nós não viajamos juntos já tem um tempo
Minha mãe decidiu fazer um tour por Seul sem mim. Três dias inteiros gastos andando pela rua. Segundo ela, arranjou um guia que fala inglês e está seguindo-o por todos os cantos. Eu só a vejo de manhã antes de sair e quando chego em casa.
Recentemente gravei os últimos episódios de Cook & Taste. Eu chamei um dos participantes para trabalhar comigo. Hendery, o dito cujo. Ele tem muito potencial, é ousado, mas às vezes acaba fugindo muito da proposta ou tem ideias mirabolantes demais. A ousadia dele me fascinou. Ele já foi eliminado, porém é um ótimo profissional. Chamei-o para trabalhar comigo como meu aprendiz. Ele topou. Por ora, só está tirando o lixo e lavando louça. Eu disse que, se ele quiser realmente ser um chef um dia, tem que entender e passar por todas as etapas que ocorrem na cozinha. Até agora não está tendo reclamações. Mas eu vou ser honesto, isso me leva certo tempo, porque às vezes ele me faz perguntas e eu preciso tirar as dúvidas.
Uma coisa é boa: minha mãe não liga se eu chego tarde. Ela sempre está sentadinha no sofá assistindo algum programa. Conquanto, parece uma formiga fuçando minha dispensa e pegando minha comida. Meu estoque de grãos foi pelos ares. Minha banana seca e minhas nozes também. Aparentemente, minha mãe não sabe que pode comer pipoca quando estiver assistindo alguma coisa na televisão. É preciso muita paciência 🙄. Eu sempre procuro, porque ela teve paciência para trocar minhas fraldas. É isso que ela me diz a cada suspiro que dou quando me pede alguma coisa.
O lance do Taeyong me deixou ansioso e irriquieto, apático quase. Também, não é de se esperar coisa diferente. Ele continuou o mesmo na internet, mas não falou mais comigo. Também não falei mais com ele. Estamos assim. Não digo isso no sentido de não querer falar com ele. Quero ter oportunidade. É difícil quando minha mãe fica enchendo o saco o tempo todo. Ela não para de falar e isso às vezes me faz querer surtar. Eu sou acostumado com o silêncio da minha casa ou com a risada besta do Taeyong. E pensar nele me mata de modos indescritíveis. Nesses três dias, morri tanto que acredito que os meus miolos sejam os únicos que estejam intactos. Perdão, é um erro. Acho que nunca tive miolos. Minha mãe me acha orgulhoso demais, só que não gosto de pensar nisso.
— Ten — ela me chama quando está debruçada sobre a mesa, respondendo uma revista de Sudoku.
Seu jeitinho de me chamar lembra o de Tae. Às vezes só estamos nós dois no ambiente, não tem porque me chamar para falar algo. É só falar. Mas não. Eles dois têm essa mania de me chamar, querer minha atenção, e eu acabo indo na de ambos.
— Hm? — dou uma pausa no episódio do tal BL que meu primo participa. Sei lá, fiquei curioso.
— Eu volto amanhã.
Finalmente!
— Sério? — giro meu corpo no sofá. Estou deitado há, pelo menos, duas horas.
— Quero que você venha comigo. Bater um papo com seu avô e... resolver as coisas com seu tio.
— Hein? Por que eu teria que resolver as coisas com ele? — ela nem especificou o tio, mas eu sei bem a quem ela se refere.
Ela gira o corpo na minha direção.
— Digamos que... ele tenha feito uma coisa ruim, que com certeza você não aprova, e foi pego no pulo por mim. E agora seu avô disse que está cansado de todo mundo quebrando a confiança um do outro. Então, de modo geral, eu tenho essa missão de te levar para lá. Além disso, seu avô quer conversar umas coisas com você sobre seu futuro e sua vida.
Largo o telefone de qualquer jeito no sofá e levanto-me olhando minha mãe. Não creio que ela ficou esse tempo todo aqui caladinha sobre o assunto, só falando dos outros e reclamando das minhas cortinas e xícaras.
— O que ele fez?
Ela enrijece o músculo, sinônimo de que está se sentindo ameaçada, de certa forma. Não era minha intenção, mas não consigo me controlar.
— Ele estava te investigando para descobrir podres seus e contar ao seu avô. No quesito de te excluir da empresa, porque não quer a imagem manchada por você.
Filho de uma...
— A imagem será manchada por ele mesmo! — abano a mão no ar, com raiva. — E que investigação foi essa? Vai me dizer que ele mandou alguém para ficar na minha cola?
— Mais ou menos isso.
— Mais ou menos isso? — que, em outras palavras no dicionário da minha mãe quer dizer “sim, exatamente isso”. — Eu sabia! Sabia que tinha sido um de vocês e que as chances de ter sido ele eram enormes!
O semblante da minha mãe torna-se confuso.
— Você sabia disso?
— Eu sabia que tinha alguém me perseguindo. Tinha um cara... Nossa, ele parecia estar em todos os lugares — começo a andar de um lado para o outro, uma vez que estou inquieto com todas essas informações. — Eu fiquei muito preocupado. Tentei pegar ele, mas me ferrei. Me machuquei assim.
— Sério? — ela olha para a minha mão direita. — Conte ao seu avô sobre isso. Ele com certeza vai te escutar. Acho que ele só escuta você, sua irmã e seu tio Kulaphon.
— Mas que droga... — ainda estou pensando sobre tudo o que aconteceu no shopping, na praça, aqui perto de casa... — Há quanto tempo a senhora sabe?
— Bem... Já faz um tempo... Eu só precisava juntar provas para mostrar ao seu avô.
— Há quanto tempo? — reforço a pergunta, agora parando na frente dela.
— Desde que eu soube, através de conversas de corredores, que você iria ser pai.
— Pai? — dou um passo para trás, porque essa informação me pegou de jeito. Que porra de conversas são essas?
— Eu até tinha perguntado ao Taeyong se você é gay ou não...
Mas que...
— Mãe! — eu acabo gritando. — Que tipo de pergunta é essa?
— Ora, não me culpe, Chittaphon! Você nunca conversou comigo sobre essas coisas e nunca me permitiu também — ela conserta a postura e vira o rosto para a revista, impondo certa banalidade ao assunto. — Eu queria só saber se você acabou engravidando uma menina.
— Mãe, eu não saio com meninas!
— Vai que você sai com meninas secretamente?
— Se eu gostasse de meninas, eu estaria fazendo isso secretamente? Você acha que eu abriria mão de ser aceito na sociedade para escancarar que estou saindo com meninos, mas não assumo meninas? Que tipo de pessoa faria isso?
— Bem, agora não importa — ela dá de ombros e volta a me olhar. — Segundo seu tio, o tal do investigador escutou que você seria pai. Quase soltaram essa informação, mas não conseguiram provas.
Pai... Pai... Esfrego o queixo com a mão e desvio o olhar para um ponto aleatório da casa. Eu não sei como ele conseguiu essa informação, porque a única vez que falamos sobre paternidade estavamos aqui dentro, mas... Ah, sim, eu e Taeyong brincamos disso, só que já tem um tempo... Se ele estava perto da minha casa, pelo menos grudado, pode ter escutado pelas janelas ou quando conversamos na frente de casa, no momento em que Tae estava indo embora. Só que isso já tem bastante tempo. Não acredito que minha mãe sabia há tanto tempo assim e ficou calada.
— Por que não me contou antes?
— Eu não sabia se era verdade, eu estava apurando...
Bagunço meu cabelo com irritação.
— Seu apurar é perguntar ao meu namorado se eu sou gay?
Leva cinco segundos olhando para a minha cara até, claro, mudar de assunto:
— Em falar em namorado, alguma coisa aconteceu com ele? Eu mandei mensagem avisando que estava aqui e queria que ele viesse para ficar com a gente, mas eu acho que ele ignorou.
Eu estou a um passo de surtar. Um mísero passo!
— Mãe, por que a senhora foi invasiva assim?
— Não vejo problema algum em falar com meu genro — ela me lança um olhar do tipo “não ouse me dar sermão por isso”. Eu entendo o que ela quis fazer, mas ela não sabe o que tem acontecido com a gente. Era melhor ter ficado quieta.
— Mesmo assim — engulo em seco.
— Pelo menos quando mandei aquela outra mensagem ele respondeu. Diferente de agora...
— Tem como a senhora parar de entrar em contato com ele? — praticamente imploro. — O Taeyong anda muito ocupado. Ele não irá aparecer por aqui.
— Na minha visão, você deve ter falado para ele não vir para cá. Eu não sou uma sogra chata, então não tem por que se preocupar.
Ela não entende e eu não quero explicar. Respiro fundo apenas.
— Tá, entendi... — coço a nuca, meio sem saber o que fazer. — Eu vou contigo amanhã, então, para resolvermos logo isso. Mas não vou ficar por muito tempo. Tenho minha vida aqui. Vou ficar só um dia e ir embora.
— Ótimo! Nós não viajamos juntos já tem um tempo, não é? — ela abre um sorriso satisfeito.
Eu concordo ao balançar a cabeça.
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