nós precisamos falar mal das roupas das pessoas

ten

Paro o carro na frente da floricultura de Taeyong. Ele me vê no mesmo instante e vem correndo até abrir a porta. Senta-se como passageiro ao meu lado e solta um suspiro ao fechar a porta.

— Boa tarde — eu cumprimento, deslizando meu corpo sobre o banco para chegar perto dele.

— Boa... — seu tom meio tímido me traz estranheza, mas deve ser apenas Taeyong sendo Taeyong.

Vejo-o atrapalhar-se por inteiro na hora de pôr o cinto de segurança, sendo assim pego-o da sua mão e o enfio na trava. Como ele parece meio nervoso, seguro seu rosto e olho em seus olhos. Inicialmente, ele desvia para a rua, porém eu cubro um pouco seu campo de visão e ele acaba por olhar-me atentamente nos olhos.

— Você tá bonito — lhe digo, porque é verdade.

— Você também — ele desce os olhos pela minha roupa e eu sorrio.

— Relaxe, ok? — toco num dos seus ombros e vejo-o balançar a cabeça. — Vou estar lá com você, então nem precisa se preocupar.

— O que eu devo falar e o que eu não devo falar?

— Não precisa falar muitos detalhes. E se quiser maquiar o relacionamento, é até melhor.

— Então... Você está me dando permissão para mentir sobre nós?

— Só um pouco. Não precisa inventar coisas absurdas, assim como também não precisa contar algumas verdades nossas que ninguém precisa saber. Entendeu?

— Até onde posso falar?

— Não sei — pondero por alguns instantes. — Se eu inventar algo, você vai na minha. Tudo bem por você?

— Uhum...

Eu passo uns segundos olhando para o seu rosto, ele também olha para o meu e ficamos assim. Queria dizer que a maquiagem dele está linda e que o cabelo divido e com fixador também está esplêndido, só que acho que a seriedade dele mostra que ele não está muito no pique de carinhos ou sei lá. Não sei, ele está passando uma energia meio distante.

— Por que está sério? — tiro o carro do ponto morto e de fato desligo o motor.

— Tô meio ansioso... — Tae esfrega as mãos na calça verde e agora eu noto como ele está mais cottagecore, do jeito que amo. — Desculpa...

— Você não pode se desculpar pelo jeito que se sente — empurro minha franja esquerda para atrás da orelha e vislumbro o momento que meu dengo balança a cabeça. — Por que está ansioso?

— Não sei... Tenho medo de... — faz uma pausa ao engolir em seco. — Tenho medo de falar alguma besteira ou parecer idiota ou então não ficar bonito ou...

— Tae, Tae... — seguro suas mãos com força. — Respira fundo, por favor? Um, dois, três e...

Ele fecha os olhos e respira profundamente por cerca de sete segundos, enquanto isso eu lhe acaricio as mãos. Assim que abre os olhos de novo, me encara com esses olhos afiados já claros pela luminosidade solar que banha nós dois.

— Respire fundo de novo — peço gentilmente.

Ele faz assim como peço. No final, segura a minha mão e aperta um pouco. Eu me afasto dele para checar se dentro de algum compartimento tem uma garrafa d'água, mas eu não encontro. Nem nos bancos traseiros tem. Me levanto e saio do carro, faço a volta e apareço no lado de Taeyong.

— Vem aqui comigo rapidinho — abro a porta e seguro-o pelo braço, com o intuito de ajudá-lo a se levantar, após tirar o cinto.

Eu não sei muito o que fazer, sendo honesto, porque quando acontece comigo eu fico meio perdido e pareço uma bola de bilhar meio perdida na vida, fugindo do taco o tempo inteiro. Eu sei como é ruim, por isso seguro sua mão sem nem pestanejar e procuro alguma loja ou mercado. Do outro lado da rua tem uma loja de conveniência e eu levo Taeyong comigo até o interior. Compro duas garrafas de água, suco de pêssego (que ele gosta) e alguns doces também. Faço carinho nas suas costas na hora do pagamento e, sei não, fico até meio fora do lugar por ele não brigar comigo ou reclamar por estar gastando dinheiro com ele. Aproveitando esse seu momento quieto, peço pra moça não fechar ainda, dou um pinote gostoso e volto com alguns salgadinhos de banana e também de mel. Eu sei que ele vai gostar, por isso não ligo.

— Eu vou estar com você... — segurando a sacola com as compras numa das mãos, tenho minha outra mão percorrendo sua lombar com carinho. Dou um beijo na sua bochecha enquanto esperamos o sinal fechar para os carros. — E você está lindo, sabia?

— Eu trouxe aquele chapéu de sapinho que você comprou pra mim, mas eu desisti de usar.

— Por que desistiu?

— Eu não quero parecer bobo.

— Você não é bobo e não vai parecer bobo — abraço-o pela cintura com força. — Nem tem porque se preocupar, já que vai ser só umas perguntas bobinhas, depois vão tirar umas fotinhas e em breve estaremos indo embora falando mal da roupa de alguém.

— A gente não fica falando mal da roupa das pessoas.

— Viu só? A gente tem que começar a fazer isso! Nós precisamos falar mal das roupas das pessoas. Somos tão bons em fashion. E em falar em quão bom em fashion você é, saiba que eu vou usar essa calça semana que vem, então acho melhor você me emprestar ou eu roubo.

— Por que você é assim?

— Porque eu quero te ver muito, muito feliz — apoio meu queixo no seu ombro por apenas alguns segundos, porque logo precisamos atravessar a rua com pressa.

Já no carro outra vez, eu lhe entrego uma garrafa de água e peço para que ele beba. Não quero negligenciar isso. Já estou acostumado com entrevistas, eventos, programas... Ele não está, e tudo bem com isso. Minha preocupação é que se ele não está pelos cantos pulando, boiolando ou falando besteiras, eu não sei o que fazer. Talvez esse seja o Taeyong que eu ainda não conheço muito bem, porque ele nunca me mostrou. Queria saber lidar com isso, e confesso que estou nervoso por ele. Como posso ajudá-lo?

— Coma docinho, você gosta tanto — tiro um pacote de jujubas e umas balinhas de caramelo da sacola.

Ele come as de caramelo primeiro, em silêncio, eu me questiono o que deveríamos fazer. De longe eu vejo Renjun dentro da floricultura atendendo algum cliente. Pego meu telefone e procuro o contato dele que peguei para o aniversário de Taeyong. Nossa mensagem recente é sobre o vídeo do Tae dançando Just Dance. Pergunto o que fazer quando Tae fica triste e ansioso.

stalker gnomio que trabalha com meu baby: dar atenção
stalker gnomio que trabalha com meu baby: dar cuidado
stalker gnomio que trabalha com meu baby: precisa que alguém converse com ele pra tentar distrair do que é que faz ele ficar assim
stalker gnomio que trabalha com meu baby: alguém que demonstre se importar com ele, porque as vezes taeyong é carente aí quando ele fica assim acha que não tem ninguém
stalker gnomio que trabalha com meu baby: mesmo que tenha uma multidão com ele, ele vai sentir que não tem ninguém. então ele não pode se sentir sozinho
stalker gnomio que trabalha com meu baby: normalmente eu coloco música para cantarmos juntos ou fico perguntando coisas que já sei, mas sei que ele também sabe, pra ele ficar falando e interagindo. o que ajuda muito ele é interação
stalker gnomio que trabalha com meu baby: ele tava meio pra baixo hj, então entendo sua pergunta. espero que ele melhore. fique com ele hj, pfvr, se possível durma na casa dele.
stalker gnomio que trabalha com meu baby: bye apareceu um cliente

Bloqueio o telefone e o deixo sobre o painel. Tenho isso em mente: assuntos. Qualquer assunto. Preciso de um assunto. Um assunto. Assuntos. Assuntos. Assuntos. Quão difícil é achar um assunto para conversar? Meu Deus, eu não sei o que falar com o meu próprio namorado!

— Hm... Então... Como tá nosso bebê? — tento puxar um assunto, mas me arrependo no segundo seguinte. Merda.

— Ainda não é um bebê, vai levar bastante semanas para que seja um bebê — ele dá de ombros.

— Não importa, é o nosso filhinho — estico meu braço e encosto minha mão no seu abdômen. Meu Deus do céu, o Taeyong tá com uma barriguinha!!! Caralho, é dia mais feliz da minha vida 😭😭!!!! — Taeyong! Você tá com uma barriguinha!!! Ela não tá sequinha, olha! Tem coisa pra apertar nela!!!

— Agora vai ficar falando do meu corpo, é? — ele contrai a barriguinha e eu rio.

— É num bom sentido! O bebê está crescendo em você!

— Não é bebê ainda, Ten!

— Mesmo assim — cutuco sua barriga, mesmo que seja ele quem normalmente é fissurado por barrigas. Já perdi as contas de quantas vezes ele já cutucou meu umbigo ou ficou a apertar. — Se nosso bebê tiver suas feições e sua inteligência, seremos muito sortudos.

— Eu não sou tão bonito nem tão inteligente!

— Quanto é vinte mais vinte vezes quarentena, então?

Ele fica alguns segundos mastigando a bala.

— Oitocentos de vinte.

Ué.

— Hmm... Bem... — pigarreio algumas vezes. — Como tu chegou nesse resultado?

— Eu calculei primeiro o que estava em parênteses, a multiplicação — estende o braço para pegar as jujubas e prontamente começa a desembrulhar. — Você tinha pensado no quê?

— Eu fiz primeiro a adição e depois a multiplicação, porque nem eu me toquei no que eu mesmo disse. Foi bem aleatório, esqueci no segundo seguinte.

Taeyong despeja duas jujubas de vez na boca.

— Você administra um restaurante com esse cérebro, é? — olha a ousadia dele!

Não sobrou mais um pingo sequer de empatia em mim agora.

— Fale isso de novo e eu enfio essa jujuba no seu cu, Lee Taeyong!

Ele cai na gargalhada e desliza o corpo pelo banco como quem quisesse ficar mais largado, solto, confortável. Fico feliz que ele não esteja parecendo o mesmo robô de antes.

— Cu doce — comenta baixinho, porém escuto.

— Como é a história? — eu não consigo manter minha pose.

— Hm... Você vai ter que provar — sua expressão maliciosa me tira dos eixos.

— Cara, namoral, eu tô com muito ódio de você agora — eu me aproximo para lhe dar socos leves como vingança, mas ele se toca e segura meus braços em total desespero enquanto ri.

— Ai! Minha jujuba! — ele grita tão agudo que eu juro que tinha me esquecido de como ele surta agudinho de vez em quando.

O pacote de jujuba dele caiu no chão do carro, ele simplesmente me larga, pega as que caíram, dá um soprinho de dois segundos e depois enfia na boca. Sério. Ele simplesmente come a jujuba que tocou onde o tênis dele estava há segundos atrás. O tênis dele que pisou na rua. Na rua que, sei lá, algum bixo passou. Que pessoas passaram também. Meu Cristo. Osíris. Buda.

— Que nojo, Taeyong! Nunca mais me beije — faço uma careta e enrugo o nariz, porque a situação tá complicada.

— Nem teve nada, você que é gay fresca. Não gosto de gay fresca.

— Sai do meu carro, então. Terminamos agora — aponto para o lado de fora.

Taeyong segura o pacote de jujuba, abre a porta do carro e sai. Sim, ele sai! Ele vai direto para a floricultura e me deixa aqui sozinho. Eu gasto um minuto inteiro esperando o momento que ele irá voltar e dizer que é brincadeira, mas ele não volta. Sou obrigado a sair do carro e segui-lo para dentro da floricultura. Será que fui longe demais na brincadeira para distraí-lo da ansiedade?

— Taeyong, meu pesseguinho fresco! — eu entro com certa pressa, pois já vai dar duas e meia e ainda estamos aqui. — Me aceite de volta, por favor!

— Por que pesseguinho fresco? — Renjun se mete na conversa, assim que me aproximo do balcão onde Taeyong está encostado.

— Porque a bundinha dele parece um pesseguinho, é bem macia — explico, porém Tae abaixa a cabeça e cobre o rosto de vergonha.

— Uh, sai fora, TMI! — Renjun faz cara feia.

— Você que perguntou, ora — seguro o Tae pelos braços e puxo para perto de mim.

— O que é TMI? — Tae quer saber, ao passo que eu literalmente obrigo-o a me abraçar pela cintura.

Too Much Information — é o que respondo. — Quando alguém mostra ou diz mais do que deveria, algo meio desnecessário de se falar ou mostrar. Algo beem pessoal e meio inapropriado, que não importa a ninguém saber. Às vezes nem é algo necessariamente inapropriado, mas coisas pessoais aleatórias que não acrescenta nada na vida de ninguém.

— Ah! — alguns segundos olhando para o além, depois ele ri. — Agora entendi porque ele falou isso...

— Vem logo, senão vamos nos atrasar — vou caminhando para a saída e levo Taeyong comigo.

— Voltamos a namorar?

— Voltamos.

— Oba! — ele sorri e, eu sei que estamos brincando e que essa comemoração é falsa, mas ele está tão lindo sorrindo assim que eu chega acredito. — Eita, minha jujuba!

Taeyong volta para pegar a jujuba e eu fico aqui fora esperando ele. Assim que volta para o carro, eu ajudo-o a pôr o cinto de segurança e rapidamente lhe dou um selinho nos lábios. Ele sorri e eu fico feliz. Sei que nem sempre posso ajudá-lo em seus momentos ruins, mas pelo menos espero que ele não se sinta sozinho.

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