Liam Bertuzzo

Quantas vezes ainda vou sentir essa dor dilacerante? Deus, sei que mereço tudo que estou passando, mas até quando? A cada dia que fico sem notícias dela, é como uma facada em meu peito. Já não sei mais o que fazer. Minhas esperanças estão acabando.

Talvez, se eu tivesse sido um pouco menos estupido. Se tivesse percebido de imediato o que sentia. Talvez, só talvez, ela não teria ido embora... não estaria longe de mim. O que teria acontecido se tivesse sido diferente? Se tivesse assumido? Se não tivesse saído um crápula com ela? Onde estaríamos hoje?

Essas perguntas cada vez mais me atormentam.

Um estupido imbecil.

Lorenzo tem razão. Só vi o quanto a amo, quando ela foi embora.

Cazzo... cazzo.... Cazzo.

Jogo os papeis da minha mesa para longe, furioso comigo mesmo por ter deixado ela ir embora. Um caralho de um idiota, isso que eu sou.

Já era quase meia noite e o dia hoje foi como todos os outros, um maldito tormento. Noite passada sonhei com a minha loirinha. Nos dois em um lindo jardim com nossos filhos. Acordei sentindo um enorme aperto no peito. Depois desse sonho meu humor foi para o ralo. Durante todo o decorrer do dia, descontei toda a raiva que sentia em que passava pela minha frente. Nem o meu irmão escapou do meu mal humor hoje.

Até tentei trabalhar, mas minha concentração foi para o ralo também. Sempre que tentava focar em algo, meus pensamentos iam diretamente para ela. Me forcei, mas como agora, acabava furioso e com vários papéis espalhados pelo chão.

Sinto tristeza uma tristeza fora do comum. Um vazio no peito, que existe desde que ela sumiu. Nem seu nome mais eu consigo pronunciar.

Cansado, decido que o melhor a se fazer nesse momento é ir para o meu quarto. Pego uma garrafa de uísque e a levo comigo para o meu quarto. Só consigo dormir depois de algumas doses. Se não for assim, passo toda a maldita noite acordado.

Passo pela sala e vejo que meu irmão está deitado no sofá. Poderia ignora-lo e ir direto para o meu quarto, mas decido ir até ele.

- Também não consegui dormir? - perguntei me sentando na poltrona ao lado.

- Pois é! Parece que não sou o único e pela garrafa, já sei até quem tirou seu sono. - falou colocando o braço atrás da cabeça.

Fechei os olhos pedindo paciência, já tinha o tratado mal pela manhã, não queria fazer isso novamente àquela hora da noite.

- É, tem sim. Por que está acordado até uma hora dessas? - perguntei curioso.

- Briguei com uma morena. - falou e sorriu.

- Pelo seu sorriso, você gostou da briga. - falei sem me importar verdadeiramente.

- Não transamos se é o que está pensando. Mas, não foi por falta de tentativa. Adoraria ter aquela morena embaixo de mim. - sorriu malicioso, com os olhos brilhando.

Conhecia bem o meu irmão e nunca o vi com aquele brilho no olhar por mulher nenhuma, nem mesmo por aquela vadia.

- Sabe pelo menos o nome dela? - perguntei agora curioso.

- Claro que sei, Mônica. É assim que ela se chama. Pelo que parece, chegou na cidade a pouco tempo. Nunca vi uma mulher tão linda quanto ela. - falou todo bobo.

Neguei com a cabeça e me levantei.

- Certo! Vou deixar você pensando na morena. - sorri e sair de perto dele, indo para a escada.

Estava doido para ir para o meu quarto, apesar de estar curioso sobre a mulher que deixou o meu irmão todo bobo. Procuraria saber sobre ela em outro momento, queria ter certeza que ela não é mais uma vadia que estar de olho em nossa fortuna.

Desde que comecei a entender sobre as coisas, percebi que muitas pessoas queriam se aproveitar por termos dinheiro. Muitas mulheres principalmente, eram poucas que se aproximavam sem interesse. Minha loirinha é uma delas.

Ela nunca se importou com o dinheiro que tínhamos em nossa conta bancaria. Quando se aproximou do meu irmão até achei que ela estaria interessada no dinheiro, mas quando a conheci de verdade, vi que ela não se importava com nada do que tínhamos. Na verdade, ela nunca se deslumbrou com nada do que temos. As vezes que meu irmão tentou presenteá-la com coisas caras, ela o convenceu a dar para pessoas mais necessitadas.

Lembro bem do seu aniversário de 16 anos. Meu irmão perguntou o que ela queria ganhar de presente e ela toda tímida, pediu que ele doasse algumas cestas de alimento para uma família que estava passando necessidades.

Até minha mãe se surpreendeu com o seu pedido. Acho que por isso sempre teve muito apresso por ela. Minha loirinha sempre foi tão honrada. Eu sou o único estupido que não apreciou isso antes.

Entrando em meu quarto, vejo todas as fotografias emolduradas que eu tenho dela. Peguei a mais próxima de mim e fui para a varanda. Abrir a garrafa e tomei o primeiro gole, colocando a foto em meu peito. A bebida desceu "rasgando" minha garganta, mas nada se comparava a dor que sentia no peito.

- Estou tão arrependido loirinha. O dia que te encontrar, vou passar o resto dos meus dias te pedindo perdão. E não permitirei que saia nunca mais do meu lado. Eu te prometo isso. - falei tomando um novo gole, depois outro e outro.

E então fui novamente dormir bêbado, com sua foto próxima de mim, e lagrimas descendo pelo meu rosto.

NÃO MUITO LONGE DALI...

- Fez o que mandei? - falou uma voz feminina do outro lado da linha.

O homem, com um cigarro entre os dedos, sorriu. Sabia que ela era sempre direta, por isso gostava de trabalhar com ela.

- Sim, ambas já estão na cidade. O irmão até se engraçando com a amiga dela já está. - falou com sua voz rouca.

Ele nunca gostou dos irmãos Bertuzzo, Lorenzo era seu alvo. Mas não podia ataca-lo diretamente. Então começaria pelo mais velho, Liam.

- Lorenzo não é problema meu. Meu alvo é ela, e por consequência o Liam. Espere minhas ordens para fazer algo, por agora você sabe o que fazer.

Ela desligou sem ao menos se despedir. Ele não se importava, tudo que o interessava era o dinheiro que estava recebendo e a oportunidade de dar um fim no seu inimigo.

Liam não perdia por esperar, Lorenzo então. Esse sofreria o dobro, estava com sede de sangue e só sua vingança traria o que ele mais desejava na vida.

Acabar com os irmãos Bertuzzo.

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