nós precisamos voltar logo

Eu achei que iríamos nos pegar muito, mas acabamos brincando com carrinho de controle remoto 🤡.

Sério, tá sem condições. Juro que tentei, ok? Mas a cada segundo ele ficou interessado na decoração, ou então fazia pergunta sobre minha vida, checou até alguns álbuns de fotos meu de criança. O máximo que consegui aqui foram alguns beijos animados cheios de carinhos quando ele viu quão fofo eu era quando nenê e que continuo bem fofo agora também. Ele apertou minha bochecha quinhentas vezes — não é hipérbole — e me abraçou apertado inúmeras. Ele até me forçou a imitar algumas poses das fotografias e eu juro que estive perto da um colapso há uns dez minutos atrás. E agora estamos aqui apostando corrida com carrinho de controle remoto. O meu é preto e o dele é vermelho.

— Taeyong, quando a gente vai se pegar? — eu pergunto, tentando empurrar o carrinho dele para sabotar a corrida.

— Quando você ganhar a corrida de forma limpa.

— Eu nunca vou ganhar de forma limpa, eu me atrapalho com o controle. Eu tentei frear, acabei acelerando e bati na parede com tanta força que um pedaço do para-choque quebrou.

— Porra, Chittaphon, como é que você dirige? Agora estou morrendo de medo de entrar num carro com você como motorista — ele faz uma careta quando me viro rapidamente para olhá-lo.

Só de ódio eu lhe dou uma fechada digna de Velozes e Furiosos e, tudo bem, pode ser que meu carrinho capote depois, mas pelo menos impedi que ele chegasse na linha de chegada que fizemos com cartas de Uno. Taeyong suspira bem alto.

— Tem como você jogar limpo? — ele fica pistola e vai lá pegar os carrinhos e voltar para a linha de partida, também feita com cartas de Uno. — Nada de empurrar meu carro, Ten. É sério.

Eu rio da sua raiva por uma besteira como essa e, quando começamos a corrida, ao invés de empurrar seu carro, eu dou um empurrão nele que o faz cair na cama. Ele reclama nos primeiros segundos, mas... Adivinha? Eu consigo roubar um beijo dele e no final ficamos bem, porque consigo o que quero. É só preciso uns beijinhos rápidos para Lee Taeyong perceber que essa é uma boa ideia e que deve cair nas minhas garras de vez e parar de lutar. Ele tem os lábios bem úmidos com os meus e eu gosto de quão lentinho ele beija. Ademais, extremamente gamo no carinho na nuca que me dá.

— Merda — eu resmungo, após meu celular começar a tocar. Saio de cima de Tae e arranco o aparelho do bolso.

— Trabalho? — Tae pergunta.

— Sim... — checo o nome de Kun na tela. — Só um momento, tá?

— Uhum.

Tae volta a brincar com o carrinho enquanto me aproximo da janela para atender. Eu queria muito ignorar as chamadas de todo mundo hoje, só que tem algumas que eu simplesmente não consigo deixar para lá. Realmente, não tem como ter um segundo de paz.

— Alô? Kun? — atendo a chamada.

— Oi, chef — me responde. — Queria te avisar de algo e falar sobre como as coisas estão por aqui...

— Uh, aliás... Você conseguiu pegar os legumes com o fornecedor? Eu liguei ontem... — acabo interrompendo-o após lembrar de algo.

Encaro o horizonte escuro pela janela e fico pensando nas vezes que fiz o mesmo, só que sonhando com os meus objetivos. Eu gosto de pensar que já realizei tudo que queria, mas acho que seria mentira afirmar tal coisa. Há coisas que alma deseja e não fazemos ideia do que seja. Eu queria ser menos complicado, uma pessoa mais simples e previsível. Queria entender as coisas que se passam na minha cabeça e as que não se passam e o porquê. Sou o mesmo menino de onze anos que queria se mandar da casa dos pais que brigavam mais que tudo. O mesmo que fugia de casa todo mês, mas voltava crente de que tudo iria dar certo da próxima vez, e abraçava o travesseiro pensando em quão bom seria ter meu próprio restaurante e minha própria vida.

— Sim, sim... Deu tudo certo — um pigarro, depois silêncio. — Ahn... Enfim... Tem dois cozinheiros aqui que estão dando certo problema...

— Seja mais específico, por favor — me inclino sobre o peitoril só para sentir o ventinho do início da noite.

— Está havendo muitos conflitos entre eles dois, ruídos de comunicação... Enfim, isso está impactando negativamente o restaurante. Eu já tentei intervir, mas nada do que eu tento dá certo. Os pedidos estão vindo atrasados, eles vivem numa briguinha que atrapalha toda a dinâmica da cozinha, além de confundir as comandas e...

— Quem são? — faço o enorme favor de interromper.

— Olha, chef, não acredito que seja muito justo o senhor demitir...

— Me diga quem são, por favor, Kun.

Ele hesita por alguns segundos.

— Yongsung e Kangjun — finalmente me diz. — Eles estão dando muito trabalho.

— Pois eu vou dar um jeito neles — falo. — E o resto das coisas?

— Estão indo... — ele solta um suspiro. — Ultimamente Jaehyun está bastante no seu escritório, então às vezes nos horários de pico, os garçons fazem o trabalho dele.

— Que diabos ele está fazendo no meu escritório?

— Não sei, chef.

Eu fico alguns segundos pressionando a têmpora, vendo alguns dos meus primos correrem atrás uns dos outros do lado de fora. Alguns são adolescentes, outros são adultos. Eu não costumo interagir tanto com eles, pois não parecem tão verdadeiros quanto deveriam. Constantemente acho que estão aqui pelas migalhas que caem dos bolsos do meu avô e nada mais. Também, não quero mais pensar sobre isso, estou certamente cansado, antes de tudo. Gostaria que as coisas fossem fáceis.

— Ok, Kun, obrigado. Eu juro que em breve estarei aí — dou uma batidinha no peitoril e giro meu corpo na direção de Taeyong, que está sentado na cama com o controle remoto na mão. — Tchau.

— Tchau — ele se despede antes de desligar.

Se meu restaurante está tendo problemas, eu devo estar lá para resolver ou, no mínimo, dar um sermão em todo mundo que está participando da balbúrdia. E eu sei muito bem quando vou chegar... Amo chegar de surpresa, num horário de pico, quando a casa estiver cheia e a cozinha lotada de demandas. Eu amo. Porque aí eu vejo que raios está acontecendo quando eu não estou por perto.

Ademais, eu tenho passado mais tempo longe do que lá, então era de se esperar que minha ausência eventualmente iria causar alguma merda. De todo modo, eu não vou admitir ter clientes insatisfeitos só porque dois marmanjos não conseguem se resolver. Se tem uma coisa que detesto é trazer coisas pessoais para ambiente de trabalho.

— Nós precisamos voltar logo — anuncio ao Tae, que fica me olhando sem nem piscar. — Depois de amanhã, vamos ir rápido.

— Ok — ele faz uma careta. Acho que está gostando mesmo daqui.

— Você gostou daqui mesmo, né?

— É legal, grande e tem muito contato com a natureza — dá de ombros, um tanto simplório.

— Enfim — suspiro alto. — Pelo menos meus familiares não ficaram no seu pé. Isso é algo bom, de certa forma. Mas precisamos mesmo voltar, porque preciso estar no restaurante.

— Uhum, entendo — cruza os braços e ligeiramente inclina a cabeça para o lado. — Também preciso. Até porque daqui a poucas semanas vou fazer minha rematrícula e minhas aulas voltam. Só sinto dor e tristeza com uma notícia dessa.

— Pensei que você gostasse da faculdade.

— Eu gosto, mas é muito gostoso também ficar um pouco de cara pra cima descansando...

— Ah, sim... — eu sorrio e me aproximo dele, sentando-me na cama. — Já parou pra pensar que daqui a um mês vai estar tudo bagunçado? Digo... Você trabalha de manhã e de tarde, mas à noite vai para a faculdade. Eu provavelmente estarei o dia inteiro ou no estúdio de gravações, ou no restaurante. E, de noite, com certeza no restaurante.

— Sim, vai ser muito louco — Tae afaga o próprio queixo, como quem pensando. — Vou dar meu máximo por você...

— Você não precisa dar seu máximo. Não precisa se esforçar tanto.

— Mas eu quero — ele diz. — E preciso, sim. Não vou deixar a gente ficar meio... Cinza. Temos que aproveitar bastante antes de você viajar de novo.

— Taeyong, vai ser ano que vem.

— E daí? — agarra minha mão esquerda e não tarda a cutucar meus anéis. — Você nem vai poder me ver durante esse tempo, então temos que curtir o agora... Não acha? Eu quero isso.

— Eu te entendo, mas ao mesmo tempo... Não precisamos forçar as coisas só porque eu vou estar ausente por um tempo — eu explico lentamente e com cuidado, porque falar de assuntos delicados com ele é o mesmo que pisar em ovos. — Vamos deixar que role naturalmente.

— Pelo menos podemos fazer surpresas? Por exemplo, eu aparecer no seu restaurante, você aparecer na minha floricultura... Sabe, para nos encontrarmos um pouco, já que nossos horários nunca batem. A não ser que você queira ficar comigo só de madrugada... — ele faz uma expressão maliciosa e depois ri de si mesmo.

— Nem toda madrugada eu vou poder estar com você... Assim como também nem todo dia poderei ir te ver ou será bom você me ver... Mas vamos tentar, de acordo com as demandas dos dias — ergo a mão para lhe afagar o queixo.

Tae concorda ao menear a cabeça.

— Certo — morde o lábio inferior com uma expressão meio pensativa. — Mas eu posso ir no seu restaurante essa semana ainda?

Respiro fundo.

— Pode, só não vale fazer aquela palhaçada de antes.

— Que palhaçada? — faz a egípcia.

— Do coq au vin — reviro os olhos, enquanto ele gesticula um "ah" simbolizando reminiscência. — Senão eu dou um murro em você.

— Ownt, você é tão romântico... — me puxa para um abraço apertado e gruda nossas bochechas.

Eu sorrio com o jeitinho carinhoso dele e me deixo levar pelos carinhos e beijos no rosto. Talvez se trate disso mesmo, de eu me permitir e deixar os escudos caírem de vez em quando para eu experimentar como é ser cuidado com tanta intimidade como agora.

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