nós somos um casal fitness
Acordar ao lado de Ten é uma dádiva. Me sinto bem. Mais que bem, na verdade. Me sinto estupendo. Mas acordar pelado ao lado dele também é muito mais do que estupendo. Estou com tanto sono que não consigo pensar numa palavra melhor que essa. É que estou perdido, preso, emaranhado ao seu corpo, olhando seu rosto de dorminhoco. É cedo da manhã, eu acabei acordando mais cedo que meu despertador, e agora olho meu amor num sono profundo com o cabelo todo bagunçado. Gostaria de tocá-lo, porém receio que venha acordá-lo sem querer. Também, do jeito que estou, se até mesmo eu tentar levantar irei acordá-lo, já que meu braço esquerdo está no seu pescoço. No entanto, só aguento mais cinco ou dez minutos dessa paz até o alarme tocar e ele abrir os olhos meio assustado.
— Cacete — senta-se repentinamente na cama, pondo as mãos na cabeça. Ele também está nu.
— Calma... — me estico para desligar o alarme, que é apenas eu gritando “acorda, vadia, vai trabalhar para comprar roupa!” e no fundo WAP num áudio extremamente estourado. Pelo menos funciona. Acordou Ten, que só vive dormindo. — Pronto, desliguei.
— Que susto — ele deita de costas na cama de novo e fica a olhar o teto do meu quarto.
Eu pego meu celular, mas vejo que não tem nenhuma notificação importante. Quando vou fechar as abas, vejo uma do Google que provavelmente deixei aberta e a minha pesquisa me deixa meio envergonhado: algo relacionado a se é normal uma ejaculação apenas em sentir alguém se esfregar em você, sem necessidade de penetração. Eu acho que me lembro de ter pesquisado isso, já que... Bem... Hm... O Ten ele... Sabe... Rebolou muito no meu colo ontem à noite... Sabe... Com... Bastante força...
Bloqueio o telefone repassando as memórias de ontem e cegamente tateio o colchão por debaixo da coberta para encontrar a mão de Ten. Acabo caindo a mão no seu abdômen nu e assim deixo. Esfrego os dedos na sua pele enquanto sinto os movimentos da sua respiração.
— Bom dia — eu digo.
— Bom dia... — Ten põe a mão dele sobre a minha, que está em seu abdômen fazendo carinho. — Que horas são?
— Cinco e meia — respondo.
— Que horário filho da puta é esse, Taeyong? — sua reclamação me faz rir.
— Credo, Ten... Eu sou lerdo para me arrumar, por isso o despertador precisa ser cedo.
— Eu não sou obrigado a acordar esse horário. Vou dormir por mais meia hora — vira-se de costas para mim e puxa meu braço contigo. — Vem, dorme comigo.
— Espera — eu pego o celular e programo um alarme para daqui a meia hora, porque sei que vai dormir muito mais que isso.
Assim que deixo o celular na bancada, eu o envolvo por trás e formo uma conchinha maior ao redor dele. Normalmente é o contrário, mas eu gosto disso também. Gosto de quando ele me abraça por trás, assim como gosto de abraçá-lo também. Meu coração fica acelerado, tenho medo de ele perceber. A real é que minha timidez é tanta que não quero que ele descubra que qualquer coisinha me deixa balançado. Ainda mais isso, porque estamos sem roupa e o encaixe dos nossos quadris assim não parece tão fofinho assim (se é que me entende). Sendo honesto, sentir seu bumbum contra minha virilha é bom demais. E ele não liga, já que seus olhos estão fechados e provavelmente vai estar dormindo daqui a pouco.
Ele vive dizendo que eu morro quando durmo, mas ele também dorme bastante. A diferença é que o sono dele é leve, ao contrário do meu. O mundo pode pegar fogo lá fora, mas eu vou estar sonhando com anjinhos. Se uma agulha cai no chão, ele acorda. Digo isso porque eu sei que não vou dormir nessa meia hora, já que até mesmo acordei antes do despertador, então tenho que tomar cuidado em não me mexer muito. Por isso, encosto o rosto no seu pescoço. Fico aqui sentindo o cheiro que emana, me inebria, deixa tonto, meio sem saber o que fazer.
Minha mão na sua cintura, acariciando devagar, sua pele macia contra os meus dedos me fazem lembrar de ontem. Ontem. Ontem. Meus pensamentos só param em ontem. Ontem no sofá, na bancada, no corredor (oh, eu lembro sim do corredor), aqui na cama, no banheiro, na cama de novo... Esfregando os dedos na sua pele, meus pensamentos só param em ontem. Em quantas vezes fizemos. De como fizemos. Quais os melhores momentos. Lembro do rosto dele, nossos corpos, dos sons... Caralho, eu amo muito ele.
E no silêncio da manhã eu emaranho meu corpo ao seu, aprofundo o rosto contra sua pele, e o friozinho não nos abala quanto gostaria que fosse. Quando estou quase cochilando, o despertador avisa que a meia horinha passou, já não temos como perder tempo. Estou a engolir em seco, ele se mexe assim que desligo o alarme. Coça os olhinhos, vira-se de barriga pra cima, espreguiça, fica a olhar o teto como se tivesse algo extraordinário lá. Não tem nada. Minha barriga acaba de roncar.
— Vamos comer algo — ele se levanta e pega uma calça moletom do chão, a qual veste antes de sair do quarto.
Ambos nos encontramos no banheiro, escovamos dentes em sincronia. A diferença é que ele termina primeiro e, ao invés de sair, me abraça por trás e assim fica cochilando com a bochecha nas minhas costas nuas (eu vesti apenas uma samba canção que também encontrei no chão, pois havia vestido-a ontem antes de nos despirmos de novo rsrsrs). Eu chacoalho um pouco o corpo para provocá-lo, porém o que deveria assustá-lo não serve de nada, uma vez que ele me segue nos movimentos.
— Quer correr um pouco comigo? Preciso de atividade física senão vou me render ao sedentarismo — ele convida.
— Onde?
— Aqui perto. Vem comigo... — sinto suas mãos tatearem meu abdômen assim que me curvo para cuspir o creme dental. — Preparo um café para você.
— Eu não corro tanto.
— Pois deveria. Nós dois deveríamos correr juntos. Nós somos um casal fitness, Taeyong, temos que pôr em prática.
— Tá, só porque você está pedindo com educação, ao invés de me xingar... — enxaguo a boca e finalmente Ten me larga, mas me dá um tapa na bunda ao se afastar para ir à cozinha. — Seu corno desgraçado!
— Viu só? Quem me xinga primeiro é você! — ele grita da sala.
Eu não respondo. Lavo o rosto e volto para o quarto. Visto uma calça moletom cinza e uma camisa de dia dos pais antiga que roubei do meu pai. Ponho um tênis mais esportivo (único que tenho) e apareço na sala. Ten só fez uma vitamina para eu beber, um sanduíche de salada de ovo e eu me pergunto como é que ele fez isso tão rápido. Aí eu lembro que de manhã eu sou muito lento, então eu devo ter demorado horrores só para me vestir e dar uma ajeitada no cabelo. Ele passa direto por mim e diz que é pra eu comer. Quero comer com ele aqui, então espero que se vista. Então comemos bem rápido, porque temos pressa para tudo.
Saímos após descansar e somos os seres mais brilhantes. Corremos como os seres mais rápidos. Não temos medo de algum meteoro anular nossa existência. Eu tropeço ao trocar de calçada, mas ele me dá a mão e somos os seres mais incríveis. Somos incríveis. Todo mundo morre, menos nós. Eu tenho ódio da imortalidade, porém tenho medo da mortalidade me aniquilar. Tenho medo de atravessar na hora errada. E seu eu for o errado? Me sinto livre e em casa. O suor escorre pelo meu rosto e eu reclamo que estou cansado, mas ele me faz calar a boca com uma resposta pouco carinhosa. Eu rio, mesmo querendo chorar. Quero chorar porque estou amando, ninguém vê? Eu acho que o moço que buzina para atravessarmos está vendo também. Ele sabe que sou um infinito e me abraço com o caos ao segurar a mão de Ten para atravessar. O que é isso? Tenho sete anos outra vez? Daqui a um par de anos vou meter-me no exército e ainda tenho medo do escuro. Solidão vai me beijar na noite e não sei qual o meu problema dessa vez. Eu sou jovem, mas estou cansado. O suor lambe o corpo e eu preciso avisá-lo que só quem tem autorização para fazer isso comigo está correndo ao meu lado olhando para o horizonte, para o futuro, para a alegria.
Meu coração está andando enxuto, quero molhá-lo de paixão. Paro numa pracinha meio sem ar e meu amor insiste em tentar fazer barra. Eu rio de como ele dá um pulo e se estica todo para alcançar. Eu rio, e ele, feito pêndulo, projeta o corpo na minha direção e tenta me dar um chute, ainda que esteja com ambas mãos na barra. Ele faz de si mesmo balanço, e se balança para tentar me acertar. Eu seguro seus calcanhares e agora não tem vez. Ten tenta dobrar os joelhos para fazer com que eu solte, mas não adianta. Eu rio demais.
— Taeyong, me solta! — ele sacode as pernas. — Porra, você é insuportável!
— Você estava tentando me chutar!
— E daí? — se sacode mais ainda, em vão.
Se ele soltar as mãos, ele cai no chão e vai ser tão feio, porque pode bater a cabeça com muita força. O maldito do meu amor está, literalmente, nas minhas mãos.
— Peça desculpas por tentar me chutar e eu te solto.
— Meu ovo que eu vou pedir desculpas por defender minha honra.
— Me chutar é defender sua honra?
— Você estava rindo de mim, panaca! — ele agora tenta me chutar de novo, mas como estou segurando seus calcanhares, consigo fazer sua perna desviar.
— Eu tenho culpa de você ser pequeno e precisar tentar no mínimo três vezes para alcançar a barra mais alta? — eu rio, mas percebo que seu rosto está vermelho e que talvez ele já não aguente ficar se segurando. — Pede desculpas logo.
— Não!
Eu me aproximo mais dele e subo minhas mãos para as suas coxas. Fico entre ambas, segurando ele com firmeza.
— Tá, se solta aí, lindo. Vou te pegar, já estou te segurando.
Ponho suas coxas ao redor da minha cintura e, após isso, ele adquire confiança para se soltar. Me abraça ao perceber que estou literalmente carregando ele, porém eu o deixo no chão segundos após. Estamos no meio da pracinha, não dá pra ficar de abraço e carinho aqui. É muito estranho. E eu acho que Ten está acostumado com Europa e tudo mais, já que ele me olha estranho depois dessa suposta rejeição. Não é bem rejeição, é só que... Bem, estamos na rua, né.
— Me ajude a me alongar — ele me pede ao se jogar na grama.
Eu ajudo o paspalho a se alongar com a maior felicidade do mundo. Depois, trocamos de lugar. Ele dá uns tapinhas na minha bunda toda vez que eu mudo de posição e eu preciso ficar olhando ao redor para ver se tem alguém percebendo ou sei lá. Sei que são pequenos gestos, mas vai que tá na cara que somos namorados e que isso é meio íntimo demais? Sei lá, eu nunca namorei assim, como estou namorando ele. É tudo muito novo para mim.
— Ai, Ten, para... — eu reclamo, sem querer reclamar, da nona apertada de bunda que ele me dá quando me levanto. — Pessoas podem ver.
— Eu tô literalmente atrás de você, tô cobrindo, ninguém vai ver um segundo que eu fizer isso — seu argumento derruba qualquer advogado. — Vai dizer que não gosta?
Eu fico quieto, estico meu braço esquerdo e pressiono a palma com a outra mão.
— Você ficou vermelho, significa que concorda — Chittaphon acrescenta.
— Nada a ver! Eu estou suando, está fazendo calor, é claro que vou ficar vermelho!
— Hm? Tem certeza? — ele me abraça de lado e eu solto um suspiro cansado. Tá foda, viu. Quanto mais eu tento, menos dá certo.
— Ten... — me afasto dele. — Para... Aqui não...
— Que sorrisinho é esse, Taeyong? — aparece subitamente na minha frente. — Você gosta!
— E daí? É vergonhoso...
— Só estou te abraçando, olha... — ele se aproxima e me abraça de novo, dessa vez eu deixo.
A benção do Ten rouba um selinho e eu quase surto com isso. Eu olho ao redor, mas aqui perto só tem um moço de boné e máscara preta sentado no ponto de ônibus. Como estou insuportável (palavras de Ten), nós decidimos voltar para casa correndo também. No meio do caminho, porém, eu me canso e fico sem conseguir acompanhar o ritmo. Mesmo andando, estou cansado, minhas pernas estão doendo e meus pés estão pedindo socorro. Eu reclamo e me sento numa escada, e aí Chitta surge com a ideia de me levar carregado.
Sério, ele está tão in love por mim que eu estou até surpreso. E vamos assim mesmo, eu de macaquinho nas costas dele, segurando firme, e Ten caminhando pelas ruas me levando. Eu até faço carinho no seu cabelo como agradecimento, mas a verdade é que eu faria isso mesmo se não tivesse proposto. E ele me leva sem reclamar, por incrível que pareça. Eu estou surpreso, já que... Sei lá... Ele não é muito disso, muito de carinho, muito de estar 100% presente. Ele sempre some. Tenho medo de ele sumir, sabe? Mas é que ele está aqui agora e sou tão grato e feliz. Sério.
De volta ao apartamento, vamos tomar banho juntos para economizar tempo. Eu entro primeiro, já Ten vem depois. A única dificuldade é que desse jeito vamos demorar horrores no banho. É que ele acabou de pegar o chuveirinho e ligou bem na minha bunda, esse panaca. Eu me viro já tentando pensar numa vingança.
— Ten, é pra a gente tomar banho, não ficar brincando — eu tento ser o cara responsável, porém ele me responde ao literalmente apontar o chuveirinho para o meu rosto e deixar um longo jato me molhar.
Me controlo para não rir desse idiota.
— Está cedo, nós acordamos cedão! — ele abaixa o chuveirinho e sorri para mim.
— Mas mesmo assim — desligo o chuveiro. — Daqui a pouco dá sete horas e eu preciso estar indo embora.
— Você tá chatão hoje, hein? — ele deixa o chuveirinho no suporte feito para ele e depois me abraça. — Por que está assim?
— Nada. Vamos nos atrasar. Não foi você que no outro dia surtou?
— Estávamos literalmente horas atrasados. Hoje, no máximo, podemos atrasar trinta minutos. — suas mãos, que estavam nas minhas costas, descem devagarinho até parar na minha bunda. — Aproveita enquanto ainda estou aqui...
— Você tá fissurado na minha bunda hoje, é isso? — eu acabo rindo da situação, mesmo que eu devesse tentar controlar.
— Você estava fissurado na minha ontem... Estamos quites...
— Te odeio, sabia? — brinco.
— Também gosto muito, muito de você — ele me empurra contra o vidro do box e pressiona meu corpo para enfim roubar um beijo.
Eu não reclamo dessa vez nem me afasto. Eu deixo, deixo mesmo, e ele aproveita isso. Nossos rostos molhados têm menos atrito, porém nossas bocas se enroscam cheias de paixão e desespero. É uma agonia. Oh, que agonia. Nos beijamos em completa sintonia, em ardor, é como se o circo estivesse pegando fogo e nós fôssemos os malabaristas. Quero um pouco desse sentimento em mim, por isso me entrego. O dia mal começou e ele já fez meu dia. Já fez meu dia.
— O que posso fazer com você agora? — ele sussurra perto do meu ouvido, passando as mãos pelo meu corpo.
— Beijos, Chittaphon. Apenas beijos.
— Sério? Já pensei em três coisas diferentes para fazer com você... E em você.
— O que tá acontecendo contigo, meu lindo? — eu rio, daí abraço-o pela cintura enquanto deixo beijos carinhosos no seu rosto. — Depois a gente vê isso.
— Uhum — balança a cabeça.
Eu vou pegar o sabonete que comprei em Bangkok, porém sou jogado assim facinho para os braços dele em apenas um beijo. Um único beijo e já perco a pose. Que inferno é estar apaixonado e me desestabilizar com qualquer beijinho que ele me dá. Porque eu estou morrendo, estou padecendo, vou sumir se continuar assim. Precisamos de um horário melhor para reservar isso. De manhã, nos atrasamos; tarde da noite e início da madrugada, estamos cansados. Quando é que vou poder ser livre com ele sem me importar com horário? Quando? Só quero ser 100% feliz. Preciso.
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