nós queremos festejar com álcool

— Pa-pa-party! — Doyoung grita histericamente quando Ten abre a porta da casa.

No mesmo segundo que nos vê, Chittaphon bate a porta sem mais nem menos. Ele odeia a gente junto.

— Vamo invadir a casa desse vagabundo — Kim segura meu braço e do Yuta, nos puxando para a lateral da casa de Ten. — Vejam se tem como a gente entrar de penetra por algum lugar.

— Você sabe que eu sei abrir a porta dele, né? — pergunto.

— Sabe? — Yuta e Dodo falam em uníssono.

— Tem pouco tempo que ele saiu da era jurássica e colocou senha — eu conto.

— Você também tá, então. Sua porta é de chave — o comentário do japonês me faz revirar os olhos.

— Mas o moço do prédio disse que em breve vai mudar todas — minha explicação sai meio arrogante propositalmente. Yuta nem liga. — Enfim, acontece que ele me deu a senha para testar...

Então nós três voltamos para a porta da casa. Eu chego pertinho do tecladinho para botar a senha e respiro fundo. Pelo que eu me lembre, Ten colocou a data de aniversário dele como senha. Agora é molezinha para eu entrar.

— Vai logo — Doyoung me apressa.

Digito os números um por um, com paciência, e espero a porta destrancar. Mas não ocorre isso. Na verdade, aparece no visor da caixinha preta que a senha está incorreta. Eu não acho que errei, então digito de novo. Continua dizendo que a senha é incorreta. Então eu paro de tentar, porque vai que chama a polícia?

— Você é um merda, Taeyong — Kim me olha com um falso nojo.

— Não fala assim do meu TaeTae! — todo esbaforido, Yuta me abraça de ladinho. — Ele fez o melhor que pôde! — bagunça meu cabelo e começa a deixar beijos espalhafatosos no meu rosto. Um deles agarra o canto dos meus lábios, mas Yuta não parece ligar para isso.

Mas, do nada, a porta abre e Ten está sério olhando para nós três.

— Largue meu namorado — e então me puxa pelo pulso para ficar perto dele e sair das garras do japonês. — Se eu sonhar que você está beijando ele, eu te meto a porrada.

— Ei, Ten, eu posso me defender, sabia? — afasto meu pulso da mão dele, porque acabou apertando um pouco demais. Tanto que esfrego a mão nessa área para ver se melhora o desconforto. — A gente já não conversou sobre isso?

Ten fica me olhando silenciosamente, entende no meu olhar o que quero dizer. Então eu vou abraçá-lo pela cintura, porque aparentemente encher ele de carinho é uma forma de dizer "ei, eu não quero yuta, eu só quero você”. Eu amo enchê-lo de carinho, claro que sim, mas é estranho ter de fazer isso para acalmar o seu ciúmes. Mesmo assim, eu quero esquecer o assunto e lhe dou um beijo na bochecha para mostrar que estive com saudades.

— Te amo — sussurro baixinho com uma voz aguda e fofa.

Ele me abraça também e me faz sair do caminho para que os meninos possam entrar. E então, depois disso, ele fecha a porta, ainda com os braços em mim. À medida que Naka e Kim se espalham pela casa, querendo saber da vida de Ten, ficamos aqui no cantinho nos abraçando e trocando alguns beijos tímidos no rosto.

— É só brincadeira, tá? — falo baixinho, passando a mão pelo seu cabelo já grandinho. — E também, só assim pra você abrir a porta.

— Como você é insuportável, Taeyong — ele revira os olhos, mas percebo que é brincadeira. — Fechei a porta porque vocês vieram muito cedo e não sei se vou conseguir suportar vocês três por tanto tempo assim, não.

— Poxa, Chitta... — finjo estar triste. — Meu coração chora.

— Quer ir lá num quarto rapidinho? Tô com saudades de você — sua fala faz meu coração errar sei lá quantas batidas, sinto que estou prestes a perder o ar.

Chittaphon? Ten Chittaphon Lee-seja-lá-que-merda está com saudades de mim e tá me chamando para beijar? Juro que ganhei meu dia, meu ano, minha década! Eu sou tão frágil, tão arcaico, essas coisas mexem comigo de um jeito irreparável. Quero me consertar, mas não consigo. Eu destilo esse olhar castanho, alumiado pelos ousados raios solares, e fico de queixo caído ao constatar que é real, ele quer isso mesmo. Ele me quer nisso também. Eu acredito que ele me ame, só que a ficha nunca cai. Acostumei tanto a chorar pelos cantos, morto, desmantelando, que quando essas pequenas alegrias me surgem, eu não sei lidar ou sei lá o quê. E ele entende, meu pai do céu. Entende que talvez eu não venha responder verbalmente, mas a resposta é sempre sim.

Segura minha mão e me leva para um dos quartos do térreo. Passamos sem chamar atenção dos patetas, porque estão distraídos falando que Ten tem cara de quem tem piano em casa só para decoração e que não sabe tocar uma nota sequer. Eu sorrio no meio do caminho. Sorrio até escutar o click da maçaneta e o trum da chave fechando a porta. Eu fico sem ar, te juro, mas me deixo levar mesmo assim. Tempestade boa é em copo d'água, porque não é nada e a gente passa mal. Difícil seria lidar com uma verdadeira, estilo Ten me empurrando pelo peito até a cama, me fazendo sentar.

O que se sucede a isso é extremamente atraente e gostoso, nível eu-não-quero-parar-nunca. Honestamente, eu amo quando ele está disposto a me beijar na boca por tempo indeterminado, porque é esse tipo de coisa que faz pensar que ele me ama demais, sabe? Principalmente quando me abraça pelos ombros, me faz um carinho sereno, encosta os lábios no meu e faz devagarinho o tipo de coisa que mata, parece cilada, e eu caio que nem peixe na rede.

Triste é ter de se separar e sair do quarto como se nada tivesse acontecido. O bom é que Yuta e Dodo não ligam para o fato de termos ido nos pegar um pouco, porque assim eles ficaram sozinhos na casa e resolveram sumir de vez. Ten me dá um último beijo no canto do lábio, bem carinhoso. Ele vai seguindo para a cozinha. Eu sorrio abobado. Se isso fosse uma animação do século passado, como meu amigo Kim falou mais cedo, corações estariam dançando sobra a minha cabeça e meus olhos seriam substituídos por eles. Eu estou apaixonado, gente. Eu estou muito apaixonado.

— O que é isso aqui, Chittaphon? — Yuta aparece vindo do andar superior com um papel na mão. Ele vai entrando na cozinha. Eu sigo, porque sou curioso. Ainda mais, Yuta pronunciou o nome de Ten meio errado. Não sei nem como ele descobriu o lance do Chittaphon. — Teu nome é pornô cu?

— Quê? — eu acabo rindo.

— Lee-chaiya-porn-kul. Pornô cu — a explicação de Yuta é o auge para eu rir. — Só podia ser safado mesmo, tá no nome!

— Isso é verdade? — pego o papel da mão de Yuta e vejo que é uma correspondência. Está escrito o nome dele todo, porque está em inglês. Aparentemente, o Ten faz doação a instituições internacionais. Dessa eu não sabia.

— Taeyong, você não sabe qual é o meu nome? — Ten se vira para mim.

Porra.

— Aham... Aham... Sei, sim — concordo com a cabeça, tentando soar verdadeiro.

— Yuta, guarda isso — Ten solta um suspiro e pega o papel da minha mão, dando para Yuta de novo. — Não fique mexendo nas minhas coisas. E meu nome não é pornô cu, pare com isso.

— O cara tem o nome todo zoado e depois diz que a culpa é minha... Ai, ai... A vida é assim mesmo... — Nakamoto sai da cozinha resmungando.

— Tá fazendo o quê? — questiono ao Ten.

— Eu estou só checando se tudo está certinho para as pizzas de mais tarde — ele mexe em algumas coisas dentro da geladeira e eu vejo como está cheia. — Quer sorvete?

— Você me conhece e já sabe a resposta.

Ele ri baixinho e tira um pode de sorvete de creme de avelã do freezer. É um potinho individual e eu fico feliz por poder tomar sozinho. Pego uma colher e fico encostado no balcão olhando ele checar os queijos e outras coisas que se coloca por cima da pizza. Até mesmo experimenta o molho da panela.

Do nada, a campainha toca e alguém abre a porta. Eu fico onde estou, mas Ten sai da cozinha para ver quem é. Eu continuo onde estou até escutar a voz de Renjun. Sou obrigado a ir correndo ver se é mesmo verdade.

— Eu trouxe meu namorado, não me importa se não podia — é o que Huang está dizendo.

Atrás dele está Jaemin, quietinho e tímido por estar com a gente na casa do Ten. Eu olho para os dois e fico em silêncio também, mas minha vontade é rir. Eu nem sabia que ele viria, mas agora que está aqui, acho que o bonde está completo para encher o saco de Ten.

— E também tivemos que trazer meu cachorro — Huang sai da frente de Jaemin e revela o cachorrinho nas mãos do namorado. — Ele iria ficar ansioso se ficasse sozinho.

Pronto. Finalmente o caos começou. Não preciso nem olhar Ten para saber como está sua cara.

— Não vou querer cachorro pulguento na minha casa, não — Chitta aponta para a porta.

— Mas ele é fofinho, olha — Renjun segura o cachorrinho de pelugem loira, não sei qual a raça, mas parece Labrador ou Golden Retriever. Eu nunca sei qual a diferença, sendo honesto. — Tá crescendo, sabia? É um filhotinho que tá crescendo. Ele já tá ficando um homão. Não tá tão bebezinho assim.

Renjun, tentando convencer Ten, aproxima o animal do meu namorado e eu só fico assistindo. Surpreendentemente, o bixinho dá uma cheirada em Ten e depois umas lambidinhas na bochecha dele, porque o Ten virou o rosto para que não agarre na sua boca.

— Tá, tá... Mas se ele mijar ou fizer cocô, eu te dou uma surra com esse cachorro. E se ele destruir alguma coisa na minha casa, eu te dou uma surra com esse cachorro. Se ele destruir o meu jardim...

— Já sei... Você vai me dar uma surra com o cachorro — Renjun termina a frase, e logo depois entrega o cachorrinho para o Jaemin outra vez. — Nada disso vai acontecer, tenha certeza.

Eu solto um suspiro e continuo tomando meu sorvete. Doyoung aparece vestindo uma camisa de Ten e eu fico rindo da ousadia dele. Eu consigo me divertir com qualquer coisa, mesmo que o caos esteja tocando fogo. Tipo agora. Ten está voltando para a cozinha e Jaemin decidiu pôr o cachorro no chão. E então agora o totó de Renjun tá seguindo Ten pela casa. Será que eu sou assim também? Digo, ficar seguindo Ten porque eu me encantei por ele?

— Cadê cachaça? — Doyoung senta no sofá  todo folgado. Eu vou indo para a cozinha quando ele me faz parar: — Taeyong. Você praticamente mora aqui, né? Onde é a adega do Ten?

— Eu não sei se ele tem adega. Eu só conheço a adega do restaurante. Eu sei que ele deixa algumas bebida visíveis, numa parte específica da cozinha, mas eu sei que ali é só uma amostra do que ele tem. Agora eu realmente não sei onde é a adega dele.

— Você é um péssimo namorado, sinceramente. Que tipo de pessoa namora alguém rica e anda com jeans de péssima qualidade e não sabe onde é a adega do desgraçado? — a reclamação de Renjun me faz ficar de queixo caído pela ousadia dele. Como ainda me surpreendo?

— É por isso que eu gosto desse moleque! — Yuta faz um high five com Renjun e em pouco tempo todo mundo senta nos sofás da sala de estar. — Vamos, Taeyong! Você já errou a senha da porta e agora não sabe onde é a adega de Ten? Que namoro vagabundo é esse?

— Ah, vai tomar no meio do seu cu, Yuta! — dou dedo para o desgraçado e continuo minha jornada para a cozinha. Se eu não estivesse com o pote de sorvete, eu com certeza daria dedo com as duas mãos.

Eu entro na cozinha e encontro o cachorrinho de Renjun literalmente no pé de Ten, esfregando o pelo na perna dele. Ten praticamente me implora para tirar ele daqui. Mas não adianta muito: quando eu afasto ele, após guardar o resto do meu sorvete no freezer, sai correndo para ficar no pé do Ten de novo. Eu pego ele e vou para a sala, jogo sobre o colo de Yuta e percebo que esse totó também gosta do Nakamoto, porque fica se esfregando nele e tentando brincar.

— Como é nome da tua cria? — Dodo questiona.

— Totó — a resposta me faz rir.

— Naquela vez que eu fui na gráfica e você me perguntou qual nome seria bom para cachorro você levou isso a sério? — cruzo os braços de tão surpreso.

Antes de trabalhar comigo, o Renjun trabalhava na gráfica do pai de Jaemin. É só a algumas quadras da floricultura, por isso eu ia lá direto imprimir algum pôster, panfletos ou todo e qualquer material gráfico da floricultura. E foi numa dessas visitas que eu cheguei a fazer uma certa amizade com ele. Na verdade, a gente ficava batendo papo bem casual. Numa das conversas ele perguntou um nome para cachorro e eu falei Totó, porque era o de Dorothy. Um nome horrível, eu não sabia que ele iria levar a sério.

— Claro! — Renjun ri. — Mas, ah, Taeyong! Arranja a bebida! Nós queremos festejar com álcool.

— E você já pode beber? — Dodo faz a pergunta de um milhão.

— Já bebo há muito tempo! — Huang sacode as mãos, me mandando ir procurar a cachaça.

Eu sou obrigado a ir de volta à cozinha, chego bem pertinho de Ten e pergunto onde é a adega.

— Quem te disse que eu tenho adega? — vira-se para mim.

— Hm... Bem... todos os ricos têm, né?

— O que te faz pensar que eu tenho?

— Você deve ter, né?

Ten fica uns segundos olhando para mim, em silêncio.

— Volte para a sala que eu venho com as bebidas — é o que me diz.

Eu volto para a sala e me sento num dos sofás laterais, ao lado de Yuta. Eles me perguntam onde está a bebida e eu digo que o Ten está arranjando para a gente, provavelmente foi pegar na tal adega que eu não sei onde é.

— Ten te deu uma senha falsa e ainda não quer que você saiba onde é a adega... — Nakamoto põe fogo no parquinho. — Esse namoro de vocês tá lindo, né? Tô pensando aqui que as coisas seriam tão diferentes se tivessem me deixado fazer parte dele...

— Eu vou arranjar alguma coisa pra beliscar — decido ignorar a brincadeira e pegar o pote de balinha que tem na mesinha de centro. Pego para todo mundo também e vou distribuindo.

— O que é aquele pote vazio ali? — Yuta tira Totó do colo e se levanta.

Sigo seu olhar, afinal impossível ignorar seu fascínio. Numas prateleiras onde há algumas esculturas, livros e quadros de foto, eu vejo o bendito pote vazio sobre a Bíblia falsa que compramos na internet. Isso me faz rir e eu juro que me controlo. Não tenho êxito, claro, e todo mundo vê minha risada como incentivo. Yuta se estica para pegar o pote e fica olhando como se quisesse desvendar.

No instante seguinte, ele tenta abrir, mas não consegue. Fica tentando repetidas vezes, porém parece bem apertado.

— É melhor não mexer nisso — eu aviso, mesmo sendo em vão.

Assim que Chittaphon aparece com duas garrafas de bebida alcoólica na mão, Yuta consegue abrir o pote e fica comemorando como se tivesse feito algum gol ou um milagre aconteceu. Decerto, estava muito fechado, mas não é como se o fato de ele ter conseguido abrir seja tudo isso. Às vezes Nakamoto aumenta as coisas.

— Yuta! — Ten grita, o que nos faz virar para a sua figura meio baixinha perto da porta. — Você liberou o espírito do Michael Jackson!

A real é que eu não consigo lidar com isso. Eu não consigo lidar sem rir. Do nada, a caixa de som do banana liga e começa a tocar bem alto Waka Waka e nos assusta de verdade. Até Totó fica latindo toda hora, todo agitado. É isso.  Ten vai matar o Yuta.

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