nós temos que respeitar a vida pessoal um do outro

« aos que fizeram enem ontem, vocês são incríveis. espero que em breve estejamos juntos reclamando da vida universitária. cuidem-se! »

— Aqui ele não vem — Ten fecha a porta do quarto quando estou me sentando na cama.

— Hm.

— Enfim... — vai até a bancada e pega um prendedor de cabelo, aí faz um coque.

— Por que não gosta quando Yuta está perto de mim?

— Porque ele fica flertando com você. Isso não me deixa confortável.

— Você compreende que isso é brincadeira, não é?

— Será mesmo? — ele para de frente para mim, ainda em pé, e cruza os braços.

— Você não é tão íntimo a ele quanto eu sou, por isso que não tem certeza disso.

— Viu só? É sobre isso... Como vou ficar ok com essa intimidade?

— Quê? — eu me afasto um pouco e deslizo pela cama. Olho para seu rosto por alguns instantes. Solto um suspiro. — Ten, senta aqui.

Eu posso até dar duas batidinhas na cama, mas ele não se move.

— Senta, vem — reforço.

Ele vem e se senta ao meu lado.

— Se lembra da despedida de solteiro do Dodo?

Ele faz que sim com a cabeça. Continuo:

— Eu estava super bêbado, mas me lembro do joguinho que fizemos de “Eu nunca” — viro meu tronco na direção de Ten e ele me olha atentamente. — Eu me lembro que Jaehyun deixou escapar que vocês já se beijaram e você ficou sem graça por todo mundo saber disso.

Ten não fala nada. Prossigo:

— Eu antes tinha certo ciúmes de vocês dois, antes de você ir à Itália. Na verdade, acho que meu ciúmes era só porque ele tinha sua atenção em momentos que eu gostaria de ter. Não porque eu realmente achava que vocês estavam juntos ou sei lá. No fundo, eu realmente não pensava nisso. Só ficava chateado quando não podia estar com você e você estava com ele, ao invés de estar comigo. Mas depois daquele dia da despedida de solteiro, percebi que poderia ter algo mais. Só que quer saber? Eu não liguei. E não me importo nem um pouco. Mas quero saber: só foi uma vez ou mais vezes?

Ten não para de me olhar.

— Vai, conta — sacudo minha mão direita.

— Mais vezes — sua resposta me deixa sem chão. Eu jurava que ele iria responder só uma vez. — Muito mais vezes.

— Tá, mas... É algo que vocês ainda fazem?

— Não, eu tô namorando com você.

— Eu sei, eu sei... — esfrego a palma direita na testa e solto um suspiro. Isso mexeu um pouco comigo. Tipo, o Ten e o Jaehyun... De verdade... Isso é tão... Uau. — Bem, eu não ligo. Eu não me preocupo e também não vou me preocupar com Jaehyun. Vocês são amigos há trezentos anos, aparentemente já ficaram algumas vezes, e eu não fico no pé de Jaehyun por conta disso. Meu ódio por Jaehyun é pela pessoa que ele é, não porque ele fica no seu pé o tempo inteiro.

— São questões diferentes.

— Não, não são. Você quer dizer que são diferentes para que possa manter seu lado, mas não quer dizer que você está realmente certo. É exatamente a mesma coisa. Eu não implico com Jaehyun e, sinceramente, nem ligo para ele o suficiente para me sentir mal com sua presença. Ele está aqui na sua casa, vai dormir hoje contigo. Eu só impliquei um pouco porque queria transar e também porque tive que manter meu personagem de hater dele. Mas e se fosse o contrário, hein? E se você chegasse no meu apartamento, cansado do trabalho, vindo ficar comigo, e encontrasse Yuta de pijaminha dizendo que vai passar a noite comigo... O que você pensaria?

Ten respira fundo, vejo bem, depois abaixa a cabeça. Mas não reclamo, não aumento a voz, não faço nada. Sou apenas aquele que aguenta de tudo, segura tudo, que me esforço demais ou as coisas brotam naturalmente de mim. Só que não queria ser assim. Aparentemente, é bem mais fácil viver agindo que nem idiota do que aguentar tudo. Não estou brigando, veja bem. Mas se eu fosse um filho da puta, as coisas estariam tendo um rumo bem diferente agora. E eu estaria sossegado. Agora minha cabeça está doendo. Ando me estressando demais.

— Nós temos que respeitar a vida pessoal um do outro — ainda digo. — Você tem sua vida, eu também tenho a minha. Existe o “nós” aqui. Mas antes desse “nós”, existe o “você” e “eu”. Você não pode só pensar no “eu”. E eu também não posso só pensar no “você”. Eu quero ser eu mesmo. Quero fazer o que quiser, porém tudo que não fira o “nós”. Se eu não puder ser eu mesmo, eu não sei mais quem eu vou ser. E, sendo honesto, já sofri demais tentando ser alguém que você viesse gostar. Eu não quero passar a minha vida te agradando, entende? É cansativo. Para de pensar só em como você vê as coisas, porque é só um ponto de vista. Tudo é relativo, nada é real. Pode se colocar um pouco no meu lugar?

Faço uma pausa para engolir em seco. Como Ten ainda está de cabeça baixa, continuo:

— Meus únicos amigos, além de você e Jaehyun, são Dodo, Yuta e Jungwoo. Você tem muito mais amigos que eu. Tudo bem, fico feliz por você. Garoto internacional, amigo em todos os cantos do mundo... Nossa, isso é incrível para você! Mas eu não sou assim, eu não sou você. Eu posso ter dois ou três amigos e estou muito feliz com isso. Sério. E daí que meu ex namorado é meu amigo? Não quer dizer nada. Antes de ser meu namorado, foi meu amigo também. E parei pra analisar que sempre fomos só... Amigos. O mesmo tipo de amizade que eu e você tínhamos antes. Eu não vou me afastar dele só porque você fica incomodado. Desculpa, mas não vou. Em todos os momentos que precisei, ele esteve comigo. Eu não quero deixar ele escapar só pra beijar a sua boca e transar com você à noite. Não que eu esteja te desmerecendo ou desmerecendo nossa relação, só estou dizendo que são coisas totalmente diferentes que não devem ser comparadas ou serem postas numa votação de “isso ou aquilo”. Não existe isso.

Meio sem ar, fico olhando para o cabelo de Ten. Ele não moveu um músculo desde que abaixou a cabeça. Não pude esperar antes, eu precisava falar. Agora já dito, fico esperando ele dizer algo.

— Você tá certo — ergue a cabeça, então eu noto uma lágrima solitária deslizando no lado esquerdo do seu rosto.

Espero-o dizer mais coisas, porém ele não diz. Apenas está aqui, todo largado na cama, meio acanhado, sério, com cara de quem quer chorar e eu nem sei o porquê. Eu sou o chorão da relação. Eu que deveria estar chorando.

— Não vai dizer mais nada?

— Eu não sou bom com palavras — é o que me diz.

— Você não precisa ser bom com palavras. Só dizer o que sente e o que não sente. Não se preocupe se soltar alguma insegurança. Você não tem que sempre parecer perfeito perto de mim. Eu quero te conhecer mais.

— É que... bem, todo mundo de alguma forma me parece ser muito mais próximo a você ou te conhecer mais do que eu. E você se encanta com tudo. Tudo mesmo. Tudo te deixa encantado. E se você descobrir que, na verdade, eu só te faço se sentir mal e que é melhor você ficar com alguém que realmente tem coisas em comum com você? Tudo que você quer, inclusive para nós, eu não quero... Entende? Uma hora você vai encontrar alguém com mesmos interesses, seja esse alguém Yuta ou não. E aí eu fico automaticamente no modo defesa, porque gosto muito de você e não quero te ver partir. Mas eu sei que você vai... Simplesmente sei...

Quando vou responder, três batidas à porta me interrompem. Eu olho para ver o que é, então lentamente vislumbro Jaehyun abrindo-a e pondo a cabeça pra dentro da fresta.

— Oi, gente, desculpa interromper o momento de vocês... Só queria avisar que a comida está ficando pronta, então espero que consigam descer antes fique fria. Vou estar lá embaixo esperando. Tchau — ele tira a cabeça e depois puxa a porta de volta.

Eu solto um suspiro. Não sei mais o que fazer.

Ergo-me, vou ao closet. Procuro entre as roupas de Ten. E depois de um tempinho, acho uma das camisas que lhe dei no dia do nosso aniversário. Volto com ela na mão. É a do sugar baby.

— Me responde uma coisa? — abro a camisa para que ele possa ler. — Alguém mais, além de nós, entende isso? Alguém mais, além de nós, sabe o o real porquê de pombinhos serem românticos? Alguém mais viveu tudo aquilo na França? Na Grécia? Na Tailândia? Alguém mais? Claro que não, Ten. Só foi eu e você. Não há porque sentir que outras pessoas são mais próximas a mim. Impossível isso! Você já viu minha bunda mais vezes do que minha mãe, quando eu era bebê.

Ele abre um pequeno sorriso.

— Não vale a pena se sentir ameaçado pelas minhas outras relações. Cada um tem uma posição específica, não significa que é melhor ou pior — deixo a camisa ao lado dele da cama. — Eu me encanto por tudo, pode ser que sim, mas não significa que vou me encantar por qualquer pessoa e te largar. Eu não vou te largar por isso. Não precisa sentir ciúmes meu com outra pessoa.

— É automático.

— Pelo menos... Tenta não agir de acordo com ele. Pode existir, mas se você der corda, é pior. Às vezes você age de uma maneira não tão... Amigável. Tenta ser pelo menos mais legal, mais aberto. Não ceda a isso, sabe?

— Uhum — ele concorda com a cabeça.

Caminho até chegar bem perto dele. Então, no mesmo instante, me abaixo e sento em seu colo. Sinto seus braços ao redor do meu quadril no mesmo momento. Eu gosto disso.

— Desculpa se fui duro — é o que digo.

— Você disse o que eu precisava escutar — ele enfia as mãos dentro da minha camisa e começa a esfregar as unhas levemente na minha pele. — Obrigado.

— Obrigado por ter sido honesto. Agora eu te entendo. Eu não vou me afastar dele, mas vou pedir que seja menos esbaforido um pouco. E espero que não interprete as coisas de maneira distorcida. E não pense que vou embora. Isso parte meu coração.

— Desculpa — aproxima o rosto ao ponto de encostar uma banda no meu peito. — Eu não consigo controlar essas atitudes. Elas dizem muito sobre mim. E eu me sinto mal por sempre te fazer mal.

— Você não me faz mal sempre, não precisa pensar assim.

— Às vezes eu não consigo...

Encosto o rosto no seu cabelo ao passo que ponho as mãos na sua nuca macia. Sinto contra o meu rosto o cheirinho gostoso do seu shampoo.

— Você está tentando. Obrigado por isso.

— Tentativa e acerto são coisas diferentes.

— Mas por que se cobrar tanto? Por que você se cobra tanto?

— Se eu não me cobrar, como vou superar as expectativas das pessoas?

É sobre isso. Esse é o ponto. Naquele dia que ele chorou, me disse que não tinha feito “bom o suficiente” ou algo do tipo. Mas não conversou, como sempre. Eu não vou forçar Ten se abrir comigo, mas esse papinho de agora está parecendo muito aquilo. Essa cobrança dele em relação a si mesmo... Isso é de agora? Sempre existiu? Eu não sei. Queria escutá-lo falar, mas ele não diz. E é tão difícil, mas tão difícil estar com alguém que não se abre tanto quanto eu. E eu sei que não é culpa dele, não faz por mal, só está acostumado a nunca dizer. Mas eu quero que ele diga. Não consigo estar bem sabendo que ele não está. Parece que algo não se encaixa.

— Por que superar as expectativas das pessoas, meu bem?

Ten afasta o rosto do meu peito e depois inclina o tronco para trás. De início penso que ele quer se afastar de mim, mas na real sua intenção é se apoiar com as mãos na cama.

— Porque eu não quero ser como qualquer um. Não quero lidar com sorte, quero lidar com os frutos dos meus esforços.

Pelo jeito que ele me olha, é como se fosse um “isso é óbvio”. Até mesmo as dobrinhas na sua testa pela sua expressão me deixam um pouco mais hesitante. Não quero discordar dele, porque isso vai fazer o assunto render e com certeza vai estressá-lo. No fim, acho que não vamos a lugar algum e teremos de encerrar o assunto para não brigarmos. Foi assim mesmo naquela conversa sobre Doyoung e Minyoung. Eu sei como ele fica quando está assim. É melhor deixar quieto.

— Entendi — levemente inclino a cabeça.

Ele solta um suspiro e fica me olhando. Ficamos apenas nos olhando.

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