nós vamos matar ten do coração
— Merda! — exclamo ao abrir a porta. — Sério mesmo, Yuta?
— Ué, tá reclamando por quê? — ele sorri e se aproxima de mim para arrancar o cigarro da minha mão. Sem nem ser convidado, o banana entra no meu apartamento após tirar o tênis dos pés. — Já mandei você parar de fumar.
— Quem tá pronto para a pa-pa-party? — do nada, Dodo surge do corredor usando um chapéu bucket tie dye, crocs e bermudinha. — Vamo agitar isso daqui!
— Caramba, Dodo, você é tão brega! — eu rio do seu outfit.
— Cala a boca, eu te criei! — o bendito tira as sandálias e entra no meu apê também. Então eu fecho a porta. — Por que não está vestido para a festa?
— Já estou — eu digo, mas estou indo arranjar outro cigarro, já que Yuta fez o favor de apagar o que eu estava na mão. Eu sempre aproveito quando não tem ninguém para me repreender.
— Ah, agora que vi sua bermudinha jeans — Dodo ri como se fosse uma coisa grandiosa. Mas talvez seja, eu mal uso roupas mais curtas, sendo honesto. Prefiro calça, independente do tecido. — Está muito lindo.
— Obrigado — uma vez que achei um maço de cigarro numa gavetinha da bancada, falta agora encontrar um isqueiro. Não é muito difícil, porque eu tenho uns três só na sala. — Estou nervoso. Sabe, sobre a dança...
— Você fica nervoso com tudo — Yuta se joga no meu sofá e só quando ponho o cigarro na boca que eu vejo que ele está com uma caixa de som igualzinha aquela que levou na despedida de solteiro do Kim. — Relaxa e confia aqui no pai. Eu vou estar com você.
— Mesmo assim, porra — minha fala sai toda embolada, uma vez que ainda estou com o cigarro na boca e tentando acender a droga do isqueiro que se recusa a me ajudar. — Eu soube que ele não vai chamar só a gente. Vai ter uma galera de fora. Ele conhece essas celebridades, vai que do nada uns cantores famosão aparece lá pra me ver passar vexame?
— Taeyong não sabe mais o que é singular e plural — Dodo observa. — Você precisa beber. Algo forte, de preferência.
— Tequila ou uísque. Qualquer um dos dois funciona — é o que Yuta sugere.
E então, de repente, começa a tocar Waka Waka (ou sei lá qual o nome da música) da Shakira, de alguma copa do mundo aí. Finalmente eu acendo meu cigarro e fico olhando Yuta furiosamente.
— Desculpa! Eu botei pra tocar já tem bastante tempo, mas a caixa tá meio dodói, sabe? Ela tá com um puto delay, não posso fazer nada — o maldito dá de ombros.
— Enfim — deixo o isqueiro em cima da mesinha de centro e me sento ao lado de Yuta. Tiro o cigarro da boca e ponho para fora a fumaça. — Estou um caco, preciso fumar.
— Já fumou quantos hoje? — Doyoung questiona, olhando-me atentamente como se fosse um assunto extremamente delicado. Não é.
— Sei lá — dou de ombros. — Uns três? Eu não sei, realmente.
— E vamos de tirar seu cigarro de novo — Yuta tenta pegar da minha mão, mas eu mordo o pulso dele. — Credo, seu monstro!
— Ninguém mandou me provocar — reviro os olhos. — Vamos logo? Quero chegar cedo para ajudar Ten no preparo das coisas. Ele disse que vai ser uma festinha lá em cima, com poucas pessoas, terá bebida a vontade e o prato principal será pizza, mas que vai ter outras coisas também. Eu acho que não vou entrar na piscina, porque deve estar fria, mas vai ser legal tirar algumas fotos perto dela.
— Uh, Tae... O Jaehyun vai estar lá? — a hesitação de Doyoung ao falar me isso me deixa alerta, atento, observando quietinho. Não sou o único. Até Yuta aperta a caixa de som contra a barriga para abafar o som. — Só pra saber mesmo...
Eu trago umas duas vezes, tudo isso com os dois em silêncio. Yuta bate no botão para desligar o som, no mínimo, mas sete vezes. Após dar um murro na caixa, ela para de tocar. E então, eu trago mais ainda o meu cigarro e solto uma lufada que preenche a nossa região da sala.
— Qual foi do silêncio, galera? — Dodo finalmente questiona.
— Sei lá. Eu tô calado porque o TaeTae tá calado — Yuta mente tão bem que eu quase acredito.
— Ele não vai colar lá na festinha do Ten — eu digo, já que Ten me contou ontem à noite por mensagem. — Vai ver a mãe ou algo do tipo.
— Ah, entendi.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Tempo demais para nós três. Normalmente não paramos nunca de falar e de repente o silêncio tomou conta da sala. Eu só me inclino, dou batidinhas no cigarro sobre o cinzeiro em forma de concha (meu favorito) e volto a me encostar no sofá para fumar mais. Percebo o Kim girar o tornozelo esquerdo sem parar. Acho que está meio nervoso.
— Dodo... — eu começo.
Yuta arregala os olhos e põe a mão no meu colo, como quem pedindo para eu ficar quieto.
— O que vamos levar para a festa? — Nakamoto me interrompe. — A não ser música boa da minha caixa de som que funciona perfeitamente.
— A gente pode levar essas batatas congeladas para batata frita, né? — Dodo responde.
Eu fico olhando para Yuta, incomodado, mas sua expressão é leve e divertida. Ele não quer quebrar o clima da festa e provavelmente não acha uma boa ideia eu tocar no assunto dessa maneira. Só acho injusta a situação e não aguento mais. Alguma coisa tem que acontecer. Não dá pra fingir que ele não está interessado no Jaehyun, assim como também não dá para fingir que ele não machucou profundamente a Minyoung.
— Se fizermos isso, nós vamos matar Ten do coração — também mudo de assunto, já que não tenho muita escolha. Não há como falar sozinho sobre um assunto. Quer dizer, tem sim. Mas é que eu queria mesmo um diálogo. Nunca tenho.
— Por quê? — Dodo quer saber.
— Ele não gosta de coisas prontas. Ele faz tudo. Molho, corte, pipipo... Eu sei lá, não sei muito de cozinha. Mas ele faz tudo. É muito dedicado...
— E gostoso — completa Yuta.
Dodo faz uma careta para o japonês e eu me viro com sangue nos olhos.
— E o quê? — pergunto, indiretamente pedindo para ele repetir.
— E estiloso — Yuta sorri todo escancarado e fico com raiva quando ele faz isso, porque joga minhas preocupações no lixo e me faz querer me jogar sobre ele enquanto rio e tento lhe dar um soco na cara.
— Ah, que bom — dou um tapinha no seu ombro e ele sorri. — Gente! Fofoca!
— Puta merda, meu dia ficou 100% melhor — Dodo, que estava com uma bolsa no ombro, simplesmente deixa ela cair no chão e vem correndo sentar do meu outro lado no sofá. — Conta!
— Eu e Ten fomos ao motel ali — vou contanto.
Dodo pega minha mão e aperta, animado com a notícia.
— EU NUNCA FUI TRISTE! — ele grita que nem um doido, tanto que eu ameaço não contar mais se ele continuar assim. — Tá bom, eu vou ser menos barulhento.
— Conta logo — Yuta sacode meu ombro direito, já que ele está desse lado.
— Só isso — sorrio que nem uma criança pirracenta, inclusive balanço as perninhas feliz pela minha façanha.
— Conta! — Yuta joga o tronco sobre meu colo e se remexe todo. Por fim, acaba deixando a cabeça ali e eu faço um carinho no seu cabelo.
— O que mais acontece num motel que não seja sexo? — reviro os olhos, e mesmo assim sinto Kim apertar minha mão por pura animação. — Ele escolheu a suíte mais cara, a de luxo.
— Uiii — Yuta brinca. — Que delícia, fiquei arrupiado!
— E fizeram em quais lugares? — Dodo é tão apressado que nem me deixa mais chocado.
— Por que quer saber?
— De. Ta. Lhes — Kim ri, mostrando seus dentinhos fofos.
— Na cama, obviamente. Quais lugares mais seriam?
— Uhum... Sei... — o olhar de Yuta é bem autoexplicativo: ele sabe que estou mentindo.
Solto um suspiro de derrota.
— Cama, banheira de hidromassagem e na mesa — falo baixinho e tão rápido que me questiono se realmente falei ou não.
— Finalmente os mimos! — Dodo finge que está chorando e isso me deixa irritado, porque faz parecer que não conto as coisas a eles. Na verdade, eu conto tudo. Só não entro em muitos detalhes.
— O namoro de vocês é entretenimento para mim — Yuta confessa, ainda sorrindo como se não tivesse intenção alguma em parar.
— Mas, escuta! — afasto minha mão dos fios de Yuta para soltar alguns estalos dos dedos. — Gente... eu tô desconfiando de um negócio envolvendo Ten...
— Taeyong, eu to colapsando! — Dodo aperta tanto minha mão quee, quando olho, meus dedos estão vermelhos e parecem que vão explodir. Afasto minha mão com uma cara de repreensão. — Tá, desculpa.
— Não posso falar, é algo da intimidade dele — cruzo os braços.
— Fala logo, seu cachorro, para de nos atiçar! — Yuta aponta para mim e eu acabo rindo.
— É que teve uma hora que eu tava, tipo... — tento pensar numa maneira leve de falar. — Sabe, eu tava comendo...
— Comendo o Ten? — Dodo pergunta. Enquanto isso, Yuta ri.
— Comendo mesmo, comendo comida, seu animal! — dou um peleco na sua testa só pra ele se tocar. — A gente pediu algumas coisas.
— Mas comida de motel é cara para cacete— puntua o japonês.
— O Ten que bancou tudo. Bancou tudinho mesmo, até sobremesa.
— Com sobremesa você quer dizer... — Dodo forma uma expressão totalmente maliciosa e depois faz um gesto autoexplicativo com os dedos. Não quero nem descrever.
— Eu quero dizer uma torta de chocolate, seu maníaco!
— E que porra de fofoca é essa que só envolve comida e nada de sexo? — Dodo agora parece bravo, mas de um jeito bem engraçado, porque é puro drama. — Eu quero saber do seu diabo no diabo dele.
— Kim Dongyoung! — Yuta se levanta do meu colo só para olhar o moreno e repreendê-lo pela fala. — Seja mais sutil, por favor?
— Desculpa. Retiro o que eu disse — ele faz um gesto de X com os braços e depois inclina a cabeça para o lado com um sorrisinho safado. — Mas e aí? Teve o quê?
— Eu não sei, foi estranho. O Ten estava me olhando fixamente e olha que eu estava todo distraído, mas percebi. Quando olhei para ele, estava numa vibe bem sexual, parece que ele tava me engolindo só com o olhar. Tudo bem que havíamos acabado de transar e bateu uma fome do cabrunco, mas não tinha bem um porquê de ele estar me olhando como se eu fosse o ser humano mais gostoso do mundo. É só que foi estranho. Ainda mais porque eu tava todo melado de chocolate, porque eu percebi que às vezes como que nem criança.
— Vai ver que a fome era tanta que ele teve um delírio e, ao invés de te ver, ele estava vendo uma barra de chocolate e estava doido pra te comer — o comentário de Doyoung me deixa metade assustado metade preocupado.
— O que te fez pensar nisso? — viro-me para olhá-lo.
— Era o tipo de coisa que acontecia em animações antigas — Kim dá de ombros e eu me viro para Yuta, cuja única ação neste momento é cobrir o rosto de vergonha. — Eu tô errado?
— Só... Cala a boca, tá? — cubro a boquinha de Dodo e acho que ele nem liga.
— Ele gosta de te ver comendo — Yuta entra em cena, sempre perspicaz com seus comentários típicos de quem observa silenciosamente e cria suposições. — E não digo só gostar. Talvez ele tenha começado a relacionar com sexo e ficou daquele jeito. Sei lá. Por exemplo: você come uma banana, ele pode relacionar com outra coisa. Você bebe um copo de leite e escorre pela boca, ele com certeza pode relacionar a outra coisa. E por assim vai...
— Eu só tava comendo torta com colher.
— Talvez ele estivesse imaginando outra coisa no lugar da colher, quando você lambia — Kim afasta o rosto da minha mão para falar.
Eu e Yuta olhamos no mesmo momento para Doyoung, surpresos. Eu jurava que o inocente alternava entre eu e ele, mas agora tudo excedeu. O bebê não é mais bebê. O que posso fazer com essa informação?
— Que foi, gente? — ele debocha. — Eu sei o que é rola, eu também tenho.
— Ah, ok... — eu me levanto, meu rosto queimando que nem o inferno. — Ninguém me avisou que ia ter papo ousado aqui. Deveriam ter deixado o aviso, aí eu teria me preparado. Eu só quis mencionar de maneira superficial, não falar de órgãos sexuais.
— Ai, vê se cresce, Taeyong! — Yuta tenta me chutar, mas eu desvio.
Apago meu cigarro e deixo no cinzeiro. E então, solto um suspiro antes de concluir:
— É melhor irmos logo atazanar a vida do Ten. Ele está merecendo.
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