Capítulo 33 | Exorcismo
Louis estava no início da escada, os braços cruzados e o queixo erguido, como se a postura desafiadora fosse o único escudo que tinha contra a tempestade que se formava dentro de si.
O menor havia se levantado da cama e tomado um banho quente, quando saiu dele, observou Harry se preparar para tomar o seu e por esse motivo resolveu sair um pouco do quarto.
Na verdade ele saiu porque tinha certeza que não ia se segurar em espiar o marido no chuveiro, pode apostar!
Louis assim que pisou os pés no imenso tapete do corredor, ouviu a maldita voz de Cora.
E, agora, ao vê-la saindo do escritório com sua sogra, cheia de raiva e altivez, algo dentro dele acendeu.
Mas que cachorra!
— Então você é o famoso fantasma.– Louis disparou, a voz pingando sarcasmo. O garoto não conseguiu se conter.
Cora parou no meio do corredor, encarando-o como se ele fosse um obstáculo inesperado em seu caminho.
Liam, ainda sentado ao sofá com seu chá, riu fraco.
— E você deve ser... Louis?– respondeu a ruiva, fingindo indiferença, mas o veneno na voz era inegável.
Louis inclinou a cabeça, como se estivesse avaliando a figura à sua frente, abaixo de todos aqueles degraus.
— Ah, então já ouviu falar de mim. Que honra. E posso dizer, Cora, que as histórias não fazem jus à sua presença.
Louis murmurou descendo devagar cada lance da escadaria. Parando apenas no último degrau da escada.
Cora estreitou os olhos, cruzando os braços.
— Presença suficiente para te incomodar, ao que parece.
Louis deu um passo à frente, descendo o último degrau da escada, mas mantendo o olhar fixo nela.
— Incômodo? Querida, você não me incomoda. Você me diverte. É fascinante como alguém pode ser tão insignificante e, ainda assim, se achar tão importante.
Cora deu um sorriso amargo, os dedos apertando os braços.
— E o que exatamente te dá essa certeza, Louis?
Louis não se aguentou e soltou uma risada curta e seca, encarando a mulher de forma superior.
— Talvez o fato de que eu sou o dona desta casa. E, a propósito, estou carregando o único herdeiro do meu marido.
A revelação havia sido feita. Anne suspirou um tanto preocupada, era melhor que Cora do jeito amargo que era, não saber daquela informação. Mas Louis estava machucado e parecia querer cutucar a mulher de qualquer maneira.
O impacto da informação fez Cora recuar por um breve momento. Aquilo iria alterar os seus planos de um jeito que a mulher não havia imaginado, e pior, parecia um maldito castigo do universo. Quando percebeu que já estava alguns minutos calada, a mulher rapidamente se recuperou, avançando um passo em direção à escada.
— Herdeiro? Para o que? Controlar o meu homem e o obrigar a ficar com você?
Louis ergueu uma sobrancelha, o sorriso agora frio e perigoso.
— Controle? Não, Cora. Não preciso disso. Porque, enquanto você é uma sombra do passado, eu sou o presente. E, francamente, você só está aqui porque nós permitimos.
A provocação foi o suficiente para romper o controle de Cora. Furiosa, ela deu um passo decidido em direção à escada, o corpo rígido de raiva. Ela queria grudar nos cabelos de Louis e o apunhalar com força.
— Escute aqui, sua...
Antes que pudesse terminar, Harry apareceu no topo da escada, chamando sua atenção. O homem já estava devidamente vestido com seu terno preto.
— Cora, basta!
A voz dele era firme, mas cansada, como se estivesse carregando o peso de tudo o que havia acontecido. Ele desceu rapidamente os degraus, posicionando-se entre ela e Louis, a mão erguida para impedir que Cora avançasse mais.
Louis ficou parado atrás de Harry, os braços cruzados, mas o olhar fixo em Cora. Sua voz agora era um sussurro frio.
— Não nos apresentamos adequadamente, não é? Louis Styles. A Esposa.
Cora respirava pesadamente, mas a presença de Harry a fez conter-se, pelo menos por enquanto. Não podia simplesmente perder o controle ali.
— Cora.– respondeu, a voz carregada de sarcasmo.
— A amante, e acredite, não vim aqui para apresentações.
Harry olhou de relance para Louis, o garoto parecia extremamente estressado, o cacheado sabia o quão seu pavio era curto, Louis não parecia inclinado a recuar.
— Está na hora de ir. Agora.– Cora o encarou, seus olhos faiscando de raiva e ressentimento, mas, diante da firmeza de Harry, ela virou-se bruscamente, afastando-se.
— Isso não acaba aqui.– murmurou antes de desaparecer pelo corredor.
Louis soltou um suspiro pesado, virando-se para voltar ao quarto. Mas, antes de desaparecer no topo da escada, ele lançou um último olhar a Harry.
— Se ela é o seu fantasma, Harry, está na hora de você aprender a exorcizar.
Harry ficou parado na escada, os ombros pesados com o peso das escolhas que o levaram até ali. Ele sabia que precisava de uma vez por todas dar um fim naquilo. Para a sorte dele mesmo, o cacheado já havia tomado a sua decisão.
Desceu os degraus da entrada com passos firmes. Cora o ainda estava ali perto, quando observou Harry sair ao seu encontro, sorriu e foi o seguindo até alguns metros afastados da casa.
Seus saltos batendo contra as pedras do caminho. Ela mantinha um sorriso doce, quase possessivo, enquanto agarrava o braço dele como se temesse que ele fosse escapar a qualquer momento.
— Harry, meu amor, você está tão quieto. Está pensando em nós, não está?– a voz dela era quase melosa, mas carregava um tom de ansiedade.
Harry parou ao lado de uma das árvores na propriedade, respirando fundo enquanto tentava organizar os pensamentos.
Ele sabia que precisava ser direto. Não havia mais espaço para rodeios ou hesitações.
— Cora, precisamos conversar.
Ela soltou um riso curto, ajeitando o cabelo com uma expressão forçadamente casual.
— Claro que precisamos. Sobre nós dois, sobre o futuro...
— Não, Cora. Sobre o fim.
As palavras de Harry cortaram o ar como uma lâmina. O sorriso dela desapareceu instantaneamente, substituído por um olhar de incredulidade. Não era possível que aquela vadiazinha havia roubado o coração de Harry.
Foi realmente surpreendente o homem não a escolhe-la.
— O fim? O que você está dizendo?
Harry cruzou os braços, inclinando a cabeça para encará-la.
— Estou dizendo que acabou. Eu não posso continuar com isso. Não quero continuar com isso.
Cora piscou algumas vezes, como se tentasse absorver o golpe.
— Você não pode estar falando sério. Nós... Nós temos algo especial, Harry. Algo que ninguém mais entende.
Harry soltou um suspiro exasperado, passando a mão pelo cabelo.
— O que tivemos foi um erro, Cora. Eu amo Louis. Sempre amei. E agora... Agora nós temos um filho a caminho.
O choque nos olhos dela foi rapidamente substituído por uma onda de lágrimas.
— Não dá para acreditar...– Cora levou as mãos ao rosto, começando a soluçar alto de maneira quase teatral. Suas lágrimas pareciam tão ensaiadas quanto as palavras que saíam de sua boca.— Isso é cruel, Harry! Você está me deixando por causa dele? Depois de tudo o que passei, todos estes anos! Depois de tudo o que fiz por você!
Harry suspirou com a exaustão de quem já viveu aquela cena inúmeras vezes. Ele revirou os olhos, incapaz de disfarçar o tédio crescente.
— Pelo amor de Deus, Cora...– murmurou, sua voz baixa, mas cortante. Ele não precisava de um espetáculo para lembrar das manipulações dela, muito menos de mais um discurso ensaiado. Estava cansado, não apenas do momento presente, mas do padrão constante que ela insistia em repetir. — Você não está sofrendo. Não desse jeito. A gente sabe muito bem o que isso é.
— Como você pode dizer isso?!– Cora gritou, avançando alguns passos na direção dele, mas mantendo um toque teatral em cada movimento.
— Eu te dei tudo, Harry! Tudo! E é assim que você me retribui? Por causa... Por causa dessa maldita vadia?
Harry encarou-a com frieza, o coração batendo pesado no peito. Ele sabia que aquilo era imperdoável para Cora, não pelo sentimento em si, mas pelo que significava para o controle que ela sempre tentou exercer sobre ele. E, ainda assim, ele não conseguia se importar.
— Depois de tudo que passamos em Veneza, Cora...– ele deixou a frase no ar, as palavras carregadas de ironia.
A viagem, supostamente uma tentativa de reconciliação, só havia servido para mostrar a verdade. Ela não estava sofrendo, estava agindo. Manipulando. Como sempre fizera.
Cora, percebendo que seus soluços não surtiam o efeito esperado, secou rapidamente as lágrimas com o dorso da mão. A dor deu lugar a um brilho calculado em seus olhos. A transformação foi sutil, mas Harry a notou de imediato. Ele sempre notava.
— Então é isso? Você está decidido? Vai jogar tudo fora?– sua voz tornou-se mais fria, quase um sussurro, mas carregada de uma ameaça velada.
— Isso não tem a ver com a minha esposa. Tem a ver comigo, com o que é certo. Eu te dei dinheiro, Cora. Você pode seguir em frente, começar algo novo. Mas comigo, não dá mais.
Ela lançou um olhar estranho para Harry, os olhos ardendo com algo que oscilava entre desespero e raiva.
Antes que ele pudesse reagir, Cora deu um passo rápido à frente, as mãos ágeis puxando a arma que estava presa à cintura dele. A movimentação foi tão rápida que Harry nem teve tempo de processar o que acontecia.
— Cora!– ele deu um passo para trás, alarmado, levantando as mãos em sinal de rendição, embora sua expressão denunciasse mais irritação do que medo.
Ela engatilhou a arma com um clique seco e apontou estrategicamente para o próprio peito, o rosto contraído em uma expressão de martírio forçado.
— Se você me deixar, Harry, eu não quero mais viver!– o grito dela ecoou pela propriedade.
Harry passou a mão pelo rosto, exasperado. Era sempre o mesmo ciclo.
— Cora, por favor...– começou, mas a interrupção dela foi instantânea.
— Não! Não me peça calma!– ela deu um passo para trás, o cano da arma ainda apontado para si mesma.— Você não entende, Harry! Você é tudo pra mim!
Ele revirou os olhos mais uma vez, cansado do teatro que já conhecia tão bem. Lembrou-se do tempo que passaram em Veneza, as brigas, as lágrimas dela que secavam assim que alguém a distraía, os sorrisos maliciosos escondidos atrás de promessas falsas. Cora não estava sofrendo.
— Cora, isso não é o que você quer. Larga a arma.
Ela soltou uma risada amarga, os ombros tremendo de tensão.
— Você acha que sabe o que eu quero? Você acha que me entende? Eu te dei tudo, Harry! Tudo! E você vai me deixar por ele?
— Sim, Cora. Eu vou. Porque isso não é amor. Nunca foi.
Por um momento, algo no rosto dela pareceu quebrar. As mãos que seguravam a arma tremiam, mas ela finalmente baixou o objeto, os lábios trêmulos.
Então, o teatro acabou.
A expressão de desespero deu lugar a um sorriso cruel, quase demoníaco. Ela jogou a arma no chão e tirou do bolso o maço de dinheiro que Harry lhe dera semanas antes.
— É isso que eu sou para você?– ela riu com desprezo, jogando o dinheiro contra o peito dele. — Uma dívida a ser paga?
Harry pegou as notas com calma, tentando manter a compostura, mas a intensidade nos olhos de Cora o deixou inquieto.
— Você acha que pode se livrar de mim assim?– continuou ela, os olhos faiscando de ódio.— Acha que pode me usar e depois voltar correndo para a sua vidinha perfeita? Você vai se arrepender, Harry.
Ele balançou a cabeça, cansado.
— Faça o que quiser, Cora. Mas saiba que eu não vou voltar.
Ela deu um passo para trás, o olhar fixo nele como uma promessa de vingança.
— Isso é só o começo, Harry. Você e sua preciosa família não sabem com quem estão lidando.
Sem mais uma palavra, ela se virou e foi embora, deixando Harry sozinho sob as sombras das árvores. Ele respirou fundo, sentindo o peso da conversa enquanto olhava para o céu, onde as nuvens começavam a se fechar.
Acabou.
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