nós estamos juntos por isso

« acabei esquecendo que tinha esse capítulo pronto no rascunho. como disse, estou dando uma pausa das atualizações. por enquanto eu vou estar atualizando “crazy taxi (by mistake)”, outra taeten que andei escrevendo e tenho capítulos no rascunho. fique bem »

Depois do episódio do shopping, eu e Ten não nos vimos mais. Compramos roupas (ele fez o favor de comprar algumas para mim, debaixo de briga) e depois ele me deixou em casa. Só isso. Nem nos beijamos na boca, mas por incrível que pareça eu não me senti mal por isso. Nos abraçamos na hora de nos despedirmos e só. Acho que ele ficou meio avoado com o lance de estarmos sendo seguidos, tanto que mencionou que iria tentar investigar ou criar suposições. Depois desse dia, não mencionou mais o ocorrido. Não sei o que isso quer dizer.

Três dias depois, ele me mandou a seguinte mensagem meia noite e quarenta:

açúcar papai: u up?
você:
açúcar papai: 40min/max

Eu não entendi. O maluco tinha me perguntado se eu estava acordado, depois me mandou isso. E então, depois de um tempo, ele brotou aqui em casa e eu vim descobrir o que o “u up” significa. Bem, é meio que uma forma de perguntar se alguém ainda está acordado... Só que normalmente é feita durante à noite... Para... Olha, veja bem, é meio que um “tu tá acordado? se sim, vamos fazer o vucovuco”. E eu não sabia disso. Minha surpresa foi imensa. Aquele “40min/max” que ele digitou, era basicamente para dizer que levaria no máximo quarenta minutos para chegar. Sim, viramos o tipo de casal que manda “u up” de madrugada pra fazer sexo.

A questão é a seguinte: depois desse dia, realmente virou algo comum entre nós dois. No dia seguinte, ele já veio com “u up” de novo. Dessa vez, me trouxe comida, mas só comemos depois do sexo. O que é engraçado, porque acho que, em geral, nos casais acontece o oposto. E, sim, finalmente Lee Taeyong tem vida sexual ativa. Isso é um soco na boca do estômago do banana do Yuta. Isso mesmo, o japonês vai estar chocado quando eu contar. Espia só.

Nós não fazemos isso todo dia (calma, sério, vai ter que me aguentar falando disso porque eu estou surtando tanto!). Normalmente tem um intervalo de dois a três dias. O máximo de tempo foram cinco dias. Depois da faculdade, eu tomo banho, arrumo um pouco a casa. Aliás, um dia desses ele até inovou:

açúcar papai: netflix & chill?
você: oui.
açúcar papai: vou comprar choco pie no meio do caminho. tome banho, se já não tiver tomado.

E o que rolou no dia foi até interessante. Estávamos realmente assistindo Netflix e relaxando (está aí o "netflix & chill"), eu estava comendo a porra do choco pie quando senti a mão dele entrando na minha calça e aí o cabaré começou. O engraçado é que criamos tanta intimidade que, às vezes, ele me faz um carinho em partes íntimas e eu não fico incomodado ou me sentindo estranho ou tímido. Ele pode, literalmente, tocar em qualquer parte do meu corpo que me sinto confortável e de boa.

Eu nunca pensei que teria, de fato, vida sexual. É estranho. Muito estranho. É estranho transar mais de uma vez toda semana. É estranho tomar banho e lembrar da mão dele no meu corpo. É estranho demais. Eu nunca fui de ficar pensando em sexo toda hora, mas eu e Ten entramos bem fundo nessa dinâmica. Chega uma hora no namoro que essas coisa rolam com frequência, certo? Eu espero que sim.

Hoje eu tomei banho, lavei tudo no meu corpo — por favor, não me faça especificar até onde eu lavei — e agora estou sentado no sofá esperando a mensagem de Ten. Já tem uns quatro dias que não nos vemos, então acredito que ele irá me mandar mensagem hoje. Ten é aquele tipo de pessoa que sabe bem o que está fazendo e gosta de manter o controle sempre. Às vezes parece que ele precisa de sexo para viver, porque ele é meio malicioso demais. É como se ele gostasse mesmo, bastante, de sexo. Eu sou meio indiferente quanto a isso. Sabe, é bom pra cacete, mas se eu ficar bastante tempo sem isso, não vejo problema algum. Com ele, acredito que nem tanto. Parece que está disposto sempre. Eu digo isso porque tenho observado muito bem.

Opa, uma notificação no meu celular!

açúcar papai: u up?
você: uhum.
açúcar papai: indo

Ele tá vindo!

Desligo o difusor, tiro da tomada e me apresso pra guardar. Arrumo minha cama e ainda deixo o Tedilson longe dela, porque vai rolar umas coisas impróprias para crianças daqui a pouco. Depois disso, levemente me perfumo com uma colônia de chocolate e faço alongamento. Sei lá, vai que isso me ajuda de alguma forma? Eu não sei o que será hoje. Normalmente é o Ten quem dita nossas funções. De maneira implícita, claro.

Sento no sofá e fico esperando o momento enquanto leio algumas poesias de um livro na pilha que está ao lado do sofá. Eu gosto de deixar aqui para manter minhas opções abertas e me impedir de levantar e ir pegar na estante. Eu cuido muito bem deles, então sem julgamento. Só estou esperando Chitta chegar. Espero que seja logo.

Quando estou quase cochilando no sofá, a campainha toca e eu me levanto num susto. Deixo o livro na pilha e encaminho-me à porta. Nem checo quem é, porque nem tem bem um porquê. Apenas abro a porta e encontro Chitta com o cabelo todo no rosto, uma camisa branca, uma calça verde (acho que é pijama) e as chaves do carro na mão. Não sei bem o que significa. Nem usando óculos ele está.

— Oi, boa noite — me aproximo para lhe dar um beijo na bochecha.

Ten não se move. Ele também não está sorrindo, como normalmente. Não consigo ver claramente seu rosto, porém encaro seus lábios.

— Entre — puxo-o pelo braço esquerdo e ele finalmente entra no apartamento.

Assim que fecho a porta, sou surpreendido por um abraço. Não é um abraço qualquer, ele praticamente tira meu ar. Ele é suave, porém apertado. Sinto o rosto dele contra meu peito e percebo que esse não é um abraço que de quem está loucamente querendo transar. Parece algo mais... Profundo. Melancólico até.

— Como foi o dia, meu bem? — lhe questiono hesitante, afagando os fios do seu cabelo.

— Como foi o seu?

— Bem, mas cansativo.

— Hm — ele deixa por assim mesmo.

No momento que aperto-o mais, Ten se afasta de mim. Deixa as chaves junto com as minhas e depois afasta o cabelo do rosto. Lentamente tira os tênis dos pés e depois vira-se pra mim.

— Podemos ir ao quarto?

— Ahn... Claro, claro — engulo em seco, de repente me vejo nervoso.

Desligo as luzes da sala e sigo com ele para o quarto. Assim que entramos, Chitta senta-se na cama e fica esperando por mim. Olha, isso está muito estranho...

— Tudo bem com você? — abraço-o de lado pela cintura.

— Uhum. Me beija.

Viro-me para beijá-lo e assim consigo. Ele está me deixando tomar conta dessa vez, e eu juro que gosto disso, mas sinto que há algo errado. Não sei se é porque das outras vezes ele se mostrou mais animado para o sexo. É que Ten sempre chega sorrindo ou flertando, me abraçando direto, vindo com selinhos. Tudo bem que não seja por isso, né? Mesmo assim, é diferente do que estou acostumado.

Seguro seu rosto com uma das mãos e deixo que tudo flua naturalmente. Ele está mais acanhado, tímido, não estamos quentes como eu gostaria. É só carinho, eu queria era fogo. Por isso, interrompo o beijo para ir descendo ao seu pescoço. Ele normalmente não resiste quando chego ao pescoço. Acho que do jeito que as coisas estão caminhando agora, nossas preliminares vão ser eternas.

E é preciso apenas uma leve, pequena, quase imperceptível recuada dele e uma ligeira tensão nos músculos durante meus beijos. Já tenho minha resposta. Ele não quer isso.

— Desculpa — me afasto dele. — Me perdoe.

— Pelo o quê?

— Você não quer isso. Me desculpa.

— Está tudo bem... Você pode continuar.

— Você não quer isso — repito, então pego suas mãos e acaricio apaixonadamente. — Acho que você não veio aqui pra isso, estou certo?

Eu não sou tão idiota assim. Sou lerdo, mas não ao ponto de não perceber que meu namorado não quer algo e provavelmente está tentando forçar.

— Aconteceu alguma coisa? — lhe questiono.

Ele abana a cabeça, então se afasta para deslizar pela cama. Eu apenas observo como ele se encosta na cabeceira e fica olhando ao redor.

— Onde está Tedilson?

— Eu guardei para ele não te incomodar.

— Ah... — ele fica em silêncio a seguir.

Deslizo meu corpo pela cama até encostar nele. Tiro o cabelo do seu rosto e vejo como ele está. Ten parece meio abatido ou chateado, não sei dizer com precisão. Mas tenho certeza de que não vamos fazer nada que precise tirar a roupa.

— Por que não me respondeu quando perguntei sobre seu dia? — quero saber.

Ten solta um sorriso débil e abaixa a cabeça.

— Foi uma droga.

— Quer conversar sobre isso?

— Não... — ele apóia a cabeça no meu ombro e assim fica. — Estou cansado.

— Compartilhe comigo, podemos carregar juntos e assim você não fica tão cansado.

— Não foi nada de mais — ele esfrega as pontas dos dedos na calça e eu percebo, de fato, que Ten não quer contar o que aconteceu.

Não vou forçar. Fico em silêncio. No silêncio do quarto, eu estico minha mão para tocar seu rosto e acariciar. No meio do processo, noto que seu rosto está úmido. Uma lágrima escorre e encosta na minha mão. Eu sei que é lágrima, ele está chorando em silêncio. Continuo com o carinho, curioso com o que fez ele ficar assim. Sinto que ele não vai me contar. Ele não costuma contar suas dores e suas dificuldades para mim. Não sei se não confia ou sei lá, mas seria muito interessante se eu pudesse conhecê-lo mais e ajudá-lo a carregar seus fardos.

Na primeira e última ocasião que vi o Ten chorar, eu não soube o que fazer. Mas, de algum forma, foi reconfortante. Um alívio, você sabe. Ele existe, está aqui. Não ver alguém chorar é ruim, significa que a pessoa sempre reprime aquilo e, sinceramente, eu não quero que Chitta continue fazendo isso. Quero que chore no meu ombro, no meu colo, contra meu peito. Eu já não tenho medo de chorar com ele. É porque se trata disso, né? No fim das contas, eu não queria alguém pra transar todo dia e me levar a lugares chiques e bonitos. Eu queria ter alguém com quem contar quando as coisas ficassem turbulentas e sufocantes. Gostaria que ele se sentisse da mesma forma.

— Espera — me estico para desligar as luzes e deixo apenas o abajur ligado.

Cuidadosamente jogo o cobertor sobre nós dois e depois puxo seu corpo para junto do meu. Ten fica encolhido com uma parte do rosto contra o meu peitoral.

— Pode chorar, chore... — afago suas costas com um pouquinho de força. Sei que ele está se segurando pra não chorar demais. — Pode liberar tudo, tá? Se quiser me apertar ou bater, tudo bem. Não tem problema.

E então seus braços se enrolam ao redor da minha cintura ao passo que solta alguns barulhinhos de choro.

— Tá tudo bem, você fez seu melhor — coço sua cabeça por puro carinho e no meio disso me inclino para dar-lhe um beijo no cabelo. Tá com um cheiro bem gostoso.

— Não foi o suficiente... — Ten tenta enxugar as próprias lágrimas, mas é em vão.

— O que importa é se foi para você — aperto-o contra mim. — Se trata de você. Primeiro você agrada a si mesmo e depois, se porventura puder, agrada os demais.

Ele não responde, mas continua chorando. Dou seu tempo, lhe dou espaço para chorar. Seu choro é baixinho, quase imperceptível, se não fosse pelas fungadas eu nem saberia com clareza. Só que é questão de tempo até que seu corpo dê três espasmos e seu choro piore. Eu não sei o que aconteceu, se é algo envolvendo a família ou o trabalho... Mas, porra, Ten Chittaphon veio me ver no meio da madrugada para chorar nos meus braços. Tipo... Sério! Ele me procurou num momento delicado e isso é tanta, mas tanta coisa para eu lidar...

Ele ergue um pouco o corpo e me abraça, pondo a cabeça no meu ombro. Sinto-me num desespero sem fim, eu não sei o que fazer e isso chega a ser assustador. Aperto-o contra meu corpo porque quero me fundir e dividir as coisas com ele. Não vai doer tanto, certo? Estou sensível e me sinto nu. Nunca tive problema com isso, porém eu deveria ser um pouco mais constante hoje. Queria passar segurança, mas minha ponte balança com um mero suspiro do céu. Encosto o rosto perto do pescoço dele e, aos poucos, também estou a chover. Ele percebe. Olha-me com os olhos marejados e as pálpebras inchadas. Olha só nós dois aqui...

— Por que você tá chorando? — ele segura meu rosto.

— Porque você tá chorando.

— Vou parar, prometo — tira as mãos do meu rosto e esfrega o próprio.

— Não precisa parar — digo. — Você tá melhor?

Ele balança a cabeça e percebo que as lágrimas estão cessando. Mas os meus olhos estão cheios dágua, por isso não consigo ver claramente. Sinto-me mal por ele, gostaria de fazê-lo feliz o tempo inteiro. Sei que não é sobre mim, mas sim sobre ele. Mesmo assim. Queria que ele não mais chorasse. É necessário, compreendo, e fico feliz por ele assim fazê-lo.

— Hoje foi um dia muito difícil — ele pega minha mão e acaricia. Uma lágrima pinga, porém não me incomoda nem um pouco. — Nem queria vir aqui, mas...

— Está tudo bem, você fez certo — estico o corpo para alcançar suas costas e faço um carinho de consolo. — Obrigado por ter vindo.

— Olha, desculpa se você esperava outra coisa de hoje.

— Acredite, Ten, foi melhor.

— Chorar comigo é melhor?

— Sim — balanço a cabeça. — Honestamente, eu poderia me deitar com qualquer pessoa por aí. Mas chorar com alguém é algo tão difícil de se conseguir... Sabe, um apoiar o outro e apenas isso. Nós estamos juntos por isso.

Ele sorri meio sofrido e avança para me abraçar. Eu sei que é um caso isolado, que isso foi do nada, que talvez não tenha feito sentido algum. Mas não importa, queria que todos vissem isso. Nós dois juntos aqui, nada além do silêncio e do escuro a meia boca do quarto. Às vezes as lágrimas ainda caem. Mas estamos aqui dentro de mãos dadas e almas atadas. Era isso que eu queria, meu bem. Ter alguém para compartilhar o que há de alegre em mim, mas também o que de pesado e turvo. É isso. Eu tenho isso. Quero gritar que agora eu tenho isso.

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