⇝ CAPÍTULO 12: Água contra água

   Eskkad e Oliver já tinham se alimentado naquela manhã e agora, ambos descansavam por um longo período. O pai, dormia frente à lareira, enquanto Oliver estava a pelo menos uma hora deitado em sua cama tirando um grandioso cochilo. Luna, por sua vez, sentava-se também à sala, e lia um pequeno livreto, que contabilizava alguns variados contos sobre Valerian, se informando ainda mais sobre as histórias e contos históricos que faziam parte de tudo. Ao seu lado, Ikki se punha a cochilar agarrado em suas pernas. E não precisa se preocupar, pois Eskkad não roncava, então sua presença não atrapalhava.

   Dá para se dizer que o clima não estava dos melhores, pois os pais e Oliver haviam discutido pouco antes.

   Eskkad permitiu que Oliver faltasse a Academia, e assim perdeu sua aula de Runas, e isso irritou Luna profundamente, e o trio discutiu por quase uma hora a respeito do acontecimento.

   O tempo estava límpido e frio quando pai e filho acordaram. Eskkad aproveitou um pouco mais frente à lareira, beneficiando-se do calor. Ainda pôde continuar a pedir desculpas a Luna, mas a mesma já não estava mais interessada sobre o ocorrido.

   O que Luna não sabia, é que ficaria ainda mais irritada com o passar do dia. Eskkad cismou em levar Oliver para treinar. E o pior, fora do Reino.

   — Está louco. – dizia ela com a voz crescendo para cima de seu marido.

   — Ele estará comigo. Não há problema.

   — Nem pensar. Melhor que você volte a dormir. Assim não pensa em mais besteiras.

   — Não iremos para longe, meu amor. Não se preocupe, deixe-nos. – sua voz era consciente de que não era bem adequado, mas também era ciente de que seu filho precisava de aulas particulares e períodos extras, e ele poderia ensinar da melhor forma possível.

   Luna fingia que não o ouvia.

   — Conversamos sobre isso ontem, querida.

   — Nossa conversa não dizia que você levaria nosso filho para fora do Reino e ainda faltaria aula no dia seguinte. – rosnou bravamente.

   — Eu já me desculpei.

   Oliver entrou em seguida, se enxugando de um passado banho, e quando ouviu, ficou sorridente, pois não via a hora de sair do Reino.

  — Sabe, eu gostaria muito de poder ver as árvores, a selva novamente. Aqui dentro é tão chato. Nada acontece.

   — Viu. – disse Eskkad. — O garoto quer ir. Não sou só eu.

   Luna viu que seria uma batalha perdida.

   — Faça o que quiser. Mas se algo sair errado, não diga que não avisei.

   Oliver voltou para seu quarto saltitando de felicidade.

   — Satisfeito? – debochou Luna, e Oliver sorriu timidamente.

   Oliver se vestiu em tempo recorde. Uma calça de couro escura e a jaqueta castanha de outrora. Por baixo, uma veste branca e fina.

   — Vamos?

   Eskkad já não podia mais vestir suas roupas da época de soldado da Água, então, colocou vestes de couro e escuras, semelhantes às de seu filho. Acima, uma manta negra. A alabarda amarrada às costas deixou Oliver curioso e mais contente ainda, pois veria seu pai utilizar uma arma de tamanho calibre.

   — Ainda sabe cavalgar, não sabe?

   Oliver deu sinal positivo, e Eskkad pediu que esperasse um pouco. Seu pai saiu de casa, e retornou meia hora depois. Estava agora com dois cavalos. Um para cada.

   Oliver subiu de imediato. O animal era robusto e de cor clara, o inverso do de seu pai.

   Os dois se despediram de Luna, e Eskkad ganhou um sorriso amargo e duro de sua esposa, que permaneceu séria e com sua leitura na sala. A mesma proibiu que ambos levassem o pequeno Ikki.

   Pai e filho cavalgaram calmamente pelo Reino. A moradia ficava um pouco distante dos quatro portões, e por isso demoraram alguns longos minutos até chegarem, mas antes disso, os dois passaram por Mya no caminho, e Oliver fez de tudo para que ela não o visse, mas não conseguiu sucesso, pois a mesma foi até ambos.

   — Por que não foi à aula hoje, engraçadinho? – perguntou enquanto acariciava o cavalo do companheiro de classe.

   Oliver e Eskkad não combinaram bem, e cada um respondeu uma coisa.

   — Febre. – respondeu sorridente Oliver.

   — Estava com dores no estômago. – explicou Eskkad, e ambos se entreolharam. Como somos burros.

   A cabeça de Mya se moveu negativamente. Que idiotas.

   Antes que pudesse falar algo, Eskkad se intrometeu para que não houvesse mais erros como esse.

   — Ele estava se sentindo mal. É isso. – salientou, com um sorriso amarelo no rosto. — São amigos?

   — Sentamos um do lado do outro. – respondeu Mya, reprovando esse título, e Oliver acenou para o pai.

   — Ah, entendo. Estamos indo treinar. Por que não vem conosco? – Eskkad se constrangeu tanto pelo momento anterior, que sequer lembrou de perguntar o nome da garota.

   Oliver olhou para o pai como quem o fosse agredir na hora. Mya recusou o pedido, mas quando notou que era o que Oliver queria, mudou de ideia.

   — Vai ser legal, senhor.

   Eskkad pediu que a mesma fosse com Oliver, que agora teve de cavalgar com Mya atrás de si.

   Depois de bom tempo a caminho, o trio chegou próximo ao portão sul do Reino, e foram barrados pela guarnição. No local, um soldado de rosto maduro.

   — Os senhores não podem sair sem uma permissão.

   Oliver e Mya esperaram, e Eskkad mostrou ser um ex-soldado da Água, o que lhe deu a permissão e assim foram liberados a partirem. Antes de saírem, o soldado foi minucioso em suas palavras.

   — Mas tenham cuidado por aí afora. Não vão querer encontrar selvagens. – rosnou, e Oliver segurou-se para não avançar em seu pescoço. — Aquele povo nojento e podre. Fiquem longe daqueles maltrapilhos.

   Eskkad tinha experiência e sabia contornar a situação.

   — De fato, companheiro. Tenha um bom trabalho. Até. – e os três partiram para as selvas, mas não tão longe.

   Havia montanhas por muito a frente, mas cavalgaram por entre as matas e atravessaram um pequeno vau ao leste, e logo chegaram a um esverdeado campo, que ficava próximo a uma coleção de rochas estupidamente grandes onde desaguava um pequeno riacho.

   Eskkad saltou de seu cavalo a uma boa distância da dupla, que calmamente desceu, e Oliver teve a conduta e bondade de ajudar Mya a descer do animal, mas ela logo o questionou.

   — Por que não disse que seu pai é um ex-soldado?

   — Ora, você não disse nada sobre sua família também. – e ambos fecharam o rosto.

   O veterano conferia se sua alabarda estava em boa forma, e isso desenrolou alguma dúvida crucial em Mya, mas a garota relutou em questionar Oliver a respeito da arma que seu pai usava.

   Eskkad já estava apto ao se aproximar de ambos. Mya e Oliver não estavam com seus bastões, obviamente.

   — Como se chama? – perguntou Eskkad olhando para Mya, agora se lembrando.

   — Mya, senhor.

   — Muito bem, querida. Por que ambos não fazem um duelo para eu ver? Posso corrigir vocês. – pediu. — Bem, hoje em especial iria mostrar ao Olie sobre combates corpo a corpo. Sem o manejo da água.

   Mya assentiu, e Oliver e ela se distanciaram como num início de batalha. Estavam a alguns metros um do outro.

   Oliver encurvou-se alguns centímetros. Abriu suas pernas um pouco e ergueu seus dois punhos.

   A postura de Mya deixou um ponto de interrogação na cabeça de Eskkad, que se pegou pensando em algumas outras coisas.

   A garota ficava bem rígida, com a palma da mão direita aberta e a esquerda fechada em alguns centímetros uma das outras. Suas pernas pouco tomavam distância e ficavam bem fixas no chão.

   A dupla se olhou por alguns momentos, e Mya avançou primeiro. Agilidade pura. Seus pés sacolejavam sobre o chão de terra. Golpeava rispidamente com a palma das mãos abertas. Oliver apenas se movia para trás e Eskkad observava.

   — Mya! – gritou Eskkad. — Se puder, use a água a seu favor. – a garota ouviu, mas não tinha seu bastão para ajudar. Seria um fracasso.

   Oliver, então cresceu, se defendia e avançava aos poucos. Eskkad esperou até que Mya se aproximasse e jogou sua arma para ela. De imediato, ela segurou como uma guerreira experiente, e passou rente aos cabelos castanhos de Oliver, que se assustou e foi ao chão.

   Mya percebeu o que Eskkad queria, e devolveu a alabarda.

   — O que foi isso? – indagou Oliver do chão, com o rosto assustado.

   — Nada. Continue, fracote.

   Ele se ergueu, e ambos trocaram golpes fortes, mas não eram bons o suficiente para causar algum dano.

   Oliver não conseguia controlar a água com ou sem bastão, diferente de Mya, que com algo em mãos poderia, mas ela também não tinha no momento.

   As roupas claras que Mya utilizavam já estavam ficando escuras. Resquícios de terra subiam por elas, mas o treinamento continuava e ainda sob os olhos do ex-soldado.

   Oliver não era uma máquina de combate corpo a corpo e tampouco tinha o físico de um touro como os Selvagens, mas seu corpo era privilegiado. Havia músculos muito úteis, fortes e robustos ali.

   Além de que, viver como um Selvagem de nascença lhe trouxe muitos benefícios. Sabia utilizar o território, conhecia um pouco da arte de combate mano a mano e conseguia se sair muito bem.

   Mya não tinha a experiência das selvas, mas tinha uma postura que causava curiosidade em Eskkad, o que já diz muita coisa. Era ágil, e seus golpes com os punhos eram como facas afiadas.

   Depois de um longo tempo, ambos pausaram o treino. Oliver bebeu água do riacho e molhou seu rosto, enquanto Mya fazia o mesmo, aproveitando para umedecer a roupa que outrora foi branca. Eskkad se aproximou calmamente.

   — Sua agilidade é impressionante, Mya. – e a garota sorriu. — São gestos muito ríspidos. Precisa de muito treinamento para ter essa postura. – Mya desviou o olhar.

   Oliver esticava os músculos, e seu pai pegou seu braço direito.

   — E você, não deixe o pé direito tão atrás do esquerdo. – o pai o puxou, arrumando-o obrigatoriamente. — Sua cabeça e o peito ficam muito expostos.

   Oliver realizou o que seu pai pediu, mas o mesmo notou mais erros e os corrigiu.

   — Não tente deixar os pés tão retos assim. Por incrível que pareça, você pode perder o equilíbrio com maior facilidade.

   Agora, o veterano demonstrava a distância adequada para os pés. Nem muito longe e nem muito perto.

   — Não seja tão quadrado no posicionamento. Vai lhe dar um bom equilíbrio e uma mobilidade razoável. Agora continuem.

   Com as correções dadas, Oliver teve uma relativa melhora, pois agora conseguia se manter mais ereto em combate, e se aproximava do adversário com maior facilidade. Desferia socos com melhor qualidade, e num deles, com o punho direito, direcionou exatamente no rosto de Mya, mas, num gesto de pura técnica, a mesma se defendeu com os pés. Uma velocidade que fez com que Eskkad soltasse um suspiro. Ela é impressionante.

   O próprio Oliver ficou estupefato com a defesa com o chute, e Mya se aproveitou para dirigir sua palma da mão no rosto do mesmo, mas ela parou a centímetros.

   — Eu venci, não venci?

   Oliver respirou fundo. Foi um alivio não ter completado o golpe.

   — Acho que sim.

   Eskkad se aproximou de ambos aplaudindo com um sorriso no rosto, principalmente para Mya, que persistia em desviar o olhar com desconforto visível.

   — Estão de parabéns. Mya, você é incrível. E filho, corrigiu rápido alguns problemas. Se permanecer assim, vai ter um corpo a corpo poderoso no futuro.

   O ex-soldado sentiu-se bem por outro lado, não precisou se cansar e nem lutar em treinamento contra seu próprio filho. De quebra, conheceu uma de suas amigas de turma e pôde ver ambos em um confronto que superou suas expectativas. Foi um grande divertimento para ele que estava de fora.

   Os dois cavalos beberam da água do riacho e logo estavam aptos a retornarem. Já estava ficando tarde e o sol já sumia morosamente dos céus. O vento crescia e animais noturnos apareciam.

   O som de corujas era o que mais se ouvia durante a cavalgada do retorno do trio a Água.

   O portão agora estava vigiado por uma equipe inteira de soldados. Composto por pelo menos dez homens, e o rapaz da saída estava presente. Ele foi responsável para permitir que os três entrassem novamente, pois detalhou para seus companheiros de quem se tratava e que tinha permissão para sair do Reino com os outros.

   Na parte de dentro, muitas pessoas estavam terminando seus afazeres. Eles cavalgaram devagar pelas ruas.

   — Olie, por que não leva sua amiga para a casa? Deixe-a. – disse o pai, e os dois pararam seus cavalos.

   — Não precisa, senhor. Eu vou andando.

   — É, pai. Ela vai andando. – comentou Oliver, e seu pai ordenou uma vez mais.

   — Seja cavalheiro. – o cortando. — Mya, ele vai deixá-la na porta de casa.

   A garota assentiu, e Oliver ficou com o rosto tão avermelhado quanto uma maçã.

   — Para onde vai, pai?

   — Preciso ver um amigo. – e deu a cavalgar em velocidade.

   Oliver conduziu Mya por mais alguns minutos, e teve de perguntar a mesma onde morava, pois não sabia. Envergonhada, ela acabou por dizer, e ambos percorreram por alguns dez minutos até sua casa, que ficava na parte norte do Reino.

   — Deixe-me aqui. – disse Mya, saltando do cavalo numa estrada vazia e escura. Eu vou caminhando.

   — Tem certeza que não quer que eu a leve?

   — Não, muito obrigada. Não quero que me vejam chegando acompanhada de alguém.

   — Bom, se é assim. Tenha uma boa noite. – Oliver deu meia volta com seu cavalo e prosseguiu.

   — Foi um bom treinamento. – gritou Mya, simpaticamente, e Oliver se virou acenando positivamente antes de ir embora.

   Se Oliver agora tinha liberdade para voltar a sua casa, não se pode dizer o mesmo por seu pai, que cavalgava em direção a morada do Rei.

   Fazia mais frio do que antes, e animais cantavam por entre as matas. Era audível até mesmo dentro das muralhas da Água.

   Havia quatro guardas naquela noite no portão principal do Palácio. Todos severamente postados e rentes a entrada. Seus braços para trás e olhares observadores.

   Eskkad mostrou a serpente que o confirmava como um soldado ou ex-soldado, o que lhe dava permissão para muitos lugares no Reino. Assim, os homens deram espaço, e Eskkad entrou.

   O cavalo fora deixado do lado de fora ao cuidado dos vigias, onde humildemente dois deles trataram a levar o cavalo de volta ao seu local.

   O Palácio não estava cheio. Ouviam-se poucas vozes na imensa construção. Algumas conversas vinham de muita das salas no andar de cima, mas nenhuma que lhe interessava.

   Eskkad deu a subir, andar por andar, até alcançar a sala do Rei. Seguramente, o tamanho brutal do Palácio já não o assustava, acostumado com tanta sala e toda aquela arquitetura colossal.

   Despontou no corredor que dava a sala do Rei, e viu um homem de roupa cinza escuro entrando. Assim, andou lentamente sem fazer barulho, até se aproximar do local. A porta foi deixada semiaberta pelo homem, e Eskkad só enxergava por um pequeno vão na mesma.

   Ainda assim, pôde ver claramente Virgo de pé frente a uma das janelas, observando a noite, como muito gostava de fazer.

   — O que faz aqui? – perguntou o outro, e Virgo manteve-se em silêncio.

   Eskkad permaneceu ali, como um intrometido e sem entender o que estava acontecendo.

   — Veio relatar nossa viagem ao Rei?

   O outro se tratava de Salazar. A dupla havia chegado da visita ao Fogo há algumas horas.

   Virgo girou o rosto pacificamente.

   — É o nosso dever.

   — E vai dizer exatamente o que viu por lá?

   — Sim.

   — Não se faça de sonso. – retrucou Salazar, agora com raiva. — Tenho certeza que vai ocultar o que aconteceu naquele bar.

   — Um rebelde do Fogo assassinado. Provavelmente por soldados.

   Salazar estava possesso. Ainda contrariado com a postura de Virgo naquele dia.

   — A pouco lhe conheço, mas já posso dizer que não possuo consideração alguma.

   — Curioso. Pois mal me recordo de seu nome. – e Virgo voltou a olhar a noite.

   Eskkad não sabia da viagem e da missão exatamente, só sabia apenas que Virgo havia saído do Reino.

   Salazar cerrou seus punhos, indignado.

   — Nunca vi tamanha arrogância. – e por mais que Eskkad não visse, seus olhos estavam tremeluzindo em raiva. — Talvez você precise de uma lição.

   Virgo mantinha-se imóvel frente à janela, e o belo brilho da lua recostava em seu rosto pálido.

   — E talvez você não tenha coragem para isso.

   Salazar retirou a parte superior de seu terno cor de chumbo, o jogando no chão. Agora estava mais leve.

   As taças e garrafas do Rei ficavam nas mesas brilhosas atrás e ao lado de ambos. Sem contar quadros e outras quinquilharias de Meltar. Seria uma destruição.

    Eskkad estava se segurando. Não sabia se poderia entrar e apartar uma eventual briga. Logo, um toque em seu ombro veio. Era o Rei, pedindo silêncio ao amigo.

   Dentro da sala, Salazar já acreditava estar um passo a frente de Virgo, ainda estático.

   Havia laços de água, pelo menos em quatro camadas em torno do corpo de Virgo. Agora preso pela chamada técnica Chicote de Água. Dependendo do nível do usuário, a técnica pode comprimir até mesmo seus ossos.

   — Acho que está acabado. – disse o revoltado Salazar, agora confiante.

   — Tem toda razão. – retrucou Virgo, e o inspetor ficou sem entender.

   Todavia, quem estava em maus lençóis era o próprio Salazar. Havia caído na Prisão de Água. Técnica nível médio para Elementalistas.

   Consistia num círculo composto por água no corpo do adversário, o cercando e o prendendo, sem que aja possibilidade de fuga ou contra-ataque.

   Assim, Salazar jamais poderia concluir sua primeira técnica estando completamente preso e a mercê de Virgo, que continuava sem sequer o olhar. A batalha já havia acabado, e ele nem pôde perceber isto.

   Salazar estava tão sentimental em relação ao ocorrido no Fogo e tão furioso com o que havia se passado com Virgo, que sequer pôde notar que já estava capturado pelo adversário antes mesmo de tentar atacar. Havia sido derrotado num segundo, e sem saber.

   A técnica do Chicote de Água foi desfeita, e em seguida, Virgo também o fez. Salazar foi solto, e de cabeça baixa, estava ainda mais tomado por raiva. Entrou em ruína, e a sala, se encheu de água escorrendo.

   Uma voz trovejante entrou pelo cômodo em seguida. Era o Rei, alertando sua chegada. Fingindo não ter visto o que aconteceu.

   Salazar pegou sua veste no chão, e saiu de rompante. A cabeça baixa e enfurecida. Virgo permanecia de pé.

   — Majestade.

   Meltar retirou seu longo casaco azul escuro, e em seguida, Eskkad entrou.

   — O que tens a dizer sobre a missão que lhe foi dada, meu velho amigo?

   A conversa durou por quase duas horas, e Virgo detalhou dia por dia ao Rei. Do caos do povo do Fogo, do abandono dos Governantes e da pobreza absoluta. Mas principalmente, mencionou a carência de uma figura que desse esperança aos cidadãos. Aos mais velhos, aos mais jovens e as crianças, o futuro de todo um Reino.

    O Rei, demonstrou clara curiosidade sobre o que se passava no Reino, e mostrou sentimentos quando Virgo o contou sobre o ocorrido no bar de Benito. E fique tranquilo, pois Virgo o contou todos os detalhes, incluindo sua própria ação, de se negar a ajudar. E isso, por algum motivo, não assustou Eskkad e muito menos Meltar, como se ambos já esperassem essa atitude do amigo.

   O pai de Oliver inclusive ouvia a conversa atentamente, pois era de seu interesse o que acontecia no Fogo. O Rei, posteriormente, agradeceu Virgo de muito bom grado, e o companheiro de vestes negras recusou a recompensa oferecida pela sua majestade.

   Agora, o Rei Meltar tinha uma breve ideia do que fazer a respeito desta polêmica história envolvendo o Fogo.

   — Em outra hora agradecerei Salazar e lhe darei as recompensas pela missão. - disse. — Agora, acredito precisar me comunicar com a Terra e o Ar.

   A noite estava presente mais do que nunca, chuva se iniciava, e as janelas mostravam isso. No decorrer, Virgo e Eskkad se despediram do amigo e Rei, que os guiou até a porta.

   A dupla caminhou lentamente tanto pelo Palácio quanto pelas ruas. Sem cavalo, Eskkad pôde ir lado a lado com Virgo, conversaram sobre coisas banais, e Virgo se interessava muito pelo que acontecia com Oliver.

   Eskkad contou sobre o dia de treinamento, sobre como Luna se irritou e também lhe disse sobre a habilidosa garota chamada Mya.

   No entanto, Eskkad não contou a Virgo que viu o pequeno conflito entre ele e o Inspetor Salazar. Não seria agradável para ninguém, inclusive para o mesmo, pois imaginava que seu amigo poderia achar que ele era um belíssimo de um fofoqueiro e bisbilhoteiro.

   A chuva aumentava. E bem, no Reino da Água, chove praticamente todos os dias, se não na manhã, na tarde, à noite ou na madrugada quando todos estão a dormir.

   Os amigos se despediram, Eskkad retornou a sua casa, agora completamente molhado pelo tempo que se tinha, e Virgo desapareceu por entre a escuridão da noite.

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