nós vamos embora
Uma semana sem notícias do Taeyong. Uma fucking semana sem notícias de Lee Taeyong.
Ao contrário de mim, ele esteve muito presente nas redes sociais. Ele tem postado bastante na conta da floricultura. Mas não é assim tão simples. Ele está biscoitando mais, chamando atenção para si e usando-se como garoto propaganda. Eu poderia dizer que é fenomenal se não estivesse ardendo por dentro diante de tantos comentários sobre como ele é bonito e “queriam levar ele para casa”. E imaginar Taeyong com outras pessoas me deixa irritado e fraco. Eu nunca imaginei-o apaixonado por alguém senão eu. Então, sim, eu entendo a estratégia dele. Não acho que tenho posição para aprovar ou desaprovar, uma vez que a vida é dele. Só que não posso negar que o excesso de comentários me deixa desconfortável.
Tirei meu gesso e agora estou tentando me acostumar outra vez com meu braço. Achei que seria horrível, mas está sendo melhor do que isso. Aos poucos, eu estou fazendo um pouco de tudo na cozinha outra vez. Pelo menos essa parte da minha vida está dando certo.
Ontem fui pego por um pensamento ruim. De que Taeyong está estragando minha felicidade. Isso não é verdade, é só que eu estava bravo. Ainda estou, sendo honesto. E ultimamente tenho escutado essas músicas antigas de amor, porque só elas estão me deixando na linha e não a um segundo de surtar. Porque toda vez que estamos bem, surge uma bomba que ele me joga e eu preciso lidar com isso. Ah, pronto, o sentimento voltou. Eu devo parar com isso. Taeyong não quer me ver triste. Eu sei que não.
Esses dias larguei de mão Happy Together e fui assistir Love Affair de 1939. Esse, sim, comecei e terminei num único suspiro ou até mesmo antes do final de um mísero piscar. Conta a história de duas pessoas comprometidas que se conhecem em um cruzeiro e acabam tendo um caso de amor. A história é bonita e, acredito, para aquela época era original. Eles dizem que se tudo der certo na vida deles até julho, eles largam seus parceiros e se encontram no 102° andar do Empire States, às 17hs, para ficarem juntos. Mas não acontece exatamente como planejado. Tenho algumas críticas sobre o final, porém o que me pegou de jeito foi a canção que a moça entoou numa das cenas nos meados do audiovisual: “Finja estar alegre, coração, ainda que esteja triste, coração. Ele não deve saber disso. Não se desespere, coração, nós ainda podemos compartilhar um final feliz”. E são essas palavras que me impulsionam a amarrar os cadarços e me preparar para sair.
Fingir e não me desesperar. Vou ensinar isso ao meu coração.
Ontem o Jaehyun nos chamou para um karaokê pela tarde de hoje. Ele não disse quem vai estar lá, mas se Doyoung vai estar, com certeza Taeyong também estará. Eu tento não pensar nisso enquanto faço uma maquiagem leve. Tento não pensar nisso quando pego as chaves, tiro meu celular do carregador e saio de casa. Meu único pecado foi continuar no carro a playlist que estava tocando em casa. Porque a próxima que aparece é uma chamada You always hurt the one you love de The Mills Brothers. Aperto o volante não sei se com raiva ou tristeza — você não evitou se desesperar, coração — e, ao invés de sair logo com o carro, meu coração fica um pouco acelerado e sinto uma ânsia em falta de ar. Porque eu sempre machuco quem amo e não sei mais o que fazer para impedir.
“Você sempre magoa aquele que você ama. Aquele que você não deveria magoar mesmo. Você sempre pega a mais bela rosa e esmaga-a até que as pétalas caiam. Você sempre quebra o coração mais gentil com uma palavra apressada da qual você não lembra. Então se eu parti seu coração noite passada, é porque eu te amo acima de tudo”. Esse sou eu? Porra, esse sou eu?
Talvez não seja Taeyong que estrague minha felicidade. Talvez eu estrague a dele.
— Você ainda vem hoje ou só no próximo dilúvio? — Jaehyun grita no telefone quando eu atendo sua ligação.
Penso em dizer não. No entanto, lembro: finja e não se desespere, coração.
— Relaxa, Jaehyun. Eu estou indo já. Tô praticamente chegando.
— Tá nada. Aposto que está saindo de casa agora porque levou um tempão se maquiando. Olha, só pra você saber, todo mundo aqui já te viu feio, então nem adianta se esforçar muito.
— Ninguém nunca me viu feio, eu estou bonito sempre.
— Se sua autoestima está intacta, significa que você está bem. Venha logo, bananão! — ele encerra a chamada.
Eu ligo o carro e interrompo a música. Em poucos minutos, estou chegando no lugar. Eu não sou muito de cantar em público, por isso fico um tanto nervoso ao entrar e me identificar. Mas quando a funcionária me leva até uma salinha particular reservada por Jaehyun, acho que até ela percebe meu suspiro de alívio por isso. Então apenas abro a porta e me deparo com um lugarzinho meio escuro iluminado por luzes neon e pequenas lâmpadas nas paredes.
Não é tão grande, mas para uma salinha particular é tanto grande demais. Há um minúsculo palco de pequena elevação no extremo e em frente a ele encontra-se a televisão onde a letra irá ser disposta. Ao redor da sala há sofá e poltronas, além de que num cantinho esquerdo existe uma bancada com snacks e bebidas interessantes. Os meninos estão jogados no sofá, com exceção de Dodo, que está em cima do palco focado em mexer na tela para escolher uma música.
— Finalmente! — Jaehyun grita e eu tomo um susto.
— Essa já é minha sétima vida e só agora você chegou — Yuta comenta rindo.
Dodo finalmente ergue o olhar para mim e vem parecendo um bestinha saltitante.
— Vamos cantar uma música juntos! — ainda exclama.
— Ainda não, vou beber alguma coisa antes... — dou um tapinha no seu ombro e me aproximo da bancada com comidinhas.
Pego uma garrafa de água. Enquanto ele volta para escolher uma música, eu vou indo me sentar ao lado de Taeyong, que está numa parte do sofá meio isolado.
— Oi, Tae... — aproximo-me dele e me inclino o suficiente para dar um selinho. Se estamos brigados ou não, isso não deve impedir que sejamos carinhosos um com outro.
Mas, veja bem, meu mundo cai na mesma hora. Sem nem olhar-me nos olhos, ele vira o rosto e se inclina para o lado. Não é que é ruim ser rejeitado. É péssimo. É como se ele não ligasse mais para esse tipo de coisa, sendo que ele vivia enroscado em mim para ter. Então eu percebo que, o que é que ele esteja pensando, é algo mais sério do que eu pensava.
— Vish... — mesmo que estejamos distantes, escuto Yuta resmungar. Sinônimo de que ele viu o gelo que recebi.
— Tudo bem? — ignoro a repercussão do outro lado da sala e seguro a mão de Taeyong. Ele afasta a mão da minha no mesmo instante. — Taeyong... Você está tentando me punir?
— Que bom que percebeu — finalmente vira o rosto para mim. Ele está sério. — Pelo menos isso.
— Escuta... — olho ao redor pelo canto dos olhos e percebo que todo mundo está nos encarando. Não escancarado, mas eles disfarçam bem. Dodo está fingindo ainda escolher a música, Yuta está nos olhando sem disfarçar, mas Jaehyun finge olhar as informações nutricionais de um pacote de amendoim. — Vamos só... sabe, não precisamos fazer isso aqui. E não precisamos tratar um ao outro assim. Eu realmente estou sentindo a sua falta. Então... — solto um suspiro. — Só, por favor, não me trata assim, ta?
— Voce acha isso injusto? — ele ergue uma das sobrancelhas.
— Meio que é, não? Eu nem sei o que está acontecendo e...
De repente, Toxic de Britney Spears começa a tocar. Eu viro o rosto e vejo Doyoung com o microfone na mão e um sorriso nervoso no rosto. Só preciso olhá-lo por alguns segundos para entender que ele fez isso para interromper nossa discussão.
— Vamos, povo animado! Vou cantar para vocês! — e ainda tira a jaqueta antes de jogar para nós, seu público.
Taeyong agarra a jaqueta dele. Eu apenas me afasto do Lee e abro a garrafa de água para beber. Eu bebo exato três longos goles durante esse início de apresentação do Doyoung. Ele canta bem e seu sotaque é quase limpinho, não é tão carregado quanto o de Taeyong. Acho que é porque ele realmente já viajou bastante e foi perdendo com o tempo. A voz de anjo do Dodo me deixa mais calmo e mais paciente em relação ao Taeyong.
Meu celular vibra no meu bolso. Pego-o. Tem mensagem do Lucas.
Xuxi só para baixinhos: baixinhooo
Xuxi só para baixinhos: menino babadokkkk
Xuxi só para baixinhos: eu te falei daquela menina que tava de olho em mim né. essa semana a gente se esbarrou de novo. SO QUE ela é super direta sabe? ela fala na lata o que pensa e o que quer e eu juro pra você que fico no pânico. ok eu também sou assim mas quando me esbarro com alguém assim eu meio que travo eu tô dieiskwjwjjesisk porque a gente inclusive de brincadeira já falou que ia se pegar só que cê sabe eu não sei se era verdade ou não e agora eu toeoekskskskskksks ಥ‿ಥ faça algooo
Xuxi só para baixinhos: aí ontem ela chegou pra mim e falou
Sorrio sem querer devido ao desespero dele. Não obstante, bloqueio o celular por falta do que responder e pela vontade de comer um chocolatezinho. Depois eu leio que ele irá escrever. Quando me levanto para ir à bancada pegar o doce, no meio do “I'm addicted to you, don't you know that you're toxic?”, deixo meu celular em cima dela e fico mexendo até escolher um. Tem um de morango, mas não sei se é bom. Acho que vou pegar um Choco Pie para Taeyong, porque ele gosta. Ah, olha só, eu me humilhando todo para agradar o Taeyong e ele cagando para mim...
Seguro a embalagem e dou uma sacudida na direção dele, querendo saber se quer ou não. Ele se levanta e vem até mim. Não até mim, mas... bem, ele só vem pegar o chocolate e mais algumas coisinhas na bancada. Começa a remexer o M&M distraidamente. Como ele está ao meu lado sem se afastar, eu decido abraçá-lo pelas costas. Ele não faz nada. Também, claramente está ocupado, criando uma espécie de kit de sobrevivência, pegando salgadinhos e doces para levar consigo. Aparentemente ele não liga, então eu abraço-o mais forte e sinto que pelo menos isso eu posso fazer livremente. O cheiro dele é o mesmo e eu não sei porque esperava que seria diferente.
Com as mãos no seu abdômen, ligeiramente aperto para ver se consigo sentir sua pele por debaixo do provável 100% algodão da camisa. Ele suspira e eu sinto. Doyoung se embola em três versos da música. Provavelmente está nos assistindo. E se isso está deixando-o assim, significa que sabe que estamos brigados. Doyoung não fica de boca fechada, deve ter contado para Yuta ou, quem sabe, Jaehyun também. E isso significa que todo mundo sabe.
Deixo meus braços caírem um pouco, porque meus músculos não estão mais tão tensos. Tae põe as mãos nos meus antebraços e só segura. Estou apoiando-os no seu cinto. E, porra, saudades de tirar o cinto dele e empurrar sua calça pra baixo. E saudades de passar os dedos pelo seu peitoral ou pelo seu cabelo. Se eu fizer carinho no seu cabelo agora, vai ter algum problema? Ele vai reclamar também?
— Sai — é o que diz assim, do nada, após um tempo me deixando abraçar. Ele empurra meus braços do seu corpo de uma maneira rude, junta seus lanches e caminha furiosamente para o sofá.
Eu fico aqui parado, tentando processar as informações. Mas não adianta droga alguma. Pego meu lanche também e me sento no outro lado da sala. Toxic já acabou, agora está tocando Beggin' de Måneskin e o Yuta decidiu cantar com Dodo. Jaehyun tenta chegar perto de mim, só que eu sei do que ele vai falar, então o dispenso ao sacudir as mãos. Ele entende na hora.
Como não quero olhar Taeyong enquanto como, tateio meu bolso para pegar meu celular. Não acho. Por uns segundos entro em desespero, mas aí lembro que deixei ele lá com os lanches. Levanto-me e vou lá pegar. O resto da fofoca de Lucas está na tela de bloqueio:
Xuxi só para baixinhos: queria ir ao seu quarto essa semana ou você vir ao meu para fazermos umas coisinhas gostosas
Xuxi só para baixinhos: se você quiser posso ilustrar
Eu acabo sorrindo com a mensagem, porque não acredito que isso aconteceu na vida real. Parece mesmo uma fanfic. E Lucas é bestinha demais com esses assuntos.
— Gente, eu vou indo — do nada, Taeyong chama a atenção de todo mundo. Ele se levanta. — Não estou me sentindo muito bem.
Doyoung pausa a música na parte mais energética.
— Sério? — Jaehyun mostra-se preocupado, mas depois olha para mim. Ignoro.
— Tá bom, TaeTae! — Doyoung está preocupado também, mas mostra-se compreensível.
— Se divirtam — Taeyong pega o próprio casaco e passa direto por mim, indo para a saída da sala.
Fico uns segundos parado, olhando para a porta. Agarro os snacks e avanço nessa direção também.
— Nós vamos embora — vou dizendo. — Vou levar ele para a casa.
Eu não sei qual é a reação deles, porque me apresso em ir embora. Algumas embalagens caem no chão quando estou atravessando a porta, então me abaixo para pegar. E é nesse momento que escuto Jaehyun dizer:
— Então eles realmente estão numa crise, uh?
— Eles sempre estão numa crise — Yuta responde.
E então a porta se fecha atrás de mim.
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