33 - É muito cedo para uma confissão

Ten é o homem mais lindo que já vi. Mais lindo que beijei. Mais lindo que pude ter a chance de acordar ao lado. Enquanto o sol põe as caras no mundo, ele ainda dorme, porque vive cansado e nem reclama disso. Ten vive apressado e sorri pouco. A não ser, claro, quando vai me provocar ou me tirar do sério. Ele só escuta rock, mas conhece os pop mais famosos. Na verdade, Ten me disse ontem, com a bochecha esquerda encostada no meu peito, que de vez em quando chora escutando o álbum Chemtrails Over The Country Club. Ele tem um toque macio, embora viva com a mão no volante. E agora eu gosto de quando aperta meus ombros ou quando me empurra como se fosse me machucar. Ele nunca me machuca.

Ten é um dos melhores homens que conheci. Porque suas costas ficam lindas quando curvadas, do tipo que faz a gente delinear com os dedos como se fosse uma pequena ladeira e quiséssemos descer com nosso finger skateboard para, no fim, realizar uma manobra chocante. Seu sorriso é bonito e não estou falando só daquele provocativo de criança insuportável do fundamental. Estou falando do sorriso que ele dá depois do sexo, olhando-me profundamente, esfregando as costas das mãos da testa suada. Não dói ser abraçado por ele ou sentir seu corpo arrepiado contra o meu. É engraçado, sim. Ele fica arrepiado com qualquer beijo que eu dou.

Ten é o homem mais lindo dormindo. Não consigo ver seu rosto agora, mas eu sei que suas pálpebras fechadinhas lhe dão um ar angelical. Faz-me desacreditar das atrocidades que ele fala diariamente. Vestindo apenas uma cueca, ele está deitado de bruços, com os braços dobrados debaixo do travesseiro. O lado esquerdo do rosto está sobre o travesseiro, enquanto sua perna direita está projetada para o lado, porém com o joelho dobrado. Isso é interessante, porque faz com que sua bunda esteja diretamente virada para mim e claramente está delineada. Deveríamos estar com o cobertor, mas ele se perdeu entre os calcanhares de Ten. Pois é. Ele se mexe muito quando dorme e puxa o cobertor somente para ele. Assim como aconteceu quando dormimos juntos no carro, ele me bate enquanto dorme e eu sei que é sem querer. Mas foi no meio da madrugada, no segundo tabefe que levei na cara, que eu percebi que não importava se Ten me chutasse para fora da cama… eu continuaria voltando. É o Ten, né? Se ele não me agredisse, implicasse comigo e me jogasse da cama — ou do carro, pois isso tem 100% de chance de acontecer —, não seria Ten.

Vou me mover e percebo que o circo está formado sob a minha cueca. Ignoro meus próprios sinais e vou devagarinho ao banheiro. Eu não sei por quanto tempo o Ten vai ficar dormindo, mas estou escovando dentes enquanto isso. Olho-me no espelho e constato meu cabelo bagunçado, as pálpebras inchadas e, de quebra, algumas marcas pequenas na região da clavícula. Lembrar de vestir uma camisa de gola.

Após enxaguar a boca, eu volto para o quarto e encontro Ten mexendo os braços, seguido pelo movimento dos seus olhos em abrir rapidamente, antes de fechar outra vez. Ele está acordando aos poucos. E como já está acordando, sento na cama e depois engatinho até estar atrás dele. Jogo meu corpo sobre o seu e entupo a curva do seu pescoço com beijos. Como ele ainda está com o rosto virado, sua pele faz uma dobrinda na lateral do pescoço e eu aproveito e dou uns beijinhos nela também. Levanto o rosto por uns instantes, querendo checar seu rosto, e não me surpreendo em vê-lo sorrir timidamente assim, sem mostrar os dentes, mas com os lábios esticados. Volto a lhe encher de beijos no pescoço e, como agora tenho intimidade para tal, dou uma sacudidazinha no seu quadril.

— Acorda… — é o que digo.

— Depois disso tudo, nem tem como eu ainda estar dormindo — ele resmunga num tom mais divertido do que negativo. Lentamente, vira o corpo para cima e, como estive com a mão no seu quadril, sinto seu movimento na palma das mãos. — Bom dia.

— Bom dia…

Inclino-me para beijá-lo, mas Ten vira o rosto.

— Calma — põe a mão no meu peito e empurra gentilmente, num pedido indireto para que eu lhe dê espaço.

Afasto-me dele e deixo-o se levantar da cama. Ele vai andando até o banheiro e eu o sigo com o olhar. Um pequeno tamborilar ressoa quando ele passa pela porta e a contagia com suas unhas pintadas na madeira. Eu sorrio ao vê-lo sumir do meu campo de visão. Desolado ou até entediado, puxo minhas pernas e as abraço, ao passo que apoio meu queixo nos meus joelhos. Também estou só de roupa íntima. E eu me sinto bem agora, porque foi Ten ontem comigo e só isso que importa.

Estive namorando meninas durante minha vida inteira. Em parte porque passei muito tempo solteiro, a outra parte do tempo foi com a mesma menina. E, por fim, a bendita que me roubou de mim. Eu já saí com garotos, já fiz uma coisinha ou outra num banheiro de festa, mas nunca foi o serviço completo. Mas ontem não. Ontem teve tudo. Tudo que eu podia imaginar, até mesmo reprise. E isso me deixa extasiado.

— A água da torneira parece que está mais fria, né? — ele fala lá de dentro, mas só pra romper o silêncio, deve ter ficado incomodado com ele. Percebi que Ten não gosta de conversa fiada, ao contrário de mim.

— Ten, eu nunca transei com nenhum homem senão você — quando termino a sentença, fico confuso e surpreso comigo mesmo. Não sei de onde arranjei forças nem coragem para falar isso.

Ele aparece em frente a porta do banheiro e se encosta no batente de madeira, segurando o cabo da escova de dente que está dentro da boca. Como ele não diz nada, falo:

— Foi bom pra cacete.

Ten tira a escova da boca e sorri com os dentes cheios de espuma. Eu rio dessa sua imagem. Mas nada diz, na verdade. Ele só abana a cabeça como quem desacreditando e entra de volta no banheiro. Espero. Escuto o barulho da água caindo na pia e engulo em seco. A próxima vez que vejo-o, está saindo do banheiro com o rosto meio molhado. Caminha até a cama com passos apressados, engatinha até chegar perto de mim e nossos rostos estarem próximos. Ainda em silêncio, trocamos olhares e somente. Rostos próximos e olhares presos.

— Você não vai dizer nada? — questiono.

Tira a franja da testa antes de engolir os resquícios de distância entre nós dois para me dar um beijo curto e leve nos lábios.

— Prometi a mim mesmo que não teria nada com você — é o que vai dizendo. Põe a mão na minha nuca, como se fosse me beijar de novo, mas só faz carinho. — Que você parecia muito fragilizado e um pouco problemático demais para eu ter de lidar. Eu jurei que fingiria tudo que você viesse me dizer, porque não queria ser apenas uma distração numa viagem tediosa. E você sabe, eu já te disse, não queria ser a pessoa para te remontar, não posso prestar esse papel.

— Eu não concordo com tudo. Não quero que você me remonte, você nem tem como fazer isso. Tem que surgir de mim mesmo. E o fato de eu ter tido um relacionamento de bosta não significa que vou jogar todas as minhas coisas em você e te fazer se sentir mal com tudo. Não é isso. Não vou projetar meu antigo relacionamento em você. E… além do mais, nós só estamos nos conhecendo…

— Eu sei disso, mas… eu não queria correr o risco, entende? — lentamente, toca uma mecha do meu cabelo e empurra para atrás da minha orelha. — E eu vim perceber depois, sabe? Depois de algumas conversas e tudo mais… você não é quem eu pensei que fosse e fico aliviado por isso. Por mais que seja uma patty esnobe, eu gosto de você e, não sei como — revira os olhos como se detestasse o que está prestes a falar. — eu gosto do seu jeito fresco.

— Isso não soou tanto como um elogio — abaixo um pouco a cabeça para soltar um risinho envergonhado, mas Ten segura meu queixo e levanta.

— Você ainda me odeia?

— Hm? Desde quando te odeio?

— Você disse que me odiava quando nos conhecemos — ele sorri para mim, provocativo como sempre. Percebi que acho esse sorriso dele demasiadamente sexy. — Ainda me odeia?

Reviro os olhos. Affs, Ten é ridículo até tentando ser romântico. Que saco.

— Odeio — eu respondo.

— O quanto me odeia?

— Ao ponto de querer te jogar pela janela e te ver se espatifar no asfalto.

Ten encosta sua testa na minha e me faz ficar nessa posição por um tempo. Tira a mão do meu queixo e põe na minha nuca outra vez.

— Só isso?

— Ao ponto de — ponho a mão na sua nuca também, mas a outra vai na sua cintura e o puxa mais para perto. — Puxar seu cabelo, te morder, te empurrar contra a parede e…

— Me mostre.

O desafio está feito e eu não preciso de mais nada. Puxo-o para o meu colo tão rápido que supera o tempo que levamos para piscar. Ele põe a lenha na fogueira e eu sou gado mesmo, eu queimo e gosto de arder. Nos beijamos demais. Não é como se estivéssemos apaixonados. Sabe, ainda nos odiamos. Ainda vamos brigar sobre o rádio, os meus pés sobre o porta-luvas ou o fato de ele dirigir rápido demais. Porque nos odiamos mais que tudo. Mas, ao mesmo tempo, gostamos muito um do outro ao ponto de estremecer com um mísero toque no peitoral ou nas costas.

Eu sei que ele desmancha todo quando pego pelo quadril, quando está deitado e eu vou por cima. Estou de olhos fechados porque isso mais parece um sonho do que a realidade. Com um beijo profundo, quase delirante, eu esfrego meus dedos pelas suas coxas. E isso não é nada comparado ao que fizemos ontem à noite.

— Ten, Ten — falo baixinho, entre dentes. Ele afasta as pernas para que eu fique no meio e assim faço. — Por que você é assim?

— Assim como? — segura minha nuca e, de tanto que fez ontem, me acostumei com esse ato.

— Assim — empurro meu quadril contra o seu, e prontamente aperta a mão na minha nuca. — Assim tão sensacional. Estou maravilhado com sua presença.

— Taeyong, você fala demais e eu preciso me acostumar com isso — ele desmancha nosso ninho para puxar o cobertor sobre nossos corpos. — Shhh…

— Eu gosto de falar — levemente acaricio seu ombros enquanto tento me ajeitar aqui embaixo, no calorzinho da sua pele. — Se você não gosta, problema seu.

— Não estou reclamando…

— Está, sim — viro o rosto para evitar olhá-lo.

— Me dá um beijo, vai… — segura meu queixo e tentar virar para sua direção, mas eu não deixo. — Quero muito um beijo seu agora. Quero carinho…

— Estou meio chateado, Ten. Não fale comigo, já que não posso falar com você.

— Hm? É sério isso?

— Uhum.

— É?

— Está surdo?

— Seu tato está ok?

— Hm. Por quê?

Ele pega minha mão e eu lhe permito. Faz carinho e eu nada de virar o rosto. Sinto seus dedos ligeiramente firmes contra os meus. Como não vejo, não tenho como perceber em que raios de lugar ele está levando minha mão. Só que, de uma outra pra outra, ele a deixa sobre cueca e eu nem percebo do que se trata até apertar minha mão contra o tecido dela. E então, eu sei: O Ten está literalmente implorando para ter algo comigo agora, porque ele está com muita, muita vontade.

— Vem logo, Ten — viro não só o rosto, mas o corpo inteiro para ele.

Eu não entendo como consigo ser rápido assim, mas eu sou. Não penso em nada, não vejo nada, não percebo nada. Só sigo meus instintos, minhas vontades. É rala e rola na cama de um jeito extremamente bom. A gente se entende e estende quando o assunto é beijos, carícias, sussurros. Eu gosto da voz rouquinha dele de manhã, como quem pede café, porém falando baixinho no ouvido que odeia o fato de eu ser tão gostoso, porque isso o deixa louco na maior parte do tempo. Na maior parte do tempo, veja bem!

Perdemos os restos de roupa que tinha no nosso corpo, perdemos a vergonha na cara, perdemos o sono, a decência, até mesmo a empatia — ele não se põe no meu lugar quando solta gemidos baixinhos no meu ouvido. Mas sabe o que é que é? Eu não perco a oportunidade de ver o seu rosto preenchido de prazer sob a luz do sol matinal que irrompe a janela pelas cortinas entreabertas. Finalmente, sol. Finalmente algo à altura para competir com a beleza que é este homem puxando meu cabelo e estremecendo o corpo ao redor de mim. Até eu sinto inveja.

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