nós não vamos terminar por isso
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— Já é a segunda vez que você faz uma apresentação péssima, Yangyang! — eu reclamo, pondo o prato em frente a ele para que perceba o erro. — Refaça.
— Sim, chef! — ele exclama meio cansado e vira-se para preparar outro.
— Eu não quero que meus clientes comam algo que se parece com lixo — vou comentando, a medida que me afasto dele.
— Claro que não, chef!
Ajeito o mise en place antes de dar uma ordem para que Xiaojun adiante o molho do Taeyonbokggi. Lavo minhas mãos e, embora minha mão direita ainda tenha o gesso, fico feliz por pelo menos limpar os dedos. Peço que Kun fique no meu lugar enquanto estou fora da cozinha. Quero dar uma olhada no salão.
Não demora muito para eu ficar a par de tudo. Tem três mesas com pedidos atrasados e isso me estressa mais que qualquer coisa. Dou uma avisada na cozinha sobre isso e confesso que é prazeroso escutar um "certo, chef". Mordo o lábio inferior ao chegar perto de Jaehyun, que está em seu posto habitual, mais como um hospedeiro.
— Tudo bem por aqui? — questiono.
— Uhum — ele concorda com a cabeça.
Passamos algum tempo observando a movimentação do restaurante, até ele me cutucar no braço para me chamar atenção.
— Tem falado com Taeyong? — é o que pergunta.
— Hm? — viro o rosto na sua direção. — Por quê?
— Sei lá... Tem falado ou não?
— Não muito, sendo sincero.
— Ah... — ele encolhe os ombros e olha para outra direção.
Isso me incomoda.
— Por quê?
— Ele tem andado meio triste, eu acho — Jae volta a me olhar. — No dia que nos vimos, ele não estava lá com uma cara muito alegre ou sei lá. Ele parecia meio abatido, até mesmo sua aparência deu uma decaída. Não sei sabia se vocês estavam conversando ou não... enfim, acho que você pode conversar um pouco pra tentar ajudar ele, seja lá o que esteja deixando ele pra baixo.
Olho para o meu braço engessado e fico pensando sobre isso. Por que o Taeyong está passando por algo e não me contou?
— Que estranho. Ele não me disse nada.
— Talvez ele não queira te preocupar, não sei — meu amigo parece respirar fundo. — Fale com ele. Pelo menos se mostre como opção para ele se apoiar.
— Não creio que você está preocupado com ele — viro-me de frente para Jaehyun, porque pode ser que ele esteja mentindo para tirar uma com a minha cara.
— Taeyong é tipo cachorro morto. Por que chutar? É muita maldade — ele fala isso sorrindo, então sei que está brincando, mas a rapidez com que desfaz o sorriso me faz pensar que há certa ponta de verdade nisso.
— Haha, muito engraçado — reviro os olhos e me preparo para me afastar. — Fique de olho aí. Vou me ausentar um pouco.
Jaehyun acaba meneando a cabeça. Depois disso, eu decido subir para o escritório. Estou cansadinho, mas não tanto quanto antes, assim que voltei a trabalhar. Estou menos destruído. Lavo as mãos no banheiro e pego meu celular de cima da mesa. Distraidamente, passo os olhos em algumas redes sociais. Há duas atrás, Taeyong postou no seu twitter o seguinte: “estamos em 29? porque tudo que estou vivendo é uma grande depressão ”. E isso me fez pensar.
Solto um suspiro e ligo para o seu número. Após quatro toques, ele atende.
— Taeyong, hey! — distraidamente eu ponho a mão no peito e, por cima da camisa, agarro o pingente do colar que ele me deu. — Tá ocupado?
— Hm, oi — seu tom não parece lá muito animado. — Que foi?
— A gente pode se encontrar hoje? — viro-me para ficar de costas para a mesa e sento na pontinha.
— Não — sua resposta é tão curta e objetiva que eu prontamente estranho. Agora tenho certeza que tem algo de errado.
— Por quê?
— Vou estar ocupado. Tenho um projeto da faculdade — sua resposta me faz suspirar de alívio. Pelo menos não é algo sério. Por um segundo, pensei que ele não queria me ver.
— Poxa, que pena... — tiro o pingente de fora da camisa e fico brincando com ele pelos dedos. — Posso nem ir te ver?
— Acho que você vai me atrapalhar.
— Juro que não te atrapalho! De dedinho!
Ele passa alguns segundos em silêncio na linha. Só escuto sua respiração.
— É melhor não. Eu vou me distrair com você. Preciso ir, tchau — daí ele encerra a chamada.
Eu fico sem entender, mas no fundo quero compreender que é isso mesmo, está tudo bem. Não creio que ele está se isolando, porque isso nem faz sentido. Taeyong é do tipo que se esfrega em mim pedindo carinho e me procura em todos os momentos possíveis. Ok, eu estive ausente nas últimas semanas por estar mega atarefado, mas não significa que não me importo com ele. Então, decerto, ele está apenas atarefado também. Nós dois estamos. Não preciso me sentir culpado.
Volto a trabalhar, afinal tenho minha vida. Mas tudo se mostra estranho quando me despeço de todo mundo, vou para casa e me sento após tomar um banho. O relógio bate meia noite, achei que Tae estaria ocupado com coisa útil, mas é no story de Yuta que descubro que não existe projeto de faculdade algum.
Ele está jogando algum desses jogos de primeira pessoa com Yuta. Estão cada qual na sua casa, mas a webcam está ligada. No canto da tela do computador de Yuta (ele literalmente pegou o celular para gravar o monitor), está o quadradinho com o Taeyong de cabelo bagunçado, headset e sem camisa. Yuta está aparentemente traindo o squad, enquanto Taeyong repete um “seu japonês filho da puta” e outros disparates do tipo. Eu nem sabia que o Taeyong podia xingar tanto em apenas catorze segundos.
Mordo minha torta em silêncio, penso em silêncio. Então... Se ele está desocupado ao ponto de jogar com Yuta, ele não quer falar comigo ou me encontrar. Essa é... uma descoberta um tanto interessante...
Penso em mandar mensagem, mas no meio do texto eu paro. Não vou forçar. Se ele não quer estar comigo hoje, está tudo bem. Ele tem esse direito. Não devo forçá-lo. Só estou chateado por ele não ter dito a verdade.
Mas não desisto assim. Dou um descanso de quatro dias inteiros para ele. Chega no fim de semana, não falo nem mando mensagem. Talvez ele só queira um pouco de tempo para si mesmo. Mas é na segunda-feira que, no meio do expediente, perto do horário de almoço, eu preparo uma marmita para ele e Renjun comerem. Mas, assim que envio, tenho uma ideia.
— Xiaojun! — chego perto dele. — Você tem o número daquela confeitaria que faz Bentô Cake?
— Hm? Te passo pelo kakao, pode ser? — ele vira-se rapidamente para mim.
— Ok! Me mande agora. Aliás, eles tem alguma proibição de frases ou algo do tipo?
O olhar de Xiaojun sobre mim vira pura curiosidade.
— Acho que não. Por quê?
— Nada — sorrio mesmo que ele não entenda.
Em alguns minutos, recebo a mensagem com o contato do estabelecimento. Faço uma única ligação e já consigo encomendar o bolo. Vai estar escrito “mais tarde você vai ter a sobremesa” com o bonequinho fazendo ok com os dedos. Graças a ambiguidade da frase e do desenho, tenho certeza que Taeyong vai entender. Mandei enviar justamente no endereço da loja.
Guardo meu celular e só o pego cerca de uma hora e meia depois. Constato duas mensagens do Taeyong. Uma delas é agradecendo pelo almoço, a outra é literalmente a foto do bolo e a legenda “serio isso?". Eu respondo com uma música, no caso Leave the door open de Bruno Mars, para que ele entenda o recado. Além do mais, eu aviso que vou estar em casa a noite toda, então vou estar descansado e sonhando para que ele me deixe cansado no final. Só recebi um emoji de risada. Ele ainda é o Taeyong, afinal.
Quando vou avisar ao Jaehyun que consegui entrar em contato com ele, vejo-o sentado à uma mesa com ninguém mais ninguém menos que Kim Dongyoung.
— Ah, você por aqui? — sorrio ao me aproximar dos dois. — Por que não aparecia antes, mas agora magicamente aparece aqui do nada? — olho para Jung pelo canto dos olhos.
— Vim comer de graça — Doyoung sorri de uma maneira fofa.
— Ninguém come de graça no meu restaurante. Nem mesmo meu namorado.
— Que mentira! Já vi Taeyong comer aqui e não pagar um centavo sequer. Cuidado com aquele caloteiro, viu? Ele vai te falir! — Jaehyun repentinamente decide me atacar.
Acabo soltando uma gargalhada pela ousadia de se estressar por conta de um assunto tão banal.
— Quando o Taeyong não paga, eu que pago — dou um tapa na sua nuca. — Se Doyoung não for pagar, você paga.
— Sério mesmo que causei discórdia entre vocês? — Doyoung ri baixinho. — Pessoal, precisamos ser unidos. Nada de briga, ok? Especialmente por minha causa. — leva uns três segundos nos olhando e muda a expressão, como se estivesse ponderando melhor acerca da situação. — Quer dizer, podem brigar, sim, eu acho que ninguém nunca brigou por mim.
— Pois então você paga — Jaehyun solta essa e eu desde já caio na risada. O jogo virou, não é mesmo?
— Namorado de merda você é — Kim reclama ao pegar o cardápio e dar uma olhada superficial.
— Teu cu na minha colher — a resposta de Jaehyun me faz erguer ambas as sobrancelhas.
Ele fica vermelho no mesmo instante. Seguro seu braço e o puxo para ajudá-lo a levantar. Ambos nos afastamos da mesa enquanto Dodo decide o que irá pedir — na verdade, o desgraçado está se acabando de rir.
— Que porra foi essa, Jaehyun? O cara vai fugir se você ficar falando essas palhaçadas! — dou uma chacoalhada nos seus ombros.
— Eu fico nervoso perto dele, não sei o que falar e acabo falando a primeira coisa que surge na minha cabeça — ele cobre o rosto com ambas as mãos. — Não é culpa minha, Chitta!
— É bom que ele goste dessas merdas, senão vai ficar eu e tu na merda se ele te largar.
Jaehyun tira as mãos do rosto.
— Ele não vai me largar por eu ter dito "teu cu na minha colher".
— Eu já teria te largado.
— Nós não vamos terminar por isso — sua voz parece meio instável, então eu não sei se ele está levando a sério ou não.
— Verdade. Mas isso até você falar “teu pau” em alguma coisa mais esquisita que uma colher.
Jaehyun revira os olhos e e decide voltar para a mesa. Eu dou um tchauzinho de longe para o Dodo e depois mando o Jeno aparecer por lá.
Checo meu celular para ver se tem mais alguma mensagem do Taeyong e não tem. Isso me deixa um pouco desconcertado, porque às vezes ele é tagarela quando conversamos por mensagem. Talvez seja isso mesmo. Ele está pra baixo com alguma coisa. Talvez eu possa ajudar.
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