A POLÊMICA ERÓTICA DE A MARCA DE UMA LÁGRIMA

Em 11 de Agosto de 2016 se iniciou uma polêmica imensa, e intensa, a respeito de um dos livros mais famosos do autor "Pedro Bandeira". Anteriormente, "Mariana" já havia sido taxado como "inapropriado", por alguns pais, devido ao uso de palavras como "calcinha" e "menstruação"; porém a indignação mór por parte dos fãs e especialistas veio mesmo com a "campanha de proibição" do livro "A Marca de Uma Lágrima" em um colégio católico de Belo Horizonte.

Os trechos do livro em questão que mais incomodaram os pais dos alunos de tal colégio foram: 

"Não conseguia lembrar-se do primo em meio às pálidas recordações dos garotos de sua infância. Teria sido aquele que se divertia batendo nos menores? Ou seria aquele outro que teimava em tirar sua calcinha? — Quer tirar minha calcinha agora, Cristiano?"

"Não seriam atraentes aqueles pequeninos seios que muito bem poderiam ter servido de fôrma para taças de champanhe? 'Vem, Cristiano, tomar do meu champanhe... Vem me buscar inteirinha, Cristiano...'"

"Ai, cobra e aranha, aranha e cobra, a aranha quer a cobra, a cobra busca a aranha, a aranha se debate na gaiola de vidro, vai quebrar-se o vidro, já vem vindo a cobra, vem, Cristiano, me abraça, me enlaça, me arregaça, me enleia, tateia, procura, me aperta, me pega, me toma, te amo, sou sua, estou nua, te quero, te pego, te levo comigo, me leva contigo, me faz viver, me faz feliz, me faz mulher!"  

Na época, a editora Moderna se manifestou a respeito, com o dito: "... os trechos citados pelos pais estão contextualizados no enredo da história da personagem, que vive o primeiro amor e que, dessa forma, a obra é direcionada a leitores na faixa de 12 anos, período em que, geralmente, adolescentes idealizam sua primeira experiência amorosa".

https://youtu.be/X84lkAUDmHU

Também houve respostas de pedagogos e professores de literatura em faculdades como as professoras universitárias Mônica Correia, Carolina Santana e o professor universitário e escritor Léo Cunha"A escolha deve levar em conta a competência leitora. O critério dos livros estudados em sala de aula não deve ser a idade, mas, sim, a competência leitora dos alunos" - disse Mônica. "O livro em questão conta a história de uma menina com baixa autoestima, que se acha feia, algo comum entre os adolescentes. Essas questões não têm que ser escondidas e, sim, discutidas, e o melhor lugar para isso é a escola" - expôs Carolina. "O material cultural e informativo distribuído nas redes sociais, novelas e músicas são muito mais sexualizados do que o livro, que conta uma história de romance respeitoso e com carinho. Escolheram o alvo errado" - afirmou Léo Cunha.

Quanto a nós, acham que os fãs se aquietaram diante disso? Por certo que não. Confiram uma carta aberta escrita pelo autor juvenil (e jovem também) Severino Rodrigues, com opiniões de outros fãsque fora enviada ao jornal "O Tempo", de Minas Gerais, que dava "voz" aos poucos pais que consideraram o livro inapropriado para seus filhos de 12 anos.

Carta aberta à favor da adoção e leitura da obra

"A marca de uma lágrima"

Diante da polêmica acerca da adoção do livro "A marca de uma lágrima", do autor Pedro Bandeira, em um colégio de Contagem, Minas Gerais, nós, leitores (e, atualmente, professores, pedagogos, agentes da saúde, entre outros profissionais), viemos por meio desta carta aberta nos solidarizar com o autor, com o livro supracitado, com a instituição escolar mineira e apoiar a adoção da obra como também sua permanência e, inclusive, continuidade da adoção nos próximos anos.

Nós, leitores do Pedro Bandeira, devoramos sua obra há muito tempo. Durante a nossa adolescência, livros como "A marca de uma lágrima", se fizeram presentes em nossas tardes de leitura, sendo adoção escolar ou não. E se hoje somos profissionais respeitados em nossas áreas, homens e mulheres críticos e conscientes dos nossos deveres, isso se deve à nossa formação educacional e literária que teve a marca do nosso consagrado autor. Aliás, alguns de nós ao longo de nossa formação acadêmica já apresentamos trabalhos sobre diversos livros do Pedro Bandeira.

"Este mesmo livro me foi presenteado pela minha tia, professora de Português/Inglês que o introduz para seus alunos. [...] Censurar um livro como este seria um retrocesso. As pessoas de qualquer idade têm acesso a todas as informações, seria muito melhor se pudessem acessá-las com orientação e direção". (Ana Priscília de Almeida – SP – fisioterapeuta)

Sobre a polêmica envolvendo "A marca de uma lágrima", ficamos perplexos com a matéria e com o posicionamento dos pais. Não se pode julgar nada sem conhecer seus pormenores muito menos através de trechos descontextualizados. Além disso, censurar um livro por questões que parecem da ordem do "politicamente correto" é uma postura monológica e ditatorial. Sem mencionar que um abaixo-assinado com apenas oito assinaturas é um documento muito frágil.

Acerca do conteúdo da obra, trata-se da história de uma garota, Isabel, que, ao mesmo tempo em que enfrenta as inseguranças típicas da adolescência descobre o seu primeiro amor. O livro aborda a puberdade, levando em conta o ponto de vista da personagem, seus pensamentos, sonhos e angústias. Os fragmentos criticados estão inseridos adequadamente no texto, dentro de dado contexto, como bem se posicionou a editora Moderna, não sendo, a nosso ver, problema algum ou qualquer típico de inadequação da faixa etária indicada para o livro. Além disso, a obra é uma recriação literária da peça teatral "Cyrano de Bergerac", escrita pelo dramaturgo francês Edmundo Rostand.

"O livro foi indicado pela escola, fazendo parte dos paradidáticos adotados no ano. Até quem nada gostava de ler se identificou e adorou! A adolescência é a "era da baixo autoestima" e, embora o adolescente não exponha isso, são tantas dúvidas, inquietações e questionamentos, fazendo com que essa fase seja sim muito complexa. [...] Hoje tenho 24 anos, sou cidadã de bem, estou concluindo minha faculdade de Psicologia, tenho formação em 3 línguas estrangeiras e almejo muito mais!" (Byriane Silva – CE – acadêmica de Psicologia)

É importante frisar que "A marca", foi lançada em 1985, e ganhou o prêmio APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) no ano seguinte, atestando dita qualidade literária e validando sua adoção como "o melhor livro juvenil". Inclusive, em 2012, a Revista Nova Escola, ao selecionar o que havia de melhor na estante da literatura infantil e juvenil brasileira, indicou a leitura de "A marca" como um dos 100 livros infantojuvenis considerados imperdíveis.

O livro ao longo desses 30 anos de publicação já vendeu mais de 1 milhão de exemplares. Mas, sobre esse número, o mais significante é saber que ele representa praticamente adoções em escolas. "A marca" não é um livro que fica nas vitrines ou nas conhecidas rodas das grandes livrarias. É a adoção escolar que, ao longo de décadas, consagra e indica os já clássicos da literatura juvenil brasileira, que construíram inúmeros leitores, hoje professores e pedagogos, que seguem adotando a obra do Pedro Bandeira.

"Eu era muito nova quando li A Marca de uma Lágrima, estava aprendendo a gostar de ler, e como é de se esperar, lia como se fosse a Isabel, e nem por isso o livro me incentivou de forma negativa, ou a fazer escolhas que talvez meus pais não aprovassem, pelo contrário".(Keren Hapuk – São Paulo – atuante em finanças)

A construção da identidade, do caráter e da personalidade de uma pessoa, depende de um conjunto de fatores sociais e históricos. Por isso, sugerimos aos pais assinantes do documento que, ao invés de exigir de modo impositivo a retirada do livro (ameaçando retirar o filho da instituição) que leiam em conjunto com seus filhos a obra e discutam com eles (lembrando que discutir não é impor uma visão pré-concebida) sobre a qualidade da obra. Por sinal, ler junto com os adolescentes é algo que deve ser valorizado. Ler junto com os filhos somente na infância é muito pouco. Os laços familiares, o carinho e a fraternidade devem ser reforçados ao longo de todos os anos. Afinal, filho é para sempre.

"A marca pode e deve adotada em escolas. Isabel, a protagonista, metaforiza o adolescente contemporâneo com seus dilemas, medo e inseguranças. A puberdade traz consigo uma avalanche de novas informações e ter a escola como mediadora nesse processo é de fundamental importância. Isso tudo, sem falar as abordagens interdisciplinares que o livro possibilita". (Severino Rodrigues – professor e escritor)

A fim de reforçar o que dizemos, destacamos ao longo desta carta depoimentos de cidadãos sobre a obra. Vale frisar, que nenhum de nós é parente do autor ou possui qualquer tipo de vínculo empregatício e/ou profissional com a editora Moderna.

"Me coloquei diversas vezes como personagem dos livros do Pedro Bandeira e nenhum me influenciou de forma negativa na vida. Pelo contrário, me tornaram a mulher que sou hoje, que luta por coisas justas e que não se conforma com injustiças ou que tudo tem que estar como está. Os livros do Pedro me tornaram uma pessoa crítica, construtora e lutadora dos meus direitos e ideais". (Elisângela Andrade – SP – professora)

Por fim, mais uma vez, nos solidarizamos com o autor, com a editora, com a instituição escolar de Contagem (inclusive seria com muita alegria que nossos filhos pudessem sempre contar com a obra do Pedro Bandeira sendo adotada pela escola). Agradecemos a leitura da carta e nos colocamos à disposição para maiores esclarecimentos, se porventura considerarem necessário. Também pedimos que o jornal O Tempo, adotando um posicionamento dialógico e igualitário, dê voz aos leitores e profissionais adotantes da obra, podendo reproduzir, inclusive, esta carta aberta nos seus veículos impressos e/ou digitais.

Atenciosamente,

Grupo de Leitores do Pedro Bandeira.

E vocês leitores? Já leram "A Marca de Uma Lágrima"? Antes de vocês opinarem, por fim, vejam a resposta curta de nosso Pedro Bandeira, com seriedade e humor claro, a respeito: "Primeiramente, peço que me respeitem. Sou um autor que explora o erotismo sim, porque é competente do ser humano. Porém me dedico a direcioná-lo para a idade correta. Ou pensam que seus filhos não brincam de médico com o vizinho?" - Esse é o nosso autor! Hehe \o/

#SomosTodosKaras


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