A FALTA DE POPULARIDADE DE CALÚ - O ATOR DA SÉRIE OS KARAS [CONTÉM SPOILERS]

Sempre haverá no leitor a afinidade maior com um personagem de ficção. O fato é que, em sua maioria, o que mais temos visto nos leitores dos "Karas", aliás, é a discrepância nas preferências de seus favoritos. Sim! Estamos falando dele! Aquele do título deste texto!

Afinal, por que o Calú, o ator bonitão da série "Os Karas de Pedro Bandeira", é o menos popular dentre a gama de fãs do autor e sua série?

Um personagem que tem todo o arquétipo do ser perfeito e popular, o sonho adolescente de qualquer um, com uma legião de amigos e pertencente a um seleto grupo de jovens especiais, que são os próprios "Karas", claro; com talentos únicos e incomparáveis em seu meio... Alguém que tem o coração tão devoto e altruísta quanto qualquer um dos amigos e, por vezes, parecendo até um pouco mais.

Calú apareceu em "A droga da obediência" como o primeiro a ser convocado por Miguel para a reunião ultrassecreta do maior caso que eles enfrentariam até então Sim! Não foi Crânio ou Magrí os primeiros apresentados ao público! Aliás, se não fosse toda a dramatização de Miguel com a situação do caso, ele seria o único dos Karas, sem incluir o líder óbvio, a figurar na primeira página das primeiras edições do livro escrito há 35 anos atrás (1984). No entanto, há de se notar algo relevante. O parágrafo de rápida apresentação do Calú é bem menor comparado aos de Crânio e Magrí, apresentados logo em seguida.

Apesar da dramaticidade pertencer a atuação, e Calú ser o ator, concluímos que é o que menos o envolve comparado aos demais.

Pedro Bandeira pode ter esquecido esse detalhe importante referente a primeira aparição do nosso talentoso Calú. Dando um salto para o sexto livro, "A droga da Amizade", Calú é o último dos Karas a ser rememorado, não incluindo Peggy e já incluindo Chumbinho, o único a entrar de "penetra" no grupo; este que é o terceiro a ser apresentado, logo após o Crânio e o próprio líder Miguel.

Voltando para "A droga da obediência", por ser o primeiro livro da série também é o nosso "cartão de visitas". O que pudemos saber e ver sobre o Calú? Listemos:

* Que ele era o principal ator do colégio em que estudavam: fato exposto em seu parágrafo de apresentação;

* Que ele imitava muito bem vozes diversas, não importando se fosse homem, mulher, criança, idoso, voz filtrada, etc: ele imitou adultos como os próprios pais e dos amigos, policial-chefe e o mais importante, imitou o próprio Doutor QI com voz distorcida a fim de enganar e fazer toda a tropa do feroz inimigo chefe se render;

* Conseguia se disfarçar e disfarçar os outros perfeitamente, com alta habilidade em fazer maquilagens: Calú se disfarçou de empregada em sua própria casa enganando detetives e também disfarçou os amigos para não serem reconhecidos pelos inimigos em outras escolas, enquanto investigavam;

* Que ele tinha senso de humor e certa peripécia característica, algo que foge a seriedade apresentada por Miguel, Crânio e a intempestiva e única menina no grupo até então - Magrí: ele achou divertida a introdução feita ao Chumbinho, participando ativamente da "cerimônia de aceitação dele ao grupo", fez comentários sem muito pudor sobre a Magrí ao Crânio, enquanto todos estavam extremamente tensos com os acontecidos graves e recentes no colégio deles; o que não o deixou perder a seriedade quando teve que agir como um "Kara" e desarmar um bandido distraído ao final da trama.

Fatos sobre sua aparência, o que pode chamar mais a atenção do público diverso, foram enfatizados mesmo no livro três, "Anjo da Morte", que por sinal é o livro do seu "destaque". Enfatizando que, quando falo de "aparência", estou dizendo que se trata do momento em que é mencionado de fato que ele é o "mais bonito", nada além disso. Não sabemos como são seus olhos, cabelos, boca, nariz, nem nada restante e relevante, apenas que ele é o "mais bonito", algo que esperamos do autor Pedro Bandeira desde sempre - não grandes revelações de características físicas dos personagens, principalmente dos "Karas". Isso pode ser algo que deixa o leitor atual um tanto frustrado. O estímulo visual gera muita atração! Quem nunca ouviu a expressão de "não julgue um livro pela capa" e, ao mesmo tempo, é o que primeiro fazemos? É o chamariz inicial de um livro, não? Ainda bem que os fãs dos Karas pouco se importaram com isso, certo? As capas da série nunca foram as melhores, mas enfim...

Em conversas com a nossa designer favorita, "Belatime", a que tem feito essas ilustrações belíssimas que vocês têm visto ao divulgarmos os personagens em nossas redes sociais e vídeos, ela afirma que o "Calú" é o mais curtido; algo que nos leva a pensar que, assim como ela sugeriu, se a imagem do Calú fosse inteiramente descrita, ele poderia fazer tanto ou mais sucesso que Miguel e, talvez, até que o próprio Crânio, quem tem sido o mais popular dos "Karas" dentre os fãs na atualidade.

Calú pode ter recebido pouca atenção, mas as mínimas aparições que ele teve mostrou um ser praticamente perfeito. Apesar de a intenção do Pedro Bandeira era de fato criar personagens perfeitos, ele deixou que fraquezas estivessem presentes entre eles, mas não muitas em Calú. Quando pensamos, por exemplo, que em "Anjo da Morte" ele agiria com o coração e faria algo contra o verdadeiro assassino do seu professor e ator de teatro "Solomon Friedman", ele não o fez. Calú concordou com os amigos, ainda que com muito pesar.

Vocês podem estar me questionando a respeito de "Pântano de Sangue" e a causa d'eu nada ter dito de Calú quanto ao livro. A relevância do nosso ator nessa trama é tão curta que, se não contarmos a atuação rápida dele com a tia Matilde e suas conclusões erradas, nada temos a declarar. Todas as características iniciais do nosso grande ator adolescente acaba sendo bem menos aproveitada que no livro um e isso, não apenas nesse segundo livro, mas ao longo de toda a série. Calú também não demonstrava nem mesmo inclinação por Magrí ainda, enfatizo a única menina do grupo até então.

Já mencionamos a importância de "Anjo da Morte" para a sua justificativa no seleto grupo, de fato. Percebam bem, Crânio ganhou destaque antes dele com "Pântano de Sangue", sendo o segundo livro da série, apesar de não ter sido essa a ordem de apresentações no primeiro livro como descrito em alguns parágrafos acima. Porém, mesmo em seu "livro de destaque" o papel de coadjuvante por vezes lhe soou. Recebendo opiniões de internautas diversos, percebi que a atividade do Calú se concentra mais nos "bastidores" do que na cena de fato; seja maquiando, disfarçando ou imitando. Vocês, que leram esse terceiro livro, se lembram quando foi Chumbinho, o "Esperado", quem interpretou o personagem principal do combate a um grupo neonazista e narrou um discurso comovente? Não foi Calú, aquele que se disfarçou de Hitler e nada disse, apenas fez um gesto com os braços ao final do dito pelo pequeno e comovente orador. Não foi nem mesmo Calú quem solucionou o caso principal.

Nas edições mais recentes, de uns 15 anos para cá, percebemos as mudanças sutis no texto (e outras nem tanto, convenhamos) nesse terceiro livro da série. Pedro Bandeira suscita a possibilidade de Calú e Magrí enfim. O grande beijo entre os dois não aconteceu nas primeiras edições do mesmo livro, como nas edições mais recentes, então qual foi a jogada? Talvez Pedro Bandeira quisesse despertar nos leitores o interesse maior em saber com quem Magrí iria ficar. Percebam então! Magrí era a importante nesse caso! Ninguém mais! A disputa em três pode ser mais interessante do que em dois. O problema é que, como dito anteriormente, "A droga da obediência" foi e é o cartão de visitas e ali só vemos "Crânio e Magrí", mesmo com os comentários fora de hora de Calú, nada mais podemos notar que foge desse casal. Crânio com evidência extrema gostava da Magrí e tudo indicava que era mútuo. Calú foi atirado nessa disputa pelo coração da garota tarde demais e Miguel parecia mais preocupado com os dilemas do mundo do que com os próprios sentimentos; não daria certo entre os leitores como ainda não tem dado... Precisamos de explicações, Pedro!

Voltando ao talentosíssimo e belíssimo ator dos "Karas", sua humanidade é exposta em seu extravasamento de sentimentos. Em "Anjo da Morte" ele penou muito com a perda do "grande Sol" e no início de "A droga do amor", com instintos despertos para o amor, notamos de modo bem nítido seu interesse por Magrí. Como foi o próprio Pedro Bandeira quem me contou isso e, minha eterna inocência não teria notado, eu conto também para vocês que provavelmente em sua maioria também não perceberam (se forem menores de 12 anos, não leiam!): Há a descrição, sem menção de fato do fato, do Calú estar se masturbando enquanto pensava na Magrí.

Em mais conversas com os diversos leitores, achei interessante o fato de dizerem que, apesar de ser "ator" e ser o que mais deveria demonstrar "sentimentos", não é o que ele faz. Também concordamos que, se pesarmos todas as histórias, ele é o que menos tem destaque. Enfim, eu penso que, talvez exatamente por ser "ator" Calú prefira demonstrar seus sentimentos no privado, longe dos amigos e assim usar de suas máscaras de atuação no e na fronte, por mais ferido que ele possa estar. Magrí o "encurralou" choroso em um canto do colégio no terceiro livro, escondido de todos! Calú não demonstrou, ao longo da série, as fragilidades que o Crânio e o Miguel demonstraram em praticamente toda ela. Fragilidade é atrativa ao instinto materno e o fato do "Crânio" ser o mais inteligente chama a atenção dos garotos que o estão lendo. Miguel é o líder, o principal mesmo quando o livro não é para ser o seu de destaque, demonstra um amor incondicional por eles e pelo colégio no qual também é o líder dos estudantes. É difícil competir! Magrí, como já mencionada, era a única garota no grupo até o quinto livro da série. A única a quem o público feminino poderia se inspirar e o masculino se apaixonar. Chumbinho tomou o lugar do "Calú" na diversão e sua sagacidade e estilo sapeca chegava até a irritar o nosso personagem em análise. O que sobrou para o nosso ator?

A disputa por Magrí estava aniquilada para si. Lembram-se quando Magrí criou um "código" em "Droga de Americana!"? Foram os nomes de Miguel e Crânio os envolvidos, não o de Calú. Essas nuances nos levam a crer que o autor já o via há muito fora da disputa por ela. Ainda assim, ele era o "Kara" mais bem encaminhado de toda a turma, pois já tinha contatos com profissionais do teatro (como o grande Sol). Tinha tudo para ter boas relações com qualquer um do colégio Elite, local em que estudavam. Calú, então, nos foi apresentado como o mais seguro, confiante e perfeito dos "Karas". Não tinha nada mais que pudesse faltar, que não fosse o amor da sua amada. Algo que, sabemos, foi logo resolvido no quinto livro, "Droga de Americana!" e confirmado no sexto "A Droga da Amizade". Encerrando sua perfeita vida, e seu perfeito ser, com a filha do presidente dos Estados Unidos formando uma família invejável; foi o único dos Karas contando com Peggy, sua esposa e membro dos Karas aceita no final do quinto livro, que foi mencionado ter tido um filho. Também era o melhor em sua carreira, ganhando diversas premiações e engajado nos serviços beneficentes e comunitários; o que lhe resta?

Talvez o fato do Calú não ter persistido em seus sentimentos por Magrí também tenha incutido nos leitores uma sensação de traição do personagem. Ele havia declarado amar a garota e brigou com os amigos por isso, no entanto foi só aparecer uma novata rica, poderosa e famosa, pouco depois, para seu coração mudar de lado. Sei que a Peggy foi importante para a sua vida perfeita, mas os leitores são rígidos nos julgamentos de seus personagens e análise do caráter que; em se tratando dos Karas, tem que ser mais que humano. Tem que ser perfeito!

Claro que o leitor ficou feliz por Calú, gostou dele, há quem o ame mais do que a todos. Mas lá no íntimo, nossos pensamentos se voltam para os demais e suas complexidades nem sempre perfeitas, que os tornam palpáveis. Questionamos os posicionamentos de Miguel, pois este era o que mais se expressava. Queremos abraçar, colocar no colo e fazer experiências com tubos de ensaio com o Crânio, pois seus dilemas amorosos e sua timidez são bem mais conhecidas pela massa da população real; até porque nem todo mundo alcança um "felizes para sempre" como ele não alcançou. Ansiamos pela enfim decisão da Magrí para o que é melhor para a união dos "Karas" e para o seu coração de adolescente apaixonada, que ama e sofre por todos os seus amigos. Queremos ter um irmão caçula como o Chumbinho que é peralta e sabe tudo sobre tecnologia podendo nos divertir e ajudar ao mesmo tempo. Mas Calú não precisa do nosso anseio de leitor... Não... Ele não precisa! Ele parece o típico "Idol" intocável, inatingível e de longo alcance, como a estrela mais brilhante e mais distante. Aquele que tem tudo para ter tudo - e de fato teve!

É por tudo isso que ele é o mais especial da turma dos Karas, ainda que não o mais popular dentre nós, os fãs. Que tal o desenvolvermos mais em nossa imaginação e equilibrarmos sua relevância com os demais?

Conte-nos o que acharam de todo esse exposto, Karas!

#SomosTodosKaras


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