MOVIMENTO CAMISETA VERMELHA E O DESASTRE DA "FEIURINHA"

Ao receber a notícia, eu não sabia bem como agir. Não sabia se ficava contente ou preocupada... Decidi então ficar esperançosa. Quem dos fãs recentes das obras do Pedro Bandeira não sonha com um filme baseado em seus livros? É comum que a gama de leitores sonhem com uma adaptação cinematográfica, no estilo Hollywoodiano, da série "Os Karas", de "A Marca de Uma Lágrima", "O Grande Desafio", "A Hora da Verdade" e, claro por que não, também de "O Fantástico Mistério de Feiurinha", dentro muitas outras obras?

Foi uma personagem da vida real super influente quem tentou realizar esse nosso sonho, como sendo uma de nós - fã recente do autor. "Sasha", a filha muito amada dos famosos Xuxa e Luciano Zsafir, leu a história do "além do felizes para sempre" do nosso Pedro Bandeira na escola, como a maioria de nós, leitores comuns e talvez, nem tanto. Gostou tanto da história da "Feiurinha" que mostrou para a mãe, que definitivamente não é uma pessoa comum, decidindo assim investir sua produção na adaptação dessa belíssima história com a promessa de ultrapassar o sucesso de "Xuxa e o duendes" e, quem sabe, também de "Lua de Cristal", seu grande sucesso na mocidade. Como nos clássicos dos seus filmes, além da supervisão atenta da própria ainda tinha a produção de um repertório musical inédito cantado por ela mesma, é claro. 

Imagina que divertido para a antiga "rainha dos baixinhos"? Chamar as colegas de trabalho, que já estão com certa idade, para uma clássica reunião ocasional, afinal as princesas em destaque estão completando bodas de prata em seus "felizes para sempre"; voltar a se vestir de princesa dando uma ideia de "rainha" como lhe era de alcunha, quase que um pronome de tratamento; cantar para os "baixinhos" outra vez e... Ah não! Colocar a filha amada como a figura principal do título desta história. 

Xuxa enfatizou que foi o próprio Pedro Bandeira quem a sugestionou a usar a Sasha, embora haja quem possa divergir a respeito. Não falo do próprio autor, mas dizem por aí que a "Bruna Marquezine" que já era uma atriz muito conhecida e premiada nacionalmente e que também interpretou a "Belezinha", "irmã de criação" e rival de "Feiurinha" na trama era a mais cogitada para o papel. Até porque, Xuxa sempre deixou bem claro que a Sasha não estava sendo criada para seguir os seus passos na fama. 

Polêmicas a parte, até porque pouco acredito nos jornais e na grande mídia local, decidimos, alguns amigos e eu, criarmos nossa própria mídia. Criamos um blog em 2009 que compartilhava de tudo o que estava acontecendo acompanhando o excelente bom momento para o nosso Pedro Bandeira. Foi o ano em que ele se tornou autor exclusivo da editora Moderna tendo um evento elegantérrimo feito em sua homenagem e ainda seria prestigiado, tendo o seu nome muito bem exposto e evidenciado nos créditos do filme de uma das personalidades mais influentes do Brasil afora. Ah! Agora sim Pedro Bandeira será muito mais reconhecido nacionalmente e internacionalmente, certo?

"Avatar" de James Cameron apareceu na mesma época para arrebentar com as bilheterias do cinema, mas em Angola a preferência estava no filme da antiga "rainha" que batalhava por seu retorno ao trono. 

Os fãs se mobilizaram. Criamos o "movimento Camisa Vermelha" em que "os Karas" - fandom dos fãs do autor Pedro Bandeira, vestiriam uma camiseta vermelha e tirariam fotos com um "K" na mão de frente ao cinema ou cartaz do filme "Xuxa em o mistério de Feiurinha". E assim fizemos...

Apesar da esperança, o medo não saía de mim e acredito que de nenhum outro fã. Eu já tinha 21 anos de idade, minha irmã mais nova 19 e minha prima, que foi conosco, 9. Minha irmã e eu fomos por sermos fãs de longo data e minha prima por estar na idade recomendada. Quem sabe ela leria mais após o filme? Esperança... Esperança...

Já no início estranhamos e eu tive que verificar se estávamos no lugar certo. Um navio! Boa parte da história se passava em um navio! Mas, onde havia "navio" na história do Pedro Bandeira? Por que um navio? Navegar é preciso (referência ao poema de Fernando Pessoa e ao evento literário que vários escritores fizeram promovido pela livraria da vila em Maio de 2019)? Assim nos deparamos com um susto. Lá no navio estava Antônio Pedro Borges, interpretando o próprio Pedro Bandeira! Mas como assim? O livro destacava o menosprezo dos personagens ao escritor, o chamando de medíocre em vários momentos, a fim de satirizar a história. Nosso Pedro não se encaixava nessa história, mas a "Xuxa" o fez encaixar, exibindo o livro de maior sucesso do nosso autor: "A Droga da Obediência" nas primeiras cenas do filme. Ótimo! Nada de ocultar as provas de um crime!

A referência de "Caio o Lacaio" passou despercebido pelos que assistiram, algo que no livro difere. A sonoridade de sufixos torna a leitura mais atraente e gozada, além de grudar como chiclete na mente de quem lê. Interpretado por "Paulo Gustavo", o ator parecia seguir bem o seu personagem, quase ri com ele... ou dele, que seja; ao interpelar o autor escolhido para desvendar o sumiço da princesa "Feiurinha". Mas logo dele nós, os fãs, recebemos o segundo grande susto: Não era a Branca de Neve a organizadora e voz ativa das princesas e sim a Cinderela, com aqueles cabelos ondulados, sedosos e quase tão cumpridos quanto os da Rapunzel. E, adivinhem quem era a Cinderela no filme? 

As princesas, Cinderela, Branca de Neve, Rapunzel, Bela-Fera (A Rosa Moura Torta não aparece, mas a versão oficial teatral - feita pelo PB e lançado pela FTD também não, então ok)  estavam grávidas e completando bodas de prata, como seguia no livro. A senhorita Vermelho, aquela que conhecemos por Chapeuzinho Vermelho (Pedro Bandeira enfatiza o nome mais próximo do original como Capuzinho Vermelho) mantinha suas lamúrias por ter ficado para a "titia" já que nem o caçador de sua história quis saber dela. Ainda que suas tiradas engraçadas tenham sido mais contidas no longa (cadê os xingamentos a velha vovó?), Samantha Shmütz a interpretou bem e merecia bem mais destaque, que aliás lhe era cabível. Enfim, enquanto tiradas que pareciam restritas ao "super" elenco de famosos, e não pertencentes ao livro, eram enfatizados (como a Angélica, sendo Rapunzel, criticando Luciano Huck abertamente, mais do que as demais princesas já que formam um casal que todo mundo conhece na vida real); além claro de tiradas "abrasileiradas" como os "homens casados" mais interessados em jogar futebol e contar piadas ambíguas fazendo referência a escalação do time de futebol Brasileiro na época; os verdadeiros fãs do Pedro Bandeira se colocavam na dúvida quanto a história: Será que era a mesma que nós havíamos lido na infância, enquanto na escola?

Para acabar com a festa geral, apareceu a "gracinha de sogrinha". Pedro Bandeira achou interessante a criação da sogra na época de lançamento (Hebe Camargo e a referência de gracinha e da clássica sogra, que não parece gostar de nenhuma das princesas). Todas as princesas são encantadas, então possuem a mesma sogra; com exceção da Feiurinha. A "rainha mãe" chega a se questionar se tem outro filho "encantado", mas isso não passa de enrolação. Não altera em nada na história, pois quem se intromete é a "Xuxa como Cinderela" e não ela. Algo que só nos deixa mais em dúvida, afinal o filme levantou algumas perguntas que nunca obteremos respostas... Como o fato de haver outro "príncipe encantado" que foge à rainha mãe e a possibilidade da "Xuxa - Cinderela" ser sua sucessora por estar grávida do primeiro menino homem dentre as princesas.

Indo além das páginas, o filme determinou que somente a Cinderela, que é a Xuxa, teria filho homem - ou seja, continuando a linha do "encantado". Então, ela se transformará em rainha mãe? Para quais contos de fadas? Quem é a mãe do príncipe da Feiurinha??? A "dinastia encantado" poderia estar em crise? Poderia haver disputas de poder? São muitas brechas criadas em um roteiro deprimente, cujas respostas não virão, já que o filme embora relativamente assistido, não fez  sucesso. 

Os pontos levantados de dúvida só deixam o roteiro mais defasado. Afinal, um escritor tem que ficar atento a todos os detalhes que lança em sua história, não escrevendo ou roteirizando nada por acaso.

Coisas mais bizarras ainda acontecem.

De repente, Cinderela tem pesadelos com a "Feiurinha" no sofá... No sofá? Uma princesa estava dormindo no sofá? Brigou com o príncipe, foi?

Logo ela chama Lesliana Pereira, interpretando a sua fada madrinha; algo que foge das páginas do Pedro Bandeira também. Ainda assim, essa parte achei interessante. "Xuxa-Cinderela" indagando as estátuas de grandes escritores das fábulas e contos do mundo, como Esopo e irmãos Grimm, foi legal e demonstrou uma adaptação ao original do Pedro Bandeira que, por meio do escritor no livro, mandou cartas para vários outros no mundo inteiro questionando sobre a história da "Feiurinha", que ninguém conhecia. Mas, esqueçam o nome "Fadona". Que foi isso?

Por meio dessa fada, Cinderela foi ao "mundo real" usando de um "ponto final" (até rimou hehe!). Logo a confusão que ela causou por sua aparição nos fez remeter a um filme famoso da Disney chamado "Encantada" (Enchanted). Uma princesa totalmente perdida, inocente, em uma realidade em que ela seria taxada como "maluca" por andar trajada como anda, fazer coisas como "cheirar as batatas fritas de outra pessoa" do nada e pelo jeito de falar. Ainda assim, dou um ponto positivo para as tiradas de otakus, os nerds dos animes e mangás, querendo tirar fotos pensando, óbvio, que ela estava fantasiada, e outras crianças tirando sarro por não estarem em um evento do tipo e ser estranho alguém andar como ela.

Paralelo a esse mico todo, gostei do Leandro Hassun como o espelho mágico. Algo que também foge ao original. Ele é um ator comediante com tiradas interessantes, mas claro, também não foi lá muito aproveitado. "Relevem o fato dele ter sido o motorista que encrencou com a Cinderela na aparição dela no mundo real". Falta de pessoas para o elenco?

Mais um detalhe pequeno: aceitam o uso do notebook e não do papel e caneta pelo "seu Pedro", o escritor no filme? Bem, para 2009 é um item essencial, 1986 já era outra história, não é? Então ok! Vamos deixar passar essa...

Logo duas crianças apareceram percorrendo uma trilha de batatas fritas deixadas pela Cinderela e a referência a João e Maria foi levantada. Bem, não apenas isso! A própria "Xuxa-Cinderela" chama as crianças assim. No entanto, gostei das crianças e deixo mais um ponto positivo ao fato de espalharem a história da "Feiurinha" para todas as outras do mundo. Também foi graças a essas crianças, Cinderela achou o seu lacaio e o "seu Pedro".

No entanto, a cafonice parecia não ter chegado ao fim (na verdade, estava só no começo). Voltando a referência do ponto final, eis que foi estranha, afinal o "ponto final" finaliza uma história e nesta não deveria finalizar... Ou deveria? "Feiurinha" não tem o propósito do "além do felizes para sempre"? Por que o "ponto final"? Enfatizo esse ponto porque foi por meio dele que a Cinderela e, mais tarde as demais princesas, usaram como um túnel espaço-temporal entre o reino delas e o nosso mundo real. Um ponto final que leva para outra dimensão? Hein? Me ajudem a entender!

Então nos deparamos com a breguice master com o grito de guerra das princesas velhacas: "Princesas unidas jamais serão vencidas?" - Sério isso? Por que não colocaram algo mais original como "Uma por todas e todas por uma"? Não levem isso a sério, hein!

Assim outra dúvida foi levantada. A Cinderela precisou das crianças para chegar no "seu Pedro" - o escritor, certo? Como as outras princesas chegaram tão facilmente a ele?

Enfim, chegamos a "Feiurinha" quando Zezé Motha, a que interpreta a assistente do seu Pedro - o escritor, reconheceu as princesas e se pôs a contar a história; dando a clara referência do original e dos pensamentos do nosso autor favorito que diz que as grandes histórias nasceram no colo das mamães para os seus filhos e assim espalhadas. Não oriundas dos famosos autores, que apenas propagaram essas. 

Fazendo algo que eu não queria realmente, vou aderir a uma fofoca da época dos grandes noticiários para esclarecer a próxima crítica ao roteiro do longa. A resistência de Luciano Szafir em evitar que a Sasha "simulasse tirar a roupa" diante de um bode enfeitiçado e beijasse o príncipe também tirou detalhes importantes na obra do autor. Aquele fato de a "vida empurrar", "ser inerente ao ser humano", e "ignorância" é o pior, uma hora os filhos aprendem e se não forem instruídos, eles saberão sozinhos mais cedo ou não tão mais tarde...

Detalhe importante: Qual foi a do pai da Feiurinha em salvá-la do feitiço da Belezinha? Onde tem isso nos contos de fada? Isso é verdade, Pedro Bandeira? Está no livro gente? O "velho" quis mesmo se meter no meio do príncipe e da sua princesa... Hehe Pai é fogo! Hahaha 

Após toda a resolução, A Xuxa-Cinderela ainda insistia que desapareceria se o "seu Pedro" não tivesse escrito a "Feiurinha", mas acredito que a ideia do texto original não era essa. A "Cinderela"/"Branca de Neve" e outras clássicas não desapareceriam enquanto tivesse outras mamães, pessoas homem ou mulher com instintos maternos que contassem as histórias delas. Elas, princesas, não precisam dos escritores para isso... Não agradeça, então, ao seu Pedro Xuxa-Cinderela e sim a assistente dele e as outras mamães de todo o mundo.

A tirada da Zezé Motha no final, citando as "narrativas Lobatianas", foram interessantes, até engraçadas. "De contos de fada eu entendo, não disse seu Pedro?", e a dança sugestiva dos dois com os sapatos da Cinderela, sei não... Sugestivo demais para o meu e o gosto das crianças também. Deixa para lá!

Não poderia deixar de citar, rapidamente, a trilha sonora do dito filme. A música da Lua é horrorosa, perdoem a sinceridade que já me engasga há 10 anos! Oh Lua, me arranja um namorado, um príncipe encantado - tema da "Feiurinha" e o príncipe. Até minha prima de 9 anos achou ridícula! A quem a Xuxa predtendia agradar? Aos fãs do Pedro Bandeira, com certeza não; muito menos ao autor. 

Infelizmente esse grande escritor que admiramos vendeu menos edições desse clássico da literatura infanto-juvenil após esse desastre de filme e, temos que agradecer muito a "Xuxa" por ele ter desistido de vez em permitir que fizessem mais adaptações cinematográficas de seus livros. O sonho de fã virou pesadelo! 

É isso... Fiquemos com a imaginação e com a Lua de Cristal que consegue ser bem melhor que esse fiasco. Infelizmente...

Ainda assim os fãs foram aos cinemas com suas camisetas vermelhas e o "K" desenhado em suas mãos pelo Pedro Bandeira e sua incrível história que vale muito a pena ser lida e relida!

#SomosTodosKaras

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