nós finalmente vamos ficar quietos por aqui

Me despeço dos familiares dele com falso pesar. Gosto de alguns; de outros, nem um pouco. A irmã de Ten me chama para conversar pouco antes de entrarmos no carro, ela me diz sobre eu cuidar do Ten porque às vezes ele não sabe cuidar muito de si mesmo e sempre acaba externando suas frustrações, por conseguinte machuca as pessoas que gostam e se preocupam com ele. Não nos aprofundamos no assunto, mas ela me deseja paz, felicidade e amor, assim como desejo a ela.

Eu não sei se a mãe de Ten gosta ou não gosta de mim, ela pouco conversa comigo e costuma mais me olhar do que dizer algo. Eu não sei o que isso quer dizer, também não pergunto nada ao filho dela. Quando vou me despedir do avô de Ten, ele me diz com um sotaque carregado que eu sou literalmente o primeiro cara que ele leva pra casa e que se ele demorou tanto tempo assim para apresentar a família a alguém, significa que esse alguém é quem ele ama muito. Isso fica na minha cabeça por bastante tempo. Bastante mesmo.

Agora estamos indo de carro ao aeroporto e... Bem... Sei lá, eu estou muito feliz com o agora. Eu significo muito a ele, Chittaphon mesmo me disse. Eu só não sei o que fazer com essa informação, chego até a ficar nervoso. Acabo espiando ele pelos cantos dos olhos, não muito discreto, mas eu só quero ter certeza de que isso é mesmo real. De que estamos mesmo apaixonados e que namoramos de verdade. É de verdade? Sinto que meu coração está prestes a explodir. Não sei o que fazer. Eu não sei.

— Que foi? — Ten me pergunta do nada, claramente percebendo meus olhares nele.

— Nada — eu respondo.

Ele vê minha mão dando bobeira sobre meu colo e acaba segurando-a carinhosamente. Sabe quão importante isso é? Ele vindo assim, tão calminho, amoroso, pôr a mão sobre a minha e acariciando levemente.

— Tá nervoso? — ele quer saber, apertando os dedos nos meus e fechando até alcançar minha palma. — Sua mão está meio úmida.

— Não sei — eu digo, porque estou com medo de admitir que sim.

Ele sorri esse sorrisinho de leve e angelical, se inclina na minha direção, mas depois para. Vira-se para frente, onde tem os bancos de motorista e passageiro, e ele faz uma pergunta em tailandês para James que eu não faço a mínima ideia do que seja. James dá uma risadinha meio envergonhada e responde alguma coisa. E eu, como sempre, fico boiando aqui olhando para o nada.

— Ele disse que não tem problema — Chittaphon fala repentinamente, virando o rosto na minha direção.

Ah, claro que eu estava entendendo a conversa para saber do que estavam falando...

— O quê? — questiono.

— A gente se beijar aqui.

— Ah...

Ten aproveita que estou com cara de panaca e vem me beijar na boca bem devagarinho. De início, eu não fecho os olhos nem nada, acabo deitando os olhos no retrovisor e vejo o safado do James espiando a gente se beijar. Ele desvia o olhar no momento que me pega vendo ele, e percebo que esboça um pequeno sorriso. Acho que ele deve ter visto Ten crescer e como Chitta mora na Coréia, está curioso para saber quem é esse homem que ele se tornou e levou o namorado para casa.

Eu acabo ficando preso nesses pensamentos, ao invés de beijar Ten de volta. No momento que percebo que seus lábios estão estáticos grudados aos meus, ele se afasta e me olha com uma expressão confusa.

— Você tá bem?

— Estou, sim... Desculpa. Eu ando distraído.

— Eu fiz algo?

— Não... — eu reviro os olhos e faço uma careta, pra tentar deixar as coisas mais engraçadas. — É estranho beijar na frente dele.

— Mas ele está dirigindo.

— Ele estava olhando pelo retrovisor interno.

— E daí? Você já me beijou num público trezentas vezes maior que esse.

Solto um suspiro.

— Eu sei, desculpe...

— Taeyong, tem alguma coisa te incomodando? — pelo seu olhar, ele me pergunta seriamente.

— Não... — desço o olhar para as nossas mãos em conjunto.

— Se você não contar a verdade, eu vou te bater.

Eu rio e ele também ri, porque sabemos que isso é apenas uma ameaça idiota.

— Eu estou falando sério — ele se recompõe da risada e me olha intensamente. — Me diz.

— Só estou um pouco assustado... Eu sei que eu queria que você gostasse de mim e tudo mais... Mas parei para analisar que te namorar pode ser uma grande responsabilidade. Tenho medo um pouco, confesso.

— Só você não se preocupar com isso.

— Não é tão simples, Ten.

— Mas, olha... Por que seria uma grande responsabilidade? Nada vai mudar.

— Eu sei, eu sei... — respiro fundo. — É que eu não parei pra pensar quão amado, famoso e querido você é. Eu ocupo uma posição de muito peso, tipo... Quantas pessoas gostariam de estar no meu lugar?

— Você acha que tá chovendo gente querendo namorar comigo? — ele ri.

— Vai me dizer que não tem? — ergo uma das sobrancelhas e ele encolhe os ombros.

Puff... É claro que ele sabe e está se recordando agora. Eu me pergunto quantas propostas ele costuma ter por ano. Só com as minhas já contam cinquenta.

— Bem... Não importa, eu só quero você — ele se inclina rapidamente para me dar um beijo na bochecha. — Para de se preocupar com isso. Promete?

— Ok — aquieço ao menear a cabeça.

E então passamos o caminho todo batendo papo ou trocando alguns beijos rápidos cobertos de vergonha. Eu sei que James fica olhando a gente de vez em quando e, por incrível que pareça, Ten não liga nem um pouco para isso. Eu queria ser como ele. Só um pouco, só pra não ter vergonha na cara e fazer as coisas que quero.

Chegamos mais cedo no aeroporto do que pensávamos que iríamos chegar. Ten está trazendo uma mala de mão que a mãe dele arranjou, porque compramos coisas e ele quer trazê-las para a Coréia. Silenciosamente, fazemos todo aquele processo chato e tedioso antes de embarcar. Quando nos vemos aqui dentro do avião, ele está se ajeitando para dormir — inclusive, ele ficou bem inquieto durante a noite para dormir, toda hora se mexendo, então imagino que realmente não tenha dormindo muito bem — e eu pego sua mão com cuidado só pra fazer um carinho.

Quero que ele se sinta especial comigo, mesmo que eu esteja meio nervoso.

Enquanto isso, Ten reclina um pouco seu assento e depois fica olhando para mim com uma baita cara de sono. Ai, sinto tanto amor por ele que... Aff, quero explodir de emoção. Faço uma careta, mas ele não esboça nenhuma reação diferente. Só ri quando eu mordo o lábio inferior numa explícita malícia. Eu amo essa risadinha dele, quando ele torce e enruga o nariz, e ele parece segurar a gargalhada para não sair mais alta do que deveria.

— Oh, você está tentando me seduzir? — ele recupera-se, esticando as pernas por uns instantes.

— Pode ter certeza — agora seguro sua mão direita com minhas duas mãos e fico fazendo carinho. — Você vai dormir mesmo?

— Eu preciso. Estou com sono e minhas olheiras devem estar visíveis.

Não tem um pingo de olheiras no rosto bonito desse desgraçado.

— Aish, dramático... — reviro os olhos, então passo a olhar pela janela, já que ele vai dormir e me deixar sozinho.

No entanto, ele agarra meu queixo com a mão esquerda e vira meu rosto na sua direção. Sou forçado a olhá-lo. Ten forma um biquinho com os lábios e depois solta um beijo no ar para mim. Acabo rindo disso, porque eu preciso urgentemente me acostumar com ele sendo carinhoso comigo. É sério. O garoto está mais gay que eu.

— Eu quero na minha boca — aviso logo de antemão, porque meu negócio é falar na cara.

— Estou com muita preguiça para me mover — ele responde numa vozinha de choramingo. Aff, mereço viu...

Minha única solução é ir até ele ter meu beijo, afinal é mais do que merecido. Acaba sendo apenas um selinho porque estamos em público, mas eu sei que vamos ter vários beijos interessantes de agora em diante, já que estamos namorando de verdade. E, sim, adiciona aí na lista de coisas que preciso me acostumar é que estamos namorando agora e eu não posso surtar com isso a cada segundo.

Depois do beijo, Chitta relaxa com meu carinho na mão dele e acaba caindo no sono. Ele parece bem cansado, espero que descanse um pouco nesses dias. Sei, vai estar trabalhando e também precisa resolver coisas, mas espero que ele relaxe de alguma forma. Ficar com a família dele só trouxe estresse e choro — sério, tremi todas as vezes que precisei abraçá-lo quando chorou, quase o acompanhei —, então acredito e espero que as coisas melhorem nesses dias.

Ele dorme basicamente a viagem inteira. Eu só fico escutando música e lendo fanfic de uma série que assisto. Assim que Ten acorda, somos avisados de que o avião está prestes a pousar. Eu amo o rostinho dele quando acorda, todo desnorteado, parece uma criancinha. E ele fica meio lerdinho até mesmo depois disso, quando já estamos andando pelo aeroporto, eu carregando minha mochila pesada que nem cão e Chitta levando a bolsa dele e a mala de mão.

Na saída do aeroporto, ambos sabemos que é hora de ir, mesmo assim não queremos deixar. O sol bate em seu rosto e ele ainda está com sono, posso perceber. Super vejo-o chegando em casa, largando as bolsas em qualquer lugar, se jogando na cama e acordando daqui a algumas horas para checar as notificações no celular e aí tocar a vida adiante.

— Bem... — ele começa, olhando ao redor como quem selecionando o melhor táxi para nós. — Chega de viagens, uh?

— Acho que sim, por enquanto...

— Nós finalmente vamos ficar quietos por aqui — começa a caminhar para uma Mitsubishi que não faço a mínima ideia do modelo, mas sigo fielmente. — É bom, né?

— Sim, daqui a pouco é outono e eu quero ficar em casa — comento divertidamente.

O motorista vem nos ajudar com nossas malas e, depois que ele as guarda, sentamos nos bancos traseiros antes de Ten informar meu endereço. Sempre é assim. Primeiro ele prefere me levar e depois segue para a casa dele. O negócio é que isso realmente sai mais caro, mesmo assim ele parece estar disposto a me deixar na porta de casa. Eu peço para que não o faça, mas ele me ignora. Isso é muito carinhoso da parte dele, devo admitir.

— Se lembra quando a gente viajou pela primeira vez? — ele me pergunta do nada, meio baixinho, enquanto puxa o cinto de segurança e o motorista mete o pé no acelerador.

— Paris?

— Uhum... — ele abre um sorriso, depois se aproxima de mim como quem querendo segredar-me algo. — Você teve uma ereção no avião.

Meu Zeus... Que porra é essa? Por que não tenho um minuto de paz, hein? Ele está realmente me zoando por isso? E, pra início de conversa, por que é que ele se lembra dessa merda? Ele deveria esquecer, assim como eu gostaria que ele fizesse. Se eu fosse um bruxo ou feiticeiro, decerto que iria jogar um feitiço ou uma poção de esquecimento nele. No entanto, como não sou, vou beber da fonte da negação.

— Não, não tive — cruzo os braços.

— Você teve, eu vi...

Solto um suspiro.

— E daí?

— E daí que você teve um sonho...

— Sim, e...?

Ele ri da minha cara de panaca de quem não está envergonhado, mas sim sério.

— E que hoje de madrugada você também teve um.

Como é a história?

— Que mentira, seu banana! — giro o meu corpo na sua direção.

— Ah... Você duvida? Quando chegarmos na sua casa, eu vou entrar rapidinho só pra mostrar a marca do arranhão que você deixou na minha coxa — ele sussurra mais baixinho, bem perto de mim.

O moleque é um mentiroso desgraçado, caramba. Ele não aguenta estar errado e fica inventando histórias, como se carregasse a razão do mundo. Não vou cair na dele não, tá doido. O cara é desocupado mesmo, só quer me tirar do sério.

— Como eu te deixaria uma marca na coxa?

— Você estava sonhando comigo dormindo ao meu lado... Alguma merda iria acontecer — ele ri.

Eu não falo mais nada, fecho a cara e fico olhando para a rua porque não quero admitir que tem uma grande possibilidade de isso ser real. Eu não me lembro, o que é também muito comum, porque sempre minutos ou horas após eu acordar, não lembro mais das coisas que se passam na minha cabeça. Mesmo assim, estou com um pouco de medo dessa tal marca, por que vai que machuquei ele de verdade? Eu sei lá...

Mas seguimos. Ele põe a cabeça no meu ombro e fica em silêncio até chegarmos na minha casa. Eu jurava que ele não iria me seguir, mas simplesmente escuto Ten pedir para o motorista esperar por uns três a cinco minutos, mesmo que vá ficar mais caro, porque ele precisa entrar rapidinho. Eu juro que era meme quando ele falou que iria entrar comigo, mas agora estamos entrando no prédio, passando pelo hall, esmurrando o botão do elevador... O silêncio está rodeando...

— Eu nem tinha lembrado disso até acordar no avião com uma ardência — ele rasga o silêncio ao dizer isso, quando ainda estamos no elevador.

— Tu é mentiroso, menino.

— É sério... — ele ainda ri.

Meu medo é de ser real, mas vou negar até o fim. Saímos do elevador em silêncio, eu até adianto os passos para adiantarmos logo as coisas. Quando abro o apartamento, sou abraçado pelo cheirinho familiar e abafado que costumo viver. Me pergunto se esse é meu cheiro, mas não tenho a mínima ideia. Nem tenho tempo de pensar ou analisar como as coisas estão, porque é só eu pôr o pé para dentro que Chittaphon tira a mochila das minhas costas, deixa ela no chão da sala, depois me puxa para o banheiro.

— Você tá necessitado? — questiona, do nada, ao fechar a porta atrás de mim.

— Co-como assim?

Ele tira o sobretudo preto e o deixa sobre a tampa do sanitário. Depois disso, ocupa-se em abrir a calça. Se eu não entendesse o contexto, eu certamente iria surtar com isso.

— Eu sei lá... Para você ter esses sonhos, só pode ser isso... — ele olha para o meu rosto enquanto escutamos a fivela do seu cinto.

De alguma forma, eu sinto que esse momento é meio... Sexy? Acho que se não fosse o motorista esperando lá embaixo, eu empurraria ele na parede e beijaria ele com tanta força que faria-o esquecer de tudo e todos.

— Aqui, veja — ele abaixa a calça até os joelhos e me convida a olhar.

Não vejo nada.

— Não estou vendo nada.

— Aqui, olha... — gira um pouco o corpo para a direita, daí me segura pelos ombros e me empurra lá pra baixo.

Nossa, mas isso sem um contexto seria uma coisa tão esquisita...

Porque, sim, eu me ajoelho na frente dele e sigo o olhar para o interior da sua coxa direta, onde ele aponta. E, sim, tem duas linhas medianas vermelhas, inchadas. Eu até seguro Ten pelo quadril e giro-o até ficar grudado na porta, para que a luz da janelinha venha contra ele e eu possa enxergar melhor. Tem até pequenas partes em que eu arranquei mesmo a pele dele, e com certeza me vejo fazendo isso de madrugada, até porque eu vivo abraçado com ele ou segurando alguma parte do seu corpo. Talvez realmente tivemos esse rolê aí.

— Por que você não me falou isso antes?

— Porque você se vestiu primeiro que eu e saiu pra correr, então quando eu me vesti e ia te mostrar, você nem estava lá comigo.

— Ah... Ten, me desculpa, de verdade...

— Não, está tudo bem — ele sorri e sobe a calça de novo. — No início você só estava me tocando e eu deixei, então de repente você me arranhou com força e me assustei um pouco. Mas está tudo bem. Queria saber os detalhes do sonho...

— Eu não lembro — ergo-me outra vez e envolvo num abraço rápido, porque ele está fechando a calça. — Quer que eu compre uma pomada e apareça na sua casa hoje?

— Eu vou dormir. Não se preocupe. Só te mostrei porque foi engraçado... Você é muito explícito quando tem sonhos do tipo, seu safado — então o filho da mãe se vira, pega o sobretudo, abre a porta e sai do banheiro. — Te vejo um dia desses, panaca...

Quando vou sair do banheiro, tentando raciocinar as coisas, ele já está batendo a porta do apartamento. E eu não consigo deixar de pensar... Sabe... Será que Ten vai me castigar por isso? Jesus, eu vou me esconder o máximo que eu puder.

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