Capítulo 34 | Panquecas

Louis estava na sala de estar, reorganizando alguns objetos em um esforço fútil para manter a mente ocupada, quando ouviu a porta se abrir.

A verdade era que o garoto se sentia inseguro de mais uma vez o marido o abandonar pela mulher. Uma vez que, já não acreditava mais nas promessas de Harry.

Quando levantou a cabeça para olhar a porta, viu Harry, agora sozinho. Louis poderia se sentir aliviado, mas depois de ver aquela mulher em sua sala, de ouvir ela se intitular como "amante", e também por estar sofrendo com os hormônios da gravidez, ele nem mesmo mediu a tamanha raiva que sentia.

Havia cuidado de Harry, havia permitido que ele dormisse no quarto de ambos novamente sem ao menos um pedido de desculpas decente.

Louis se sentia usado. Seu coração acelerou, e um calor de indignação subiu pelo peito antes mesmo de Harry dizer qualquer palavra.

— Você voltou.– as palavras saíram frias, quase como um desafio da boca de Louis.

Harry parou no batente da porta, ele parecia estranhamente relaxado, e ao mesmo tempo portava um olhar cansado e exaustivo, mas Louis não tinha mais espaço para compaixão naquele momento.

— Sim, eu voltei.

Louis largou o objeto que estava segurando e cruzou os braços, o olhar fixo em Harry.

— Voltou por quê? A ruiva te chutou e agora você resolveu que aqui é bom o suficiente para ficar?

— Louis, por favor...

Harry apenas queria descansar a cabeça um pouco, precisava se redimir com a esposa, mas naquele momento o que menos gostaria era de um confronto.

Mas Louis estava determinado a desabafar tudo o que não conseguiu.

— Por favor?– Louis riu, mas era um som sem alegria.
Ele deu um passo à frente, o rosto agora a centímetros do de Harry.— Não. Você não tem mais o direito de pedir nada. Você me deixou. Você escolheu ela. Você me abandonou enquanto eu estava carregando o seu filho.

Harry recuou um passo, os olhos arregalados, pois jão esperava que Louis despejasse tudo aquilo, não naquele momento. O cacheado percebeu que não escaparia daquilo tão cedo, e para falar a verdade ele realmente merecia todo aquele ódio que Louis estava despejando sobre ele.

— Eu sei que errei. Sei que te machuquei, mas...

— Machucou?– Louis o interrompeu, a voz tremendo de raiva. — Você me despedaçou, Harry! E agora você quer o quê? Que eu simplesmente esqueça tudo porque você teve um lampejo de consciência?

A voz de Louis saiu com uma mágoa declarada, seus olhos azuis já pinicavam.

— Não, eu quero...– Harry tentou falar, mas Louis continuou, sem lhe dar espaço.

— Você não tem ideia do que foi esse tempo aqui sem você. Do que foi tentar dormir naquela cama vazia, enquanto me perguntava o que eu tinha feito de errado.

Aquilo foi demais para Harry. Se sentiu um homem horrível por ter a coragem de machucar aquele garoto tão inocente daquela forma. Suas pernas tremeram e em seguida cederam. Harry caiu de joelhos no chão, os olhos desesperados.

— Eu sei que sou um idiota, sei que sou a pior pessoa que você poderia ter escolhido. Mas eu te amo, Louis. Amo você, amo o bebê, e tudo o que quero é outra chance. Por favor, só mais uma chance.

Louis ficou imóvel, o peito subindo e descendo rapidamente. Ele queria gritar, queria chorar, mas acima de tudo, queria acreditar. Ver aquele homem ali de joelhos, o fazia nutrir sensações inexplicáveis.

Como Louis poderia confiar nele novamente?

— Como eu posso confiar em você de novo?– murmurou, a voz fraca e embargada.

— Eu vou passar o resto da minha vida te provando que pode.– Harry disse, com sua voz embargada também.

Encarou aqueles olhos azuis tão tristes, e sentiu o peito latejar. Harry não queria mais fazer promessas que não pudesse cumprir. Queria mostrar a Louis que ele poderia ser um bom marido assim como havia prometido a ele no altar.

[...]

Naquela noite, Harry ficou no casarão, mas não no quarto deles. Ele foi para o antigo quarto de hóspedes, como uma forma de respeitar o espaço de Louis. Sabia que sua abordagem deveria ser muito mais gentil do que foi no início.

Queria realmente ser bom para Louis, pois só assim teria a esposa de volta e apagaria as coisas erradas que havia feito. Com isso em mente, não conseguiu ficar simplesmente ficar parado.

Um pouco antes de amanhecer, desceu a cozinha determinado a fazer alguma coisa para agradar Louis. Anne acabou passando pela porta do cômodo discretamente e sorriu ao ver o filho vestir o avental.

Sabia que agora sem a ameaça de Cora, Harry e Louis podiam ser felizes juntos, e também sabia que o filho arrependido pelo que fez, reconquistaria a esposa novamente.

O plano de Harry era preparar o café da manhã. E bem, não que ele fosse um bom cozinheiro, na verdade, bem longe disso. Mas o cacheado queria surpreender a amada.

Demorou um certo tempo para fazer dois pares de torradas, uma xícara de chá, e colheu as benditas maçãs que Louis parecia obcecado.

— Eu fiz torradas e chá de camomila. Sei que você gosta disso pela manhã.

O homem de olhos verdes murmurou baixo quando viu a esposa entrar na cozinha vestida em seu robe azul royal.

Louis parou ao ver a mesa posta. O garoto não disse nada, apenas puxou a cadeira e começou a comer.

Harry se sentou em frente, observando-o em silêncio. Não era um ato grande, e Harry realmente esperava um pouco de gelo vindo do mais novo.

— Não vai ficar me encarando o tempo todo, vai?– Louis perguntou, sem levantar os olhos do prato.

Harry sorriu de lado.

— Não consigo evitar. Sinto muito.

Louis balançou a cabeça, mas havia um brilho quase imperceptível em seus olhos. Louis percebeu que Harry estava tentando agrada-lo.

Mais tarde naquele mesmo dia, Harry passou horas no estábulo limpando e cuidando dos cavalos, algo que sabia que Louis fazia religiosamente.

Quando Louis chegou para montar, encontrou Harry lá, com as mangas arregaçadas e o rosto suado. Mas os cavalos estavam bem cuidados e alimentados, e somente Hércules estava com uma cela, como se Harry soubesse que Louis iria monta-lo.

— Você está tentando me impressionar?– Louis perguntou, arqueando uma sobrancelha.

— Não. Só queria ajudar. E talvez... Passar mais tempo com você.

Louis suspirou, montou em seu cavalo sem responder, mas não pôde evitar um pequeno sorriso ao sair. Deixando o maior ali, sozinho com seus próprios pensamentos.

Harry entendeu que realmente seria mais difícil do que havia imaginado, e claro, Louis não facilitaria as coisas.

Fechou os próprios olhos e lembrou do beijo que haviam trocado naquela manhã. Sentiu saudade da intimidade ao lado da esposa.

Isso o fez voltar a fazer o que havia se proposto.

Louis decidiu cavalgar até o túmulo de Desmond. Ele precisava de clareza, de um momento para si mesmo.

Quando chegou, desmontou e caminhou até a lápide. Ele se ajoelhou, passando os dedos pela inscrição no mármore.

— Você saberia o que fazer, não é?– murmurou.
— Eu queria tanto que você estivesse aqui para me dizer o que fazer.

As lágrimas vieram antes que ele pudesse contê-las. Ele chorou por Desmond, por si mesmo, por Harry, pelo bebê. Chorou por tudo o que tinha perdido e por tudo o que temia perder.

Depois de um longo tempo, ele se levantou, respirou fundo e limpou o rosto.

— Vou tentar, Desmond. Não por mim, mas pelo bebê.

Visitar Desmond estava sendo a maneira que Louis havia encontrado de passar um tempo sozinho a sós.

Quando voltou para o casarão, encontrou Harry esperando no estábulo com um cobertor. Já era mais tarde, um pouco antes do almoço e o frio inglês cortava o seu rosto durante a volta.

— Está frio.– disse Harry, estendendo o cobertor.

Louis hesitou, mas acabou aceitando. Eles caminharam lado a lado de volta para casa, em silêncio, mas algo parecia ter mudado.

Quando entraram em casa, cada um seguiu seu caminho. Louis optou por ir se deitar um pouco. Não viu mais Harry durante o resto do dia, mas recebeu a bandeja do almoço e a do jantar com algumas flores e doces que ele soube na hora que não havia sido a sogra que havia montado.

A noite chegou e depois de um segundo banho quente, Louis se deitou para dormir. Mas acordou de madrugada com um burburinho vindo do andar de baixo.

Inicialmente, pensou em ignorar, mas o cheiro de algo queimado o fez se levantar. Ele desceu as escadas devagar, o robe de seda cobrindo o pijama, enquanto seus pés descalços deslizavam pelo chão frio.

Ao chegar à cozinha, a cena o fez parar na porta.

Harry estava de costas para ele, mexendo em uma frigideira, enquanto uma nuvem de fumaça se dissipava no ar. O cacheado usava uma apenas uma bermuda curta e o avental e tinha farinha espalhada nas bochechas e no peito.

Desabafo do dia meninas... Que homem gostoso!

— O que você está fazendo?– Louis perguntou, cruzando os braços e erguendo uma sobrancelha, não admitiria nada, mas estava fascinado.

Harry se virou bruscamente, assustado como um garoto pego no flagra.

— Louis! Você não deveria estar dormindo?

Louis apontou para a frigideira, onde algo que parecia uma tentativa frustrada de panquecas estava completamente preta.

— E você? Não deveria estar tentando não incendiar a casa?

Harry riu, coçando a nuca, e depois ergueu um prato com um pedaço meio deformado da massa torrada.

— Eu estava tentando fazer algo para você. Sabe, como uma espécie de "olha como eu sou útil", mas... Digamos que não é o meu forte.

Louis deu um passo para dentro da cozinha, analisando todo aquele cenário. Era realmente um completo caos, farinha no balcão, cascas de ovo no chão, um pote de leite derramado. Ele apertou os lábios para não rir. Harry realmente estava se esforçando, e aquilo era adorável.

— Harry, isso parece mais um crime do que um café da manhã.

Harry inclinou a cabeça para o lado, fingindo ponderar enquanto olhava o campo de guerra que havia criado.

— Talvez eu devesse focar em ser bonito. Isso eu faço bem.

Louis finalmente deixou escapar uma risada baixa, balançando a cabeça.

— Isso é ridículo.

— Mas consegui o que eu queria.– Harry deu um sorriso torto. — Te fazer rir.

Louis bufou, mas não conseguiu evitar o leve sorriso que ainda dançava em seus lábios. Ele se aproximou, pegando a última massa torrada das mãos de Harry e mordendo um pedaço.

— Está horrível.– disse, mastigando lentamente.

— Sério? Eu acho que ficou decente.– Harry arrancou um pedaço da mesma massa e fez uma careta imediata. — Tudo bem, você tem razão.

Louis riu novamente, dessa vez mais alto, enquanto Harry o observava com um brilho no olhar que fazia seu coração vacilar.

— Está de bom humor hoje.– Louis comentou, colocando o prato de volta no balcão.

— Estou tentando, sabe?– Harry disse, se aproximando um pouco mais. — Não com palavras, mas com pequenos gestos... Mesmo que sejam um desastre culinário.

Louis revirou os olhos, mas não se afastou.

— Isso foi um pequeno gesto mesmo. Bem pequeno.

Harry riu, inclinando-se para limpar um pouco de farinha que acabara no nariz de Louis.

— Posso tentar de novo amanhã.

— Por favor, não.– Louis o empurrou de leve, mas sua voz tinha um tom brincalhão.

— Tudo bem.– Harry ergueu as mãos, rindo.
— Então, o que você quer?

Louis pensou por um momento, antes de pegar um pano para limpar parte da bagunça.

— Quero que você limpe tudo isso.

Harry suspirou dramaticamente, mas pegou o pano de Louis, suas mãos se tocando por um breve segundo. Louis percebeu o calor daquele toque e desviou o olhar, tentando ignorar o rubor que subiu por seu rosto.

— Então não se preocupe, considere feito.– Harry disse, começando a limpar toda a bagunça que havia feito.

Enquanto Louis observava, um pequeno sorriso voltou aos seus lábios. Talvez, só talvez, aquele desastre de madrugada fosse um verdadeiro passo na direção certa.

E bem, agora poderiam ser muito felizes juntos.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top