42 - Um sentinela confiável
O arrepio que corre pelo meu corpo me faz acordar assustado. Outra vez, tive um pesadelo. Mas não acordei agora por conta dele, e sim alguém que está me chacoalhando. Abro os olhos, tentando focar em algo que não seja meu próprio desespero e pavor de uma morte prematura. Eu não sei o que está acontecendo e isso já não é novidade.
— Shh… levanta — um sussurro no escuro me chama. A pessoa me puxa pelos braços, me fazendo sentar. Pelo toque, eu sei que é Ten. — Levanta, Taeyong — ele está falando muito baixo. — Eu não te disse para ficar acordado?
— O quê? — acabo falando meio alto.
No desespero, ele cobre minha boca. Sua mão está definitivamente mais limpa que a minha. O máximo que consegui limpar a minha foi com lenço umedecido que obriguei Jaehyun me dar.
— Venha comigo logo, antes que eles acordem — ele se levanta e me puxa consigo.
Deixo-me ir, afinal estou cansado. Meus primeiros passos em pé são hesitantes e errados. Eu cambaleio de tontura e ando trôpego. É de se esperar para alguém que há mais de um dia não anda e quando levanta é pra receber murro ou empurrão. E nem dá para fazer uma expressão de dor, porque meu rosto ainda dói pelos socos. A ferida no canto da minha boca está com pomada, mas não deixa de doer, se eu esticar um pouco os lábios ou quiser sorrir. Esses malditos me tiraram até o ato de sorrir.
— Fica quieto — Ten vai dizendo, segurando minha mão enquanto me guia para fora da sala.
— Eu não vou cair nos seus truques, Ten — afasto minha mão da sua ao me tocar de que isso pode ser uma armadilha também.
— Fala baixo!
— Não? — começo a andar sem rumo pelo galpão, tentando enxergar pelas sobras de iluminação vinda da janela onde é que saio.
— Você está indo para o lugar errado, se quiser sair.
— Não estou nem aí — dou ombros.
— É pra cá — sou puxado para o lado oposto, a esquerda.
Eu puxo minha mão de volta só de raiva. Ele não vai me controlar.
— Me deixa em paz!
— Estou tentando te ajudar!
— Deixa que eu mesmo me ajudo.
— Ah, claro… você estava indo tão bem…
— Vai pro inferno, Ten. Me deixa em paz. Quero que você se fo…
— Ei, alguém aí? Quem está responsável por vigiar Taeyong? — uma voz grave me faz parar de falar. Está vindo de outro cômodo, algum lugar por aqui perto.
Fico tentando identificar de onde está vindo, mas não é bem isso o que Ten quer. O maldito me agarra pelas pernas e minha primeira ação é tentar me segurar nele para não cair. Sou jogado sobre seu ombro e mesmo me mexendo, ele continua me carregando. Rapidamente começa a andar. Meu medo é cair.
— Me solta, Ten — tento dar socos nele, mas não consigo bater com força. A ideia de machucá-lo, mesmo depois disso tudo, me parece algo inviável.
— Fica quieto, sério.
Ele vai caminhando. Passamos por alguns batentes, outras salas. Quanto mais ele nada, mais fica claro para poder enxergar. Acho que estamos indo até a saída.
— Gente? O pai de Taeyong vai enviar o dinheiro hoje de manhã! — a mesma pessoa ainda fala lá de dentro. — E… Gente? Porque estão dormindo? Não tem ninguém vigiando o Taeyong? Espera…
Ele fica alguns segundos num silêncio mortal. E então, o inevitável:
— ACORDEM, FILHOS DA PUTA, O TAEYONG FUGIU!!!!
Esse grito deve ter acordado até Cérbero, lá no submundo. Eu me assusto, fico arrepiado e amedrontado. Nem saímos ainda e se eles me pegarem, eu estou ferrado. Eles vão acabar comigo. Vão me bater até eu não ter mais como sangrar.
— Corre, Taeyong. Agora corre! — Ten me põe no chão, me puxa pela mão de novo e eu fico em êxtase.
Então finalmente entendo o que está acontecendo. Estamos fugindo. Nem paro para pensar no assunto ou nas possibilidades, apenas corro junto com ele para a saída. Sei que os sequestradores estão atrás da gente, pois seus passos em bando chamam atenção. Eu estou com medo e assustado, porém, a mão de Ten suada na minha me faz sentir menos pesado.
— Ali, ele está com Ten! — alguém grita, provavelmente tenha nos visto por alguma janela.
Minha primeira reação é parar. Parar e desistir, porque já foi, está perdido. Mas Ten continua me puxando, dessa vez sem se preocupar em estar me machucando ou não. E enfim, saímos. Eu não consigo ver muito, pois a correria deixa minha visão embaçada. Só tem mato aqui. Mato e uma estrada de terra. É um lugar assustador, mas eu juro que agora ele me alivia. Sob o céu, nós dois tentamos fugir. A lua está cheia, brilhante, a nossa mais linda iluminação. E eu não sei aonde estamos indo. Encaixo melhor minha mão na de Ten. Eu quero confiar nele dessa vez.
— Sobe — ele para de repente ao lado de uma árvore.
— Não, eu não sei.
— Porra, que tipo de criança você foi? — ele se curva e agarra minhas pernas de novo. Dessa vez, me impulsiona para cima com toda a força que pode, carregando-me para que eu consiga subir na árvore.
Como ele me deixa numa altura de alguns galhos, eu projeto meu corpo na direção deles e consigo subir. Eu não gosto da textura do tronco da árvore contra meus dedos, além de ter uma grande chance de uma farpinha entrar na minha pele. Essas coisas me dão agonia. Tenho medo de entrar de vez e eu nunca conseguir tirar.
— Isso! Se apoie! — ele me encoraja.
Como minha vida depende disso, seguro com força os galhos e fico agachado aqui em cima. Uma vez livre do meu peso, Ten leva leva cerca de quatro segundos para subir na árvore. Surpreendo-me com a habilidade. Ele deve ter muita experiência nisso. Mas se bem que ele disse uma vez… ele me disse que sabe subir em árvores muito bem, no dia em que o ameacei com a barata. Ele preferia subir numa árvore do que ter de lidar com o inseto.
O que resta para nós agora é ser invisíveis. Ten se senta num galho ao meu lado e põe os pés encostados perto dos meus. Ficamos em silêncio. Os malditos sequestradores passam direto por nós, questionando entre eles onde estamos. Um por um, vão passando às pressas. Quando já estão um pouco mais longe, Ten toca no meu joelho.
— Meu carro está a oeste — me diz baixinho. — Quando eles irem mais para o leste, pulamos de vez e saímos correndo até lá.
— Mas eu não…
— Escute, Taeyong, e pare de reclamar — ele me interrompe. — Tem um lugarzinho, não sei dizer qual, fica perto de uma vila… Perto de um lago. Lá eu deixei uma moto alugada. Vamos parar ali, eu escondo meu carro, e saímos dele. O resto do percurso vamos ir de moto. E então paramos num hotel de beira de estrada. Lá, vamos entrar, você vai tomar banho enquanto eu chamo a polícia. Depois disso, vamos rezar. Está entendendo?
Balanço a cabeça positivamente.
— Tá, me dá a mão — ele começa a procurar pela minha mão, tocando por todo o meu braço. Ele consegue alcançar e segura forte. Até mesmo puxa para dar um beijo tímido. — Eu sei que você está assustado, eu também estou. Mas você tem que confiar em mim.
Não respondo nada. Tento enxergar seu rosto, mas não consigo. Apenas consigo ver a sua silhueta.
— Eu te amo. Eu sei que é cedo, sei que é do nada, nem tenho certeza sobre isso, porque tem muito a se considerar também, mas... Quem é que pensa sobre isso? Eu só sei que agora, neste momento, eu te amo. Eu te amo muito neste segundo e eu queria te dizer isso. Não importa se amanhã eu pensar melhor e concluir que não ou que é impossível isso acontecer. Não importa. Eu te amo muito agora e só quero salvar a sua vida. Então, por favor, confia em mim pelo menos essa última vez. Prometo que vamos sair juntos dessa.
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