nós estamos um sucesso hoje
taeyong
Tudo é muito seletivo e nem vou dizer porque. Se eu fosse dez anos mais velho, talvez eu estaria agindo melhor, mas ainda estou na casa dos vinte e não vejo tanta coisa assim mudar. Quer dizer, de vez em quando eu faço umas merdas no meu cabelo, mas é porque, como eu disse, ainda estou na casa dos vinte, então é esperado comportamentos do tipo. É que eu não sei sobre o futuro e por isso quero ter certeza dele. Quero traçá-lo, defini-lo, colocá-lo numa bolha para que não saia do meu controle. É estúpido, agora vejo. Mas deixar ele ser livre me deixa desesperado e com medo. Minha psicóloga sempre fala isso: eu uso muito a palavra medo, eu sinto muito medo, e esse medo é de quê? Acho que de tudo. Acho que tenho medo de viver. Tenho medo quando atravesso a rua. Tenho medo quando vou ao caixa e penso que meu cartão magicamente bloqueou sem motivo algum. Tenho medo de não ser nada, embora eu seja algo agora. Tenho medo quando abro a geladeira e não sei se vou ter como tomar café. Tenho medo quando acordo sozinho às cinco da manhã para exatamente nada. E tenho medo do silêncio que Chittaphon faz no carro para o restaurante.
Dois dias passam rápido quando você não tem muito pelo que viver. Ou melhor, eu tenho, só não fiz muitas coisas. Ele ficou assistindo tv, comendo ou lendo. Eu estive lendo, escutando música e estudando para a faculdade. Nós não conversamos muito assim. Pelo menos não como antigamente. Falar assim faz parecer que é muito tempo, mas na verdade não é. Sabe, a gente sempre ficava interrompendo a leitura do outro e surgindo com questionamentos pertinentes, trocando carinhos, beijos na boca... Mas nesses últimos dois dias não foram assim. Cada um ficou no seu canto. Não foi incômodo, só me pareceu mais maduro. Eu o ajudei quando ele precisou — a tomar banho, fazer a barba, preparei comida —, e ele esteve quieto quando fiquei ocupado. Então, de maneira geral, eu acho que estamos bem. Estamos bem, né?
Quando o taxista estaciona e Ten aparece com o cartãozinho dele cujo limite eu nem sonho em saber qual é, eu decido que irei entrar também. Abro a porta e saio. Ajudo-o a sair também, embora sua voz esteja repetindo um "eu consigo sair sozinho". Entramos juntos no restaurante. Ele é acalorado pela recepção dos funcionários preocupados, querendo saber se está bem ou o que houve para estar com gesso. Eu não faço parte disso e também nunca fiz. Fico de canto, com os braços cruzados. Eu deveria estar no meu trabalho também, mas me senti na obrigação de acompanhá-lo. Acho que estou com medo.
— Jaehyun — chego perto do meliante. — Você vai ficar com o Ten hoje?
— Vou, sim — ele concorda com a cabeça. — Ele descansou?
— Acho que sim.
— E o lance de vocês?
— Que lance?
— A discussão ou briga ou sei lá... Resolveram?
— Mais ou menos — cruzo os braços na barriga e solto um suspiro. Va Te Fouder está sabendo demais. — Por que quer saber?
— Eu sou curioso — sorri de um jeito extremamente provocativo.
— Vá cuidar da sua vida, seu banana — descruzo os braços para me afastar dele, já que Ten está indo para o andar superior e eu quero ir com ele.
— Você me respeite, Taeyong.
— Tô nem aí.
Apresso os passos rumo as escadas e pego Ten já no meio do caminho. Silenciosamente, entramos no seu escritório. Isso me deixa meio bolido, porque foi nele que coisas muito importantes nossas aconteceram. Essas lembranças sempre mexem comigo.
— Você vai ficar aqui comigo hoje para ter certeza de que não vou cozinhar? — joga o corpo sobre a cadeira ergonômica e eu solto um suspiro.
— Não. Só vou ficar um tempo, queria que você chegasse bem. Qualquer coisa você me liga, tá? — chego perto da mesa. Vejo quão organizada está. Sempre está organizada.
— Tá bom. Mas não precisa se preocupar tanto, estou bem. Provavelmente amanhã estarei de volta nas filmagens então... eu acho que posso me virar muito bem.
— O bom que você é jurado, né? Então não precisa cozinhar — aperto sua bochecha e Ten sorri. — Te desejo tudo de bom nesse seu primeiro dia. Arrase.
— Eu sempre arraso.
— Ridículo — reviro os olhos. — Posso te beijar?
— Não, eu estou no trabalho.
— Foda-se — inclino-me todo atrapalhado e lhe dou um selinho, mas depois sou surpreendido com a língua dele em mim. Praticamente subo em cima da mesa, porque me estico todo para beijá-lo melhor.
— Taeyong — interrompe o beijo para dizer. — Você bagunçou minha mesa.
— Não é a primeira vez que faço isso — afasto-me após um último selinho e depois me preparo para sair da sala.
— Olha, está ousado hoje...
Eu rio e dou tchauzinho antes de fechar a porta atrás de mim. Desço as escadas, me despeço de Va Te Fouder e pego outro táxi para a floricultura. Passo o caminho pensativo, mas responder mensagens atrasadas distraem bastante a minha cabeça. Sinto que estou confuso acerca de muitas coisas, porém não quero me pressionar para resolver tudo isso. Estou confuso sobre mim e sobre Ten.
Eu já não vejo ele como o ser humano mais perfeito do mundo. Ele tem seus defeitos irritantes. Como a sua mania de organização que acaba tirando todas as minhas coisas dos lugares. Ele nunca gosta de ser refutado ou de estar errado. Ele gosta de dar ordens e sua honestidade é bastante seletiva: parece que quando é pra machucar, ele é o ser humano mais honesto do mundo, mas quando eu preciso da sua honestidade, ela simplesmente some. E eu não estou falando só sobre coisas banais, como roupas ou se a comida que fiz estava boa (cá entre nós, sabemos que ele mentiu todas as vezes que falou que estava ótima). Eu digo que quando eu quero entender o porquê de ele agir de uma maneira bem idiota as vezes, ele não me fala, não me deixa entender seu lado, então eu continuo achando que ele está agindo de maneira idiota e babaca. Embora eu tenha certeza que há uma explicação por trás daquilo.
— Chegamos — o taxista chama minha atenção.
Pago o valor do meu rim a este trabalhador e depois saio quase assustado do carro. Assim que entro na floricultura, encontro Renjun regando as plantas da frente.
— E aí? — ele acena para mim.
— Deixei o Ten no restaurante, ele está ficando melhor. Acredito que irá tomar aquele remédio até hoje ou amanhã, então em breve ele estará falando normalmente. A dor vai voltar, mas eu espero que esteja bem menor — conto.
— Ele vai melhorar logo — Jun sorri para mim.
— E então? Estamos preparados?
— Estava esperando você chegar para eu pegar aqueles folhetos na gráfica, mas acho melhor você ir lá pegar. Se o pai de Jaemin me vir lá, vai me torar e não de um jeito bom — ele dá de ombros.
— Relaxa, Huang, eu pego — dou um tapinha na sua cabeça.
Entro e deixo minhas coisas lá dentro. Saio e já vou cruzando a rua para chegar na gráfica. Eu poderia arranjar outra para ir, mas consigo bastante desconto por conhecer Jaemin e os preços são bem acessíveis. Então mesmo que tenha B.O com Renjun, acho que ele não parece ligar muito para isso, ele leva na brincadeira. Eu acho engraçado, porém vejo-me preocupado sempre.
Passo lá rapidinho, pego os folhetos e enfio nos kits. Semana passada mandei tudo de chocolate para cá e coloquei na geladeira. Agora só falta colocar os folhetos dentro das cestas dos kits e pronto. Eu basicamente fiz tudo com Ten, ele me ajudou demais, então estou satisfeito com o resultado. Renjun me ajudou em algumas artes, então ele também tem créditos. Além do mais, foi através dele que consegui desconto na gráfica super genérica do pai de Jaemin. Os caras fazem exatamente tudo.
Então, depois de organizar tudinho, já estamos abertos. Tiro meu bullet journal da mochila para preencher as tarefas que já fiz. Estou tão apressado nisso que até mesmo abro na página errada. Como não ligo muito, penso em mudar a página, mas aí eu percebo que essa letra aqui escrita não é minha. Estou procurando onde começa para que eu possa ler e identificar quem foi...
— Hyung, já gravou o story? — Renjun chama minha atenção, parando na minha frente.
— Ainda não. Grave — tiro meu celular do bolso e entrego a ele, mesmo que isso seja inútil, já que ele também tem a conta da floricultura logada no seu Insta.
Mordo o lábio sem querer e vou lendo o que está escrito. De início, não sei bem do que se trata, mas aí eu vejo que é a letra do Ten. Ele mesmo. Vejo-me confuso, porém com o tempo tudo vai clareando, como um caminho que outrora estava coberto por neblina e agora é nítido e de fácil entendimento. O Ten pegou meu caderno e começou a escrever nele... Escreveu textos para mim e todos eles são... Cara, são incríveis. Eu leio tudo, tudo mesmo, e com o tempo meus olhos enchem d'água e isso não choca ninguém. Acho que não há como eu passar um mês sequer sem derramar um turbilhão de lágrimas. É sério.
Eu engulo em seco, mas não adianta. O Ten é tipo... tudo para mim. Tudo que fizemos, tudo que construímos... Tudo isso valeu a pena, né? Porque agora estamos juntos e eu não acho que conseguirei amar alguém aí fora com a mesma intensidade com que o amo. Porque ele é demais! As palavras aquecem meu coração, e eu nem consigo acreditar que levei tanto tempo para achá-las. Acredito que ele tenha escrito quando estávamos na Tailândia e isso é tão incrível, porque passamos por momentos muito bons lá, assim como ruins. Então é sobre isso.
— Renjun, Renjun — enxugo os olhos rapidamente. — Tem encomendas chegando aí?
— Uhum. Tô com umas cinco só do kit — ele aproxima-se com o meu celular na mão. — Eu vou entregar daqui a cinco minutos. Aliás, eu posso pegar um buquê de tulipas e você desconta no meu salário depois? Eu queria entregar ao Nana, ele tem andado meio triste.
— Por quê?
— O pai dele não para de encher o saco do coitado — Renjun solta um suspiro tristonho.
— Que sad — acabo olhando fixamente para um jarro de rosas e me distraio por alguns segundos.
— Que foi? Tava chorando?
— Ah, lembrei! — dou uma batidinha no balcão. — Eu estou com um kit aqui e preciso que você entregue ao Ten hoje.
— Você acabou de voltar de lá. Tenho cara de idiota, por acaso? Até parece que vou tão longe.
— Eu vou te demitir.
— Que horas devo ir? — ele inclina a cabeça e sorri falsamente.
— Idiota — acabo rindo também.
Vou para o depósito e pego uma cesta que tinha preparado para o Ten semana passada. Coloco a caixa com o chocolate dele. O seu kit está basicamente igual aos outros: um buquê de doze rosas, caixa com trufas de chocolate com diferentes sabores que ele mesmo fez, um cartão romântico genérico. A versão Premium do pack tem um buquê com dezessete rosas e, além disso, um ursinho de pelúcia incluso. Eu preparei um para o Ten igual ao Premium, afinal ele merece. A camisa é diferente porque eu mandei personalizar especialmente para nós dois. Eu acho que ele vai gostar.
— Aqui. Vá lá no restaurante e entregue ao Ten — eu digo. — Mas não agora, ainda falta algo que eu devo colocar.
Renjun dá de ombros e se afasta de mim, uma vez que uma cliente está chegando. Eu poderia ir lá, mas acho que preciso escrever uma carta ao Ten, assim como escrevemos aqueles cartões em Paris. Acho que vou fazer exatamente isso. Sabe, até hoje guardo aquele cartão com o textinho escrito em francês. Eu nunca tinha entendido muito bem antes, também não joguei no Google tradutor. Até hoje está guardado, porque não mexo mais nele. Então talvez agora eu só deva fazer o mesmo.
Pego uma folha de papel avulsa, uma caneta esferográfica e solto um suspiro antes de escrever. Não estranho começar com "salut mon chéri", mas estranho essa agonia interna em tentar espremer o melhor de mim para pôr aqui. Não consigo. Será o que terá de ser. Terei de ser formal e brega. Não sei muito de francês. Decido agora, de última hora, que vou escrever as primeiras frases em francês e o resto será em coreano mesmo. É o que temos para hoje.
"Olá, meu querido
Como você está? Estou pensando em você. Eu sinto muito pelos últimos dias. Eu te amo e não quero te machucar. Você é uma das melhores coisas que já aconteceu na minha vida. Não estou mentindo. Li tudo que você escreveu no meu bullet journal e, sendo honesto, eu não poderia ter escolhido alguém melhor para estar ao lado. Sei que somos diferentes, mas quer saber? Essa é a melhor coisa sobre nós. Não vejo a hora de te encontrar de novo, te dar um abraço apertado, sentir seu cheiro, te beijar forte e dizer, olhando em seus olhos, o quanto eu te amo. É ridículo dizer que meu coração bate acelerado quando estou com você, porque na verdade acontece algo bem mais profundo que isso. Não estou dizendo da boca pra fora, você sabe bem, mas é que é difícil descrever a tamanha importância que você tem na minha vida. Eu me sinto perdido sem você. Acho que ando com muito medo, meu bem. Tenho medo de nunca superar suas expectativas ou te chatear sempre. Mas eu juro que nunca tenho medo de te amar demais. Não sei se isso é um problema, então eu preciso te dizer. E se isso for um problema, sério, eu não me importo. Acho que eu faria qualquer coisa por você. Qualquer coisa mesmo. Se cuida, tá? Você é eterno no meu coração e na minha memória. Sempre.
Ass: Tae, seu docinho preferido"
Dobro o papel e coloco dentro da cesta. Espero que ele goste de tudo isso. Ele é meu namorado e acho que com ele quero fazer as melhores coisas da vida. Sinto que não é mais sobre ele ou sobre mim, é sobre nós. Sobre nos fazermos felizes e construir um forte em conjunto. Sobre nos construir, sermos felizes juntos, se apoiar um no outro. Não é sobre eu estar errado e ele estar certo. Deveria ser nós. E quando eu digo isso, quero dizer que deveria ser desde o início.
— Nós estamos um sucesso hoje — Renjun sorri quando eu ajeito o pack do Ten. — Recebi mais três pedidos online. Vou entregar. Provavelmente vou demorar para voltar.
— Tudo bem. E não esqueça de mandar o do Ten, viu?
Renjun concorda com a cabeça.
Pego meu celular e procuro o chat dele. Não hesito em digitar.
você: te amo muito, muito mesmo
E enquanto ele não me responde, eu acendo um cigarro e fico olhando a rua, pensando na vida. Eu sou muito sortudo.
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