nós deveríamos fugir do país
Eu ajeito o boné na minha cabeça e solto um suspiro. A verdade é que, não sei como, sinto-me cansado. Mesmo assim, me sento, me aconchego, seguro na barra de ferro atrás de mim que forma um círculo que é o disco. Essa droga nem tem cinto de segurança, então estou jogado aos lobos. E Taeyong parece tão pleno ao meu lado que eu começo a me questionar se apenas eu problematizo a situação. Talvez problematizo tudo mesmo. No entanto, não sinto que dessa vez seja mero exagero ou capricho da minha parte. Enxugo as palmas das mãos na calça bege e volto a segurar na barra, porque de repente elas começaram a suar.
Estou nervoso e acabo mutando tudo ao meu redor. Não sei quando vai começar a girar, mas certamente levará mais um punhado de tempo, visto que ainda tem gente entrando. Solto outro suspiro e viro o rosto para Taeyong. Ele está ansioso; já eu, quero que termine logo. Estico meus braços e seguro com firmeza, as últimas pessoas estão entrando. Tae sussurra algo sobre provar que não vai cair ou passar vergonha. Eu peço que, por favor, não tente nada. Ele apenas abana a cabeça e não sei o que isso quer dizer. Bem, vou ter que esperar para ver.
Trezentos anos depois, cá estamos nós numa aventura que sabemos bem como irá terminar. Minha felicidade é que já tem algum tempo desde que comemos, então certamente não irei vomitar. Conquanto, tenho certeza de que ficarei tonto, pois a música já começou e estamos girando devagar. Aperto mais a minha mão contra a barra de ferro e rezo a dez deuses diferentes para que isso não aumente a velocidade e eu saia voando para o além. Hipérbole, compreendo, sei que nem sempre sou assim. Mas é que me dá raiva ver Tae tão animado, quando na verdade estou tremendo de nervoso em escorregar e me bater em alguma coisa ou alguém.
— Que brinquedo besta, achei que iria ser mais bruto! — Tae ri ao meu lado.
Eu acabo revirando os olhos, pois o meu medo me faz perceber coisas que talvez ele não esteja tão atento.
— É que está no início. Essa porra ainda vai girar que nem um Beyblade!
— Chitta, deixe de ser exagerado...
— Espia a merda, Taeyong.
Ele ri e sacode a cabeça, como quem desacreditando. Deixe estar, quero estar vivo para dizer que avisei.
Decerto, a velocidade aumenta e gradativamente o Disco vai remexendo-se também, se inclinando para um lado, depois para outro, e eu dou graças a Osíris eu estar pendurado ainda. A moça que está do outro lado do brinquedo acaba se desprendendo e escorregando para o centro dele. Minha vontade é rir, afinal é engraçado, mas o peso na consciência me impede de respirar e eu me contenho, já que poderia muito bem ser eu ali. Espero não ser eu ali.
— Eu vou lá ajudar ela — Taeyong se solta e rapidamente projeta o corpo para o meio do Disco em movimento.
Simplesmente não consigo impedi-lo, porque já está feito. Ele vai cambaleando até ela, segura pelos antebraços e a puxa pra cima. A menina, meio tonta, consegue jogar o corpo para uma das extremidades do Disco e cai sentada no assento, ao lado de um homem cujo rosto está vermelho de tanto rir da situação. Eu fico olhando ele, ao invés de me atentar a Taeyong. Eu sei lá, de alguma forma entendo ele... Acho que se eu estivesse vendo um vídeo na internet, com certeza estaria rindo...
O barulho do DJ me atenta de algo, assim como o fato do Disco se inclinar mais e ficar nesse vai e volta infindável. Quando olho Tae, ele está caído no meio do Disco sem saber o que fazer para se levantar, porque toda vez que tenta, acaba caindo com o movimento do brinquedo (sério, quando eu sair vou meter o DJ na porrada). Lee está literalmente rindo no chão, e todo mundo está rindo dele também. Tenta ficar de joelhos, mas um remelexo arremessa ele de volta ao chão. Eu acabo rindo de verdade, porque a cara que ele fez ao cair de novo me faz perder a pose. Ele tinha dito que não iria passar vergonha, mas aqui estamos nós.
Eu me solto para ir ajudar ele, mas eu percebo quão difícil é andar com essa coisa mexendo. Acontece que já estava mais calminho, visto que não girava tanto e ele só estava inclinando o Disco de um lado para o outro com o intuito de sabotar Taeyong na sua missão de voltar ao assento. Só que estou aqui e ter duas presas é muito mais interessante do que uma. Enquanto eu tento puxar Taeyong pelos braços, o Disco começa a girar mais e inclinar mais. Eu perco o equilíbrio e, quando vou tentar me manter de pé, tropeço nas pernas de Taeyong e acabo caindo em cima dele 🤡.
— Ai! Seu joelho bateu na minha coxa! — ele reclama, mas logo escorregamos um pouco sobre o chão, porque o Disco inclina-se na nossa direção.
O pior de tudo é o moço fazendo piada no microfone, esse palhaço.
— Vamos tentar levantar — eu digo para Tae, mas como estamos sacudindo, eu não paro de me chocar com ele.
— Você está me dando tantas sarradas de formas diferentes, Chittaphon! — sinto seu braço esquerdo ao redor da minha cintura, para que nos grudemos mais e que não fiquemos nos chocando violentamente. — Acho que estou me apaixonando.
— Como consegue romantizar isso?
— Não é romântico?
Eu apoio a cabeça em seu ombro enquanto tento ficar de joelhos. O DJ fala alguma coisa sobre estarmos grudados que parecemos arroz quente na tigela. É uma péssima comparação, mas eu não vou discordar dele, porque eu estou tentando dar no pé, mas Tae quer diminuir os choques e, desta maneira, me segurar junto a ele. Eu tô me perguntando se não tem como parar essa porra pra eu me levantar. Eu acho que nunca estive tão envergonhado quanto agora. Nossos quadris não param de se encontrar.
Escuto algo que acredito ser "o que acontece se inclinar para o outro lado?" Eu e Taeyong rolamos pelo Disco, principalmente eu. Lee ri que nem criança e acho que isso faz com que o DJ queira ferrar mais com ele, porque depois inclina para outro lado de novo e lá vamos nós escorregando pelo chão.
— E se nós morrermos? — ele me pergunta.
— A hora de pensar na morte não é agora...
Bato minhas costas no peitoral dele, de tanto que girei nesse inferno, e prontamente Tae me segura pela cintura para que eu não saia rolando de novo.
— Oh, meu Deus, Ten! Agora eu que estou te sarrando! — ele ri próximo do meu ouvido.
Eu escondo meu rosto com as mãos e jogo minha cabeça para trás, com o intuito de que bata no rosto sem vergonha desse desgraçado. Taeyong está tirando minha paciência.
— Oh, estão num momento íntimo eles... Estão num momento íntimo! — o DJ exclama no microfone.
Eu não vou ficar aqui passando vergonha. Por isso que eu me sento e engatinho com muita luta até o centro do Disco. Aos poucos consigo levantar, mas fico perdendo o equilíbrio que nem bêbado, tropeçando pelos cantos. Taeyong faz o mesmo que eu, então em breve ambos vamos caindo na mesma direção. De início, caímos sobre um cara e uma moça que estão sentados no assento, mas eles ajudam a gente a sentar ao lado deles e dá tudo certo. Assim que me seguro de novo na barra de ferro, eu juro que não saio mais.
— Ih, Ten, seu boné está lá no meio — rindo, Lee aponta para o meu boné preto jogado no chão do Disco.
Que caceta, eu não tenho sorte.
— Depois a gente pega — respondo.
— Eu vou lá pegar — e, de novo, Lee Taeyong se levanta e vai ao centro.
Que desgraça!
Feito bêbado, ele vai girando pelo Disco e o DJ se diverte, porque começa a cantar enquanto põe essa merda pra girar mais rápido. A moça ao meu lado começa a escorregar, mas eu e o outro cara seguramos ela. Não acompanho os feitos de Taeyong pelo tempo que ajudo ela se sentar de novo, mas quando olho para o centro de novo, não encontro Tae. Checando melhor, pego-o segurando o boné enquanto é segurado pela cintura por um homem, perto de uns assentos na direção da minha direita. Ele sussurra alguma coisa ao moço que acaba soltando-o, então Lee joga-se completamente na minha direção e vem cambaleando desenfreadamente até parar com toda a força do mundo no meu colo. Eu não tenho mais perna.
— Cacete, Taeyong! — eu exclamo, segurando-o pelo quadril. — Poderia ser mais delicado, não?
— Eu não controlo isso não, seu mané! — ele gira um pouco o corpo e põe o boné na minha cabeça.
— Para de se esfregar em mim... — eu digo, já que ele está realmente se esfregando muito muito muito no meu colo.
— A culpa não é minha! O brinquedo tá balançando!
Uma mulher que estava no centro, passa direto e cai ao nosso lado. Agora lenhou, porque não tem mais espaço em nenhum dos meus lados para Tae e tenho certeza que, se ele sair do meu colo, ele vai cair de novo. Quando é que Taeyong não cai, aliás? Ele sempre cai! Se eu soltar ele aqui, ele cai na certa. Mas se eu ficar segurando ele, vamos passar mais vergonha com o fato de estar literalmente quicando no meu colo, devido ao remelexo do brinquedo. Eu tô com tanto ódio que escondo meu rosto na camisa dele para rir.
— Taeyong — eu o chamo, ainda morto de vergonha.
— O que foi?
— Quando sairmos daqui... nós deveríamos fugir do país.
— Por quê?
— Olha a vergonha que a gente está passando, Taeyong. Só recomeçando em outro país para termos paz.
Taeyong ri e se encosta em mim. Acho que ele não está levando nada a sério mesmo.
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