nós deveríamos ser como todo mundo
Acendo um cigarro e sento à mesa. Meus amigos me olham cheios de expectativas, mas eu não tenho lá muitas coisas para falar.
— Nada hoje? — Doyoung questiona, com seu típico tom de "é sério que me fez sair de casa para isso?”. Bem, eu não o culpo. Eu decepciono quase sempre.
— O que tem para falar? — guardo o isqueiro no bolso do moletom. — Daqui a pouco ele chega. Como vou contar se ele vai estar aqui?
— Então a desculpa da vez é essa? — Yuta, mesmo enfiando três batatas fritas de vez na boca, decide falar.
— Não é bem uma desculpa... — encolho os ombros.
— Aproveita que ele ainda não está aqui e conta, bobo — Dodo sorri de um jeitinho traquina e eu dou de ombros.
Estamos num barzinho, sentados no canto, meio escondidos. Eu acabei de voltar da faculdade e ainda estou com minha mochila por perto, claro. Estamos esperando Va Te Fouder e Ten chegarem, porque vamos ficar aqui por um tempo e depois voltar para casa. Não sei quem vai cuidar do Ten hoje à noite, mas espero que seja eu.
— Gente — inclino meu corpo para frente. Com o cigarro entre o indicador e médio direito, eu trago profundamente e solto a fumaça devagar. — Eu vou contar uma coisa aqui. Não me achem bobo, por favor.
— Você sempre é bobo, Lee Taeyong — Yuta revira os olhos e pega o copo de cerveja dele.
— Mas vai soar bem bobo — dou duas batidinhas do cigarro no cinzeiro. — É que esses dias nosso relacionamento anda meio estranho, mas hoje eu... eu me senti bem com tudo sabe? Até mesmo pelo que passamos, eu só estou... Sei lá... Sabe?
— Não, você não disse nada com nada — Yuta responde.
— Dodo vai saber. Ele namorou por anos — quando eu falo isso, Dodo praticamente se engasga com a própria cerveja. — Ele sabe que há brigas e momentos ruins, mas mesmo assim continuam juntos, porque essas coisas fazem parte.
— Se você realmente gostar da pessoa, essas pequenas brigas não são nada — Kim concorda comigo.
— A real é que passei a aula toda pensando sobre isso... — ponho o cigarro entre os lábios de novo e percebo uma coisa: estou fumando e daqui a pouco o Ten chega. Não é lá uma boa ideia estar cheirando a cigarro quando ele aparecer. — Eu vou me alistar no exército quando eu terminar a faculdade. Como vou terminar em breve... vou me alistar em breve.
— Sério? — Doyoung arregala os olhos, claramente bem surpreso.
— Sim, eu não tenho mais como enrolar. Daqui a pouco tempo já estou chegando na idade limite — encolho os ombros. — Eu deveria ter ido antes, na verdade. Acho que eu deveria ter me alistado aos dezenove, iria me evitar muita coisa...
— Yah, não venha com tristeza, Taeyong! — Yuta põe a mão sobre meu antebraço esquerdo e eu sorrio de uma maneira triste. Eles sabem muito bem que nessa época eu fiz muita merda. — Mas se você quiser se alistar depois da faculdade, tudo bem. Mas seria ruim, não? Mal irá conseguir um emprego depois. O bom é arranjar um emprego assim que se forma.
— Eu não estou fazendo faculdade para arranjar emprego — falo com sinceridade. — Eu só quero aprender. E se eu puder trancar antes disso só para me alistar, e voltar depois, está tudo bem também. Eu tenho a vida inteira para arranjar um emprego.
— Você sabe que pode aparecer lá na empresa se precisar de qualquer coisa, né? Eu sempre te disse isso — Doyoung olha-me seriamente.
Eu engulo em seco.
— Eu sei, eu sei. Eu tenho minha floricultura agora e estou indo muito bem. Eu só nunca demonstrei interesse em trabalhar na sua empresa porque achei errado. É injusto, porque eu vou entrar por ser seu amigo e eu nem sei fazer nada que venha provar meu valor. E há pessoas aí fora que realmente têm competência e merecem trabalhar lá — inclino a cabeça para o lado, porque estou pensando no assunto. — Mas um dia eu levo a sua proposta em consideração. Por enquanto, estou feliz onde estou. Obrigado, Dodo.
Ele abre um pequeno sorriso e balança a cabeça, como se quisesse dizer “não é nada de mais”.
— Então... Você vai mesmo? — Yuta agora me olha seriamente também, e é tão estranho vê-lo assim, porque normalmente ele tem um sorriso ou um olhar divertido.
— É — dou de ombros. — Mas o foco não era esse. Pelo modo como minhas coisas estão caminhando com Ten...
— Vocês vão me colocar no namoro de vocês? — Yuta me interrompe, porém ainda está sério, como se o assunto ainda não tivesse dissipado.
— Não — reviro os olhos.
— Vocês vão terminar e o Ten vai me procurar desesperado? — ele volta a falar.
— MotoMoto, por que você não larga do pé deles e arranja alguém para você? — Doyoung resolver soltar essa, depois se estica para pegar as batatas de Yuta.
Eu e Yuta nos encaramos. Ele sorri fraquinho, já eu não sei mais o que fazer senão tragar o meu cigarro mais uma vez. Diminuí drasticamente o meu consumo, mas às vezes eu apareço com essas vontades, sempre está em mim. Eu não quero mais falar sobre como eu supostamente deveria estar melhorando, porque... Quer saber? Eu melhorei bastante e estou cansado de esperar muito de mim mesmo. Esse sorriso débil do Yuta tem nome e sobrenome: Me Desculpa. E está tudo bem também. Ele é bonito e legal. Ele cuidou de mim, junto com Dodo, quando eu senti que ninguém mais estava fazendo isso por mim, nem mesmo eu. E eu realmente desejo que, mesmo que não tenhamos sido um casal do início ao fim, ele saiba que eu desejo tudo de bom a ele.
Sinto sua mão apertar mais meu antebraço e eu não tinha percebido que ainda estava aqui. É tão estranho como as coisas mudam, o tempo passa, e de repente nada mais é reconhecível. E não estou falando que éramos amigos, depois uma espécie de namorados, e depois amigos de novo... Estou falando sobre crescimento. Sobre como eu me acabei todo por alguém não me querer e agora estou aqui... Sentado com meus melhores amigos e pensando o quanto eu amo aquele alguém e que às vezes cometemos erros mesmo, nunca sabemos quando estamos certos.
Minha mãe foi a única figura parental que já me tratou com certo carinho. E não tê-la por perto doeu no início, mas acho que eu era tão cruel comigo que senti que já estava acostumado a ser sozinho, abandonado e rejeitado. Acho que ninguém é no início, mas eu menti bem. Minha irmã nunca foi muito carinhosa comigo. Eu achava que eu não dava brecha, mas não é isso. Sempre competimos e brigamos, implicávamos um com o outro por pura diversão. Era só uma máscara, porque gostávamos muito um do outro no fundo. Mas às vezes é preciso deixar essas coisas de lado. Porque sempre que eu queria um abraço, seria estranho ter de pedi-lo após passar o dia inteiro fingindo odia-la. Então eu cresci assim, eu fui crescendo e hoje sou isso. Eu não sei quem eu sou, mas eu sou isso. Independente do que isso seja, sou eu. Então eu quero que coisas boas aconteçam comigo, assim como também quero que coisas boas aconteçam com meus pais, minha irmã, Dodo, Yuta... Todo mundo.
Acho que eu e Yuta nunca vamos terminar o que deveríamos ter terminado. Porque, na realidade, nunca começou propriamente. Acredito que sempre vou sentar ao lado dele no sofá e fingir odia-lo, mas no segundo seguinte estarei me jogando em seus braços para que me faça carinho. Nos encaixamos de uma maneira muito boa e não estou falando baboseira romântica. Eu percebi que romance é outra coisa. Romance é o que eu tenho com Ten. O que eu tenho com Yuta é algo bem diferente. Mais difícil de se definir. Mas, mesmo assim, mesmo com isso, quero que ele seja extremamente feliz aí fora.
— Eu quero me casar com Ten — revelo logo de uma vez. O cantor que estava no bar acabou de se despedir e o silêncio atacou o lugar. Só escutamos copos, talheres e vozes das pessoas. Então eu sei que meus amigos escutaram muito bem. — Em algum dia, algum ano... Eu acho que sou paciente agora. Pelo menos estou tentando. E vou tentar mais. Eu estou dizendo, porque... foi com ele, entendem? Ele foi a primeira pessoa que me fez pensar nessas coisas, que me fez pensar que as coisas valem a pena... Eu só quero me casar com ele. Não me importo em quando vai ser. E, como as coisas entre nós sempre foram devagar, provavelmente vou terminar a faculdade e não terei convencido ele a se casar. Então, se ainda estivermos juntos até lá, o que eu acredito muito, eu quero me casar com ele assim que eu voltar do exército. Quero me casar de verdade, sabe? É errado sonhar com isso? Nós deveríamos ser como todo mundo, não?
Yuta fica sério, assim como Dodo também. Eu não sei o que há de errado, mas a expressão deles está diferente de antes.
— Acho que daqui a uns quatro anos... é tempo o suficiente para esperar, né? Para ter certeza de algo — apago meu cigarro no cinzeiro. De repente, ele perdeu o gosto. Pisco algumas vezes, porque sinto que posso acabar chorando e acho ridículo o fato de eu chorar por tudo. — E talvez... Talvez possamos ter um filho ou dois. É estúpido pensar assim? Já estamos há tento tempo nesse lance que eu sinto que já passei uma década com ele. É que, como eu disse, foi o primeiro que me fez pensar nisso. E agora eu quero tudo que eu puder ter com ele. Quero casamento, morar juntos, construir uma família mesmo... É errado? Isso é errado?
Eles continuam olhando para mim. Mas não dizem nada e nem parece que irão. Só não entendo muito o porquê de estarem assim, é que... eu me abri.
— Não, Tae, é que... — Yuta começa a falar, ergue a mão rapidamente e aponta para algo atrás de mim, mas abaixa a mão em seguida.
Eu engulo em seco e me viro para trás. Mesmo que meu tronco esteja horrível hoje, porque sentei errado durante a aula toda, eu me viro. E então, no bar meio escuro, encontro Chittaphon a cerca de um metro de distância de mim, ao lado de Jaehyun, tão sério e tão pálido quanto eu nunca vi antes. Em suas mãos há um buquê de lírios brancos e gérbera. Ele não move um músculo, apenas está olhando para mim. Eu não entendo de início, mas agora compreendo. Compreendo tanto que arregalo os olhos e sinto meu coração querer arregar. Minha pele esfria ou é impressão? Eu não sei o que fazer.
Por isso Doyoung e Yuta estavam com essa cara. Ten estava escutando tudo. Ten estava escutando tudo. O Ten...
— Yah! Vamos beber! — Yuta desce a mão tão forte sobre a mesa de madeira que eu me assusto, sinto meus músculos enrijerecem.
— Eu não vou ficar — é o que Ten me diz. Está olhando diretamente para mim e não desvia o olhar por um segundo. — Aqui, toma. Boa noite — ele joga o buquê no meu colo e depois se vira.
É a primeira vez que ele me dá flores. É a primeira vez que Ten Chittaphon me dá flores.
Deixo o buquê sobre a mesa e me levanto. Escuto Dodo me pedindo para ficar, mas não ligo. Eu vou alcançar ele antes que saia do estabelecimento.
— Ei, seu porra — Jaehyun põe a mão no meu peito e me faz parar. — Dá um desconto, ok?
— O que quer dizer com isso?
— Ele chorou hoje depois de receber os seus presentes. Chorou quando um cara pediu a mão de uma moça no restaurante. E passou o dia inteiro pensativo sobre isso. Então... só dá um desconto, tá? — ele afasta a mão do meu peito.
— Eu sei o que faço — solto um suspiro e volto a caminhar.
Não me lembro a última vez que dei passos tão confiantes assim, ou tão duros, ou tão amedrontados ou desesperados... Só estou saindo.
Ten está atravessando a rua. Eu corro para ver se consigo alcançá-lo, mas não chego a tempo. O sinal fecha e ele chega ao outro lado. Preciso esperar... Esperar... E eu, que nunca fui tanto paciente, de repente aprendi que paciência é o meu segredo para viver em paz. E eu também nem sei o que fiz de errado. Eu não fiz nada de errado. Não sei porque ainda penso nisso.
Respiro fundo e espero o sinal abrir de novo. Ele já está longe, mas sei que está indo até um estacionamento. Provavelmente indo ao carro de Jaehyun ou o próprio carro, não consigo saber, o urbanismo de Seul está matando minha investigação. Mas eu espero. E quando o sinal fica vermelho para os carros, eu saio correndo e nem sei bem o porquê. Sei que o Ten não pode dirigir. O Ten não pode fazer nada. Então eu tenho certeza que posso achá-lo facilmente. Mesmo assim, estou correndo. É uma vã esperança de que as coisas irão se resolver mais rápido.
Assim que chego ao estacionamento, não o encontro. Então agora estou olhando para dentro dos carros, procurando ele, querendo saber onde é que está... Não é assim tão fácil, então preciso me abaixar, alguns carros tem vidro fumê. Mas eu sei que o de Jaehyun não tem, tampouco o de Ten. Lá no fundo tem um modelo igualzinho ao do Jaehyun. Espero que seja dele.
Vou caminhando até estar próximo o suficiente para enxergar o interior do carro. Não há ninguém. É uma pena. Viro-me para sair, porém o barulho rápido de pedregulhos sendo arrastados por sola de tênis me faz parar. Decido rodear o carro, e assim encontro Ten sentado na calçada que separa o estacionamento da pista.
— Tennie... — aproximo-me dele.
Ten está com a cabeça baixa, olhando para o chão, e não se move nem menso com o meu chamado.
— O que foi que teve? — questiono.
— Nada — sua resposta só piora a situação.
— Pisei na bola?
— Não se sinta culpado por ser você mesmo.
— Falo o mesmo de você.
— Não me sinto mal.
— Então por que saiu tão rápido e está aí sentado na rua?
— Só... sei lá — dá de ombros, sendo que vive reclamando por eu fazer isso. — Não quero estar lá.
— Não gosto de te ver assim. Me diz o que foi. Juro que tento mudar.
— Se você mudar, eu vou saber que as coisas não deram certo — finalmente ele levanta a cabeça e consigo olhar seu rosto. — Você não fez nada de errado.
— Tem certeza? Normalmente eu faço coisas erradas. Eu sempre erro com você — encosto-me de ladinho no carro que supostamente pertence ao Jung.
— Para com isso, tá? — o tom de voz ergue um pouco repentinamente. Ele parece bravo. — Para de se achar culpado por tudo. Tudo é sobre você também? Se faço algo de errado, você é a vítima, então fala sobre isso. Se faz algo de errado, também quer deixar claro que fez algo de errado, como se ser notado por isso é uma coisa boa ou sei lá. E se também não faz nada, quer se colocar como se tivesse feito...
Eu engulo em seco. Encaro seu rosto, mesmo que esteja repleto de sombras duras, o poste está meio distante de nós.
— Desculpa, então — respondo.
— Para com essas desculpas também.
— Me diz o que você quer que eu faça, então.
— Nada. Eu quero que você faça nada.
Sinto-me com raiva agora e nem sei do quê. Se o amo, por que quero xingar e deixar as coisas como estão? Eu deveria tentar fazê-lo se sentir melhor. Eu fui idiota e ainda sou. Eu ainda sou estúpido, e finjo que melhorei. Continuo querendo me guiar pelo coração, mas... e se eu não tiver um coração direito? Meu melhor amigo, o amor da minha vida... de repente eu quero gritar com ele até ficarmos bem. Porque eu não sei o que está acontecendo entre nós. Eu quero me casar com ele. Não, eu quero largar ele aqui sozinho. Eu quero beijá-lo muito. Não, eu quero mandar ele se foder. Eu quero abraçá-lo, me deitar sobre ele... Não, eu quero dizer que ele não sabe o que quer e desconta em mim. Eu queria que voltássemos ao normal. Mas, amor, é muito tarde para sentir saudades de tempos que nunca existiram. Nunca senti o gosto da constância e estabilidade.
— Olha, eu... — tento me explicar.
— Se for ficar aqui, por favor... só fica quieto, Taeyong — seu pedido acaba sendo uma flecha contra mim. Eu já me acostumei a sangrar ao lado dele. Não temo mais hemorragia. A energia que ele me suga, ele mesmo me devolve.
— Você não precisa me tratar assim, sabia disso? — minha voz chega falha, porque normalmente eu me curvo perante a ele. Eu não sei se quero isso hoje. — Você às vezes me machuca.
— Estamos em sociedade. Somos machucados e machucamos o tempo todo.
Eu fico em silêncio por não sei quantos segundos. Não sei se chega a ser um minuto ou dois, não mais que isso. Apenas fico olhando-o. Olhando sua postura curvada e a cabeça meio abaixada, porque ele já não quer me olhar.
— Por que você é assim, hein? Só pra saber mesmo — lambo meus lábios antes de questionar.
— Por que você quer saber?
— Para eu poder te entender. Eu não fiz nada de errado...
— Taeyong — solta um suspiro impaciente. — Não é sobre você. Eu já te disse. Nem sempre tudo é sobre você.
— Então por que está descontando em mim?
— Eu não estou descontando em você. Só estou dizendo que nada aconteceu, não tem nada acontecendo, não é sobre você, e não quero conversar com você. Se você for ficar, por favor, fica quieto. Não me leve a mal... Por que se machuca sempre que eu não te envolvo em algo na minha vida?
— Se não tem nada a ver comigo, por que ficou assim depois de me escutar falar?
— Taeyong — ele se levanta de repente, embora certamente desengonçado. — Eu te dei um buquê. Você sempre quis ganhar flores minhas, não é? Eu acho isso ridículo, mas eu fiz por você, porque você gosta disso. Então por que não volta lá e fica feliz por isso? Sério mesmo, você não está me entendendo e eu não quero ter de me explicar agora.
Não vou embora, eu não vou. Mas está doendo, está demais. Não uma dorzinha leve. É uma dor que sempre esteve aqui, mas eu deixava de lado, porque ela deixou de ser a principal artista da minha trupe. Só que ainda existe. E eu finjo... eu finjo que está tudo bem com isso.
Sento-me ao seu lado. Com a mão nas suas costas, eu avanço para um beijo, porque beijo sempre resolve as coisas. Quando ele briga por eu deixar as coisas fora da geladeira ou bagunçar as roupas... um beijo sempre resolve. Ou vários beijos. Ele sempre sorri. Espero que dessa vez funcione.
— O que... o que você tá fazendo? — ele tanta se afastar, mas sei que é para não admitir que quer também. — Taeyong...
Estico-me para deixar um beijo na sua bochecha. Ele tenta virar o rosto, mas eu deixo outro. Uma hora vai funcionar. Tem que funcionar. Sempre funciona.
— Não, Taeyong... Para — mesmo que jogue o corpo para trás, eu o sigo, abraço seus ombros com carinho e leveza. Seguro seu queixo, porém ele vira a cabeça para o lado, tentando escapar. Eu sei que está fazendo um papel de difícil, por isso avanço para lhe dar um beijinho nos lábios.
Sinto sua mão em meu peito no segundo que nossos lábios se encontram. Mas ao invés de me fazer carinho, Ten me empurra para trás e quebra nosso beijo.
— Eu falei que não queria — pelo seu tom de voz, ele parece estar chateado ou muito triste. Talvez os dois.
— Desculpa, eu não sabia.
— Eu literalmente falei, como não sabia?
Abaixo a cabeça. Meu Deus. Meu Deus.
— Me perdoe, Ten. Me perdoe. Achei que não estava falando sério — respiro fundo. — Me perdoe. Por favor, só... me desculpe.
Ten nada diz. Fica me olhando. Eu não estou vendo, mas sei que está. Só que o telefone dele começa a tocar. Ele atende. Eu me pergunto por que é que eu fui pensar em beijá-lo.
Sua conversa é curta. As respostas do Ten são compostas praticamente por monossílabas. Então ele desliga.
— Preciso ir. Vou de táxi — se levanta da calçada. E eu só vejo seu tênis igual ao meu. Ou o meu é igual ao dele.
Depois disso, não vejo mais o Ten. Porque quando me levanto e saio do estacionamento, pouco tempo depois, não encontro-o em lugar algum. Volto ao bar, ranzinza, cinzento, e desejo ser atropelado, entrar num coma e só acordar quando as coisas estivessem bem outra vez. Eu não sei o que fiz de errado.
— E aí? — Doyoung me questiona.
Jogo meu corpo sobre a cadeira e, olhando o buquê sobre a mesa, eu digo:
— É, amigos... Eu fodi tudo.
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