27 - Tubarão é o ser mais sexy do mar


Sento no banco de passageiro com a mente avoada. Deveria estar respondendo alguma coisa que Ten perguntou, mas não consigo me concentrar. Não deixo de pensar em como seria se eu tivesse me virado, lá no banheiro, e chegado perto o suficiente para arrancar seu ar. Que se ele quer e eu também, o que exatamente nos impede de nos agarrar pelos cantos? Ficou claro que ele quer também. Ninguém me toca daquele jeito sem querer algo a mais. E pensar no tipo de coisas que poderiam acontecer naquele banheiro me deixa meio coisado. 

— E então? — olha-me atentamente com esses olhos castanhos que ficam mais claros e extremamente bonitos quando um feixe de luz solar atravessa seu rosto.

— Hm? O quê? 

— Tem um aquário aqui no meio do caminho que seu amigo indicou. Você quer passar lá ou não? Eu ignorei todas as outras indicações, confesso, mas agora eu tô começando a achar que você quer parar mais...

— Uh, ok — balanço a cabeça. — Parece divertido. 

— Hm — solta um suspiro. 

— Aqui está seu café — entrego o copo do Americano a ele e Ten me olha atentamente. 

— Como sabe que gosto? 

— Simplesmente sei — dou de ombros. 

Recosto-me no banco e bebo meu café silenciosamente. Ten bebe o dele também, porém usando o celular. Não falamos nada. Também, não me surpreendo com isso. De certa forma, era de se esperar que isso iria acontecer. Ou talvez ele não ligue, sabe. Talvez ele não tenha achado aquilo lá grande coisa. Mas tem como achar algo menos do que teve? Porque… o que foi aquilo? 

Com hálito de café e interrogações rondando a cabeça, saio do carro para descartar o copo da minha bebida. Ten, silenciosamente, termina a dele também e depois liga o carro. É claro que quero conversar. Claro que quero xingá-lo. Só que, não sei, sinto que até isso seria esquisito ou sem sentido. É como chutar cachorro morto. Sabe, tem que haver um motivo! 

— Já estamos chegando? — puxo assunto. 

— Já está com pressa? 

— Não — abraço minha bolsa e ponho os olhos na rua. 

Está começando a chover. Não gosto de quando fica nublado ou frio. Gosto do calor, a temperatura amena e gostosa fazendo-me sentir vivo e feliz. A frieza lá fora é a mesma aqui dentro? Pego meus materiais e penso em desenhar. Tiro foto de uma loja cuja fachada é bonita e decido que ela será a vítima dos meus rabiscos. Os blocos são expostos pela estética e acho isso legal, porque o laranja contrasta com as divisões cinzentas entre eles. 

Por mais que eu borre bastante, devido ao modo pouco comum do Ten dirigir, as oportunidades de refazer me fazem sempre tentar melhorar. Estamos muito tempo em silêncio e olha que normalmente não ficamos mais de uma hora calados. E, por conta disso, vislumbro de relance sua mão se movimentando para ligar o rádio. Solto um suspiro impaciente, porém não sou atacado por um rock pesado ou algo bagunçado. É algo mais leve. E, com o tempo, percebo se tratar de dream pop tailandês. Alguns parecem até aquelas músicas de rock levinhas dos anos 80. Bem igualzinho.

— Melhorou, vossa majestade? — ele gosta de me espetar assim do nada, e eu que sou bobo sorrio que nem idiota.

— Preferia o silêncio — brinco. 

— Não entendo. Nunca consigo te deixar satisfeito. 

— Você sabe como me deixar satisfeito — traço a linha de um dos blocos presentes na estrutura da loja. — Você só não quer. 

— Isso não é verdade. 

— Será? — viro o rosto para olhá-lo e, devido ao repente, minha franja desliza e cobre meu rosto. 

Afasto-a no instante seguinte, para melhor olhar Ten. Mas ele desvia o olhar. Não me surpreende. 

— O que você quer escutar, então? 

— Não tô falando de música — volto a olhar o desenho e depois solto um suspiro ao dar zoom na imagem que tirei da loja pelo meu celular, que está sobre caderno.

— E... do que está falando... então? — pelo modo que fala, me parece extremamente hesitante. 

Ando querendo ser passivo agressivo agora. 

— Você sabe — lhe respondo. 

— Você tá fazendo um jogo comigo, garoto? — ele ri para descontrair o clima. 

Eu não rio. Fico sério, volto a desenhar. Assim, passamos mais uma hora quietos. Termino meu desenho, tiro uma foto num ângulo bom, abro num app de desenho e decido terminar ele pelo celular mesmo e colorir. É uma gambiarrazinha bonita, porque não tenho como digitalizar agora, porém acredito que está ficando legal. Tenho alguns pincéis digitais estilo aquarela e acredito que eles vão ficar lindos. Só vou terminar alguns contornos.

— Taeyong — escuto meu nome a medida que ele vai parando o carro. Quando viro-me para olhá-lo, Ten desliga o motor e depois se estica na minha direção. A princípio, acho que não vai ser nada. No entanto, sou surpreendido com a mão na minha bochecha apertando levemente. — Está bravinho?

— Não — aperto os dedos nas bordas do caderno por puro nervoso. — Por quê?

— Não me chamou de pobre hoje. 

— Não é nada — suspiro. — Chegamos? 

— Uhum — afasta-se de mim e balança a cabeça. — Qual a graça de ir ver peixe? 

— Cala a boca — fecho o caderno e abro a porta. 

A risadinha baixa de Ten é tudo que escuto antes de sair. Guardo minhas coisas e fico apenas com carteira e celular. Gosto de aquários. Jaehyun sabe muito bem disso. Fico feliz que tenha lembrado. E mal espero Ten, não vou negar, estou meio bravo por estarmos armando todo esse teatrinho. Já estamos terminando a viagem. Só estamos enrolando. Estamos enrolando, porque gostamos um do outro e não queremos dizer adeus. Mas, ao mesmo tempo, não estamos fazendo nada. Exatamente nada. Qual o sentido disso? Sim, estou bravo. Daqui a pouco vamos apertar nossas mãos, dar tchau, um “se cuida” e nunca mais olhar para a cara do outro.

Não que eu deseje desesperadamente que tenhamos algo. Não é isso. É só que… acho que não aproveitei tanto quanto gostaria. Por exemplo, a sua tatuagem. Eu não tive a chance de perguntar. Esperei um momento, uma oportunidade, mas nunca acho que é um momento certo. Nem perguntei sobre seus programas de TV favoritos ou se gosta de ovo no lamen ou não. São detalhes, mas eu gostaria de saber.

— Eu pago seu ingresso — falo mansinho, baixinho, porque estou meio chateado e não quero soar meio arrogante até mesmo com frases comuns. 

— Hm, obrigado — sorri meio sem jeito. 

E é isso. Pago nossos ingressos, nós entramos e vamos conhecendo pedacinho por pedacinho. Eu gosto de aquários, porque gosto de ver animais marinhos. Gosto de quando nadam e passam perto. Gosto do azul contra meu rosto e de como todos ficam chocados e encantados ao olharem os animais. O Ten nem esconde quão encantado está. Encontra-se praticamente boquiaberto e eu nem julgo. 

— Então... — eu começo, agora que estamos parados em frente a um tanque de tubarões. — Você sabia que tubarão é o ser mais sexy do mar?

Ele aperta um pouco os olhos e esboça um sorrisinho de leve sem mostrar os dentes. 

— Acho que isso é mentira.

— Qual você acha que é, então? 

— Um cavalo-marinho. 

— Eles são as baratas do mar. 

— Não, as “baratas do mar” são os camarões. Você nem sabe do que fala. É melhor ficar calado. 

— Está tentando me calar? Isso é homofobia!

— Como você é chato! — ele revira os olhos e vira-se para o tanque de novo. 

E então eu percebo que a iluminação meio baixa e azulada é linda contra a sua pele. Eu gosto disso. Sinto-me até idiota por estar admirando alguém. Não quero me segurar também, e não vou. Porém, não é por isso que estou aqui. Desvio o olhar, quero ver os tubarões. Mas eu quero ver Ten também... E seus olhos brilhantes e cheios de expectativas… como ele cruza os braços detrás do corpo e inclina-se para frente com o intuito de ver melhor… como morde o lábio inferior e suas sobrancelhas saltam devido a aproximação de um tubarão… sabe, eu deveria estar olhando o tanque. Não deveria estar olhando Ten.

Seguimos andando, alcançando outros tanques, conhecendo outros animais marinhos. Agora estamos parados frente a alguns peixinhos coloridos muito lindos, que nadam bem desgovernados. Eu acho tudo muito lindo, como sempre. E até pego-me distraído. Há muitas coisas belas no mundo que existem muito bem sem as nossas interferências. Imagina o quanto de coisas existem debaixo do nosso nariz e nem fazemos ideia delas? Não sei se quero que descubramos.

— Então… isso é meio que um encontro? — a pergunta de Ten me deixa petrificado em frente ao tanque. 

— Se você quiser que seja… — viro o rosto para ele.

— Hm. Ok — desvia o olhar para o tanque. 

Giro o corpo para o outro lado, onde tem outro tanque. Caminho até ele e vejo alguns peixinhos finos, cuja coloração das escamas são cinzas, nadando em bando. Eu nem queria me afastar de Ten, mas eu tive que fazer isso. Agora estou rubro. Não quero que ele veja meu sorrisinho impossível de segurar e meu rosto vermelho por pura vergonha. É que isso é um encontro. Um encontro com Ten.

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