Capítulo 15 | Morta
— Zayn... Eu sinto tanto. — Louis sussurrou, sua voz quase falhando enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. A culpa que sentia era esmagadora, como se, de alguma forma, fosse responsável por todo o fardo que agora recaía sobre o moreno.
Zayn observou aqueles olhos azuis marejados e sentiu o coração apertar. Ele odiava a ideia de Louis se culpando por algo que claramente não era sua responsabilidade. Sabia que o irmão mais velho era meticuloso e frio em suas decisões, mas jamais queria que Louis carregasse o peso das escolhas que Harry fazia.
Sua vontade era pegá-lo nos braços, afastar aquela tristeza, talvez até prometer que encontrariam uma solução juntos. Mas sabia que não podia. Não naquele momento, não naquele contexto. Harry já estava atento a qualquer interação entre eles, e a última coisa que Zayn queria era colocar Louis em uma posição ainda mais delicada.
Antes que pudesse dizer algo reconfortante, uma voz familiar ecoou pelo corredor.
— Zayn, sabe que não pode se atrasar.
Liam. Sempre pontual, sempre atento às regras. A interrupção quebrou a breve bolha de privacidade entre os dois. Zayn suspirou e deu um passo para trás, afastando-se de Louis com um cuidado quase protetor.
— Por favor, não se culpe... Depois conversamos.
Ele tentou transmitir conforto com o olhar, mas sabia que aquelas palavras não seriam suficientes para apagar a culpa que Louis sentia. Antes de se virar, Zayn ficou mais alguns segundos contemplando os olhos marejados do garoto, como se quisesse memorizar cada detalhe. Então, sem mais nada a dizer, caminhou na direção de Liam, que o aguardava a alguns passos de distância.
Zayn agora teria outra situação para se preocupar. Iria com Liam buscar sua noiva. Sua mãe já estava no casarão para ajudar nos preparativos e assim como Anne havia feito, Trisha iria cuidar da moça até a cerimônia.
Enquanto Zayn se afastava, Louis ficou imóvel, observando as costas dele desaparecerem pelo corredor ao lado do outro irmão. A sensação de vazio cresceu em seu peito, tornando-se quase insuportável. Ele sabia que Zayn não queria aquele casamento. Sabia que o irmão mais novo estava sendo forçado a viver algo que não desejava, assim como ele próprio já havia se sentido um dia.
E talvez, só talvez... A ideia do moreno se casando, o fazia ficar com uma leve pontada de ciúmes. Afinal, agora sua esposa seria sua confidente e melhor amiga, enquanto Louis ficaria naquele casamento gelado com Harry.
Quando finalmente voltou a si, Louis respirou fundo e limpou os olhos com as costas das mãos. Decidido a ignorar as emoções que o consumiam, virou-se e seguiu em direção ao quarto.
Ao entrar, o silêncio do ambiente o envolveu como um cobertor pesado. Ele se jogou na cama, encarando o teto, mas sua mente não o deixava em paz. Pensamentos sobre Zayn, sobre Harry, sobre aquela família que parecia presa em um ciclo de controle e manipulação.
Louis tentou se distrair, focar em qualquer outra coisa, mas tudo ao seu redor parecia uma lembrança constante da situação. A escrivaninha de Harry, a mesma que guardava memórias de outra pessoa, parecia zombar dele no canto do quarto.
A ideia de tudo o que ela representava e do que estava acontecendo com Zayn era demais para ele suportar.
Fechou os olhos com força, como se isso pudesse afastar a dor e o cansaço que sentia. Mas, mesmo com as pálpebras fechadas, as imagens e sentimentos o perseguiam.
Louis respirou fundo novamente, tentando conter a angústia, mas uma única lágrima escapou pelo canto de seu olho, rolando silenciosamente em sua pele.
[...]
O jantar naquela noite foi pequeno e estranho.
Apenas Anne, Trisha, Harry e Louis estavam presentes à mesa. Liam e Zayn, os outros dois irmãos de Harry, estavam ausentes por motivos que Louis desconhecia, mas sabia que havia algo não dito ali. Zayn, principalmente, ocupava grande parte de seus pensamentos desde a conversa mais cedo com Trisha.
Harry, por outro lado, estava impecavelmente frio, mantendo uma máscara de polidez. Ele liderava a conversa com Anne e Trisha como o perfeito anfitrião, mas sequer olhava diretamente para Louis. Cada palavra sua parecia calculada, e o tom era educado, mas desprovido de calor.
Louis, sentado ao lado dele, sentia-se pequeno e deslocado. Tentava se concentrar na conversa, mas seu silêncio era notável. Trisha falava sobre os últimos detalhes do casamento de Zayn, e Anne, ocasionalmente, lançava olhares rápidos para o genro, como se tentasse decifrar o que estava acontecendo.
Louis mal tocou na comida. Sua mente vagava entre a escrivaninha que encontrara no quarto, as palavras de Trisha sobre o casamento de Zayn e, principalmente, o comportamento de Harry. Ele não sabia o que havia feito para merecer tanto distanciamento, mas a ausência de calor em cada gesto do marido o atingia como uma faca.
— Louis, querida, você está bem?– Anne perguntou de repente, atraindo a atenção de todos à mesa.
Louis ergueu os olhos, forçando um sorriso.
— Sim, claro. Estou só um pouco cansada.
Harry permaneceu em silêncio, focado em cortar a carne no prato como se aquilo fosse a única coisa que importava no mundo. Anne não pareceu convencida, mas não insistiu. A mulher já tinha certeza das coisas que estavam acontecendo.
Trisha sorriu gentilmente para Louis, tentando aliviar a tensão como de manhã.
— Viajar pode ser exaustivo, não é? Especialmente para recém-casados.– murmurou atenciosa.
Louis assentiu, ainda desconfortável, enquanto Harry finalmente ergueu os olhos, mas não para Louis.
— Louis está se adaptando bem.– disse Harry, de forma neutra. — Mas mudanças sempre exigem tempo.
Aquelas palavras fizeram Louis apertar o garfo com força. Harry não estava mentindo, mas o tom frio e impessoal o fazia sentir-se ainda mais isolado.
Quando o jantar finalmente terminou, Harry levantou-se primeiro.
— Louis, suba para o quarto.– sua voz era calma, mas firme, um comando claro. — Tenho algo para resolver no escritório.
Concluiu nem mesmo descendo seu olhar para o rosto do garoto. Louis abriu a boca para responder, mas nada saiu. Apenas assentiu e se retirou, subindo as escadas em silêncio.
O garoto realmente pretendia tomar um banho quente e tentar dormir o mais rápido que podia, só para continuar evitando aquela frieza toda.
Harry por outro lado, desejava não sentir sono, havia muitas coisas para resolver e por isso não demorou a caminhar em direção ao seu escritório.
Assim que ele desapareceu, Anne se levantou também, seguindo o seu filho. Trisha ficou para trás, percebendo o clima tenso, mas sabia que aquilo era algo que apenas Anne poderia resolver.
Harry já estava acomodado atrás da mesa quando Anne entrou no escritório. Ele não olhou para ela, continuando a folhear papéis como se não soubesse que a mãe estava ali para uma conversa séria.
— Você não acha que já está exagerando demais, querido?– Anne perguntou, fechando a porta atrás de si.
Estava tentando manter o tom de voz calmo e doce, mesmo que imaginasse que não iria ser o suficiente.
— Do que está falando, mãe? — Harry respondeu, ainda sem levantar os olhos dos papéis.
— Estou falando de como você está tratando Louis, meu filho.
A mulher respirou fundo encostando as mãos na cadeira a frente da mesa, mas não quis se sentar.
Observou o cacheado suspirar, largando os papéis e finalmente olhando para seus olhos, mas sua expressão era impassível.
— Estou tratando-a como ela merece.– Harry murmurou curto.
Anne franziu o cenho, cruzando os braços.
— Harry, ela é sua esposa, não um de seus subordinados. Você está distante, frio... Isso não é jeito de se manter um casamento.
Harry se recostou na cadeira, passando uma mão pelo rosto. Sua mãe entre as más linhas, era uma mulher adorável e atenciosa, mas as vezes sua postura era irritante e intrometida. Estava bem claro que a mulher tomaria as dores pela nora.
O mais velho não via a hora de Zayn se casar e todos se mudarem ou voltarem para casa. Afinal era o plano, havia tido uma conversa com Liam mais cedo.
Depois que Zayn se casasse e retornasse da sua viagem de núpcias, iria morar em uma residência em Bradford. Trisha voltaria para o sul de Manchester, Anne também e Liam, para dar privacidade aos recém casados, se mudaria para outro casarão ainda em Londres.
Na casa ficaria então, Harry, Louis e Desmond. O pai dos rapazes ainda estava em tratamento e morava no andar de cima, possuía cuidadoras e Harry sempre estaria por perto.
— Ela sabe qual é o seu papel, mãe. Se ela não agir como uma boa esposa, não posso agir como um bom marido.– Harry murmurou encarando sua mãe.
Anne apenas balançou a cabeça, frustrada.
— Você realmente acredita nisso? Que tudo é uma troca? Harry, casamentos não funcionam dessa forma.
O silêncio dele a irritou ainda mais, e então ela decidiu tocar na ferida que sabia que o faria reagir. Anne nunca gostou de ver seu filho sofrer, mas não encontrou outra escolha naquele momento para que ele enfim a desse ouvidos.
Anne sabia que Louis era a mulher certa para o filho e não queria que ele a perdesse assim tão fácil. Diferente de Cora, dessa vez, Anne estava a favor do relacionamento do filho e queria vê-lo feliz e bem.
— Você está assim porque ainda está preso ao passado.– iniciou com sua voz tranquila, e então se lembrou das malditas cartas que o filho ordenou aos empregados que retirassem da sua antiga escrivaninha e guardassem nas gavetas de seu escritório. Anne sabia o conteúdo delas pois interceptou muitas antigamente, para que não chegassem ao marido.
Anne sabia o quanto aquela mulher ainda morava nos pensamentos do filho e o quanto ele nunca se curou totalmente, dela.
— Ainda guarda as coisas dela. Não guarda?
Harry endureceu imediatamente, os olhos fixos na mãe.
— Não é da sua conta.– murmurou rapidamente sem nem mesmo se controlar. O maior ainda protegia a sua amada com unhas e dentes, mesmo depois de tantos anos.
E se Harry possuía mágoa da própria mãe, com toda certeza foi a sua falta de apoio em relação a Cora e a sua felicidade.
— Claro que é da minha conta!– Anne rebateu, agora elevando o tom. — Você é meu filho, e eu estou vendo você destruir o que tem com sua esposa por causa de um fantasma que já deveria ter ficado no passado.
Harry levantou-se, apoiando as mãos na mesa, o rosto impassível.
— Não fale do que você não entende, mãe.– não gritou, mas falou firme.
Anne não recuou. Podia ver os olhos do filho começarem a brilhar um pouco, partia seu coração vê-lo daquela forma, mas precisava abrir seus olhos.
— Querido... Eu sei que ainda se culpa pelo que aconteceu. Sei também que guardar aquelas cartas, te faz sentir que a mantém por perto.– Anne foi murmurando com delicadeza.— Sei a dor de perder um filho, sabe quantos perdi antes de tê-lo pra mim... Eu também sei que antes de dormir, por todas as noites, acende uma vela para ela, porque pensa que de alguma forma ela ainda está aqui...– a mulher viu quando os olhos do filho se encheram completamente.— Mas Cora morreu, Harry, e você precisa aceitar isso.
O silêncio no escritório era ensurdecedor. Harry não respondeu, mas sua expressão demonstrava que as palavras da mãe haviam atingido um ponto sensível.
Do outro lado da porta, Louis permanecia imóvel.
Depois de rolar pela cama por alguns minutos, levantou-se inquieto. Ele tinha descido na esperança de buscar algum conforto ou explicação de Harry, mesmo que aquela decisão seria totalmente humilhante.
Mas quando de fato se aproximou da porta e percebeu que Anne falava de Cora, precisou ficar. Sentiu-se completamente perdido com tudo o que ouviu.
Ela está morta.
As palavras ecoaram na mente de Louis, preenchendo as lacunas do que ele não entendia. Sentindo-se sufocado, ele voltou para o quarto em passos lentos, a mente um turbilhão de pensamentos que o deixavam ainda mais confuso e perdido.
Seu marido ainda estava apaixonado por Cora.
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