nós somos apenas amigos aqui

taeyong

Que a Terra estremeça! Eu sou o homem mais feliz do mundo, devo dizer. Pode ser que daqui a duas horas eu venha me refutar... Mas, sinceramente, foda-se tudo (perdoe meu linguajar um tanto chulo, aliás). Eu estou feliz e ponto.

Por quê? Bem, porque eu tenho o amor da minha vida e só isso importa. Você pode pensar: ain, Taeyong, mas esse negócio de amor da vida não existe e pipipo... Admita que não encontrou o seu e pronto! Eu encontrei o meu e não vou abrir mão. O macho só vive cheiroso, é bonito, tem decência e um sorriso maravilhoso. Pensa num sorriso maravilhoso... Pois é, ele tem. Literalmente. Ele, Ten! É o amor da minha vida.

E ele está tão na minha! Ele está completamente na minha. Da última vez que o vi pensei até em pedir em casamento, não vou negar. Foi no aeroporto de Incheon. Deixei flores no seu cabelo, uma garrafa com chá e ele estava tão lindo e amoroso que... Poxa, era pra eu ter pedido em casamento naquele momento mesmo! Tinha tudo para dar certo: uma decisão importante feita por um impulso emocional. Essas coisas funcionam tão bem comigo...

Mas, sério... As viagens que fizemos foram incríveis e eu amei tudo por onde passamos e que fizemos. Ainda tenho na cabeça inúmeros momentos com ele, sobretudo quando cuidou de mim ou fizemos burradas juntos. Eu amo muito as nossas coisas. Acho que comecei isso direito. Estou apaixonado e sou o homem mais feliz do mundo!

De todo modo, estou me tremendo um pouco. Talvez por conta do ar-condicionado, de fato, mas porque vou reencontrá-lo depois desse intervalo entre os vôos e minha viagem. Aqui, já na porta do aeroporto, mando uma mensagem para ele dizendo que já cheguei. Estou na Tailândia. Nunca pensei que viria cá. Olho ao redor, as construções, as pessoas, os escritos... Deveras fascinante. Quero andar por aí, mas o risco de eu ser sequestrado é gigante, ou então eu me perco. É melhor me sentar aqui no cantinho e esperar meu amor chegar.

Quarenta minutos depois ele surge num cavalo branco e cabelos ao vento... Mentira, mas bem que podia ser, né? Que garoto lindo, senhor... Está vestindo roupas diferentes desde a última vez que o vi, seu cabelo está úmido — a raiz totalmente preta, porém o resto do cabelo está loiro — e suas mãos estão dentro dos bolsos da calça.

— Oi — eu sorrio aproximando-me dele.

— Oi — a ausência de um sorriso é notada por mim. — James vai te ajudar com as coisas...

— Quê? — fico sem entender.

Repentinamente, um homem aparece ao meu lado já pegando minha mochila e sacola, falando algumas coisas em tailandês. Gente, eu não sei o que está acontecendo, eu só sei falar palavrão e baixaria no tal idioma, pois Chittaphon fez o favor de me ensinar. Também sei dizer a alguém que o amo, mas isso só posso falar para uma única pessoa. O cara vai caminhando até um carro claramente caro e coloca minhas coisas no porta-malas.

— Vem — Ten me guia para o carro com a mão na região do meu cóccix. Depois de chegarmos perto, ele afasta a mão de mim e abre a porta. — Entra.

E é assim, é? Não tem nem um beijinho, é isso? Como assim? Como é isso?

Eu entro, pois não há outra opção. Um carro chique... Cheiroso... Limpo... Bem a vibe do carro de Ten, só que é outro modelo e acho que é outra marca. Sou horrível com essas coisas de carro. O que importa, na verdade, é Chittaphon sentar bem distante de mim e esperar o tal James acomodar-se como motorista. Não falamos um "ai" audível. Porque se for inaudível, eu estou gritando vários "ai" de dor por estarmos numa vibe tão distante.

— Você tá bem? — pergunto.

— É — essa resposta é tão rasa que me estabaco todo só em tentar mergulhar.

Assim que o tal James liga o motor e avançamos pela rua, fico tentado a fazer mais perguntas a Ten. Mas não. Não falo nada. Ele e o motorista conversam alguns instantes, aparentemente cordialmente, porém não entendo uma só palavra. Eu gosto quando Ten fala em tailandês, porque ele parece mais alegre ou entusiasmado. Suas expressões são mais claras também. Eu noto quando ele desaprova algo, quando parece brincar ou concorda. Claro que em coreano percebo também, mas há algo de diferente quando comunica-se na língua nativa.

Olho a rua. As placas que não consigo ler fundem-se aos edifícios grandes e pequenos, largos e estreitos, comerciais e residenciais... Todos eles me abraçam. E no meio disso tudo, as árvores buscam destaque, talvez comoção. As sombras das suas folhas beijam meu rosto. Às vezes eu caio nesse consolo e acho que é o bastante. E a demora vem. Demora. Não tenho na mente quanto tempo gastamos à caminho da casa de Chittaphon, mas nos afastamos da cidade. Ou melhor, do caos, do trânsito, dos prédios, dos cheiros urbanos...

E quanto mais distante vamos ficando, vou tentando me manter calmo e com a mente vazia de coisas desnecessárias e ruins. Eu digo isso porque nem estamos conversando. Quando aponto alguma coisa ou comento algo, ele nem dá atenção. Eu não sei se fiz algo de errado. Agora que estamos numa estrada que aparentemente leva a alguma propriedade privada, só consigo ver árvores, relvas, arbustos e algumas mansões distantes. Então é aqui que os ricos ficam pra fugir do povão da cidade? Uma observação um tanto curiosa. Sabe, como a burguesia isola a si mesma, porque estar só no pedaço do nada é mais confortante que rodeada de proletariado.

— Chegamos — finalmente escuto-o falar em coreano. Já estava começando a pensar que ele tinha esquecido que não sei falar os mesmos idiomas que ele.

Divaguei tanto que nem percebi que estávamos estacionando frente a uma mansão, só que aparentemente é mais natural. Eu olho e meu fôlego esvai-se. É como uma junção de casas que seguem o mesmo estilo de arquitetura, porém ligam-se entre si tanto nos andares superiores quanto no térreo. É branca, mas tem inúmeros acabamentos em madeira. Pela coloração, posso chutar cerejeira, mas não tenho o mínimo de certeza. Repleta de árvores, tanto dentro quanto por fora. E ainda na entrada, há um chafariz de Buda antes do pórtico da casa principal, num pequeno laguinho ornamental.

— Acho que James vai levar suas coisas ao quarto, depois de estacionar — Ten chama a minha atenção ao dizer. Abre a porta do carro e eu saio, ainda olhando ao redor.

Eu nunca iria adivinhar que Ten havia crescido num lugar tão natural e calmo como esse. Nunca. E ele guia-me para dentro, em silêncio, apenas o barulhinho dos nossos passos sobre a trilha para a casa. Mas ao invés de passarmos pelo pórtico, vamos caminhando pela lateral. Olho para dentro da casa, pois algumas partes são feitas de vidro, como o que parece ser a sala de jantar. São muitas informações para processar. Na minha direita, bem distante, consigo ver o tal lago recheado de água. Está distante, então demoraria para ir andando. Mesmo assim, está ali. E é lindo.

— Queria te dizer uma coisa — Ten começa. Eu inspiro profundamente, o gostoso e limpo ar da natureza. — Nós somos apenas amigos aqui, ok? Não me leve a mal...

— Ah.

— Então... Nada de beijos, nada de abraços, de ficar muito próximo ou grudado em mim, nada de mãos dadas... — quanto mais ele vai citando, fico mais desmotivado. Olho o espelho d'água que circunda a casa e noto a presença de peixinhos. — Eu já avisei que traria um amigo. É melhor assim. Mas se bem que, por mais que estejamos juntos, não estamos assim... Sabe... Juntos.

— Se somos amigos, por que tirou o anel da amizade? — eu falo, porque percebi isso desde que estávamos no carro, mas não falei nada.

— Não quero que alguém veja e pense outra coisa — ele me diz, cruzando os braços.

Eu tiro o meu anel meio bravo, ponho dentro do bolso da calça. Estou meio irritadiço. Me diz como é que fica irritadiço no meio do calor da natureza?

— Seu quarto é mais distante dos principais — conta-me ainda, ao passarmos por um portal de pedra rústico. — Vem cá...

Então ambos nos metemos numa fatia da casa adentro, sendo hospitalizados por um cheirinho floral de alguma espécie. Ele me leva a uma escada, em que na parede há algumas fotografias de pessoas. Uns arranjos de flores aqui e acolá... Subimos ao primeiro andar. O corredor é bege, o assoalho de madeira, há lamparinas japonesas. Fico apenas seguindo Ten, notando um detalhe e outro, talvez todos que consigo ver assim tão rápido.

— Aqui, seu quarto — ele abre a porta de um dos cômodos e entra comigo.

É espaçoso, bem arejado, claro e, acima de tudo, bem chique. Eu, que cresci num beliche num quartinho pelo qual brigava com minha irmã, nunca que ficaria acostumada com tamanha beleza e extensão deste quarto. A cama é enorme e corpulenta, praticamente tornando-me numa formiga estirada no colchão. A coloração das paredes é entre branco e bege, talvez ambos. O assoalho é o mesmo do corredor, uma madeira escura, como verniz mogno, pelo que aparenta. Vejo alguns vasos de plantas, alguns cactos, suculentas e samambaias. Perto da cama há uma porta para a varandinha cuja vista não faço ideia do que seja. E do outro lado, na minha direita, uma porta branca em verniz que suponho ser do banheiro.

— Eu venho te buscar no horário do café, almoço e jantar — Chittaphon fecha a porta do quarto. — Se quiser algo fora do horário das refeições principais, é só me mandar mensagem ou me ligar que mando alguém trazer o que quer. Hmm... Se quiser livros, eu posso trazer da biblioteca do meu avô... Acho que ele deixa eu entrar. Na verdade, eu e minha irmã somos os únicos que podemos entrar sem autorização... Hm... Se quiser jogos de cartas ou tabuleiro, eu posso trazer. Ah! Na televisão tem vários canais... — ele gira o corpo para a parede em frente a cama, agora vejo que tem uma televisão bem grande. — Mas se você quiser, pode fazer login com alguma plataforma de streaming e colocar séries, filmes ou música... Então você pode assistir aquele negócio de gemido feminino.... Sei lá...

Reviro os olhos. Ele ainda não superou que You não é pornografia.

— Tem wifi aqui, eu pedi para minha mãe deixar num papel anotado em algum lugar... — ele anda pelo quarto até parar na bancadinha ao lado da cama. Ergue um pedaço de papel e sacode no ar para chamar minha atenção. — Tem o nome da rede e a senha.

— Ah, ok. Mais alguma coisa?

— Não que eu me lembre — Ten cofia o queixo liso.

— Me responde uma coisa?

— Sim?

— Quanto tempo vou ficar aqui em cativeiro? 

Ten olha-me por alguns segundos depois começa a rir. Deve estar achando que estou de brincadeira.

— Eu estou falando sério — reforço.

— Cativeiro?

— Você me seduziu no meu país, me sequestrou para o seu com uma falsa promessa e agora está me mantendo em cativeiro disfarçado de visita — resumo toda a trama que se passa na minha cabeça. — Vai enganar outro, seu caloteiro!

— Taeyong, tem como você relaxar?

— Relaxar uma pinóia! — arqueio o cenho. — Por que você tem que trazer as coisas para mim e agir como se eu devesse ficar no quarto o tempo inteiro? Sequer me deixou ver alguém, tampouco um palmo da casa!

— Shh... — ele vem até mim, cobrindo meus lábios com sua mão direita. Ficamos em silêncio. Do lado de fora, escutamos uma voz masculina dizendo algo que não consigo entender. — Fica quieto, depois a gente briga. Quando der seis horas a gente briga, ok?

Eu tento falar, mas ele aperta mais ainda. Parece estar tentando escutar a conversa lá de fora. Não é no corredor, é no jardim. Acho que James está também, porque eu reconheço a voz dele. Em falar nele, é aquele tipo de tiozinho com vibe de gente boa. Gostei dele, mas não sei se gostou de mim.

— Shh... — Ten repete, agora afastando a mão do meu rosto. Ele tira o celular do bolso e faz uma chamada. Fala um monte de coisas em tailandês que não consigo entender, mas no meio disso tem meu nome. Ele repete meu nome três vezes. Não sei do que se trata. Depois disso, encerra a camada e guarda o celular. — Fica aqui... Não saia. Não apareça na janela nem na sacada.

E simplesmente sai do quarto levando a chave e tudo. Nem consigo pensar em nada quando esse maluco psicopata sociopata doido manipulador nato tranca a porra da porta e me deixa aqui sozinho, sem minhas malas — James, cadê minhas coisas????!!!! Jaaames!!!!! — e morto de cansaço. Mano, será que aquele negócio de lavagem de dinheiro é real? Será que Chittaphon está mostrando quem ele realmente é e vai me obrigar a fazer coisas il3g4is, já que eu tenho um passado do tipo? Meu Deus, onde foi que me meti?? Puta merda.

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