nós ainda namoramos, não é?
— Taeyong! — praticamente corro pela rua. — Vem cá. Vou te levar para casa.
— Eu posso ir sozinho.
— Mas você não vai. Entra logo no carro — num gesto da cabeça, indico onde está estacionado.
Taeyong fica me olhando por um tempo, mas decide seguir. Quando entra no veículo, eu deixo os lanches roubados sobre o painel e depois me sento como motorista. Já faz um tempinho que não dirigia e agora estou feliz pela minha independência. Jaehyun ficou reclamando sobre como é perigoso dirigir com o gesso, e eu tive que obedecer. Acho que ele é o único que tem certo controle sobre mim.
— Você tirou o gesso — Taeyong comenta.
Fico minimamente aliviado por ele estar vindo com conversa fiada.
— É, eu te disse semana passada que iria tirar — dou uma lambiscada nos lábios antes de ligar o motor.
O caminho todo ficamos em silêncio. Eu penso em comentar uma coisa ou outra e, de fato, tento. Ele não me responde quando falo sobre o cachorrinho fofo de uma moça que estava passando ou como o tempo anda frio demais. Não liga mesmo. Então eu me calo, porque não vou forçá-lo, se não quiser. Só acho muita sacanagem ele ficar agindo assim do nada.
Em alguns minutos chegamos na frente do seu prédio. Eu acredito que ele irá falar algo, mas não. Taeyong abre a porta no mesmo instante. Então eu solto um suspiro, afinal ando decepcionado com nós mesmos. Estou decepcionado por mim e por ele também. Não sei se é uma espécie de teste para saber até quanto eu aguento.
— Vou te fazer uma pergunta — sua voz chama minha atenção, assim como a batida da porta. Taeyong vira o tronco na minha direção. — E eu quero que você seja muito, muito honesto comigo. Mais honesto do que você já foi na sua vida inteira.
Engulo em seco.
— Ok.
— Tudo bem? — reforça.
— Uhum — balanço a cabeça positivamente.
Ele leva alguns segundos ponderando, não sei se hesitante ou medindo as palavras. Parece uma eternidade, só seu olhar afiado sobre mim, rasgando meus tecidos e arranhando minhas cicatrizes. E esse olhar ele queima e não de um jeito lascivo e prazeroso. É como álcool na ferida aberta. Ninguém sabe até sentir. E eu sinto. Eu magoei Taeyong. Ele também quer me magoar. Mas eu não choro nem sofro, eu sou pólvora. Quando tentam me machucar, eu acabo explodindo. Eu não quero explodir dessa vez.
— Você me traiu?
Quê?
— Quê?
— Isso mesmo. Estou perguntando se você já me traiu.
Mas que porra... Tudo isso para uma pergunta besta dessa? Todo esse show, toda a briga, todo o afastamento e rejeição... por conta disso? Disso? Sério mesmo?
Até levo uns instantes para tentar processar e reagir.
— Eu estou com você! Nós ainda namoramos, não é?
— Por isso mesmo — seu tom não é nem um pouco agradável. — Estou querendo saber se você me traiu ou não.
— O que seria considerado traição?
— Nossa, mas você é tão sonso... — ele começa a tatear a porta para conseguir abrir.
— Não, eu tô falando sério. O que seria considerado traição para você?
— O óbvio?
— Tá, me diz que óbvio é esse.
— Porra, Ten, é sério que você me traiu mesmo e tá querendo dizer que não sabia que era errado?
— Mas eu não fiz nada! Abraçar alguém é trair? Porque eu já abracei Jaehyun umas dez vezes nesse mês.
— Continue fingindo, eu tô amando — ele se vira para a porta e tenta puxar a acioná-la para sair do carro. Eu travo todas as portas. — Ten, abre. Deixa eu sair.
— Não, você não vai sair.
— Eu quero sair — ele tenta forçar a porta para sair.
— Não, você não vai — tiro o cinto de segurança só de raiva. — Por que está dizendo que eu te traí?
— Porque você fez isso — por ora, ele desiste de abrir a porta e se vira para mim — Eu vi. Você e aquele Lucas.
Eu e Lucas? Eu e Lucas?
— Lucas? — afasto a franja do rosto para olhar melhor o Taeyong. — Eu não fiz nada com o Lucas.
— Tá, então por que disse que não poderia levar acompanhante para o evento e de repente apareceu agarrado com o Lucas?
Nossa. É sério isso? Ele tá assim só porque não levei ele ao evento?
Respiro fundo para absorver toda a paciência do mundo antes de responder.
— Não, sério, Tae, quantos anos você tem? Por que tá chateado com o fato de eu não ter te levado?
— Eu não estou chateado por isso. Você mentiu para mim e depois apareceu agarrado sem roupa com Lucas.
— Epa, alto lá! — me remexo no banco. — Quem disse isso?
— Eu vi! — ele está impaciente. — Se lembra quando eu disse que iria para sua casa no meio da madrugada? Pois é. Eu fui. E vi vocês dois na cama. Você pode mentir o quanto quiser, mas não vai adiantar.
— Que porra é essa, Taeyong? Você entrou na minha casa? — agora eu realmente estou bravo. — Quando eu te dei a senha, a ética de entrar após pedir permissão é algo que não precisa ser explicado, né?
— Eu estava bêbado!
— Não importa. Então só porque alguém está bêbado, pode cometer uns três crimes e sairá impune? Que mundo é esse que você acha que vive?
— Quem disse que eu cometi uns três crimes?
— Pelo menos um você cometeu, né? Invasão.
— Oh, então você está chateado por eu ter descoberto.
— Eu estou chateado porque eu não tive a privacidade respeitada.
— Privacidade... — ele solta uma risadinha irônica e olha ao redor, irritadiço. — Abre a porta logo, quero sair.
— Vamos passar o resto do ano todo assim, é isso?
— Se puder, sim. Você não admite.
— Porque nada aconteceu.
— Vai me dizer que também nada aconteceu naquele dia que cheguei para te ajudar com a televisão e encontrei vocês?
Eu acabo de perceber que estive apertando o volante com força, tanto que minha mão está meio dormente agora.
— O que você acha que aconteceu? — esfrego a mão no jeans da coxa esquerda. — Hein?
— Tá, deixa eu resumir para ver se você se lembra... Hm.. bem... Naquele dia da festa, vocês transaram e dormiram agarradinhos achando que eu não veria. E dar desculpa em dizer que estou errado em invadir é uma boa forma de concordar comigo. Depois, naquele dia da televisão, vocês estavam quase indo ao pote de ouro quando eu de repente cheguei e atrapalhei tudo...
— Francamente, Taeyong — libero a trava de todas as portas, porque agora eu já me cansei dessa merda.
— Espera, eu nem terminei — a palma direita está aberta no ar. Eu olho-o. — E eu vi a mensagem que você recebeu agora há pouco sobre ele ir ao seu quarto ou você ir ao quarto dele para transarem. Eu vi como você sorriu quando leu. Eu vi, Ten.
— Taeyong...
— Não, agora eu tô falando — ele me interrompe. — Eu sei como é difícil para você estar com uma pessoa só, porque você não é acostumado com isso. Mas você tem um certo compromisso comigo e não deveria ter feito, se não quisesse. Mas fingir que não sabe é uma sacanagem sua, porque eu estava lá em todas as situações.
— Eu te disse que eu não fiz nada disso.
— Você sabe que está sendo estúpido agora, não é?
Meu celular vibra no meu bolso. Quando vou tira-lo, vislumbro rapidamente uma mensagem de minha mãe na tela de bloqueio. Não sei se li errado, mas ela diz que está na minha casa. Se isso for verdade, eu quero me jogar no Han agora.
— Tá, Taeyong. Depois a gente conversa, pode ir — giro o corpo e fico de frente para o volante.
— Está me dispensando?
— É. Isso mesmo.
— Então quando eu queria ir embora, você me faz ficar. Mas é só eu querer ficar, que você quer que eu vá embora? O que foi? Lucas te mandou mensagem de novo?
— Taeyong — de novo, respiro fundo. — Ache o que quiser de mim por agora. Mas, por favor, saia do carro.
— Igualzinho aquela vez que você me mandou sair da sua casa, né?
Viro-me de frente para ele de novo.
— Por que você me perguntou, se já está me acusando? Eu já disse que não, eu não fiz. Para de forçar isso! Para de ser irônico e debochado como se eu fosse a pior coisa que existe na sua vida! Já tô saco cheio, sério. Eu tentei até ser legal com você, mas já está passando dos limites, Taeyong. Eu só pedi para você sair. Você poderia sair, por favor? Não sabe nem metade das coisas que estão acontecendo e fica tirando conclusões toda hora... Puta que pariu.
— Tá, se eu eu torno sua vida num inferno, eu simplesmente deveria...
— Cuidado com as palavras — o interrompo. — Cuidado. Não tem como desfazer o dito. E também não ponha palavras na minha boca. Eu não disse isso.
— Mas você me faz sentir isso! — sua voz dá uma desestabilizada cruel e agora eu percebo que Taeyong esteve se segurando esse tempo todo.
— Taeyong, você não tá bem. Eu preciso ir. Você precisa ir. Outro dia a gente conversa. Outro dia, você... — não dá tempo de eu terminar de falar, porque ele abre a porta e simplesmente vai embora.
Encosto-me no banco outra vez e decido pensar. Não sei no que pensar.
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