Capítulo 23 | Alhos

[...]

A casa estava mais silenciosa do que nunca. A ausência de Liam, das matriarcas, e do casal recém-casado Zayn e Magnólia era quase um alívio para Louis. Finalmente, ele e Harry tinham tempo de sobra para si mesmos, mas Louis tinha um objetivo muito específico em mente.

Engravidar. 

E ele estava decidido a usar todos os métodos possíveis para isso.

Era uma tarde tensa nos arredores do armazém, galpão próximo ao casarão, onde Harry conduzia mais uma de suas operações. Ele estava de pé diante de um traidor, a mandíbula travada e o olhar afiado como uma lâmina.

A arma estava em sua mão, e os homens ao redor mantinham o silêncio absoluto, esperando o inevitável. 

— Então, é isso?– Harry disse, sua voz baixa e perigosa enquanto encarava o homem ajoelhado à sua frente. — Você achou que poderia me roubar e ainda viver para contar a história? 

Antes que pudesse levantar a arma, um som familiar e inesperado interrompeu a tensão. 

Tigrão?

Todos olharam para a porta do galpão, e ali estava Louis, ofegante, com um sorriso travesso nos lábios e segurando uma cesta de piquenique. 

— O que diabos você está fazendo aqui?– Harry murmurou, seus olhos arregalados de pura incredulidade. 

Louis ignorou o tom e entrou no galpão como se fosse o anfitrião de uma festa, acenando casualmente para os homens ao redor. 

— Bem, eu estava em casa, sozinha, e pensei que meu marido estaria aqui, tenso e precisando de um pouco de carinho e comida decente. Então, cá estou. 

— Louis, isso é uma execução.– Harry murmurou, enquanto tentava manter a calma. 

— Execução, piquenique... Tudo uma questão de perspectiva.– Louis respondeu, colocando a cesta sobre um caixote e começando a retirar itens.

Os homens que trabalhavam para Harry estavam paralisados, trocando olhares confusos.

— Louis, saia daqui agora.– Harry ordenou.

Mas Louis apenas arqueou uma sobrancelha e apontou para a arma na mão do marido. 

— Primeiro, abaixe isso. Você não pode fazer essas coisas de barriga vazia, Harry. É péssimo para a saúde. 

O homem ajoelhado no chão estava atordoado, olhando de Harry para Louis como se tivesse acabado de entrar em um teatro. 

— Louis, estou no meio de algo importante.– Harry sussurrou envergonhado, diante da audácia da esposa.

— E eu também estou, Harry. Eu preciso de você para algo bem mais urgente do que isso. E garanto que será muito mais prazeroso. 

O silêncio no galpão era tão espesso que podia ser cortado com uma faca.

— Você...– ele começou, mas foi interrompido quando Louis deslizou para perto e colocou as mãos nos ombros dele, inclinando-se para sussurrar.

— Você pode lidar com ele depois. Mas agora, precisa lidar comigo. 

O traidor no chão engasgou com o choque, e um dos capangas soltou um riso abafado antes de ser fulminado pelo olhar de Harry. 

— Todos para fora. Agora.

Os homens saíram rapidamente, deixando o casal sozinho. Harry se virou para Louis, o rosto uma mistura de frustração e admiração. 

— Sua mulher maluca!

— E irresistível. — Louis respondeu, puxando Harry pela gravata enquanto seus lábios se encontravam em um beijo cheio de paixão e provocação. 

A cesta de piquenique foi esquecida no canto enquanto Harry empurrava Louis contra o caixote, cedendo ao desejo insano que só a esposa conseguia despertar. 

Os dias se seguiram assim, com Louis encontrando formas criativas e inusitadas de seduzir Harry. O homem embora sempre cético no início, acabava cedendo, incapaz de resistir ao charme e à determinação de sua esposa. 

Era uma manhã típica, e Harry estava de saída para uma reunião importante na cidade. Ele já estava sentado no carro com o motorista pronto para partir quando, de repente, a porta do passageiro se abriu com força e Louis entrou, ofegante, carregando uma cesta de piquenique e vestindo nada além de uma camisa branca de Harry — claramente sem nada por baixo. 

— Louis? O que você está fazendo?– Harry perguntou, confuso, franzindo a testa. 

Aquilo realmente não era algo comum.

— Piquenique surpresa!– Louis anunciou, sorrindo como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. 

— Piquenique? De novo?– Harry ergueu as sobrancelhas, incrédulo. Sua mulher só podia ter endoidado de vez.

— Exatamente. Vim te alimentar, bobinho.– Louis respondeu, ajeitando-se no banco como se fosse a pessoa mais prática do planeta. 

Harry levou uma das mãos aos seus olhos e esfregou devagar, buscando paciência para o que estava por vir.

— Louis, estou indo para uma reunião. Com pessoas importantes. Este não é o momento para...– Harry parou de falar quando Louis, casualmente, começou a desembrulhar algo da cesta e, para sua surpresa, era um frasco de mel. 

— Olha só isso. Mel puro, direto da fazenda. Ótimo para muitas coisas.– Louis disse com um sorriso carregado de segundas intenções, inclinando-se para Harry. 

— Louis, o que você está... 

Antes que Harry pudesse terminar a frase, Louis deslizou para o colo dele, equilibrando o frasco de mel na mão. 

— Quietinho, querido! Você trabalha demais. Acho que precisa de um "lanche". – Louis murmurou, abrindo o frasco com a destreza de quem claramente tinha um plano. 

— Louis, o motorista está bem ali. — Harry sussurrou, olhando nervosamente para a frente. 

— Ele não vai olhar. — Louis garantiu, virando-se para o motorista. — Você não vai olhar, não é Edgar?

O pobre motorista, claramente desconfortável, apenas balançou a cabeça e continuou encarando a estrada como se sua vida dependesse disso. Ele sabia bem o quanto Harry era perigoso, trabalhava para a família por anos.

Louis voltou a atenção para Harry, pegando uma gota de mel com o dedo e lambendo de maneira provocativa. 

— Você sabia que mel é ótimo para... Aumentar a energia? 

Harry suspirou, fechando os olhos e esfregando as têmporas mais uma vez.

— Louis, você é impossível. 

— E você me ama por isso.– Louis respondeu, pegando mais mel e passando nos lábios de Harry.— Agora, vamos resolver isso, chefe? 

Harry finalmente desistiu, agarrando a cintura de Louis com firmeza. 

— Você é uma loucura ambulante. 

— Loucura que você adora. 

O motorista, tentando ignorar completamente o que estava acontecendo, aumentou o som do rádio, enquanto Harry e Louis mergulhavam no caos que só eles sabiam criar.

Que fogo no rabo, não é mesmo?

[...]

O primeiro mês se seguiu assim, mas bem, Louis ainda não se sentia grávido, suspeitava que o marido também estava o dando alguns perdidos.

Harry realmente estava, pois era comum de vê-lo algumas vezes com sacos pequenos de gelo no colo. A esposa estava o dando um verdadeiro chá todos os dias e com uma frequência absurda.

Por isso, naquela noite, Louis decidiu testar a ideia que Anne havia lhe dado. Ele desceu até a cozinha para pegar um punhado de alhos. Havia dado certo com a matriarca, porque não daria com ele?

Enquanto estava de joelho perto das leguminosas e escolhia os melhores bulbos, uma voz soou atrás dele, fazendo-o se sobressaltar. 

— Não sabia que você era tão interessada em temperos. 

Louis virou o rosto para encontrar Desmond, o sogro, parado na porta da cozinha com uma expressão curiosa. Era muito difícil de vê-lo pela casa, realmente era como se ele não existisse.

— É... Algo novo. — Louis respondeu, um pouco constrangido e se levantou devagar, indo em seguida até o sogro e o cumprimentando com dois beijos em cada lado de sua bochecha. Desmond era um italiano de berço.

— Posso perguntar o por quê? 

Louis suspirou, percebendo que seria difícil evitar o assunto. Se sentia um pouco envergonhado pela simpatia.

— Anne mencionou algo sobre... Alho no travesseiro ajudar a engravidar. 

Desmond arqueou uma sobrancelha, surpreso, antes de soltar uma risada profunda. Uma risada parecida com a risada do marido.

— Alho no travesseiro? Não acredito...

— Você acha bobo?– Louis perguntou, sentindo-se um pouco tolo. 

— Não acho nada bobo quando alguém está tentando realizar algo que realmente queira.– Desmond respondeu, sua voz ganhando um tom mais gentil.
— Venha, vamos caminhar. 

Os dois foram para o jardim iluminado pela luz suave da lua. Desmond caminhava devagar, como se estivesse saboreando aquele leve momento.

Também possuía um olhar inocente e palavras encantadoras. Louis naquele momento ficou calado, não sabia bem o que dizer pois nunca havia ficado sozinho com o sogro antes de forma tão casual.

— Quando Harry era pequeno, ele tinha uma energia incansável.– Desmond começou, um sorriso nostálgico em seus lábios.

Louis acabou por sorrir abertamente ao perceber que o patriarca ia lhe contar coisas sobre o marido que ele não sabia. Harry ainda era um homem bem fechado em relação a ele mesmo, e raramente conseguia responder com mais de três palavras algo sobre sua infância ou adolescência.

— Uma vez, ele resolveu que queria criar uma galinha. Só que, ao invés de comprar uma, ele pegou um ovo da cozinha e ficou tentando chocá-lo por semanas.

Louis riu de forma genuína, imaginando o pequeno Harry sentado sobre um ovo com toda a seriedade do mundo. Era algo realmente encantador sobre o marido a qual ele não imaginava. Afinal, Harry sempre mantinha uma postura séria, só escorregava dela um pouco quando estavam sozinhos e em momentos mais quentes e provocantes pela manhã.

Louis adorava aquele Harry brincalhão, competitivo e engraçado.

— Ele colocou o ovo em um cobertor e ficava sentado em cima dele enquanto lia livros. Eu tentava explicar que não funcionava assim, mas ele insistia. Quando o ovo finalmente estragou, ele ficou arrasado, mas no dia seguinte já estava falando sobre criar um porco. 

Louis riu ainda mais, imaginando a cena. Seu sogro acabou o acompanhando e riu também por se lembrar. Sua memória estava voltando e ele estava se recuperando de forma rápida.

— Isso soa exatamente como algo que ele faria.– Louis murmurou e Desmond olhou para ele, com um brilho de ternura nos olhos. 

O sogro então parou de caminhar e segurou a mão da nora.

— O que quero dizer, Louis, é que Harry sempre teve essa determinação. E ele tem ainda mais quando se trata de você. Então, não se pressione tanto. Essas coisas acontecem no tempo certo. 

Louis assentiu, tocado pelas palavras do sogro. Desmond realmente era um bom homem, assim como Anne também era. Mesmo que Louis tivesse ficado com raiva dela no passado, eles já haviam se acertado.

— Obrigada, Desmond. 

Desmond sorriu e colocou uma mão no ombro de Louis. 

— Você já trouxe muita felicidade para ele. Qualquer outra coisa será um bônus. 

O mais velho finalizou, e beijou a testa do menor. Em seguida deram-se os braços e Louis acompanhou o pai do marido até o seu quarto, o ajudou a voltar para cama e se despediu dele.

Voltou até a cozinha para buscar as cabeças de alho, apenas por precaução.

Quando Louis voltou para o quarto, encontrou Harry já deitado, lendo um livro. Era como um ritual, ou ele lia na cama, com a janela entreaberta, ou estava na sala da lareira, com a mesma ligada no talo.

Com delicadeza e de forma discreta, Louis deslizou os alhos para debaixo do travesseiro de Harry, um ar de determinação estampado em seu rosto. Ele se moveu com a precisão de alguém que tramava algo grandioso, mas bastou Harry erguer os olhos do livro e perceber a cena para começar a rir baixinho.

— Agora isso é um truque novo.– Harry comentou, inclinando a cabeça e observando Louis com um misto de carinho e incredulidade.

Louis revirou os olhos, subindo na cama e se ajeitando ao lado do marido.

— Não ria. É tradição, sua mãe quem me contou.– rebateu, a voz carregada de falsa seriedade.

Harry não conseguiu segurar outra risada. Fechou o livro que estava lendo, desistindo de qualquer tentativa de concentração. Puxou Louis pela cintura, abraçando-o com firmeza.

— Você é impossível, sabia?– murmurou, o tom carregado de afeto e exasperação.

— E você me ama por isso.– Louis respondeu sem hesitar, erguendo o rosto para encarar Harry com um sorriso presunçoso.

Harry riu de novo, aquele riso que era um misto de admiração e rendição, antes de beijar o topo da cabeça de Louis.

— Amo mesmo.– confessou, com um tom de voz baixo e carregado de honestidade.

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