CAPÍTULO OITO
Ouço gritos, pessoas estão correndo desesperadas, meu primeiro instinto é tentar sair do lugar em que estou, correr para um lugar seguro, mas não consigo. Estou preso e não consigo sair, tento gritar. Ninguém me ouve, estão ocupados demais tentando se salvar. A chuva que cai é fria, sinto que estou congelando por dentro. A tempestade explode e isso me assusta como quando eu era criança e minha mãe me abraçava e dizia que o barulho não podia me fazer mal.
No meio de todo o caos surge um casal que corre em direção a uma porta dourada brilhante. A mulher, desesperada, tenta cessar o choro do filho em seu colo. Mas, os altos barulhos dos relâmpagos que, ora ou outra chicoteiam o chão assustam o menino que não consegue conter os berros.
O homem para na frente de uma misteriosa porta no meio do nada para se despedir e beija a testa do filho que imediatamente deixa de chorar.
O vento está feroz, contudo, com algum esforço consigo me soltar e me aproximo do casal que parece não me ver. O rosto da mulher me lembra uma das fotos da minha mãe quando mais jovem. Sei disso porque eu sempre olhava todos os álbuns de fotos da casa na esperança que Kelly tenha guardado alguma recordação do meu pai. No entanto, nunca encontrei nada em nenhum canto. Rapidamente vejo a mancha de nascença na bochecha esquerda da jovem mãe, o que denuncia que essa realmente é Kelly. Com certeza, os anos a mudaram, mas ainda dá de notar que ela manteve a aparência jovial da garota que vejo na minha frente.
— Vocês devem ir agora. — Diz o homem cujo o olhar azul claro me lembra os meus próprios olhos.
— Você precisa vir com a gente. Não pode ficar aqui, é muito arriscado. — Diz uma Kelly angustiada.
— Tudo que eu queria era poder ir. Construir uma casa comum com uma cerca branca e passar os dias vendo nosso Jack crescer.
— Então venha, por favor. Nós podemos fazer tudo isso. — Interrompe Kelly tentando ocultar as lágrimas.
— No fundo você também sabe que eu não posso abandonar essas pessoas. Elas acreditam que eu vou protegê-las. Tenho que estar aqui e cumprir o meu dever.
— Você ainda não estápreparado. É um erro. Fuja comigo.
— Ninguém nunca vaiestar preparado para isso. Mas eu vou lutar para que o nosso filho possa viversem carregar esse fardo. Quero que ele viva uma vida normal. Sei que também é oque você quer.
A lágrimas de Kelly setornam mais expressivas agora. É claramente a tristeza de quem não quer sedespedir para sempre da pessoa amada.
— Tenho que lutar aoseu lado. Eu posso te defender, preciso ficar aqui com você e lutar.
— Não. Você precisair. O menino vai precisar de uma mãe pra cuidar dele. Sei que é difícilquerida, mas é assim que tem que ser.
— Você acha que eu não sei? Mas como eu façopra atravessar essa porta nessas circunstâncias? Eu só preciso dar um passo.Apenas um simples passo vai nos separar para sempre. Eu te amo, não posso teperder. Não vou conseguir.
— Vire as costas,olhe para o nosso pequeno Jack e se lembre que é por ele que estamos fazendotudo isso. E depois que você passar eu vou fechar a porta e tudo vai ficar bem.Vocês dois estarão juntos e em segurança. — Fala o homem com uma clara tristezacamuflada, tentando evitar tornar o momento mais difícil.
— Está bem.
Kelly dá um beijo rápido na bochecha dohomem e finalmente cria coragem para se virar. Suas lágrimas agora caem norosto do bebê que volta a chorar. Nesse momento, ela finalmente passa pelaporta sem olhar para trás.
O homem fecha aporta.
Acordo.
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