem-nos. Prendam-nos!

   E a dupla foi novamente conduzida como um objeto qualquer. Foram levados a uma cela pequena, onde foram jogados e ficaram juntos.

   Oliver deduziu que as tais celas eram feitas para os próprios goblins, ou pelo menos goblins-traidores, mas esta opinião foi desmentida pelo próprio, pois este percebeu que havia centenas delas, e seus prisioneiros eram diversos, deixando Oliver enleado.

   Haviam pôneis, coelhos, ratos e até mesmo filhotes de lobos. Todos presos e preparados para serem servidos como comida. E eles também seria jantados em breve.

   Mya e Oliver ficaram encurvados e dividiam a mesma cela, por incrível que pareça.

   Pelo menos os goblins tiraram as cordas de suas bocas, e ambos puderam conversar entre si, em que pese um goblin gordo ter sido responsabilizado com o dever de vigiá-los.

   Mas se pararmos para pensar bem, foi mais uma ideia idiota, pois aquele gorducho provavelmente não sabia e sequer conhecia a língua que os garotos falavam.

   — E agora? – sussurrava Mya.

   — Estamos encrencados. São muitos deles. E nós mal comemos.

   Mya revirou os olhos, tentando encostar na cela. Exausta.

   Horas depois, um outro goblin, este tinha curiosos pelos na cabeça, abriu a cela da direita, e retirou um coelho.

   — Pelo menos não somos a janta de hoje. – brincou Oliver.

   — É, mas talvez sejamos o café de amanhã.

   E os dois riram brevemente, até que o goblin gordo bateu com uma estaca nas celas.

   Queria silêncio. E bem longe, era possível ouvir uma cantoria no idioma dos goblins. O bater de taça e risadas maléficas ecoavam pelo local. Era um som horripilante.

   Nenhum mísero raio de sol entrava na morada dos goblins, por isso viviam tranquilamente naquele assombroso lugar. A única luz, era a que saía das tochas que ficavam presas as paredes. Uma construção tenebrosa em todos os aspectos.

   Mais tarde, quando muito dos animais prisioneiros dormiam e goblins também o fazia, Oliver contou a Mya o que tentaria fazer para tirá-los de lá.

   — Vou desafiá-lo.

   — Quem? E para que?

   — O líder deles. – disse. — Ganharei tempo e espaço para fugirmos.

   — Por mais que ele seja um grande idiota, ele não vai ser enganado tão facilmente. – respondeu. — E como ganhar tempo? Não sabemos onde fica a saída desse inferno.

   — Você não percebeu. – respondeu. — Acima da cadeira do rei, tem um lance de escadas espiraladas. Muito acima, existe um portão de madeira. Se chegarmos até lá, poderemos quebrá-lo. Deve haver uma passagem por lá. – explicou. — Os goblins entram e saem. – explicou. — Eu vi pela fresta à noite.

   Mya se contorceu, e dormiu. Teve um breve pesadelo, onde eram devorados vivos pelo goblins. Talvez fosse apenas pela falta de comida ou bebida.

   Quando acordaram, foram levados a uma outra cela. Mais próxima a onde se sentava o rei e mais abaixo, onde tinha uma vista privilegiada de todas aquelas paredes rochosas e o fogo ardente nas tochas. Viam os goblins trabalhando para lá e para cá, e todos olhavam com desdém e nojo.

   — Você viu a espada? – perguntou Oliver. — Está ao lado da cadeira do rei. Ele a pegou para si mesmo!

   — Ainda continua com aquele plano genial?

   — Sim. Vou desafiá-lo. Pegarei a espada de volta!

   Um grunhido veio na direção de ambos. Era um goblin segurando uma lança. Possivelmente queria silêncio.

   — Eu quero falar com o seu rei! – pediu Oliver, e a criatura grunhiu novamente. — Leve-me até o seu rei!

    O goblin levantou a lança, em ataque a Oliver, mas um segundo o parou.

   — O que querem com o rei? – Um goblin trajando uma armadura prateada se aproximou.

   — Quero desafiá-lo.

   — Besteira! – gritou outro goblin. Um magricelo e de braços longos. Sua tanga preta cobria parte até mesmo de seus joelhos nodosos. — Nosso rei tem planos para mais tarde!

  — E quais são? – indagou Mya.

   — Devorar vocês! Ora... – respondeu com seus dentes amarelados para fora. — São o prato principal! Hoje é aniversário dele. Suas visitas foram um grande prazer! Serão comidos vivos.

   Acredito eu, que goblins não saibam suas datas de nascimento, mas sabe-se lá o motivo, o rei costumava festejar o seu aniversário naquela data. Ou apenas um pretexto para comê-los ali.

   — Estão com medo, não estão?

  — Medo? Do que, garoto!? – perguntou o goblin de armadura.

   — Medo que eu mate o rei.

   O goblin magro foi até o de armadura, e cochicharam entre si no seu idioma, e o segundo, mandou que o goblin da lança levasse uma mensagem ao rei.

   — O que farão? – perguntou Oliver, agora ressabiado.

   — Amanhã na parte da manhã. O rei provará que não tem medo de vocês.

   Oliver e Mya passaram maus bocados pelo restante daquela sexta-feira. Receberam vasilhas com água, mas evitaram beber, pois a aparência era emporcalhada. Dormiram muito mal naquela noite. A situação apenas piorava, e Oliver sequer sabia como venceria o terrível goblin que exercia a liderança naquele local. Sem comer, beber, sem armas. Um completo derrotado.

   Quando o dia amanheceu, eles sequer perceberam, pois a luz do sol não era visa há dias.

   O som de máquinas abaixo e gritaria acima deixava claro. Era hora de enfrentar o grandalhão.

   Quando foram carregados, Oliver e Mya passaram por inúmeros goblins, todos bem semelhantes. Eles grunhiam e emitiam sons desconhecidos, porém todos amedrontadores.

    Oliver foi jogado naquele chão que aparentava ser fraco e que seria arrebentado a qualquer hora. Dois goblins soltaram suas mãos e pés.

   Sequer lhe entregaram uma faca ou puseram uma armadura e um capacete. Queriam mesmo que a luta acabasse logo. 

   — Meus empregados disseram que você queria lutar comigo. – bradou o grande goblin, e Oliver se pôs de pé, ainda de olho em sua arma, que estava ao lado da cadeira onde o rei se sentava.

   O restante dos goblins se reuniram atrás de Mya e Oliver, ficando de frente para o rei e do local do enfrentamento.

   Batiam suas facas e gritavam em alusão ao líder, desejando a morte de Oliver e carne fresca. Os goblins de Valerian sempre adoraram a bela carne dos homens.

   — Desamarrem a minha amiga. – pediu.

   — E por qual motivo faríamos isso? – bradou o goblin principal.

   — Seus amigos estão torcendo por você. – responde. — Ela é a minha torcida.

   — Me parece justo! Desamarrem ela! – ordenou o idiota. — Vocês nunca mais voltarão para Lugar-Nenhum.

   Mya era muito mais perspicaz e inteligente do que todos ali, e pôde perceber baldes com água próximos a espada e a cadeira do rei. Ele mal deve aguentar lutar de tão pesado.

   As criaturas realmente não notaram que ambos eram do Reino da Água.

   — Não vão me dar nem uma faca? – debochou Oliver, e o goblin se adiantou, segurando um machado.

   O golpe abriu um buraco no chão, e Oliver saltou para trás. Os goblins gritaram em êxtase.

   — Calma aí, grandalhão! 

   — Você quer que eu corte primeiro os pés ou as mãos?

   E o machado arrasou os ares novamente, e destruiu uma das escadas que levavam até o subsolo, onde alguns goblins forjavam armas.

   Oliver estava atrás naquele confronto. Tinha passado fome e sede, não dormia bem e sequer tinha uma arma ou armadura. Passou bons minutos se esquivando.

   Precisava de uma coisa, se lembrar de quando era um selvagem. De quando treinava com guerreiros brutais e de grande estatura.

   — Cuidado! – gritou Mya, e Oliver foi ao chão quando ainda se esquivou de uma cabeçada do inimigo. A lata na cabeça – a coroa, rolou para baixo.

   Preciso cansá-lo.

   Oliver já estava exausto, mas permaneceu na defensiva, até que o idiota verde pediu pausa. Dois goblins foram aos baldes com água, molharam panos e passaram na testa sebosa do líder.

   A luta se estendeu, e Oliver derrapou por baixo das pernas do grandalhão. Pegou a rapieira e apontou para o inimigo.

   — Agora é de igual para igual. – bradou com olhos destemidos.

   Mya, então, entrou em cena. Chutou um goblin ainda mais para o subsolo, e correu contra o líder, o driblou e ficou ao lado de Oliver.

   — Corre. – pediu Oliver, e a garota o olhou. No improviso.

   Mya chutou e derrubou todos os baldes, acarretando numa imensa quantidade de água. Oliver e ela correram escada acima. Passaram por três, depois mais uma, e continuaram a escadaria espiralada.

   Os goblins tentavam subir, mas escorregavam. Caiam um por um, como peças de dominó. Idiotas.

   — Peguem esses ladrões! – trovejava a voz do líder, e os pequenos esverdeados tentavam dar um jeito, mas já era tarde demais.

   Oliver e Mya já estavam aptos a sair dali. O primeiro rasgou a madeira num golpe de espada, e com o ombro a abriu num solavanco. A luz do sol iluminou parte do lugar, e alguns goblins azarados foram petrificados.

   Havia agora mais florestas, mas o o principal mesmo eram os morros verdejantes que ali estavam. Um extenso gramado verde e muitas árvores de pequeno porte.

  Sequer colocaram os pés para fora e se olharam com um sorriso no rosto.

   — Conseguimos.

   — Estamos fora. Deu certo! – gritou Mya em resposta.

   O primeiro passo foi em falso, e quando perceberam, rolaram um pequeno trajeto da montanha. A queda foi brusca, despencaram alguns metros, passando por cima de pedras, mato e raízes de árvore. Uma sujeira completa. Grunhidos de dor foram feitos, e ambos terminaram deitados ao fim da queda.

   Estavam não só fora de uma morada de goblins, mas bem distantes da mesma. Livres daquele perigo assustador. Quase devorados vivos pelas criaturas indesejáveis e desagradáveis.

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