nós passamos a noite toda tentando te ajudar com ele

De novo. Eu acordo com o coração saindo pela boca e o corpo um tanto estranho. Eu tive um sonho com Ten outra vez. Um daquele sonhos adulto idiotas.

Tudo começou com Doyoung voltando do banheiro e dando detalhes do seu sexo esplêndido com o tal Jaehyun. Bebi demais, perdi duas rodadas de Uno e ainda fiquei com o rosto quente de pura vergonha — sério, se você nunca escutou seu amigo descrever em detalhes desnecessários as mãos do seu arqui-aminimigo, sinto muito se não entender a seriedade do problema. O problema é que meu inconsciente deve ter absorvido todo o conteúdo ou algo do tipo, porque só foi eu cochilar abraçado com uma almofada do sofá que eu tive um puta sonho erótico com Ten. E agora estou aqui.

Eu não sei como, mas nós três dormimos na sala. Pelo menos caímos no sono. Yuta está jogado aos pés do sofá, enquanto eu estou aqui sentado, e Dodo está do outro lado do sofá com as pernas sobre mim. Como me movimentei rápido ao acordar suado, ele se mexe com lentidão, e aos poucos abre os olhos. Consigo ver claramente porque, já que como dormimos sem querer, deixamos as luzes ligadas.

— Porra, que horas são? — ele resmunga enquanto coça os olhos.

Meu celular está no chão, ao lado de Yuta. Levanto-me do sofá e com cuidado me afasto do japonês, porque tenho medo de acordá-lo e ele sair xingando também. Dou um pulinho para não pisar nos seus braços e pego meu celular. Assim que desbloqueio, percebo que são duas e quinze da manhã.

— Duas e quinze — aviso.

— Quem? O quê? Quando? — do nada, Yuta acorda e começa a fazer essas perguntas sem sentido.

— Shh — encosto o indicador nos lábios como se mais alguém estivesse dormindo. — Fica quieto.

— Horrível dormir com Taeyong — Doyoung reclama. — Ficou se mexendo toda hora no sofá.

— Gente, eu vou falar logo de uma vez. Eu sonhei que tava com o Ten — falo. De alguma forma, já estou acostumado a dizer quase tudo aos meninos (porém, com limites, é claro). — Esse maluco tá me perseguindo até nos sonhos.

— Taeyong é um safado mesmo — Yuta, com metade do rosto todo amassado, se senta e fica com esse sorriso ambíguo. — Por que está com essa cara?

— Porque eu não estou com ele, me sinto chateado — esfrego a mão esquerda por todo o cabelo, bagunçando os fios ao máximo.

— Ai, sinceramente... — Doyoung revira os olhos e se joga no sofá, deitando-se de novo. Eu olho para seu rosto. — Nós passamos a noite toda tentando te ajudar com ele, mas não adianta. Você vendeu a alma para o garoto. Por que não vai atrás dele, então?

— É, chega lá dizendo que vai ser a janta dele — Yuta ergue o polegar para fazer um joinha.

Reviro os olhos.

— Ah, até parece...

— Foi um sonho erótico? — Dodo questiona.

— Claro que sim, Dodo. Não existe mais romantismo não. Quando sonha com alguém, tem sempre sexo envolvido! — acaba sendo a resposta de Yuta.

— Nem sempre, senhor Nakamoto! — finjo que irei chutá-lo forte, mas só encosto meu pé de leve. — Estávamos lá na casa dele. Sabe... no sonho.

— Ué, então por que não vai lá matar o desejo? — Kim sugere.

— São duas da manhã.

— Você não disse que às vezes o Ten vem te ver nesse horário? Por que você não faz o contrário? Só ele pode fazer surpresa, é? — Yuta ainda está com esse sorriso e acho ele um pouco confuso. Nunca sei se está falando sério ou me jogando numa enrascada. — Economize meu tempo e vá logo.

— Vocês estão me expulsando da minha própria casa? — mesmo sendo uma pose um tanto engraçada, fecho os punhos e os ponho em ambos lados da cintura.

— Não, é que a gente tá cansado de você ficar resmungando que queria fazer isso ou aquilo com ele e não fazer. Comece a fazer mais para termos de escutar menos. Ou, se realmente temos que escutar, pelo menos coisas novas. Estou cansado de você ficar sofrendo por querer algo e nunca fazer. Tome vergonha nessa cara e saia da minha frente agora — Doyoung, mesmo com essa carinha fofa de sonolento, de repente acerta uma almofada em mim.

Eu poderia dizer que eles estão sendo dramáticos ou ridículos comigo, que estão sendo impacientes ou péssimos amigos. Mas, quer saber? Eles têm razão. Já passou da hora de eu parara de ficar choramingando por não fazer nada, querer, e lamentar pelos cantos e, sobretudo, com eles. Porque eu tenho os melhores amigos, embora eu não seja lá uma pessoa de todo especial. Há um certo ordinário habitando em mim de um jeito indescritível.

Então, talvez, se eu cometer erros, eu seja realmente igual a todo mundo. Não tenho muito o que perder, se eu puder ser honesto aqui e agora. Há monstros piores que enfrentei em vendavais passados e perigosos. Encarar Ten de madrugada, fazer uma visitinha não é nada. E, além do mais, já faz um tempinho que não encostamos nossos corpos por razão lasciva. Acho que não há problema algum.

— Como eu vou? — pergunto logo de uma vez.

— Pega meu cartão de crédito e vá de táxi ou, sei lá, esses carros de aplicativos — Dodo sacode as mãos em direção a sua bolsa e depois vira o corpo, como se quisesse voltar a dormir.

Eu sorrio. Vou até sua bolsa, pego o cartão e logo em seguida o Kim me resmunga a senha.

— Se depois eu quiser comprar um lanche, eu posso? — questiono.

— TaeTae, por que você não pergunta logo o limite e estoura ele logo? — Yuta volta a deitar no chão e eu me pergunto como é que ele acha isso confortável ao ponto de fazer de novo.

— Se você foder minha conta bancária, eu fodo você e eu estou falando no literal — a fala de Doyoung, todo lento se sono, me faz ter a certeza de que ele está bêbado. Talvez ainda estejamos todos bêbados. Se bem que nem tem muito tempo que paramos de beber.

— Credo, Dodo! — Yuta gargalha, olhando para o teto. — Você não era assim.

— Tô com raiva — resmunga baixinho.

— Obrigado, Dodo! — dou uma bagunçada no seu cabelo, depois dou um verdadeiro chute no Yuta e por fim saio do apartamento com minha chave, cartão do Dodo e uma borracha.

Não sei o porquê da borracha, acho que... Não sei, eu saí tão rápido e agora nem sei como vim parar com essa borracha na mão. Mas aí eu percebo que estou sem camisa e volto quando estou no meio do corredor. Deixo a borracha no sofá, pego uma camisa vermelha que acho aleatoriamente e visto enquanto saio. Depois disso, sei lá, acho que vou pedir um táxi mesmo. Vou ao elevador, mas volto de novo. Preciso pegar meu celular, porque larguei ele no sofá quando vesti a blusa. Pego e fecho a porta de novo. Vou ao elevador. Qual andar mesmo? Ah, é. Devo apertar o T. Pronto, apertei.

Bem, o plano é simples e direto: pedir um carro por aplicativo, aparecer na casa de Ten, entrar na casa do Ten e surpreender ele com um beijo carinhoso quando estiver dormindo. Do jeito que Ten é, no máximo eu recebo um tapa ou um soco vindo dele, mas é só ele me reconhecer que vai ficar doidinho por mim. Além do mais, tem esse bônus: ele está louco para se deitar comigo, então... Poxa, é só eu querer. E como hoje eu quero, com certeza vou ter.

Jogo o endereço dele num aplicativo e, como é meio longe, um motorista pobre coitado aceita a corrida. Fico sentado na sarjeta até ele aparecer. E quando entro no carro, mal conversamos. É melhor assim, porque eu não tô muito a fim de papo. Na verdade, eu nunca tô a fim de papo. E como estamos em silêncio, eu mando uma mensagem para Ten, porque vai que ele está acordado fazendo nada?

você: gostoso tá up? 🤔
você: tô indo aí 😴
você: tá tarde mas quem se importa? 🙄
você: vamo fazer amo ou pelo menos chamego tipo sinto sua falta pra caramba 🥳🥰
você: quero brigar mais não tô com saudades de rir contigo do nada e dormir com sua mão dentro da minha calça🤭
você: tô chegando paixão, já vai tomando banho 🔥🤪
você: motorista tá virado no capeta 👺👺
você: vou chegar na tua casa já arrombando fica preparado
você: não disse o quê 🥴🥴

Mas, realmente, o moço está indo bem rápido e isso me deixa aliviado. Tem uns motoristas que são bem lentinhos, dá vontade de gritar de ódio. Pelo menos a nossa viagem não dura tanto quanto achei que duraria. Como joguei no cartão de Dodo (vou até salvar na aba de pagamentos, porque estou louco para usar o cartão dele de novo), só me despeço do moço e desejo um bom trabalho.

Saio meio trôpego do carro e aí só agora percebo que, sim, cacete, ainda estou um pouco bêbado, mas a culpa também não é minha. A ideia é boa. Genial. E também não partiu de mim, então se der merda, já sei quem culpar. Cambaleio um pouco pelo jardim, mas meu foco continua sendo a porta. Daqui de fora não vejo nenhuma luz de algum quarto aceso, mas também não me preocupo, porque pode ser que ele esteja com apenas luminárias ligadas. Bato à porta três vezes, porque vai que ele abre? Mas não abre. Não me surpreendo.

Digito a data do seu aniversário tão devagar que eu me pergunto o que é que tô fazendo mesmo. Mas quando a porta se abre, eu lembro. Ah, claro, a surpresa... Pronto. Dentro da casa está escuro, então eu entro e tiro as sandálias sem fazer barulho. Fecho a porta devagar, mas ligo a lanterna do celular para me guiar. A casa está toda apagada. Toda. E é por isso que fico mais atento por onde estou indo. Já que tenho gravado onde é o quarto do Ten, vou subindo devagarinho calminho, pra não fazer muito barulho.

Chego ao corredor e vou andando até a porta do quarto dele. Toco a maçaneta ao passo que lambisco os lábios. Ponho a luz dentro do quarto para ter como enxergar algo.

— Ten... — sussurro bem baixinho mesmo, porque não quero deixá-lo assustado. — Ten, eu vou deitar com você, viu?

Mas quando eu viro a lanterna na direção da cama, tomo um susto. Quase grito, mas não faço isso. Engulo em seco. Ok, é Ten que está na cama e isso é compreensível. Ele está dormindo, suas pálpebras demonstram isso, mas há algo a mais que me faz querer vomitar e, como eu disse, talvez gritar. Mas eu não grito e nem vejo porque. Só que sob da cabeça de Chitta, jaz um braço que não é meu. Ao lado do seu corpo magro, jaz um corpo que não é meu. E embora estejam só um tiquinho separados, ainda dividem o cobertor, ainda têm contato um com o outro, ainda parecem íntimos e dormem tão bem que eu me pergunto se há realmente alguma coisa de errado nessa cena. Eu me pergunto se o errado, na verdade, sou eu.

Meu celular quase cai, mas seguro-o firmemente. Agora, com sono e trôpego, eu não reconheço o rosto do rapaz praticamente agarrado ao Ten. Mas dá pra perceber que ambos estão sem camisa. Dá pra perceber que o corpo de Ten está projetado para a direita, assim como o do cara, e isso faz com que eles fiquem virados para o mesmo lado e praticamente grudados. É quase uma conchinha.

Eu não penso duas vezes, eu só giro os calcanhares e vou embora. Eu sei que eu deveria surtar ou me sentir imensamente mal, mas... eu não sei, estou confuso e não quero pensar nisso agora. Desço as escadas, mas não com tanta delicadeza quanto outrora. Calço as sandálias de novo, abro a porta e saio. Saio, porque já não sinto que sou bem vindo lá.

No meu celular, procuro uma mensagem de oito horas atrás:

você: ei, vamos sair hoje? 🥺
açúcar papai: nah não posso, tenho um evento para ir
você: pode me levar? 🥺
açúcar papai: não, é melhor não levar ninguém de fora. acho que não pode. fica para a próxima.
você: tá bom, se divirta! 🎉
açúcar papai: 👍

Bloqueio o celular. Não, desbloqueio de novo. Chamo um carro para me levar pra casa. Quando chega, eu mal cumprimento o motorista. Fecho os olhos o percurso inteiro. Esfrego o queixo, tento cochilar, dou até um beliscão no braço para ter certeza de que não estou dormindo no sofá lá da sala. Aparentemente, não.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top