nós somos tão doces

— E... Tcharam! — arranco o lençol que trouxe de casa e deixo à mostra a surpresa que enrolei o dia inteiro. — Gostaram?

— Você sabe que a gente já sabia que era uma scooter, né? — Renjun revira os olhos, mas não deixa de olhar a pobre coitada. — Você foi ao banheiro e nós espiamos.

— Não era pra você ter falado, Renjun — reclama Jaemin, falsamente irritadiço com o namorado.

— Tanto faz — faço cara feia. — Gostaram? Eu gosto de branco, então achei bonita.

— É bonita — Renjun se aproxima da scooter  e toca em algumas partes. — Elétrica?

— Uhum — balanço a cabeça. — Você lava, você carrega, você cuida.

— E é assim, é? — olha-me todo debochado. — Vai me pagar a mais?

— Não, faz parte do seu trabalho — dou de ombros. — Gostou, Jaemin?

— Gostei, sim, hyung — ligeiramente sorri. — Vai facilitar o trabalho de vocês.

— Se nossas demandas aumentarem daqui a um ano, podemos até contratar alguém especialmente para as entregas — comento enquanto vejo Renjun subir na scooter e pôr as mãos no guidão.

— Não, eu quero ficar nas entregas, aí eu posso continuar vendo Jaemin.

Viro-me para Jaemin, que agora está cobrindo o rosto. Não sei se é por conta do sol de meio-dia (nem está tão ensolarado assim) ou se é de vergonha.

— Então você fica indo ver seu namorado ao invés de entregar os produtos? — ponho os olhos de novo em Renjun, porque não sei como ele teve coragem de me falar isso.

— Não é o que você faz também?

— Não! Eu literalmente fico o dia inteiro sem ver meu namorado enquanto você vê o seu o tempo todo? — aproximo-me de Renjun com passos pesados, tanto que ele se assusta e tenta sair da scooter o mais rápido possível. Não consegue, tomba para o lado e quase cai, se não fosse por Jaemin segurando-o.

— Claro, né! — Renjun se equilibra outra vez. — Se eu não fizer isso, não o vejo mais. Você sabe que eu tenho cursinho depois do trabalho.

— Dá pra vê-lo depois do cursinho.

— Não dá — dessa vez, Jaemin me responde. Ele esfrega os dedos no queixo e parece preocupado. — Meu pai me proíbe de vê-lo. Você sabe bem...

Oh, claro que eu sei bem... Os pais de Jaemin detestam Renjun e principalmente o relacionamento deles. Fazem de tudo para impedir que eles se vejam e interajam, tanto que Renjun chegou a criar um fake num Instagram para que os pais do Na não reconhecem. São ultra intrometidos na vida de Jaemin. E, inclusive, acham que agora Jaemin está almoçando num restaurante chinês a duas quadras daqui. Toda vez que ele vem, precisa passar lá pra trazer algo aos pais que prove que esteve por lá. É complicado...

— São pequenas coisas — Renjun torna a falar. — Mas fazem diferença no nosso relacionamento. A gente sempre encontra um jeito de se ver, independente da rotina. E se não fosse pelo meu medo de decepcionar meus pais, eu sairia de madrugada para vê-lo, tipo Cinderela. Mas não posso, então conto com isso. Ah, hyung, espero que não fique bravo!

— Está tudo bem — coço a nuca. Agora vejo que não deveria ter sido tão duro. — Eu entendo como é. Mas não demorem muito nesses encontros, eu sempre preciso de você aqui e também entregando as encomendas.

— Ok! — Huang me faz um coração e eu rio da sua brincadeira. — Hyung, você tem que sorrir mais! Anda preocupado, é?

— Não, eu estou bem — relaxo os ombros, daí olho a rua ao redor. — Só ando cansado mesmo. Mas está tudo bem, faz parte.

— Vamos ali comprar um docinho para você, então — Renjun puxa Jaemin pelo colete do suéter e faz com que ele sente atrás de si, na garupa da scooter. Na mesma hora, ele liga a coisa. — Tchau!

— Renjun, você não ouse sair assim do nada! — eu mudo de ângulo apenas para enxergar onde é que desliga essa banana, mas não encontro a tempo. Renjun maldito acelera e me larga falando sozinho.

— Te amo, hyung! — grita, ao endereçar-se ao lado esquerdo da rua.

Espero que não dê merda.

Eu confesso que não estou irritado. Afinal, quando foi que Renjun me escutou, né? Nunca! Sempre faz o que quer. Está tudo bem, deixe estar. Vou encher o saco dele quando voltar.  Enquanto isso, volto para dentro da floricultura e em poucos minutos atendo duas clientes. E aí surge um moço que compra dois buquês iguais, mas os cartões são para pessoas diferentes. Eu gosto de bater papo com os clientes, e num desses comentários ele me solta que um buquê é para a mulher e o outro para a amante. Eu me sinto sujo ao desejá-lo sorte e sucesso ao partir. Credo.

Sentado detrás do balcão, eu desenho algumas folhas outonais numa folha A4 que, parando pra analisar melhor, era o fundo de algum contrato antigo. Isso não tem mais importância, mesmo assim paro de desenhar na hora. Sei lá, sem Renjun aqui fica muito quieto e pacato... Gosto de me estressar com ele. Por ora, tudo que me distraio é com meu celular que acaba de vibrar por contra de uma nova mensagem.

açúcar papai: yongiee
você: fala gato 🥺
açúcar papai: gato
você: ?? 🧐
açúcar papai: você mandou eu falar gato
você: eu mandei você falar e te chamei de gato
açúcar papai: uma vírgula faz muita falta
você: o que é que você quer, chutapão 🙄😑
açúcar papai:

você: leão? 🦁
açúcar papai: carinho, seu burro desgraçado
você: formule melhor o seu pedido e aí eu vejo e te aviso 😋
açúcar papai: tu quer que eu te convide, é isso?
você: 🙂
açúcar papai:

você: COM FUNDO DE CRIANÇA, CHITTAPHON? 🐣
açúcar papai: é porque não tinha espaço para botar "venha me dar CARINHO hoje a noite", então só deu pra botar o "dar".
açúcar papai: fazer oq, paciência né lindo
você: eu te odeio quero terminar 👺👺👺
açúcar papai: tá bom

Eu estou morrendo de rir com as mensagens de Ten. Sério! Ele é muito perfeito! Eu não sei como nosso tipo de humor é tão sincronizado assim, mas é simplesmente perfeito. Acho que tudo que eu quero agora é literalmente quatro dias sem me preocupar com faculdade, trabalho, contas... Só estar com ele. Só sexo, carinho, risada, filme, cozinhar, deitar no colinho dele, escutá-lo ler em francês ou tailandês para mim, carinho na cabeça,  carinho na nuca, carinho na bunda, carinho no p...

açúcar papai:

você: quem vê stories não vê coração
você: te amo tanto volta pra mim 🥺🥺😢😢😢😢
açúcar papai: vamos
você: obrigado te amo
açúcar papai: você vem ou não?
você: nem precisa perguntar 🐶
você: manda foto da bunda 🍑
você: do almoço*** 🍜
açúcar papai: qual ângulo?
você: que dê pra ver a berinjela 🍆
você: pera a gente tá falando doq mesmo? 🤨
açúcar papai: responda você

MEU DEUS O TEN É INSANO!

Saio do aplicativo com o cu na mão, meio sem saber o que responder. Eu estava brincando, mas sei que Ten é podre ao ponto de levar a sério. Ele vai levar a sério. Inclusive, acho que já levou! Acabo de  receber uma notificação dele e diz que enviou um vídeo. Um vídeo! Eu tô com tanto medo!

Mesmo assim, abro a notificação e clico no vídeo. Eu esperava qualquer coisa sexual, mas recebo um vídeo dele sorrindo e dizendo "te vejo hoje à noite".  E eu acho isso a coisa mais fofa do mundo! Mal vejo a hora para chegar a noite.

E então Renjun surge sozinho na scooter, trazendo uma sacola de alguma coisa comprada. Joga sobre o balcão e eu abro com curiosidade. Quase dou um beijo nele de felicidade por ter comprado uma fatia grande de torta de Oreo! Eu amo esse moleque, sinceramente!

— Obrigado, Renjun! — viro-me com um sorriso no rosto.

— De nada, hyung gostoso! — ele, para me provocar (porque sabe que eu detesto), passa e dá um tapa na minha coxa.

— Você sabe o que o Ten faria contigo se ele descobrisse que você me tocou desse jeito? — comento enquanto tiro a torta da sacola e pego o garfo de plástico que estou rezando para que não quebre.

— Ih, vai chamar ele pra te defender, é?

— Nem preciso — solto uma risadinha meio triste. — Ele sente de longe.

— Tomara que quando ele vier pra me bater, traga comida e me deixe comer antes — ele ri, mas depois abraça-me de lado.

Eu deixo ele no vácuo e como a torta. Discutimos sobre uma polêmica banal e atual boa parte da tarde. Arrumamos tudo, fechamos a floricultura, cada qual segue seu caminho. Renjun vai ao cursinho, já eu vou para casa me arrumar pra faculdade. Tenho apresentação. Dou-me o luxo de pagar um motorista por aplicativo, porque estou ansioso e não quero me atrasar. E tudo, exatamente tudo, ocorre bem. O professor até parece gostar da apresentação, tanto que o debate se torna bem participativo. Pelo menos isso deu certo, né?

Na saída da faculdade, fico rezando para encontrar Ten em algum lugar, mas ele não está. Até checo meu telefone, mas só tem uma mensagem dele acompanhada com uma foto.

açúcar papai: vem logo, paixão
açúcar papai:


Eu passo o caminho todo até o ponto de ônibus tentando controlar o sorriso. Nem saí com Jungwoo hoje, porque ele saiu uns trinta minutos mais cedo, precisava ir ver o tio ou algo do tipo. Pelo menos o ônibus não demora, certo? Me vejo até ansioso para chegar, porque... Porra, é o Ten, nem tem mais o que acrescentar. Ele é sensacional.

E agora eu percebo, sim, que ele tem defeitos. E amar alguém não é sobre amar suas qualidades e seus defeitos também. Não quero romantizar defeitos que me deixam insatisfeitos só porque amo a pessoa. Ele é bem ciumento. Brinquei com isso hoje, mas a real é que me incomoda mesmo e já passei a  verdade pra ele. Eu amo Ten. Amo demais. Demais mesmo. Só que aprendi da pior forma que nem tudo que ele fala é verdade, nem tudo que ele acredita é o que eu acredito e somos pessoas diferentes. Amo tudo nele, mas não aceito tudo, nem tudo me deixa feliz ou satisfeito. E agora eu falo. Falo tudo o que penso, o que sinto, o que vejo. Espero fazê-lo falar mais também.

Mas é que passo tanto tempo pensando nisso que mal percebo o tempo passar. Faltam dois pontos para eu descer, daí mando mensagem ao Ten avisando que estou chegando. Sua resposta me faz rir no ônibus.

açúcar papai: de preferência venha sem roupa!

Será que ele está falando sério? Eu não sei como vou tirar a roupa. Será que eu posso tirar no jardim dele? Ah, não, os vizinhos podem ver e me denunciar... Mas que merda de mundo cruel é esse que não podemos nem andar pelados para fazer uma surpresinha ao namorado! O mundo é um lugar terrível!

— Motorista, pelo amor de Deus, o ponto! — eu grito, porque o homem tá virado no diabo e nem parou no ponto. Um desgraçado!

— Desculpa, senhor! — ele grita ao frear.

Desculpa minha bunda, isso sim!

Desço virado no ódio, mas fico mais calminho quando caminho para a casa do meu amor. Está um silêncio tremendo e eu ainda cheguei cedo. Eu ia passar em casa primeiro, tomar um banho, me arrumar melhor. Mas isso iria me custar tempo e dinheiro (dinheiro não cai em árvore para eu ficar gastando com passagem de ônibus toda hora não). Então eu toco a campainha assim do jeito que estou, exausto da faculdade e pensando na bundinha do Ten. Na comidinha, quero dizer. Tô com tanto sono que confundi as palavras...

Finalement! — exclama em francês assim que abre a porta.

— Boa noite, meu amor! — avanço sem medo algum, capturo-o num abraço, dou uma cheirada no seu pescoço e depois solto um beijo bem gostoso.

— Calma! — ele gargalha diante da minha afobação e percebo que fecha a porta com o pé, porque as mãos estão ocupadas me abraçando também. — Veio com fogo, né?

— Sempre estou com fogo com o assunto é você! — puxo seu cabelo da nuca e vislumbro o momento em que ergue a cabeça e me olha profundamente. — Você tá cheiroso demais...

— Está muito inspirado hoje, Taeyong — comenta baixinho, pondo as mãos nos meus ombros. — Tira a mochila.

Eu nem percebi que estava com a mochila. Afasto-me ainda olhando Ten. Tiro a mochila das costas e jogo no chão mesmo, em qualquer lugar. Quando Ten se abaixa para pegar, eu agarro ele primeiro e dane-se. Senti falta dele o dia inteiro. O dia inteiro! Sonhei com esse cheiro gostoso, docinho, para me enebriar. Sonhei com essa pele macia, delicada, incrivelmente boa para beijar e tocar. E agora que tenho, poxa, eu quero muito mais!

Cambaleamos até nossos corpos frágeis desejarem no sofá. Ele solta um gemido pela dor, porque eu caí em cima dele. Percebo isso e afasto o corpo para checar se machucou ou teve alguma coisa.

— Tá tudo bem — me assegura, puxando-me pela nuca. — Eu não te chamei para isso, Taeyong.

— Me chamou por que, então? — apoio-me com as mãos no sofá e olho-o nos olhos. Amo quando ele está usando óculos, embora ele use só quando está em casa. — Hm?

— Chocolate... Vamos testar os sabores — ele ri e põe as mãos na minha cintura.

— Ah, é! — eu rio também, mas nem por isso deixo de me inclinar para lhe dar um beijo. — Posso provar você antes?

— Eita — olha-me surpreso. — Depende.

— Depende do quê?

— De você tomar banho, me ajudar testando os chocolates e depois a gente vê isso. Na volta.

— Só um pouquinho de beijo, vai... — caço seus lábios em meio ao riso. Ele vira o rosto. — Tennie! Atravessei o país inteiro para te ter!

— País inteiro minha bunda!

— Sua bunda? Quero!

— Para, seu ousado podre! — me dá alguns soquinhos no abdômen e depois se move para sair debaixo de mim.

— Não — seguro seus braços e enterro a cabeça na curva do seu pescoço, deixando beijos até senti-lo relaxar o corpo. Ele se faz de difícil, mas amolece rápido.

Encaixo meu quadril ao seu, os beijos aumentam, ele me dá espaço ao jogar a cabeça para o outro lado. É isso. Descobri que Ten sempre faz a egípcia, mas no fundo quer. Parece que seu interior vive em disputa entre razão e emoção. Tudo que ele diz é movido pela razão, mas quando eu chego perto e lhe recheio de beijos... Ah, impossível ele não cair nisso. É tão fácil que eu me pergunto se é real mesmo.

— Senti muito sua falta hoje — dedilho os fios do seu cabelo preto. — Fiquei feliz pelo convite. Obrigado.

— Uhum — lambe os lábios vagarosamente. Oh, Chittaphon... Você não poderia ser mais óbvio que isso...

— Amei seu moletom. Vai me dar?

— Te dar o quê?

— O moletom — reviro os olhos. — Achou que era o quê?

— Me diga você...

— Chato — deixo um selinho nos seus lábios e me levanto no mesmo instante. — Vou tomar um banho.

— Ok.

Enquanto ele se senta no sofá, eu pego minha mochila e vou ao primeiro andar tomar banho. Nem me sinto sujo, realmente não estou, mas quero ficar cheiroso para ele. E até aproveito para vestir o moletom rosa que roubei dele. Enfio pelas pernas uma calça cinza folgada e em pouco tempo estou de volta ao térreo.

— Ten? — olho ao redor.

— Na cozinha.

Eu sigo para a cozinha, encontro-o em frente ao balcão que está repleto de barras de chocolate e alguns possíveis recheios. Ele está chupando o dedo indicador direito, o que me deixa subentender que melou o dedo de chocolate. Passo por ele, chego por trás, dou uma cheirada no pescoço enquanto abraço-o pela cintura.

— Grudento — reclama, mas não me afasta nem me pede para sair.

— Você gosta — puxo sua franja do rosto para atrás da orelha e aproveito que ele está quieto para deixar uns beijos super barulhentos na sua bochecha. — Você é lindo, lindo, lindo!

— Para, Taeyong — ele abaixa a cabeça, então percebo que está rubro de vergonha por isso.

— Ownt, que fofo — enfio o rosto no seu cabelo e sinto o cheirinho gostoso. Ten sempre anda com o cabelo bem lavado. — Eu vim pra apertar sua bunda, mas agora quero apertar sua bochecha.

— Seu banana! — vira-se de frente para mim e finge que irá me dar um soco. — Para de boiolar e me ajuda!

— Tá bom! — viro-me para a pia, mas antes de me aproximar, eu empurro minha bunda na virilha de Ten e escuto sua risada assim que me afasto. — Gostou da minha bunda?

— Você nem tem bunda.

— Como é? — me viro de volta  — Retiro tudo o que disse sobre você antes... Puta, desgraçada, vagabunda.

— Eu vou te esquartejar, Taeyong — finge que está procurando uma faca e isso me faz dar um salto de medo.

— Não, não, Ten! É brincadeira! — saio correndo para o outro lado do balcão.

— Peça desculpas! — aparece com uma colher de sopa e eu sou obrigado a rir.

— Peça você!

— Pelo quê?

— Por ter falado da minha bunda!

— Não vou pedir.

— Peça, bandido!

— Não vou!

— Ah, é? Pois então você nunca mais vai me ter. Está entendendo? Nunca mais vai me tocar... A menos que peça desculpas e me faça carinho como indenização por danos morais!

— Problema seu! — sacode a colher no ar. — Eu não volto atrás mesmo. Eu falei e tá falado! Não vou pedir desculpas!

— Então vai ficar sem meu corpinho pra sempre!

— Monstro! — ele finge um choro.

— Cala a boca, seu furico de capeta! — saio correndo atrás dele, mas Ten acha que vou desistir no meio do caminho para a sala e diminui os passos. Eu agarro-o pelas pernas e saio correndo com ele em direção a porta de casa.

— Taeyong! Me deixa no chão!

— Tá bom — largo ele no mesmo instante, então ele cai no chão e escuto apenas o barulho da sua queda e um gemido.

Nem penso antes de me virar e sair correndo. Eu sou maluco, mas não ao ponto de ficar parado esperando ver qual a reação de Ten. E ele tá maluco também, devo avisar. Só um pouco e logo já sinto seu corpo nas minhas costas, para enfim perceber que esse demônio lindo pulou em mim. Ele quer se vingar!

— Nãaao!!! — eu grito.

Ten morde meu ombro. O que ele é? Um animal silvestre? Jesus, está ardendo!

— Sai, doido! — sacudo-me de um lado para o outro, tentando derrubá-lo de novo. — Eu juro que te ajudo a fazer o chocolate.

— Se for assim, eu quero — solta-se por livre e espontânea vontade.

Não é bem umas pazes, é mais uma pausa. Voltamos à cozinha, lavo as mãos. Eu fico como assistente dele. Ele me deixa mexer a panela do recheio, enquanto ele faz a casquinha. Até mesmo me deixa pôr na forma. Mas, claro, dizendo que pareço uma criança na cozinha. Não sei o que isso especificadamente significa, então não reclamo nem nada. Fazemos três bombons de cada sabor que definimos naquele dia, para testar como ficará. Eu acho que está ficando bom, mas também tenho que levar em consideração que eu sou meio burrinho para as coisas de culinária. Ten entende mil vezes melhor, por isso deixo essa crítica por conta dele.

— Pronto, vai ficar na geladeira por um tempo. Depois tiramos de lá, soltamos delicadamente da forma e provamos — vira-se com a tigela ainda com resto de chocolate temperado. — Abre a boca!

Abro a boca e espero que ele me dê chocolate na boca. Ele apenas coloca uma colher cheia na minha boca e eu rio em meio a isso. Não sei bem o porquê, nem precisa de explicação. Inclinados sobre o balcão sujo, comemos as barras que sobraram e lambemos a colher e a panela. Eu digo que essa é a melhor fase que tivemos e fico feliz que está repleta de doces. Eu sempre quis isso mesmo. Deixamos de ser mornos, estamos quentes, e as ondas do mar invejam nosso movimento. Eu me melo de chocolate, ele ri naquele jeitinho gostoso e espalhafatoso, e mesmo assim eu melo seu nariz de chocolate. É que meu bem tem uma vibe de brincalhão e me deixa confortável da cabeça aos pés.

O mundo é sem sentido, careta e ligeiramente frio, mas aqui dentro o inferno pega fogo e nós brindamos chocolate. Ele joga o cabelo para trás, quando cobre seu rosto, e ainda ri quando estendo minha mão de chocolate em seu rosto. Ele finge que irá me bater, mas me abraça, e come o pedacinho da barra que eu peguei apenas para dá-lo na boca. Ele mela os lábios e parte da bochecha. Ele é lindo. Incrivelmente lindo. Às vezes olho-o e fico me perguntando como foi que eu arranjei assim alguém tão incrível quanto ele. Eu não sei como conquistei ele. Eu não fiz nada. Como foi que consegui ele? Minha falta de vergonha na cara? Deveria existir um livro sobre nós dois. Eu pagaria caro por ele, só pra analisar como foi que chegamos a isso aqui.

— Fofo! — Ten exclama, de repente aproxima-se de mim e morde minha bochecha.

Como eu estou melado de chocolate, ele aproveita para me lamber depois de morder. Nem adianta gritar, porque ele só continua enquanto ri. Vem trazendo beijos, traçando uma linha até meus lábios. Inclino-me, eu deixo, quero ser seu hoje à noite. Gosto quando ele faz assim. Beijando-me lentamente, chupando meus lábios, sua respiração escapando da boca quando a língua me toca e me incendeia. Seguro-o pela cintura, não nego, eu gosto disso. Entrego-me mesmo, não tenho vergonha, ele me beija e eu beijo de volta. Beijo de chocolate meio amargo é gostoso demais. Deixa-me três selinhos finais, depois se afasta.

— O chocolate ainda não acabou — aproximo o rosto do seu. Retomo o beijo e ele nem luta contra. Finalmente Ten deitou pra mim? Vou abrir um espumante para comemorar. — Você é tão doce...

— Nós somos tão doces — ele me corrige e sorri antes de retornar ao beijo.

— Uhum... — empurro seu corpo contra o balcão, me sinto viciado em ter sua boca na minha fazendo festa e algazarra.

— Hmm... Vamos... Vamos limpar — diz entre pausas.

Dou um desconto depois de um tempo, daí sou empurrado para o banheiro. Lavamos nossas mãos e rostos com sabão. Eu amo chocolate. Eu também amo Ten. Assim como amo todos esses momentos meio caos meio carinho que nos enfiamos. Tipo agora. Ele está tentando enxugar o rosto e eu estou aqui importunando-o tocando sua bunda e falando "fon" a cada vez que aperto, como se fosse uma buzina. Ele me olha com raiva pelo espelho, mas sei que é brincadeira.

— Se eu fizer o contrário, você não deixa né? — vira-se de frente para mim.

— A não ser que você peça desculpas — dou de ombros.

— Não — abana a cabeça dramaticamente e eu fico eletrizado pelos fios do seu cabelo emoldurando o ar.

— Então tá — saio do banheiro para me fazer de difícil, porém minha vontade mesmo é me jogar em cima dele. Vou ter que aguentar minhas próprias restrições. Jesus, cavei minha cova!

— Uh, Tae — Ten aparece ao meu lado, daí senta-se no sofá quando eu decido fazer isso. — Os meninos passaram lá para comer no restaurante. Vou te passar o valor pelo celular.

— Eles gostaram?

— Sim — puxa a franja para atrás até que parte dela realmente fique. — Se divertiram bastante, pelo que vi. Eles são fofos.

— Verdade — solto um suspiro.

— Pega o controle da televisão — aponta para a mesinha de centro.

Eu me levanto para pegar. Mas, quando me inclino, faço o favor de dar uma sensualizada. Eu não sei muito fazer esse tipo de coisa, mas dou uma empinadinha no bumbum e quando me ergo ainda dou uma reboladinha. Só escuto uma risada de Ten, daí percebo que falhei miseravelmente. Não era para ele rir.

— O que foi isso? — ele está cobrindo os lábios.

— Nunca viu uma gostosa?

— Já, mas desse jeito não...

— É pra você saber o que está perdendo — jogo o controle ao lado dele e paro na sua frente.

— Não tô perdendo nada.

— Ai, estou triste... A vergonha bateu. Não olhe para mim! — dramaticamente, puxo a barra do moletom para cima e cubro meu rosto com a roupa. A questão é que com isso uma parte da minha virilha fica exposta (essa calça é tão folgada que fica bem embaixo), assim como meu abdômen e um pouco do peitoral.

Ten cai na gargalhada, mas eu continuo assim. Ele vai ter que ser minha vítima. Não vou aceitar ser o palhaço da situação. Era pra ser uma vingança. Que ódio! Como não consigo fazer ele me desejar?

— Para, Ten... — finjo uma voz de sofrimento e ele até que diminui um pouco a risada.

— Foi mal — é o que diz. Depois disso, fica quieto.

Como não consigo enxergar nada por conta do moletom no meu rosto, não sei bem o que está acontecendo. Mesmo assim, fico assim por um punhado de segundos. Quero que funcione nem que seja um pouco.

— Vem cá — fala do nada, e então no segundo seguinte suas mãos estão na minha cintura, puxando-me para perto com pressa.

— Não, você não vai ter — afasto-me dele. — Nem adianta falar "vem cá".

— Você não tá pedindo?

— Nem um pouco. Vou até tirar a calça, porque está fazendo calor — na sua frente, abaixo a calça e deixo-a no chão. Quando ponho os olhos em Ten, ele está cobrindo os lábios de novo, mas dá pra ver que está rindo. — Tá rindo do quê?

— Nada — lentamente abana as mãos, tentando se controlar.

Fecho a cara e me sento ao seu lado no sofá. Estou chateado de verdade, eu jurava que ele pelo menos iria ficar caladinho olhando, passando um bocado de coisa na cabeça dele. Mas nem. Ele só está se recuperando do riso, porque eu sou muito palhaço mesmo. Não aguento mais isso. Se fosse ele no meu lugar, eu iria me curvar no primeiro segundo.

— Oh, mas que coisinha fofa... Bebê cuti cuti — ele decide zoar com a minha cara, cutucando minha bochecha com o indicador. — Faz um aegyo, Yongie!

— Aegyo minha bunda! — cruzo os braços.

— Bilu, bilu, bilu — dá batidinhas no meu nariz.

Uma vontade de rir toma conta do meu ser, mas ainda vou manter minha pose. Estou chateado.

— Aegyo, gatinho — aperta minha bochecha esquerda, ao passo que aproxima o rosto do meu. Provavelmente vai tentar morder minha bochecha, do jeito que está viciado nisso ultimamente.

Quando ele aproxima para me morder, eu viro o rosto e lhe dou um beijo. Surpreende-se de primeira, inclusive quebra o beijo por uns instantes, mas recupero nosso compasso, nosso jeito espalhafatoso e veronil. Porque não importa se o tempo está esfriando: enrolo seu corpo ao meu e desejo que possamos durar a eternidade no nosso mundinho de mordidas, beijos e corrida. A madrugada cai, mas ainda estamos despertos. Quero-o bem, abraço-o terno, beijo seu rosto sem pressa e ausência de sossego. Estamos bem. Estamos tão bem.

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