nós podemos almoçar no parque
Mal consigo respirar. Precisei correr para não pegar chuva, porém no meio do caminho o toró caiu sem dó nem piedade. Agora vejo-me sem ar, pingando, empurrando as compras pelo caixa e rezando para que o dinheiro que tenho na mão dê para pagar. Eu esqueci minha carteira de cartões na minha bolsa e só vim perceber quando cheguei. Só que, felizmente, dá tudo certo. Maldita hora que saí de bermuda, sandália e camiseta, porque agora tô todo molhado e a culpa é da chuva. Escoro-me na fachada do mercado esperando a chuva passar, pensando aqui se a pizza que pus no forno de Taeyong irá queimar. Acho que não, porém é apenas uma crença. Dentre as compras, há refrigerante de laranja, do jeitinho que Tae me pediu.
Já tem alguns dias que as aulas dele voltaram. Estamos nos vendo só de vez em quando, porque na maioria das vezes estou ocupado e ele sai com Jungwoo. Queria ser mais presente, mas nem dá. Tem as gravações que estão a todo o vapor e ainda o restaurante. As terças e quintas são incríveis, porque tem música ao vivo e os clientes amam música ao vivo. Eu mesmo amo música ao vivo, embora eu quase nunca fique no salão para contemplar. Com o abre e fecha da porta da cozinha eu escuto coisa ou outra. Ademais, tenho vindo ao apê de Taeyong raramente, porque fico cansado e com sono, chego em casa e esqueço até da minha existência. Quando nos encontramos, falamos sobre o seu projeto para a floricultura e ajeitamos algumas pontas soltas. Embora nos vemos pouco, acho que estamos bem.
Hoje é sábado, por isso tenho tempo para esperar a chuva passar. Está de noite, tarde, tem nem uma hora que fechei o restaurante. Por mais que eu esteja cansado, não estou tanto quanto pensei que estaria. E vou pensando nisso quando corro pela rua debaixo de chuva mesmo, dane-se. Cansei de esperar. Atravesso a rua com uma tremenda pressa, atacado pelos pingos violentos d'água. Assim que chego no prédio de Tae, solto um palavrão frustrado. Me molhei todo. Mas não vou me abalar, de modo algum. Deslizo meio cinza pelo saguão até o elevador. Encosto-me na parede após selecionar o andar e depois fico a olhar minhas condições no espelho.
Ando ansioso, sabia? Ansioso, porque essa semana é a semana que eu e Taeyong iremos fazer um mês de namoro. Esse mês foi eterno demais, bem longo, mas acho que é porque estivemos muito ocupados. Minha felicidade é que, de um modo geral, nos vemos bastante e isso é algo bom. Estou imensamente nervoso, já que marcamos de sair juntos à noite, após a faculdade dele. Não comentamos muita coisa, mas acredito que irá rolar troca de presentes. Tenho trabalhado duro nos presentes dele, por isso espero que goste. Inclusive, agora há pouco estive resolvendo algo relacionado a um dos presentes. Sim, é mais de um e ele que lute. Não estou nem aí.
Como saí com a chave, entro no apê sem nem bater à porta ou tocar a campainha. Adentro do imóvel aos tropeços e, após guardar as compras na cozinha, sigo para o banheiro com o intuito de me secar e trocar de roupas. Yong está sentado no chão, à mesinha de centro, escrevendo no seu caderno enquanto assiste a um documentário (eu acho que é documentário, né) que algum professor dele mandou. Ele tem estado focado nos estudos desde que as aulas voltaram, tanto que me acostumei em vê-lo quieto escrevendo, lendo um livro ou assistindo alguma coisa na internet. É até bom, porque não fico nesse sentimento de querer entretê-lo. Ele cuida das coisas dele, eu cuido das minhas. Minha pizza está assando. Tae que pediu para eu fazer. Eu amo-o demais 😕.
Pizza está pronta, meu cabelo já está secando, eu apareço com duas fatias num prato para Taeyong. Ele agradece num gesto, porém não para pra comer.
— Dengo, é melhor comer algo — me sento no sofá, atrás dele, e me inclino para alcançar seus ombros nus. Levemente faço uma massagem e sinto-o relaxar o corpo.
Tae me disse que gosta de sentir o frescor da chuva, por isso está sem camisa para o friozinho.
— Só deixa eu terminar aqui rapidinho... — praticamente choraminga, todo dramático.
— Não... — curvo meu tronco o suficiente para que eu possa encostar meus lábios na sua cabeça e deixar alguns beijos. — Vou pegar o refrigerante que você pediu. É pra comer, viu? Você tá há um tempão aí. Desde que eu estava no restaurante você me disse que estava estudando. Olha quanto tempo! Já ouviu falar em Pomodoro?
— Já...
— Pois então! Leve isso a sério. Dê uma pausinha.
— Você quer atenção? — vira-se para mim com um sorriso no rosto.
— Não, eu quero que você coma.
— Ainda sim é fofo...
— Haha, abestalhado. Vá lavar as mãos! — dou uma batidinha no seu ombro esquerdo e ele se levanta.
Levanto-me também, mas vou à cozinha. Volto com refrigerante e minhas fatias de pizza. Como Lee pediu bastante queijo, eu realizei o desejo dele. É mais como um incentivo para que continue estudando. Não sei se ele entende, porém senta-se comigo no chão e pausa o documentário. Comemos a primeira fatia em silêncio, olhando um para o outro, vez ou outra enroscando nossas pernas. A gente sempre faz isso.
— Hm... Você vai ficar aqui amanhã? — quer saber.
— Você me quer aqui amanhã?
— Claro! — ri amavelmente e eu me distraio observando-o.
— Então eu fico — decido.
Vejo-o balançar a cabeça e voltar a comer a pizza. Gosto de vê-lo comer, embora meu medo seja de que ele não esteja comendo direito esses dias e esteja comendo só quando eu venho aqui. Sei que, em comparação com o ano retrasado, ele está comendo mais. Mesmo assim... Fico preocupado. Acaricio seu joelho enquanto ele mastiga e de vez em quando bebe um gole do refrigerante.
— Como estão as gravações? — questiona assim que termina a quarta fatia (tive de repor, já que ele pediu mais) e lambe os dedos.
— Estão indo bem, por incrível que pareça. Essa semana gravei com um ator super famoso como convidado, mas você só vai saber quando estrear.
— Eu nem posso ter tratamento VIP? — encosta-se na frontal do sofá e sorri descaradamente para mim.
— Não — abano a cabeça. — Tá pronto para a sobremesa?
— Tem sobremesa? Eu já estou cheio!
— Quero te ver mais cheio ainda! — de súbito levanto-me e vou à cozinha.
Volto com um prato com dois pedaços de brownie com nozes e recheio de caramelo que fiz, acompanhado com duas bolas grandes de sorvete de creme. Tae me chama de maluco por eu me esforçar tanto, só que eu respondo que isso não é nada. Tenho um pressentimento de que daqui a alguns meses estarei atolado de trabalho, por isso estou tentando ao máximo fazê-lo sentir bem por agora. Eu disse que iria me esforçar para ele, e estou cumprindo minha palavra. Só não posso fazer mais que isso, porque também tenho minha vida.
— Oh, tem calda de caramelo que eu comprei! — saio correndo e volto com a garrafa.
Despejo a calda sobre o sorvete e logo em seguida o Taeyong me pede para pôr na boca dele.
— Vira, vira — ele levanta o rosto e abre a boca.
— Não é mais fácil colocar no seu dedinho e você chupar?
— Não, é mais legal assim.
Solto um suspiro e levanto a calda. Derramo um pouco na sua boca, mas o panaca ri e move a cabeça, então a calda começa a derramar no seu peitoral até eu me tocar da situação e virar de volta pra cima. Ele fica rindo como se fosse criança.
— Que ideia de idiota! — eu rio da meleira no corpo dele.
— Você que fez errado! — ele fala entre pausas, pois está engolindo a calda. — A culpa é sua, Ten, se estivesse prestando atenção... Melou tudo, banana...
— Ah, a culpa é minha, é? — deslizo meu corpo para perto dele e de primeira ele saca que minhas intenções não são benevolentes.
— É sua, sim, mas não precisa me bater, meu lindo... — ele tenta se afastar, porém seguro um dos seus braços e o puxo pra mim. — Não, Ten... Era brincadeira, brincadeira... A culpa foi sua, não... Por favor... Não me bata... Eu sou um pobre coitado...
— Shh... Caladinho! — só é preciso segurar sua mandíbula e deixar seu queixo no meio da minha palma que consigo controlar seu rosto. — Agora vai comer, que eu tô mandando.
— Socorro, quer me matar aqui! — tenta virar o rosto, porém é em vão.
Aproveito que sua boca está aberta e despejo bastante calda. A questão é que ele se fica se debatendo e gemendo, logo facilmente se engasga e começa a tossir. Eu paro no mesmo instante, ainda mais porque a movimentação dele fez com que sujasse suas bochechas, o queixo e até mesmo caiu sem querer no seu abdômen. Eu amo brigar com Taeyong e faço isso pela diversão de tirá-lo do sério ou prová-lo que não pode sair limpo após brincar comigo. A mensagem está passada, já que eu pouso a garrafa da calda na mesinha e tomo o meu sorvete enquanto ele tosse ao engolir.
— Eu guardo tanto rancor seu, Chittaphon! — está de joelhos no chão, me olhando com um olhar afiado e duro que nunca vi antes. Não sei se é o ângulo que estou, porém seus olhos estão abertos parcialmente e a sombra das luzes artificiais lhe dão um ar extremamente sombrio e assustador. — Eu vou puxar seu pé quando estiver dormindo.
— Você não faz maldade nem com uma mosca, besta — rio dele.
— Olha só! Você me sujou todo! — cutuca o grude que está no seu abdômen e eu rio, porque o caramelo está deliberadamente deslizando pelo seu corpo.
— É bom que você está literalmente gostoso — faço sinal de legal, mas minha plenitude tira-o do sério.
É questão de tempo até ele se jogar sobre mim, esfregando-se para me sujar de caramelo. Eu acabo gritando de susto e tento fugir, porém sou segurado pelo quadril enquanto sinto seu rosto contra o meu. Faço cócegas nas suas axilas e aproveito que sua reação é instantânea, uma vez que Taeyong é extremamente sensível, e saio das garras dele. Tropeço na hora de me levantar e acabo batendo meu joelho na quina da mesinha de centro. Me estabaco no chão e rio da minha própria desgraça.
— Sabe nem andar direito! — o maldito do Taeyong fica rindo de mim e me alcança com facilidade, após se recompor da risada. Era pra eu ter feito mais cócegas para deixar bastante tempo de recuperação.
Seus dedos me seguram a cintura. Meu coração está acelerado pela pressa e adrenalina que produzi para fugir, mesmo que tenha falhado. Umedeço os lábios ao ter meu corpo virado para cima e quase morro sem ar de rir com o sorriso descarado do meu namorado. Acho que estou viciado em brincar com ele.
— Você agora vai ter que provar, já que estou literalmente gostoso — é o que me diz e eu estou ?????
Me sento aos risos, porque nem acreditar na situação eu estou. Estou pasmo, na verdade, com o rumo da nossa conversa. Nem ele está levando a sério, por isso nossas risadas estão se complementando e eu acho isso a coisa mais linda. Gosto de quando apóia a cabeça no meu ombro de tanto rir, ele nem aguenta. Caramba, eu amo quando ele ri da própria piada.
— Isso foi horrível demais. — eu o abraço pela cintura, mas não encosto meu corpo no dele, porque está realmente grudento.
— Será que eu posso ser sua sobremesa hoje, Ten? — o Taeyong sem vergonha apareceu, madames, prepara que isso daqui já vai virar um cabaré, se ele continuar assim.
— Sabe aquele dia que você perdeu a aposta de Renjun? Estou sentindo essa vibe aqui... Bem forte...
— A diferença é que hoje estou pedindo para ser degustado — Taeyong fala isso com tanta risada no meio que fica difícil interpretar. Ele se senta nos calcanhares e depois acrescenta: — Droga, Ten, você me distraiu dos estudos.
— Desculpa...
— Vou te perdoar com uma condição... — seu olhar torna-se ambíguo, de um jeito tão explícito que nem adianta eu me passar por burro. — Me fazer sua janta.
— Idiota — me levanto, porém faço-o se sentar. — Coma o brownie que fiz com todo o amor para você, seu abestalhado.
— Tá bom, tá bom... — vai dizendo ao pegar o garfo. Enfia uma grande porção na boca antes de dizer: — Mas depois você me come?
— Taeyong, para com esse linguajar! Você não era assim! — estou a pegar os copos usados e os pratos para levar à pia.
— Estou traduzindo o que meu corpo sente...
— Você estava tão fofinho, santo, concentrado na lição... — jogo tudo na pia, vou lavar agora, enquanto espero Taeyong terminar de comer. — Não sei como conseguiu ficar assim.
Percebo que meu braço esquerdo, minha bochecha e antebraço estão melados com o caramelo de Taeyong. Me limpo com um pano úmido, no entanto compreendo os desejos do universo em me fazer tomar banho. Acho que só vou tomar banho por conta disso, caso contrário ficaria assim até amanhã. Alcanço as luvas que Tae mal guarda e lavo todos os pratos usados. Guardo o que sobrou da pizza e do brownie também, porque com certeza vamos comer mais tarde ou amanhã no café (dane-se, pizza é café sim). Chego na sala para ir ao banheiro tomar banho, contudo a imagem do Lee me chama a atenção. Ele está sentado na pontinha do sofá, já terminou de comer o brownie, e agora está fazendo a bendita brincadeira de despejar calda na boca. Das duas, uma: ou ele vai acabar diabético ou vai sair com caramelo até no fiofó.
— Já deu disso, né? — pego a calda da sua mão. — Vou esconder essa porra.
— Você é sem graça!
— Pensei que iria me chamar de cavalo desgraçado — enfio-me na cozinha para esconder, porém inicialmente fico a olhar ao redor para encontrar um lugar. Abro o armário de temperos e enfio lá no fundo. Como Taeyong não cozinha, ele não vai abrir muito, então vai ser difícil achar. Sou um gênio.
— Eu pensei nessa possibilidade...
Fecho o armário antes que ele venha para a cozinha e veja. Apareço na sala e noto sua permanência no mesmo lugar. Acredito que ele está morrendo de preguiça até mesmo pra brigar comigo.
— Oh, Ten... Já que amanhã você vai ficar por aqui... Quer sair comigo? Nós podemos almoçar no parque. Da última vez que falei isso acabou não rolando... — encolhe os ombros.
— Hm, tudo bem — sento-me ao lado dele. — Se você ainda estiver vivo, sim...
— Como assim se eu ainda estiver vivo?
— Porque eu vou te matar de amor! — puxo-o pela nuca para um beijo, ao passo que também empurro seu corpo para que deite no sofá.
Digamos que agora eu queira provar.
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