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- PERSEGUIDO -

Ofegante, ele não sabia mais para onde fugir. Uma parada de no máximo um ou dois minutos era tudo que tinha após lhes acertar aquele último ataque. Já nos limites do vilarejo, o garoto reverso arfava com as mãos apoiadas sobre os joelhos dobrados, escondido atrás do uma parede de pedras do que um dia deveria ter sido alguma espécie de torre de vigia ou guarida de pedágio, mas que agora se mostrava só uma construção decaída.

Ele quase engasgava ao puxar o ar comprimido dos pulmões, como se tentasse inalar mais oxigênio do que podia respirar. Seu coração estava tão acelerado que mal conseguia senti-lo bater, afinal, vinha correndo por entre ruelas movimentadas e saltando sobre telhados e muros por mais tempo do que poderia contar. Sua franja de pesados cabelos negros que cobria um dos olhos estava encharcada de suor assim como o resto de seu corpo, vestido com aquelas roupas surradas que por pouco podiam ser comparadas a trapos.

Seus ossos ardiam, cada músculo seu tremia fraquejando e não havia uma parte de seu corpo que não estivesse doendo. Nem sequer tinha se curado dos ferimentos de dois dias atrás, cujos danos foram bastante graves. Aquilo nem poderia ser chamado de luta; foi uma verdadeira surra onde o garoto terminou com uma espada celestial atravessando o meio de seu peito e brutalmente lhe tirando uma de suas nove vidas.
Sem contar a fome e a sede - há três dias não comia nem bebia praticamente nada. Sua garganta estava queimando, engolir a própria saliva era como engolir ácido, a vista falhava, e ele se sentia zonzo.

A quem queria enganar? Semideus ou não, estava ciente de que não aguentaria fugir por muito mais tempo. Chegara ao seu limite em todos os sentidos. Olhando para a mão trêmula com a visão turva, ele sabia que só lhe restava magia o suficiente para mais um golpe final. De repente ouviu vozes, e o som de dezenas de passos acelerados e furiosos se aproximando. Havia luzes ao longe; eram faróis. Com certeza pediram reforços para cercá-lo em veículos naspeedars.

Era impressionante o fato de que três dúzias de soldados da guarda real não foram o bastante para capturar um felin adolescente. E dessas três dúzias, um terço já estava morto graças a seu último ataque, afinal, o adolescente perseguido em questão tratava-se do semideus arquemônio daquela Era e o próximo Lorde das Trevas – e Devimyuu Nekohashi jamais se entregaria facilmente.

O rei Mewpester estava determinado a trazer o jovem arquemônio de volta ao seu castelo, e para isso ordenou que seus guardas caçassem incansavelmente seu tão importante fugitivo. Não importa quantos deles Devimyuu matasse ou onde se escondesse - Mewpester nunca desistiria; se fosse preciso mandaria todo o exército real perseguir o garoto para trazê-lo de volta. Porém, o futuro Lorde das Trevas tampouco desistiria de fugir daquele verme desprezível que se encontrava na posição de rei, nem que perdesse suas oito vidas restantes para isso. Devimyuu preferia morrer permanentemente do que voltar a ser prisioneiro de Mewpester.
A horda de soldados estava cada vez mais perto, dava até para sentir o solo tremendo com a aproximação violenta deles. Devimyuu tinha que pensar em alguma coisa e rápido.

- Ele está aqui! - Gritou uma voz vinda do alto. Alguns dos soldados que eram biotipo Alado tinham o localizado.

Cinco deles pairavam acima do garoto arquemônio, e dois ali eram mestiços de biotipos Alado e Fogo, o que era uma grande desvantagem para o jovem mágico. Com suas asas flamejantes, eles atiraram bolas de chamas contra Devimyuu, que foi obrigado a criar um escudo de sombras para conseguir escapar, amenizando o impacto dos golpes.
O semideus das Sombras pôs-se a correr novamente, embora não lhe restasse muito mais fôlego nos pulmões ou força nas pernas para fazer isso. Se ao menos conseguisse atingir sua transformação divina ele poderia voar, porém, desde que desenvolveu sua metaforma só tinha a alcançado uma única vez, e nem sabia direito como.

Os demais guardas alcançaram uma distância bem próxima a ele, e agora havia bem mais que duas dúzias. Seus perseguidores dobraram de número, e seguiam correndo e atacando ao mesmo tempo.

Mewpester sabia que nascido um semideus arquemônio, Devimyuu possuía mais de uma vida, portanto deu ordem aos guardas que usassem força letal, aproveitando dos sete minutos que levaria para regenerar-se da morte, a fim de capturá-lo e prendê-lo.

Quando viu a quantidade de guardas atrás de si, Devimyuu arrepiou os pelos e arregalou seus olhos dourados, disparando em fuga com toda a força que lhe restava. Ele não tinha medo deles, mas também não tinha recursos para enfrentá-los. A sensação de que o fim se aproximava crescia a cada instante. Além de correr, ele ainda tinha que evitar ser atingido por bolas de fogo, raios de gelo, tiros de blasters e lanças de metal afiado que despencavam pelo céu em sua direção.

Seria impossível desviar de tantos golpes ao mesmo tempo, ainda mais correndo por aquela área descampada. Não restou escolha ao próximo Senhor das Trevas a não ser conjurar um campo de força de sombras ao redor de si, enquanto fugia em meio aquele pandemônio de ataques que destruía o campo ao seu redor. Contudo, com sua magia quase chegando ao limite, sua barreira de proteção sombria não resistiria por muito tempo; e Devimyuu também não.

A perseguição se dava no meio da noite. Estava um breu, mas por sorte, felins enxergavam muito bem no escuro, principalmente o Lorde das Trevas. Correndo em direção norte, ele não sabia mais o que fazer, ou para onde ir exatamente. O menino seguia totalmente guiado por seus instintos.

"Kinmyuu desgraçado! Eu vou morrer graças a você outra vez! Traidor maldito! Isso é tudo culpa sua! Eu te odeio! ODEIO!"

Isso era tudo em que Devimyuu conseguia pensar enquanto fugia. As lembranças de Kinmyuu - o aclamado Príncipe da Luz e sua contraparte - o imobilizando para que uma de suas vidas fosse tirada, enquanto ele implorava para que esse mesmo príncipe que prometeu jamais abandoná-lo o salvasse, eram uma imagem fixa em sua mente. Uma imagem que alimentava sua dor e seu ódio, no intuito de sobreviver para se vingar; para um dia fazer com que Kinmyuu pagasse com lágrimas de sangue tudo o que lhe fizera sentir.

Um vento gelado cortante batia contra seu rosto e jogava seus longos cabelos para trás. Teriam brotado lágrimas em seus olhos se seu corpo não estivesse tão desidratado e seu coração tão repleto de mágoa pelo semideus da Luz em quem pensava.

Suas forças estavam acabando, ele mal conseguia respirar e logo suas pernas falhariam. Devimyuu corria de olhos fechados, mas resolveu abri-los. O que quer que fosse fazer, teria que fazê-lo agora. Então ele viu - a sua frente estava um desfiladeiro, e ao fundo dele o que parecia ser uma extensa floresta, cujas pontas das coníferas mais altas podiam ser vistas sob a luz do fraco luar avermelhado do Mundo Reverso. Uma ideia insana lhe veio em mente. Eram poucos segundos para tomar uma decisão. Encurralado entre a guarda real e a floresta, só sobrara ao jovem arquemônio uma única opção, e ele já estava decidido quanto a ela.

- Tem um desfiladeiro a frente! Ele não tem saída! - Exclamou um dos soldados alados, alertando o capitão do regimento perseguidor através do rádio.

Todavia, Devimyuu tinha sim uma saída. A única que lhe restava. Semideuses obviamente dispunham de maior resistência, sendo assim, mesmo quase vomitando de exaustão, sem nem saber de onde ele puxou o resto da força que remanescia em si e tomou um forte impulso. Os soldados pensaram que ele fosse parar, porém estavam enganados.

No Próximo:

Disposto a tudo para não ser capturado novamente, Devimyuu opta pela única e ousada rota de fuga que lhe resta. No entanto, será que seu ato desesperado será o bastante para fazer desistir a guarda do rei assassino que o persegue?

Descubra o que espera por Devim na parte 2 logo a seguir, e espero que tenha gostado do nosso tenso primeiro capítulo!

Obrigada por ter lido!

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