Tobias pula a pequena cerca branca da casa de Bertones enquanto tento convencê-lo a não ir, mas meus esforços são em vão e acabo indo também.

Algumas luzes brilham nas lâmpadas na frente das casas ao lado, por isso não está completamente escuro. De toda forma, mesmo assim ligo a lanterna do celular por precaução.

Tobi está silencioso. Olhando cada detalhe como se fosse um agente infiltrado. Provavelmente ele deve estar pensando que faz parte de algum filme de investigação que assistiu.

Por dentro da cerca a casa parece ser normal exceto por ter caixas de som enormes e chamativas.

— Por que uma idosa teria uma caixa de som dessas? Ela com certeza é muito suspeita. Idosos não têm caixas de som, ou você consegue imaginar a velha Bertones dançando ao som de uma batida eletrônica? Eu não consigo — Comenta Tobias.

— Sei lá, mas precisamos ir embora agora antes que alguém chegue.

— Claro que não Jack. Se ela tem caixas de sons do lado de fora de casa o que mais ela terá dentro? Precisamos descobrir. Veja a janela está aberta.

— É uma péssima ideia, mas não posso negar que também estou curioso. Já que estamos aqui vamos entrar. Mas precisamos ser rápidos.

Tobias se esforça para caber na metade aberta da janela e finalmente consegue entrar, logo depois percebo que a porta estava destrancada.

— Na próxima vez me avisa que a porta estava aberta o tempo todo. — Diz cansado pelo esforço na janela.

— Na verdade amigo, eu prefiro que não tenha uma próxima vez.

Eu ligo a luz e imediatamente Tobias começa a explicar que espiões não devem ligar as luzes das casas que eles invadem. Entretanto, ele se cala ao ver que tem um convite para o meu aniversário em cima da mesa.

— Cara pra que você mandou um convite da sua festa pra Sra. Bertones? — Pergunta surpreso.

— Eu nunca mandaria um convite pra ela, isso é muito estranho. Como será que ela o conseguiu?

— Não faço ideia. Vai ver você deixou cair algum e ela pegou pra devolver depois.

— Claro que não. Ela está me perseguindo. Acho que devemos chamar a polícia.

— E contar que invadimos uma casa e encontramos um convite? Não parece que é uma boa ideia. Precisamos continuar a olhar a casa pra ver o que mais vamos descobrir. Estou falando, esse velhota está escondendo algo. — Sugere Tobias.

— Tem razão. — Digo.

Um carro para na frente da casa da velha e ouço um barulho que imagino vir da pequena porta da cerca que pulamos.

— Que merda Tobias! Precisamos ir embora agora.

— Não vai dar tempo vamos nos esconder.

Olho pela janela e vejo um homem com um terno azul familiar e acolhedor. Não é a velha. Na frente da casa vejo um carro clássico Mercury Coupe verde com a lataria um pouco enferrujada. Conheço esse carro.

— É o meu tio Alfred. — Afirmo.

— Mas o que ele faz aqui?

— Não faço ideia, vai ver ele é amigo da velha, porém é estranho que ele nunca tenha falado de ter outros conhecidos na rua. Ele não vai contar nada pra ela se eu explicar o que estamos fazendo aqui, acho que estamos salvos.

Tio Alfred abre a porta rapidamente e no mesmo instante escutamos uma explosão no final da rua. Olho pela janela atônito. Minha casa está completamente em chamas.